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Copom fala de manutenção da Selic por período ‘bastante prolongado’ e bolsas globais retomam liquidez após decisões monetárias; confira os destaques

Voltamos do feriado no Brasil e nos EUA com a liquidez global se recompondo, enquanto os mercados digerem as decisões de política monetária.

Por Matheus Spiess

20 jun 2025, 09:53 - atualizado em 20 jun 2025, 09:53

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Imagem: iStock/ metamorworks

Voltamos do feriado no Brasil e nos EUA com a liquidez global lentamente se recompondo, enquanto os mercados digerem as mais recentes decisões de política monetária mundo afora. Por aqui, o Copom entregou o esperado: elevou a Selic para 15% e deixou claro que os juros permanecerão em patamar elevado por bastante tempo — um alerta direto para quem ainda sonha com cortes em curto prazo.

Como sempre, não faltam economistas com pouco senso de realidade projetando novas altas, opção que eu destacaria no atual momento. Nos principais centros globais, o tom foi de estabilidade. EUA, Reino Unido, China e Turquia mantiveram suas taxas de juros inalteradas. No caso americano, a narrativa é um drama contínuo: a política fiscal errática, as incertezas sobre tarifas e a resposta imprevisível de empresas e consumidores fazem com que o Fed se mantenha no modo “esperar para ver”. 

Mas o pano de fundo global não se resume a juros. A tensão geopolítica voltou a ocupar o palco. Cinco meses após reassumir a presidência, Donald Trump se vê diante de uma decisão crítica: ordenar, ou não, um ataque direto ao Irã por conta de seu programa nuclear. A indecisão na Casa Branca é apenas aparente — o relógio corre, e o limite para uma deliberação formal é de duas semanas. Ainda assim, qualquer ação pode vir antes, inclusive de forma abrupta, no apagar das luzes de um fim de semana qualquer. Por precaução (e especulação), o petróleo já ensaia nova alta nesta manhã. 

· 00:56 — O fim do ciclo de aperto monetário

No Brasil, conforme antecipamos na manhã de quarta-feira (18), o Banco Central decidiu elevar a Selic em 25 pontos, levando a taxa básica de juros para 15% ao ano, numa decisão unânime do Copom. O mercado estava dividido entre a interrupção do ciclo já em 14,75% ou mais uma dose de aperto. A autoridade monetária optou pela segunda via, justificando-se com uma combinação já conhecida: inflação corrente ainda elevada (embora os dados mais recentes tenham vindo levemente mais benignos), expectativas desancoradas, incertezas fiscais domésticas e um cenário externo ainda turvo — entre política monetária nos EUA, guerra comercial e escalada geopolítica no Oriente Médio.

Ao mesmo tempo em que confirmou mais uma alta, o Copom sinalizou que pode encerrar o ciclo por aqui. O comunicado fala em uma pausa para avaliar os efeitos defasados da política monetária já implementada, deixando em aberto a duração dessa manutenção. A expressão escolhida — “por período bastante prolongado” — não é gratuita. A autoridade monetária quer fazer crer que, embora esteja encerrando o ciclo de altas, não está prestes a iniciar cortes. É o clássico movimento de “hawkish pause” — uma pausa dura, recheada de avisos e sem qualquer sinal de alívio imediato.

Naturalmente, haverá quem interprete esse tom como prenúncio de novas altas. Eu descartaria essa hipótese. Seria altamente inconsistente o atual BC, considerando sua composição “dovish”, interromper o ciclo para retomá-lo em seguida, salvo deterioração dramática do cenário. Mais provável é uma Selic parada por algum tempo. O debate gira em torno do que significa “bastante prolongado” (em especial o termo “bastante”).

Num cenário mais benigno — e, ao meu ver, até o mais plausível — “bastante” poderia significar algo como seis meses. Isso daria ao BC tempo para observar os dados do terceiro trimestre e parte do quarto antes de decidir, quem sabe, por um corte na última reunião do ano (talvez 50 pontos). Mas, para isso, seria necessário que o Federal Reserve também iniciasse seu ciclo de flexibilização até lá. Do contrário, o risco de desalinhamento com o mundo desenvolvido dificultaria qualquer ação isolada por aqui.

