Investimentos

Corte de juros na Zona do Euro, balanço da Netflix e imigração como foco nas eleições dos EUA: veja os destaques desta quinta (17)

O principal destaque da agenda internacional de hoje (17) é o corte de 25 pontos-base na taxa de juros pelo Banco Central Europeu.

Por Matheus Spiess

17 out 2024, 09:10 - atualizado em 17 out 2024, 09:14

Netflix

O principal destaque da agenda internacional de hoje (17) é o corte de 25 pontos-base na taxa de juros pelo Banco Central Europeu (BCE), anunciado nesta manhã (enquanto escrevo, a decisão ainda não foi oficializada).

O impacto dessa medida será absorvido ao longo do pregão. O mais relevante, no entanto, não é o corte em si, mas a coletiva de imprensa de Christine Lagarde, presidente da autoridade monetária, que deve fornecer orientações sobre os próximos passos da política de juros na região. O ciclo de flexibilização deve continuar sem grandes contratempos, especialmente após a desaceleração da inflação ao consumidor registrada em setembro.

O mercado europeu opera em alta nesta manhã, contrastando com o desempenho negativo da Ásia, onde os investidores se mostraram decepcionados com as medidas anunciadas pelo governo chinês para o enfraquecido setor imobiliário.

As commodities também sofrem devido à frustração em relação aos estímulos econômicos da China, que embora tenham sido robustos, não atenderam às expectativas do mercado. Além disso, os dados de exportação do Japão em setembro vieram abaixo do esperado, agravando o pessimismo. Mais dados econômicos da China são aguardados para esta noite e devem movimentar os mercados no final da semana.

Nos Estados Unidos, por outro lado, os futuros conseguem fugir dessa tendência negativa, mantendo-se em alta, ao menos nesta manhã, sustentados pela expectativa de novos resultados corporativos e indicadores econômicos, como as vendas no varejo e a produção industrial.

A ver…

· 00:56 — Está dificil de convencer

No Brasil, o mercado continua demonstrando ceticismo quanto ao comprometimento do governo em reduzir despesas, um tema amplamente debatido ao longo da semana. Os investidores aguardam medidas concretas antes de adotarem um otimismo mais sólido.

Ontem (16), o sentimento do mercado foi abalado pela apresentação de dois projetos de lei do governo que propõem maior autonomia financeira para as empresas estatais que ainda dependem do Orçamento. Essas medidas poderiam permitir que tais empresas operassem com mais independência, mesmo continuando a receber recursos do Tesouro.

A reação foi imediatamente negativa, levando o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a intervir para acalmar os ânimos. Haddad garantiu que as estatais continuarão a seguir as regras do arcabouço fiscal, embora o texto do projeto precise ser ajustado para refletir isso.

Sua atuação ajudou a impulsionar o Ibovespa, junto com o desempenho positivo da Vale (VALE3), embora haja preocupações de que a mineradora possa enfrentar dificuldades hoje devido à queda nos preços do minério de ferro no mercado internacional, após a decepção com as medidas econômicas da China.

Ainda assim, o mercado permanece cauteloso quanto à real disposição do governo em manter o equilíbrio fiscal. Uma reunião de Lula com banqueiros ontem trouxe algum alívio, já que as instituições financeiras buscavam ouvir diretamente do presidente sua postura em relação à responsabilidade fiscal. O retorno foi amplamente positivo, gerando a percepção de que Lula está disposto a apoiar as iniciativas fiscais de Haddad, mesmo que isso envolva custos políticos.

Na verdade, Lula parece ter poucas opções, especialmente após o desempenho decepcionante do PT e seus aliados nas eleições municipais. Uma reforma ministerial é esperada, se não até o final deste ano, então no início de 2025, alinhada com as mudanças na liderança da Câmara e do Senado, onde Lira e Pacheco provavelmente conseguirão emplacar seus sucessores. No entanto, antes disso, questões importantes ainda precisam ser resolvidas, como a distribuição das emendas parlamentares, que deve ocorrer entre o final de outubro e início de novembro, e a regulamentação da reforma tributária.

· 01:49 — Tudo sob controle até aqui

Nos EUA, a temporada de resultados do terceiro trimestre trouxe mais um recorde para o Dow Jones Industrial Average nesta quarta-feira. Ignorando a pressão do setor de tecnologia, o índice alcançou sua 38ª máxima de fechamento apenas este ano.

Hoje (17), os investidores terão mais resultados para avaliar, com destaque para os lucros dos bancos regionais e, à noite, o aguardado balanço da Netflix (NFLX34), que pode influenciar o humor do mercado. As expectativas são altas, especialmente porque o desempenho da Netflix pode antecipar o que está por vir para os grandes nomes do setor de tecnologia, que começam a divulgar seus números na próxima semana.

Além dos resultados corporativos, teremos mais dados econômicos relevantes. Entre eles, os pedidos semanais de seguro-desemprego, dados de produção industrial e manufatureira, o Índice do Mercado Imobiliário para outubro, além das vendas no varejo e serviços de alimentação referentes a setembro. Esses indicadores têm o potencial de moldar o sentimento dos investidores, seja inclinando-os para mais otimismo ou provocando uma reversão no mercado.

