
Banco Central Europeu (BCE)
O primeiro semestre de 2025 terminou como começou: com o dólar mantendo sua fraqueza relativa frente a diversas moedas — inclusive algumas que não gozavam de tanto prestígio, mais exóticas, como o real. Essa dinâmica, longe de ser episódica, se consolidou como uma das principais teses do ano e tende a permanecer relevante enquanto as condições monetárias globais seguirem em processo de flexibilização.
É nesse contexto que as atenções dos mercados se voltam hoje (1º) para o Fórum do BCE em Sintra, Portugal, que reúne os principais banqueiros centrais do planeta. Entre os participantes, figuram nomes como Jerome Powell (Fed), Christine Lagarde (BCE), Andrew Bailey (BoE) e Kazuo Ueda (BoJ). As falas dos líderes monetários podem reforçar a expectativa de cortes de juros coordenados nas principais economias — algo que sustenta o fechamento das curvas de juros e o desempenho das ações.
Ontem, o otimismo com a possibilidade de novos acordos comerciais impulsionou os índices de ações. Hoje, no entanto, o humor virou — a cautela prevalece diante da incerteza sobre os rumos das negociações e dos desdobramentos do ambicioso (e ainda mal costurado) projeto fiscal do governo Trump. O prazo de 9 de julho, que marca o possível fim da trégua tarifária, gera desconforto. As bolsas europeias recuam diante do risco de escalada protecionista: caso nenhum acordo seja alcançado, os EUA prometem aplicar tarifas de até 50% sobre quase todos os produtos europeus.
O problema maior, contudo, é outro: o governo americano simplesmente não entrega. A promessa de firmar 90 acordos comerciais em 90 dias virou fumaça — e o mercado sabe disso. Restaria a opção de renovar a trégua tarifária. Reativar o regime de “tarifas recíprocas” de abril seria um desastre, capaz de desorganizar a já instável cadeia global de comércio. Diante de um cenário político errático, o mercado prefere esperar.
· 00:57 — Endureceu e politizou o tom
O primeiro semestre de 2025 chegou ao fim com o Ibovespa encerrando a segunda-feira (30 de junho) em alta de 1,45%, aos 138.855 pontos — coroando um desempenho acumulado de 15,6% no período. Foi, sem dúvida, um belo semestre para os ativos locais, que se beneficiaram largamente de um ambiente internacional favorável, mais do que de méritos próprios. O dólar em queda no mundo, a rotação global de portfólios em direção aos emergentes e a expectativa de cortes de juros lá fora formaram a tempestade perfeita para o Brasil surfar, ao menos temporariamente, uma maré positiva. No câmbio, o real se valorizou 0,91% na sessão, com o dólar fechando a R$ 5,43 — e a moeda americana já acumula queda de expressivos 12,08% no ano.
A divulgação do Caged reforçou essa dinâmica. A criação de empregos veio abaixo do esperado, algo bem recebido pelos mercados: ao sugerir menor pressão inflacionária, o dado abre espaço para o Banco Central considerar um corte de juros ainda neste ano, especialmente se o Federal Reserve iniciar seu ciclo de afrouxamento — o que pode acontecer já em setembro, deixando dezembro como uma janela para o Copom agir.
O problema, no entanto, é que o país continua falhando em converter esse vento a favor em ganhos sustentáveis. O cenário doméstico segue marcado por desequilíbrios estruturais e por uma condução de política econômica cada vez mais errática. O governo, em vez de corrigir o curso, parece disposto a dobrar a aposta: adota um discurso de confrontação eleitoreira, prepara aumentos de impostos com roupagem populista e resgata a retórica ultrapassada do “nós contra eles”, em mais uma tentativa desesperada de consolidar uma base que, na prática, esfarela dia após dia.
A condução da questão do IOF é emblemática. Em vez de recuar diante de uma derrota acachapante no Congresso, o Planalto optou por tensionar ainda mais o ambiente institucional. A decisão de judicializar o caso junto ao STF tem tudo para sair pela culatra. Primeiro, porque o desfecho jurídico é incerto. Segundo, porque o gesto em si alimenta ainda mais o desgaste com o Congresso, que já ensaia retaliar com a instalação da CPMI do INSS no segundo semestre. Para piorar, Lula avalia vetar o aumento do número de deputados federais — uma decisão correta no mérito, mas com enorme custo político neste momento delicado. É a receita para ampliar o isolamento.
Enquanto isso, o que de fato importa — a revisão da estrutura de gastos, a discussão de reformas estruturais, a ancoragem das expectativas fiscais — segue sendo empurrado para 2027, como se a realidade não cobrasse sua conta. A comparação com a vizinha Argentina torna-se inevitável: em abril, a economia local cresceu 7,7% em base anual, superando as previsões do mercado. Um desempenho que nasce de escolhas difíceis, mas corretas. Fazer o certo, mesmo quando impopular, dá resultado.