Já numa interpretação mais conservadora, o termo “bastante” não se referiria ao tempo em meses, mas ao número de reuniões. Nesse caso, o BC poderia manter a taxa Selic parada por até seis reuniões — empurrando qualquer possibilidade de corte para o final do primeiro trimestre de 2026. Ambos os cenários estão na mesa. Para mim, o primeiro parece mais razoável. Mas com este Banco Central — menos previsível, mais político e frequentemente ambíguo em suas comunicações — é difícil cravar agora. Há, sim, margem para comportamento político. Ao mesmo tempo, o tom duro adotado por Galípolo serve como compensação à ausência de uma âncora fiscal crível. Na prática, o BC está tentando conter, via juro, o que a política fiscal insiste em desorganizar.

A ironia é evidente. Lula, que passou boa parte da vida política atacando os juros altos, acabou por contratar justamente o que mais criticava: um cenário de juros elevados por mais tempo. A contradição nasce de sua própria escolha — a insistência em políticas populistas, eleitoreiras e estruturalmente insustentáveis para manter a atividade aquecida artificialmente, evitando uma desaceleração econômica mais pronunciada no curto prazo. O objetivo era claro: não perder ainda mais popularidade. Não funcionou. A popularidade já escorregou novamente, e agora falta munição para sustentar os velhos truques do manual lulopetista. Esse modelo — que depende historicamente de crédito subsidiado (que distorce e encarece o custo geral do crédito na economia), valorização contínua do salário mínimo e ampliação de transferências de renda — está com os dias contados. As duas últimas estratégias, aliás, estão tecnicamente limitadas por um orçamento público já estrangulado, onde não há espaço nem para remendos. 

É uma fórmula vencida, desgastada, que produz a ilusão de progresso no curtíssimo prazo — uma foto minimamente bonita de um filme que tende a ficar bastante sombrio caso não haja correções estruturais. O crescimento brasileiro, nesse contexto, segue estagnado em um padrão medíocre, reflexo direto de escolhas equivocadas que priorizam o populismo fiscal no curto prazo em detrimento da produtividade no longo. A fotografia ainda pode enganar, mas o enredo é previsível — e potencialmente trágico se nada for feito a partir de 2027, o que, invariavelmente, depende das urnas de 2026.

Do ponto de vista de mercado, a resposta a uma política monetária dura costuma seguir um padrão clássico: a curva de juros perde inclinação, as inflações implícitas das NTN-Bs recuam, o real se valoriza, e há volatilidade — no curto prazo — sobre as ações. Já no médio e longo prazo, conforme ganharmos clareza sobre o momento do início dos cortes, os ativos de risco devem voltar a performar com mais firmeza. É o que já começamos a ver nos últimos meses. A dúvida é só quando virá o próximo ato.

· 01:42 — Ainda esperando para ver

Nos EUA, a quarta-feira passada (18) foi marcada por uma calmaria pouco usual nas bolsas, mesmo com a divulgação da aguardada decisão de política monetária do Federal Reserve. O FOMC entregou exatamente o que o mercado esperava: manutenção da taxa básica de juros na faixa entre 4,25% e 4,5%, sem grandes surpresas. A novidade, se é que pode ser chamada assim, veio na forma de um gráfico de pontos que ainda sugere dois cortes de 25 pontos-base até o fim do ano — algo que, a princípio, animou os investidores, mas cujo valor prático é questionável. Isso porque o próprio Fed deu sinais contraditórios: ao mesmo tempo em que manteve os cortes no radar, suas projeções para inflação e crescimento foram revisadas para pior — sinalizando uma inflexão incômoda em direção a um cenário mais estagflacionário.

