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Investimentos

Ibovespa: IPCA no Brasil e CPI nos EUA devem ditar tons iniciais do mercado e trajetória da taxa de juros; confira os destaques desta terça (12)

Confira as principais notícias econômicas no início do mercado.

Por Matheus Spiess

12 ago 2025, 09:49

Atualizado em 12 ago 2025, 09:49

mercado ibovespa ações bolsa b3

Imagem: iStock.com/Thx4Stock

Os mercados iniciaram a semana em tom de expectativa, com os investidores atentos a dois dados cruciais para o curto prazo: o CPI (índice de inflação ao consumidor) nos Estados Unidos e o IPCA no Brasil, ambos referentes a julho. Esses indicadores têm potencial para definir não apenas a trajetória das taxas de juros, mas também o apetite global por ativos de risco. O consenso aponta para um CPI americano com alta anual de 2,8% e avanço mensal de 0,2%, enquanto o núcleo — que exclui componentes mais voláteis como alimentos e energia — deve acelerar para 3,0% no acumulado de 12 meses e 0,3% no comparativo mensal.

É bem provável que, enquanto você lê estas palavras, o dado já tenha sido divulgado, permitindo a comparação entre o resultado efetivo e as expectativas do mercado. Surpresas abaixo dessas projeções podem levar o Federal Reserve a adotar um tom ainda mais flexível, mesmo que a autoridade monetária ainda esteja avaliando os riscos inflacionários adicionais gerados pela agenda tarifária de Donald Trump. No front comercial, a trégua formal de 90 dias entre EUA e China, anunciada ontem (11), trouxe algum alívio momentâneo: bolsas asiáticas encerraram o pregão em alta, parte dos mercados europeus reagiu positivamente e o petróleo se estabilizou. Apesar disso, a atenção central segue voltada para a leitura dos indicadores e para seus desdobramentos na condução da política monetária.

No campo geopolítico, Trump afirmou que qualquer acordo de paz na Ucrânia exigirá concessões territoriais tanto de Kiev quanto de Moscou — assunto que deve estar no centro de sua reunião com Vladimir Putin nesta sexta-feira. A possibilidade de um cessar-fogo impulsiona parte do otimismo observado recentemente nas bolsas europeias, mas o cenário segue frágil, sujeito a mudanças rápidas nas negociações comerciais e na dinâmica dos juros globais. Além dos dados de inflação, os mercados acompanham o relatório mensal da Opep e a ameaça americana de impor sanções mais severas a países como China e Índia caso persistam as compras de petróleo russo sem um avanço nas tratativas de paz. No pano de fundo, seguem as expectativas de cortes de juros nos EUA e no Brasil, talvez nos dois casos ainda em 2025. Contudo, esse movimento dependerá de sinais inequívocos de desaceleração econômica e de um quadro inflacionário sob controle em ambas as economias.

· 00:57 — O clima de pacificação não pode se afastar

No Brasil, a curva de juros encerrou a sessão de ontem em baixa, refletindo a 11ª revisão consecutiva para baixo das projeções de inflação no Boletim Focus — sinal claro de que as expectativas seguem convergindo para um cenário mais benigno. Ainda assim, o Ibovespa recuou, pressionado por ruídos políticos após o cancelamento da reunião entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o secretário do Tesouro dos Estados Unidos. O dólar, por sua vez, avançou levemente, sustentado tanto por incertezas domésticas quanto pelo pano de fundo da agenda tarifária americana. 

Vale notar que as quedas registradas ontem e na última sexta-feira (8) não foram suficientes para reverter o viés positivo que os ativos locais acumulam em agosto — contraste evidente em relação a julho, quando o clima era mais adverso. Esse tom mais construtivo também se repete em outros mercados, como o europeu, em parte porque, no cenário global, ainda existe uma posição relevante “short” (apostando contra) o dólar (dólar mais fraco é bom para ativos globais). É justamente esse pano de fundo que dá ainda mais peso à agenda de hoje: um dado de inflação abaixo do esperado nos EUA poderia aliviar a pressão sobre a curva de juros americana e, em efeito cascata, reduzir o custo de capital em outros países, inclusive no Brasil.

Nesse ambiente, o indicador doméstico de inflação também assume papel relevante. O IPCA de julho apresentou uma composição qualitativamente benigna e veio abaixo do esperado (0,26% na comparação mensal, contra 0,36% esperado, e desaceleração em 12 meses de 5,35% para 5,23%), abrindo espaço para que o Banco Central considere um corte na Selic já neste ano — possivelmente em dezembro —, especialmente se o Federal Reserve iniciar seu próprio ciclo de flexibilização monetária entre setembro e outubro. Esse resultado levemente abaixo das expectativas deverá ser bem recebido pelo mercado, mas, de todo modo, a reação geral dependerá mais do CPI americano. 