O Brasil, por sua vez, se aproxima de uma encruzilhada. As eleições de 2026 serão decisivas não apenas pelo simbolismo do pleito, mas pela necessidade urgente de reenquadramento fiscal. A escolha que o próximo governo fará determinará o rumo do país por mais de uma década. Mas há um ponto crucial a ser feito: em 2027, não haverá mais escolha. Haverá uma imposição. O ajuste fiscal será inescapável — e quanto mais adiarmos a decisão, mais dolorosa será sua execução.
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· 01:44 — Um bela recuperação
Nos Estados Unidos, os índices S&P 500 e Nasdaq iniciaram 2025 embalados por expectativas elevadas: a volta de Donald Trump à Casa Branca poderia significar uma combinação de estímulos ao crescimento, cortes de impostos e danos minimizados nas negociações comerciais — especialmente no front tarifário. Após muitos solavancos, idas e vindas no enredo, o primeiro semestre se encerra com os mercados renovando máximas históricas, como se o otimismo inicial nunca tivesse sido abalado.
Mas, claro, muita coisa aconteceu nesse meio tempo. Do lançamento da inteligência artificial DeepSeek à turbulência provocada pelo chamado “Dia da Libertação” — que trouxe à tona um novo choque tarifário —, passando por um colapso no mercado de títulos e tensões militares no Irã. Mesmo com esse pano de fundo instável, a narrativa central sobreviveu: o investidor ainda acredita que um segundo mandato de Trump manterá a mão pesada nas tarifas, sim, mas oferecerá contrapartidas suficientes em estímulos fiscais e desregulamentação para sustentar o ciclo de alta das ações.
Agora, o que alimenta o novo fôlego é a expectativa de uma renovação da trégua tarifária e, sobretudo, a possibilidade crescente de corte de juros pelo Federal Reserve ainda neste segundo semestre. Essa combinação pode prolongar o movimento positivo nos mercados acionários, ainda que a volatilidade continue presente.
No radar desta semana, destaque para a divulgação da JOLTS — a pesquisa sobre vagas abertas e rotatividade no mercado de trabalho americano — e os índices PMI de atividade econômica. Leituras mais fracas do que o esperado podem ser bem recebidas: indicariam desaceleração da economia e reforçariam o argumento para um corte de juros. Afinal, num ambiente de expectativas ancoradas e inflação sob controle, o mercado segue em sua dança delicada com o Fed, equilibrando dados e esperanças.
· 02:31 — Mais um capítulo do “grande e belo projeto de lei”
Os senadores republicanos estão avançando com um plano que tenta pintar de dourado um elefante de quase US$ 4 trilhões. O objetivo: renovar os cortes de impostos da era Trump — originalmente aprovados em 2017 e prestes a expirar — fingindo que essa gigantesca renúncia fiscal não custará nada. O Senado votou nesta segunda-feira a favor de um projeto que considera que estender os cortes tributários não terá impacto fiscal. A realidade, no entanto, é bem menos palatável: se aprovado, o plano pode empurrar a dívida pública americana para além dos US$ 40 trilhões.
Ainda há atritos dentro do próprio partido. Os republicanos seguem em desacordo sobre o quão profundo será o corte ao Medicaid, aos programas de assistência alimentar e demais redes de proteção social, além da velocidade com que pretendem desmontar os subsídios para energia limpa. Ou seja, o projeto vem embalado com a promessa de alívio tributário, mas acompanhado de cortes em programas que sustentam milhões de americanos — uma combinação explosiva eleitoralmente.
Do ponto de vista dos mercados, o sinal é de alerta. A perspectiva de uma nova explosão no déficit público dos EUA gera desconforto. Em termos práticos, déficits maiores exigirão um aumento expressivo na emissão de Treasuries, pressionando especialmente os papéis de vencimento mais longo e alimentando o debate sobre a sustentabilidade da dívida americana. A dinâmica da chamada “bomba fiscal” dos EUA não será resolvida com malabarismos contábeis: exigirá uma solução estrutural, baseada em algum tipo de pacto bipartidário que envolva aumento de receitas e racionalização dos gastos — algo que, neste momento, parece politicamente inviável.
Se a versão aprovada no Senado avançar, ela retornará à Câmara, onde precisará ser votada com eventuais alterações. Mas, seja qual for o formato final, o cenário já aponta para uma intensificação da tensão entre o apetite político por populismo fiscal e a paciência limitada dos mercados com mais um capítulo de irresponsabilidade.