Durante a coletiva de imprensa, Jerome Powell jogou mais lenha na fogueira ao reconhecer que o recém-implementado aumento de tarifas sobre produtos importados deve pressionar os preços no curto prazo. E não só isso: ele alertou que os efeitos inflacionários dessas medidas podem ser “mais persistentes” do que o desejável — e que o Fed não hesitará em agir para impedir que esse choque pontual se converta em um problema estrutural de preços. Em outras palavras: o banco central americano está com a faca na mão, mas ainda sem saber se o paciente está prestes a melhorar ou se a cirurgia de emergência será inevitável. O resumo? O mercado se equilibra entre a promessa de cortes futuros e o receio de que, no fundo, o Fed esteja mais perto de engatar um discurso hawkish do que admite publicamente. E, nesse cabo de guerra entre desejo e realidade, o investidor segue tateando no escuro.

· 02:38 — A difícil decisão de cruzar o Rubicão

O presidente Trump estabeleceu um prazo de até duas semanas para decidir se ordenará um ataque ao Irã — um ultimato que mantém a diplomacia tecnicamente viva, mas que soa cada vez mais como um rito formal antes do confronto. Enquanto isso, Israel afirma ter destruído cerca de metade da infraestrutura de lançamento de mísseis do Irã e já antecipa que sua ofensiva pode “criar as condições” para a queda do regime dos aiatolás. As imagens de satélite mostram Teerã acelerando a extração e o armazenamento de petróleo — um movimento típico de quem se prepara para o pior.

Do ponto de vista americano, a equação é incômoda: a menos que o Irã retroceda no enriquecimento de urânio (o que ninguém, nem mesmo os mais otimistas, considera plausível), a pressão doméstica e geopolítica pode levar Trump a ordenar bombardeios à fortaleza subterrânea de Fordow — uma instalação construída justamente para resistir a ataques convencionais. Com isso, os EUA ingressariam formalmente na guerra liderada por Israel contra a República Islâmica, empurrando o país para o epicentro de um conflito que Trump havia prometido assistir das arquibancadas.

O paradoxo é evidente: o próprio desmonte do acordo nuclear de 2015, promovido pelo governo Trump em 2018, ajudou a pavimentar esse beco sem saída. Agora, o plano de guerra israelense, inicialmente desenhado para ser cirúrgico e autônomo, levou o impasse a um ponto em que Tel Aviv já não pode avançar sozinha. A ofensiva destruiu uma parte considerável da infraestrutura militar e nuclear do Irã — mísseis, drones, refinarias, fábricas, cientistas e generais — mas ainda está longe de atingir seu verdadeiro alvo: o coração do programa nuclear, protegido sob 90 metros de concreto.

O Irã, por sua vez, tem respondido com arroubos mais simbólicos do que eficazes: centenas de mísseis e drones foram lançados contra centros populacionais israelenses, mas menos de 5% conseguiram ultrapassar as defesas multicamadas de Israel. Em termos militares, a superioridade israelense é nítida e tende a crescer com a continuidade da campanha. Mas há um limite estratégico incontornável: sem os EUA, Israel não tem como atingir Fordow (o coração do programa). E é justamente por isso que Benjamin Netanyahu pressiona para que Trump cruze o Rubicão.

O problema é que cruzar esse limite pode desencadear uma cadeia de eventos imprevisíveis: retaliações contra bases americanas e aliadas na região, eventual envolvimento de potências como China e Rússia, ou até mesmo o fechamento do Estreito de Ormuz, gargalo vital para o transporte global de petróleo. Em suma: sim, o regime iraniano pode ruir — mas, se ruir, o fará atirando. E isso, em termos de risco geopolítico, significa que o mundo flertará com um cenário inédito no qual o prêmio de risco dos ativos globais pode se reprecificar de forma violenta e súbita.

Para o investidor, portanto, o momento exige cautela redobrada. A volatilidade dos preços do petróleo, a precificação de risco nos mercados emergentes e a percepção de segurança em moedas fortes podem se alternar de forma abrupta. O tabuleiro está montado — e não há qualquer garantia de que as peças se moverão de forma racional.