No campo comercial, no entanto, cresce o receio de que as tensões entre Brasil e Estados Unidos voltem a escalar. O cancelamento da reunião entre Haddad e o Tesouro americano é um sinal preocupante, especialmente considerando a evolução que vinha sendo construída no diálogo bilateral. Internamente, avalia-se que a decisão de cancelar o encontro pode estar ligada à reunião marcada entre o deputado Eduardo Bolsonaro e autoridades americanas, também prevista para esta quarta-feira (13). Embora o parlamentar negue relação entre os eventos, ele mesmo já havia declarado que faria o possível para travar as negociações, ao mesmo tempo em que defende novas sanções contra autoridades brasileiras. Esse tipo de postura tende a gerar ruído adicional e envia sinais contrários ao que o mercado deseja: a pacificação do tema tarifário.

Ainda hoje (12), está prevista a apresentação do plano de contingência para apoiar os setores mais afetados pelo tarifaço. Caso esse pacote implique um impacto fiscal maior e mais duradouro do que o inicialmente estimado, o efeito sobre os mercados pode ser negativo, já que o país ainda opera sob forte pressão nas contas públicas. No mesmo front, o presidente Lula conversou por telefone com Xi Jinping, que declarou estar disposto a, juntos, darem exemplo de “autossuficiência do Sul Global”. Apesar do tom colaborativo, a declaração soou mais como promessa do que como ação concreta, reforçando a percepção de que o BRICS+ carece de coesão efetiva. Paralelamente, governo e exportadores brasileiros continuam empenhados em ampliar a lista de produtos agropecuários isentos das tarifas americanas. Atualmente, cerca de 75% das exportações do agronegócio brasileiro aos EUA enfrentam alíquota de 50%. A prioridade, neste momento, é incluir todas as commodities agrícolas, com foco especial no café (34% do café americano é nosso) e, com sorte, também as carnes (mais difícil).

Como já destacado anteriormente, o impacto direto das tarifas sobre a economia brasileira é limitado e se reduziu ainda mais com as isenções já conquistadas. Ótimo, sem dúvida. No entanto, permanecem os efeitos indiretos, mais difíceis de mensurar, que podem atingir setores adjacentes e manter o risco de uma nova escalada nas tensões comerciais — um fator que segue no centro do radar dos investidores.

· 01:31 — E essa inflação?

Os mercados iniciaram a semana sob um clima de cautela, com investidores evitando movimentos mais ousados diante de uma agenda carregada de indicadores capazes de redefinir o humor dos ativos. O principal foco recai sobre o CPI (índice de preços ao consumidor) de julho nos EUA, para o qual se projeta alta de 0,20% no mês e de 2,80% no acumulado de 12 meses — ligeiramente acima dos 2,70% registrados em junho. Já o núcleo do índice, que exclui alimentos e energia para oferecer uma leitura mais estável da tendência inflacionária, deve acelerar para 0,30% na variação mensal e 3,00% na anual, refletindo, ainda que parcialmente, os efeitos das tarifas comerciais. 

O resultado será acompanhado de perto pelo Federal Reserve, que busca avaliar se a inflação está convergindo para níveis compatíveis com cortes de juros ainda em 2025 — cenário que ganhou tração após o payroll de julho revelar fraqueza e as revisões para maio e junho apontarem números mais baixos. Além do CPI, a semana reserva outros dados relevantes para a formação de expectativas, como o PPI, as vendas no varejo e a prévia do índice de sentimento do consumidor da Universidade de Michigan.

Historicamente, a retomada do ciclo de afrouxamento monetário pelo Fed após um período de pausa — hipótese que se desenha no horizonte — tende a trazer volatilidade nos estágios iniciais. Desde a década de 1980, em todas as seis ocasiões em que o banco central voltou a reduzir juros após uma interrupção, o S&P 500 apresentou queda no mês seguinte, mas recuperou-se nos meses posteriores. Os impactos imediatos costumam incluir recuo nos yields, enfraquecimento do dólar e um desempenho desigual nas bolsas. Nos mercados emergentes, a reação inicial tende a ser positiva. Nesse contexto, a inflação se torna peça-chave para calibrar o compasso da política monetária americana e para balizar o reposicionamento global das carteiras.

· 02:36 — Mais uma trégua

O presidente Donald Trump assinou um decreto que estende por mais 90 dias a trégua tarifária com a China, postergando para 9 de novembro o prazo final para a retomada de tarifas mais elevadas. A decisão, anunciada a poucas horas do vencimento do prazo anterior, foi tomada após a terceira rodada de negociações entre autoridades americanas e chinesas realizada em Estocolmo, e preserva as tarifas dos EUA sobre produtos chineses no patamar de 30% — significativamente inferiores aos mais de 140% que seriam aplicados sem o acordo — enquanto a China mantém tarifas de 10% e retoma as exportações de metais de terras raras. A prorrogação não apenas reduz a tensão imediata no comércio bilateral, mas também garante um ambiente diplomático mais estável antes de compromissos estratégicos, como o encontro entre Trump e Vladimir Putin marcado para esta sexta-feira (15) e a reunião internacional na Coreia do Sul, em outubro, que contará com a presença do presidente Xi Jinping. O movimento reflete a continuidade das negociações sobre temas sensíveis, como compras agrícolas, restrições à exportação de tecnologia e acesso a minerais críticos estratégicos.