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· 03:25 — A fraqueza do dólar e os rumos da política econômica
Com o primeiro semestre de 2025 já encerrado, o contraste entre o desempenho das bolsas americanas e do dólar salta aos olhos. O S&P 500 avançou 5,5% no período, recuperando terreno após um início de ano conturbado. Já o dólar teve um semestre para esquecer: segundo o Dollar Index (DXY), a moeda americana registrou sua pior performance semestral desde 1973, quando os EUA abandonaram o lastro ouro. Trata-se de uma queda histórica, que acende alertas sobre o papel do dólar no mundo.
Do lado otimista, investidores em ações nos EUA seguem animados com a possibilidade de cortes de juros pelo Federal Reserve ainda este ano. Soma-se a isso o entusiasmo com as projeções de lucro das empresas e com os sinais vindos do governo Trump, que indicam avanços nas negociações comerciais com parceiros estratégicos. Mas, do outro lado da balança, paira a desconfiança crescente sobre a condução errática da política econômica americana, em especial no que tange à sustentabilidade fiscal e à imprevisibilidade da estratégia comercial.
A fraqueza do dólar tem raízes estruturais. Embora alguns vejam o movimento apenas como mais um ciclo de correção, a verdade é que episódios prolongados de desvalorização corroem gradativamente o papel da divisa como reserva global de valor e meio preferencial de transações internacionais. Trata-se de um processo lento, mas real — e o atual ambiente fiscal e geopolítico dos EUA parece acelerar essa erosão.
Na frente comercial, os próximos dias serão cruciais. A União Europeia sinalizou disposição para aceitar a tarifa universal de 10% proposta por Trump, mas quer algumas exceções. Enquanto isso, o Japão se vê novamente no alvo tarifário da Casa Branca. O principal assessor econômico de Trump afirmou que a expectativa é concluir acordos com os principais parceiros após o feriado de 4 de julho.
Para os mercados, o recado é claro: uma estabilização nas relações comerciais seria muito bem-vinda, especialmente num contexto em que os riscos cambiais aumentam e a incerteza fiscal americana começa a pesar. A segunda metade do ano promete ser decisiva — e qualquer sinal de racionalidade política será imediatamente precificado.
· 04:12 — Novas tensões
As tensões entre China e Taiwan voltaram a se acirrar, adicionando mais um elemento de instabilidade ao cenário geopolítico global. No mês passado, o governo taiwanês incluiu duas gigantes chinesas — Huawei e Semiconductor Manufacturing International Corporation (SMIC) — em sua lista de controle de exportações, restringindo severamente o acesso dessas empresas a tecnologias avançadas de inteligência artificial. A medida foi interpretada por Pequim como mais um capítulo naquilo que chama de “bloqueio tecnológico”, e a resposta veio com promessas de retaliação.
A irritação chinesa não se limita à esfera comercial. A China continua a tratar Taiwan como parte inseparável de seu território, mesmo com a ilha sendo governada de forma independente e democrática há décadas. Nos últimos anos, Pequim tem intensificado a pressão — militar e diplomática — para tentar reafirmar sua soberania sobre o território. Em resposta, Taiwan tem reforçado sua identidade nacional.
Ao final de junho, o novo presidente taiwanês, Lai Ching-te, deu início a uma série de discursos oficiais, declarando sem rodeios que Taiwan é “obviamente” um país. Foi um recado claro. A retórica de Lai vem em meio ao fortalecimento do relacionamento entre Taiwan e os Estados Unidos, que continuam a apoiar a ilha tanto econômica quanto estrategicamente, sobretudo pela sua relevância no setor de tecnologia.
Afinal, Taiwan é hoje uma peça-chave da engrenagem tecnológica global. A ilha abriga a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), maior fabricante de chips do mundo e fornecedora crítica para diversas indústrias — de smartphones a armamentos sofisticados. Essa centralidade geoeconômica apenas eleva a temperatura do conflito.
Do ponto de vista do investidor, o risco geopolítico no Estreito de Taiwan não é um detalhe periférico — é um vetor potencial de disrupção estrutural. A cadeia global de semicondutores, os fluxos de capitais e até a estabilidade asiática podem ser afetados por um eventual agravamento da crise. A escalada verbal e as medidas comerciais recentes são mais um sinal de que o atrito entre China e Taiwan — e, por extensão, entre China e EUA — deve continuar no radar no segundo semestre de 2025.
· 05:06 — E por falar em semicondutores…
Junho foi generoso com os mercados — e ainda mais com a Nvidia. A gigante das placas gráficas e protagonista da revolução da inteligência artificial encerrou o mês com um retorno de dois dígitos no acumulado do ano e agora flerta com uma marca simbólica: os US$ 4 trilhões em valor de mercado. É um feito impressionante para qualquer empresa, mas ainda mais notável para quem cruzou a marca do primeiro trilhão há apenas dois anos. Só em junho, a Nvidia avançou, em média, 0,8% por dia. Mantido esse ritmo, ela pode atingir os US$ 4 trilhões muito em breve…