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· 03:24 — Dias mais longos

Houve um tempo em que os dias úteis tinham começo, meio e fim. Hoje (20), essa distinção parece uma lembrança nostálgica de uma era menos conectada. O novo relatório especial do Índice de Tendências de Trabalho da Microsoft traça um diagnóstico incômodo: os “dias úteis infinitos” — como a própria empresa os batizou — deixaram de ser um efeito colateral temporário da pandemia e passaram a ser uma nova e inquietante norma. A análise expõe um padrão de comportamento que revela mais do que simples adaptação ao trabalho remoto: revela a completa erosão das fronteiras entre vida pessoal e profissional. Segundo o estudo da Microsoft, 40% dos usuários conectados às 6h da manhã estão verificando e-mails de trabalho antes de qualquer coisa. Às 8h, o Teams já reina como plataforma dominante de comunicação, com a média diária de 153 mensagens por colaborador dentro e fora do horário comercial.

O auge das reuniões coincide com os horários de maior produtividade biológica — entre 9h e 11h e entre 13h e 15h —, mas a desorganização parece imperar: 57% das reuniões ocorrem sem agendamento prévio e 10% são marcadas em cima da hora. Como se não bastasse, as reuniões noturnas, após as 20h, cresceram 16% em apenas um ano. E a avalanche de e-mails fora do expediente não deixa dúvidas: o trabalhador médio envia ou recebe mais de 50 mensagens por dia fora do horário tradicional de trabalho. Nos fins de semana, um em cada cinco funcionários já está conferindo o e-mail antes do meio-dia de sábado ou domingo. A pandemia não apenas acelerou a digitalização, ela desfigurou de vez o conceito de jornada de trabalho: a hiperconexão.

E, ao contrário do que se imaginava, nem mesmo a inteligência artificial veio ao resgate. O relatório mostra que, em vez de aliviar a carga, a IA apenas redistribui tarefas — tornando os profissionais ainda mais sobrecarregados sob a ilusão de eficiência. Em outras palavras: estamos cada vez mais produtivos, mas menos humanos. O futuro do trabalho chegou — e ele está cada vez mais conectado.

· 04:11 — E por falar em IA…

O futuro do trabalho já está sendo redesenhado — e com menos espaço para humanos. Em um memorando recente, o CEO da Amazon, Andy Jassy, afirmou que a empresa deverá enxugar seu quadro de funcionários nos próximos anos, à medida que chatbots e agentes de IA assumem uma parcela crescente das tarefas operacionais.

O discurso é o de sempre: a inteligência artificial trará mais inovação e criará novas funções “específicas”. Mas a mensagem real é mais pragmática — o trabalho como conhecemos está sendo automatizado, e o número de pessoas necessárias para manter a engrenagem funcionando deve encolher. A Amazon não está sozinha: Salesforce não deve contratar engenheiros este ano; a Microsoft planeja demissões enquanto injeta bilhões em IA; a Shopify orienta seus gestores a avaliar se uma máquina pode substituir uma contratação; e o Duolingo, sem pudores, já está automatizando tarefas de prestadores de serviço.

Estima-se que 41% dos empregadores pretendem reduzir seus times por conta da automação. A mensagem, embora ainda dita em tom ameno, é direta: quem quiser sobreviver no mercado de trabalho vai precisar aprender a usar as ferramentas de IA, não como curiosidade, mas como requisito de permanência. O novo padrão de produtividade será definido por quem conseguir fazer mais com menos — e isso vale tanto para empresas quanto para indivíduos. 

· 05:05 — Mais dinheiro no bolso

No início da semana, a Direcional Engenharia (DIRR3) anunciou duas decisões relevantes aprovadas pelo seu Conselho de Administração — e ambas reforçam a atratividade da companhia para o investidor atento. A primeira diz respeito à distribuição de dividendos intermediários no valor total de R$ 346,7 milhões, o que representa R$ 2,00 por ação. Terão direito ao pagamento os acionistas com posição em 27 de junho, com repasse programado para até 30 dias após a data ex-dividendos. O movimento não surpreende: …

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.