No campo tecnológico, seguimos repercutindo o acordo polêmico envolvendo Nvidia e AMD, que comentei ontem — as empresas poderiam continuar vendendo determinados chips à China mediante o repasse de 15% da receita dessas operações ao governo americano. Trata-se de uma proposta inédita, que já provoca forte debate jurídico e político: especialistas ressaltam que a legislação atual proíbe atrelar taxas à receita como condição para a concessão de licenças de exportação. A iniciativa suscita questionamentos sobre a possibilidade de institucionalização de um modelo “pay-to-play” na política comercial dos EUA — algo que encontra paralelo em gestos recentes de grandes corporações. Um exemplo é a Apple, cujo CEO, Tim Cook, prometeu investir US$ 600 bilhões no país e presenteou Trump com uma placa dourada, ou ainda a aprovação governamental para a aquisição da U.S. Steel pela japonesa Nippon Steel, operação de US$ 14,1 bilhões com forte relevância estratégica.

· 03:23 — Os dados econômicos estão menos confiáveis?

Desde a pandemia, a leitura dos indicadores econômicos tornou-se mais errática, marcada por maior volatilidade e por revisões frequentes, o que dificulta a precisão das projeções e desafia a previsibilidade dos modelos. Alguns elementos ajudam a explicar essa perda de confiabilidade. O primeiro é a acentuada queda nas taxas de resposta a pesquisas — um movimento que já se desenhava antes de 2020, mas que ganhou velocidade com as restrições sanitárias —, reduzindo a representatividade das amostras e abrindo espaço para distorções, sobretudo quando as respostas possuem vieses políticos. O segundo é a própria velocidade das transformações na economia global, que cria novas formas de atividade muitas vezes não captadas pelos instrumentos tradicionais de mensuração. O terceiro é o subfinanciamento crônico de agências estatísticas, que compromete a abrangência e a profundidade das medições.

Ainda assim, mesmo com suas imperfeições, as estatísticas oficiais preservam independência e seguem como a âncora mais confiável para decisões econômicas. O risco maior surge quando há interferência governamental deliberada para moldar dados de acordo com narrativas convenientes, substituindo o retrato real da economia por versões politicamente ajustadas — prática que eleva o potencial de erros graves na formulação de políticas. As medições privadas, embora relevantes como complemento, carecem de padronização e comparabilidade, o que limita sua capacidade de servir como referência robusta. Nesse vácuo de dados sólidos e consistentes, agentes econômicos — sejam eles empresas, investidores ou consumidores — tendem a se apoiar mais em percepções subjetivas ou relatos anedóticos, muitas vezes enviesados, o que distorce expectativas, amplia incertezas e pode levar a decisões equivocadas.

· 04:19 — Os 100 primeiros dias

Completados os primeiros 100 dias de governo, Friedrich Merz imprimiu à Alemanha um tom mais incisivo na política externa, buscando reposicionar o país como um pilar central da segurança europeia e transatlântica. Em contraste com a prudência de Angela Merkel e a hesitação inicial de Olaf Scholz diante da guerra na Ucrânia, Merz optou por agir com rapidez e objetivismo, como evidenciado na visita conjunta a Kiev, logo no início do mandato, ao lado dos líderes do Reino Unido, França e Polônia. 

No campo econômico e de defesa, sinalizou ambições robustas: elevar os gastos militares para 3,5% do PIB e implementar um pacote de US$ 578 bilhões voltado à infraestrutura e energia sustentável, de modo a sustentar a competitividade alemã em um cenário global fragmentado e cada vez mais disputado. Entretanto, transformar esses planos em realidade exigirá superar a rigidez fiscal imposta pelo Reichstag e enfrentar as duras negociações orçamentárias, que prometem reacender divisões históricas entre defensores da austeridade e adeptos de maior flexibilidade nos gastos.

No cenário interno, Merz se vê diante de uma coalizão sob pressão constante. O crescimento de partidos mais radicais, impulsionado por campanhas digitais junto ao eleitorado jovem, intensifica o risco de polarização. Assim, embora Merz já tenha reposicionado a Alemanha no tabuleiro internacional e ampliado seu peso dentro da União Europeia, sua real capacidade de liderança será medida não apenas pela execução da agenda externa, mas também pela habilidade de manter a coesão política interna, gerir disputas fiscais e conter o impacto corrosivo do populismo digital. A grande incógnita é se conseguirá conduzir uma Europa mais firme e integrada.

· 05:05 — Se protegendo

Proteger-se da inflação, tarefa que já exigia estratégia e disciplina, pode estar se tornando ainda mais desafiador. Tradicionalmente, muitos investidores — e me incluo entre eles — enxergam o ouro como um escudo contra a corrosão do poder de compra, ainda que a relação direta entre o metal e a inflação esteja longe de ser consenso acadêmico.

Nos últimos dias, porém, até mesmo esse refúgio clássico…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.