· 02:34 — E a imigração?

Como venho destacando repetidamente, a economia é a principal preocupação dos eleitores nas eleições presidenciais de novembro, e o resultado desse pleito terá um impacto profundo no rumo da economia dos EUA. Isso se deve ao fato de que o ex-presidente Donald Trump e a vice-presidente Kamala Harris estão promovendo agendas políticas bastante distintas, cujas implementações trariam consequências econômicas significativamente diferentes. Um dos temas centrais da campanha, que terá implicações econômicas amplamente subestimadas, é a questão da imigração. Trump prometeu adotar medidas rigorosas para conter os fluxos migratórios na fronteira sul, restringir a imigração e deportar milhões de imigrantes ilegais.

Embora seja provável que as mudanças políticas reais sejam mais graduais e menos drásticas do que as ameaçadas, uma eventual presidência de Trump 2.0 poderia causar um choque negativo na oferta de mão de obra, o que poderia pressionar os preços, aumentar a inflação, reduzir o crescimento do PIB, diminuir a capacidade produtiva da economia e ampliar o déficit fiscal. Por outro lado, Harris adotaria uma postura mais restritiva em relação à imigração, diferente da que Biden adotou até 2023, impedindo que estrangeiros que cruzam ilegalmente a fronteira sul solicitem asilo. Ela também continuaria os esforços diplomáticos com países latino-americanos para reduzir a migração, embora essa estratégia tenha tido pouco sucesso até agora.

Harris, assim como Biden, enfrentaria grandes desafios para aprovar uma reforma abrangente da imigração, especialmente em um Senado controlado pelos republicanos (mais provável). Ainda assim, da mesma forma que os líderes europeus perceberam mais recentemente, Harris parece ter reconhecido que precisa adotar uma postura mais rígida sobre imigração se quiser aumentar suas chances de vitória eleitoral. Sua entrevista de ontem à Fox News, entretanto, não foi bem recebida, especialmente quando questionada sobre o tema, o que pode afetar sua estratégia eleitoral.

· 03:23 — Desagradou

O Ministro da Habitação da China, Ni Hong, anunciou uma expressiva ampliação do programa de crédito habitacional, elevando o montante disponível para 4 trilhões de yuans, cerca de US$ 562 bilhões, até o final deste ano. A medida visa dobrar o volume atual de empréstimos, como parte de um esforço maior para estabilizar o setor imobiliário, que enfrenta dificuldades. Além disso, Ni Hong destacou o início de um milhão de projetos de renovação em vilas urbanas e residências, atendendo ao pedido do presidente Xi Jinping para que as autoridades intensifiquem os esforços no quarto trimestre, com o objetivo de atingir as metas de crescimento econômico e desenvolvimento social para o ano.

Contudo, a reação do mercado foi negativa, uma vez que o anúncio não atendeu às expectativas dos investidores. Muitos esperavam que os trilhões de yuans fossem direcionados para a aquisição de propriedades não vendidas, em vez de serem usados para ampliar o crédito às incorporadoras. Essa diferença entre as expectativas e a realidade provocou uma queda acentuada nos preços do minério de ferro, refletindo o desapontamento dos investidores.

Em minha opinião, há uma ansiedade exagerada no mercado sobre essa questão. O governo chinês está implementando medidas de apoio de forma gradual, com o objetivo de estabilizar os preços e restaurar a confiança no setor imobiliário. Sobre o tema, será importante acompanhar a divulgação dos indicadores econômicos chineses, prevista para esta noite, incluindo o PIB do terceiro trimestre, que trará mais clareza sobre o estado atual da economia.

· 04:15 — O corte europeu

Antes da decisão do BCE, as bolsas europeias já mostravam alta, impulsionadas tanto por bons resultados corporativos quanto pela expectativa de um corte de juros. Muito provavelmente, enquanto você lê estas palavras, o aguardado corte de 25 pontos-base já terá sido anunciado. Este será o segundo corte consecutivo dessa magnitude e o terceiro no ano, reduzindo a taxa de juros para 3,25% ao ano, após ter permanecido por algum tempo em 4%, o nível mais alto já registrado na Zona do Euro. 

A flexibilização monetária vem em resposta à desaceleração da inflação, que está convergindo para níveis mais baixos. Hoje, o índice de preços da região mostrou uma desaceleração de 2,2% em agosto para 1,7% em setembro, um resultado abaixo da expectativa de 1,8% do mercado. Esta foi a primeira vez que a inflação ficou abaixo da meta de 2% do BCE desde junho de 2021, um sinal promissor de que o ciclo de cortes deve continuar. Esse cenário será detalhado na coletiva de imprensa de Christine Lagarde, presidente do BCE, que ocorre nesta manhã, onde poderemos ter mais informações sobre os próximos passos da política monetária.

· 05:07 — Escolha bem os nomes

Um dos destaques desta semana foi a ASML, empresa holandesa líder no fornecimento de aparelhos de litografia, essenciais para a fabricação de semicondutores. A companhia revisou para baixo suas expectativas de vendas para 2025, o que desencadeou uma forte onda de vendas no setor, resultando em perdas combinadas de valor de mercado de aproximadamente US$ 420 bilhões nos mercados dos EUA e da Ásia.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.

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