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Os mercados iniciaram a semana em tom de expectativa, com os investidores atentos a dois dados cruciais para o curto prazo: o CPI (índice de inflação ao consumidor) nos Estados Unidos e o IPCA no Brasil, ambos referentes a julho. Esses indicadores têm potencial para definir não apenas a trajetória das taxas de juros, mas também o apetite global por ativos de risco. O consenso aponta para um CPI americano com alta anual de 2,8% e avanço mensal de 0,2%, enquanto o núcleo — que exclui componentes mais voláteis como alimentos e energia — deve acelerar para 3,0% no acumulado de 12 meses e 0,3% no comparativo mensal.
É bem provável que, enquanto você lê estas palavras, o dado já tenha sido divulgado, permitindo a comparação entre o resultado efetivo e as expectativas do mercado. Surpresas abaixo dessas projeções podem levar o Federal Reserve a adotar um tom ainda mais flexível, mesmo que a autoridade monetária ainda esteja avaliando os riscos inflacionários adicionais gerados pela agenda tarifária de Donald Trump. No front comercial, a trégua formal de 90 dias entre EUA e China, anunciada ontem (11), trouxe algum alívio momentâneo: bolsas asiáticas encerraram o pregão em alta, parte dos mercados europeus reagiu positivamente e o petróleo se estabilizou. Apesar disso, a atenção central segue voltada para a leitura dos indicadores e para seus desdobramentos na condução da política monetária.
No campo geopolítico, Trump afirmou que qualquer acordo de paz na Ucrânia exigirá concessões territoriais tanto de Kiev quanto de Moscou — assunto que deve estar no centro de sua reunião com Vladimir Putin nesta sexta-feira. A possibilidade de um cessar-fogo impulsiona parte do otimismo observado recentemente nas bolsas europeias, mas o cenário segue frágil, sujeito a mudanças rápidas nas negociações comerciais e na dinâmica dos juros globais. Além dos dados de inflação, os mercados acompanham o relatório mensal da Opep e a ameaça americana de impor sanções mais severas a países como China e Índia caso persistam as compras de petróleo russo sem um avanço nas tratativas de paz. No pano de fundo, seguem as expectativas de cortes de juros nos EUA e no Brasil, talvez nos dois casos ainda em 2025. Contudo, esse movimento dependerá de sinais inequívocos de desaceleração econômica e de um quadro inflacionário sob controle em ambas as economias.
· 00:57 — O clima de pacificação não pode se afastar
No Brasil, a curva de juros encerrou a sessão de ontem em baixa, refletindo a 11ª revisão consecutiva para baixo das projeções de inflação no Boletim Focus — sinal claro de que as expectativas seguem convergindo para um cenário mais benigno. Ainda assim, o Ibovespa recuou, pressionado por ruídos políticos após o cancelamento da reunião entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o secretário do Tesouro dos Estados Unidos. O dólar, por sua vez, avançou levemente, sustentado tanto por incertezas domésticas quanto pelo pano de fundo da agenda tarifária americana.
Vale notar que as quedas registradas ontem e na última sexta-feira (8) não foram suficientes para reverter o viés positivo que os ativos locais acumulam em agosto — contraste evidente em relação a julho, quando o clima era mais adverso. Esse tom mais construtivo também se repete em outros mercados, como o europeu, em parte porque, no cenário global, ainda existe uma posição relevante “short” (apostando contra) o dólar (dólar mais fraco é bom para ativos globais). É justamente esse pano de fundo que dá ainda mais peso à agenda de hoje: um dado de inflação abaixo do esperado nos EUA poderia aliviar a pressão sobre a curva de juros americana e, em efeito cascata, reduzir o custo de capital em outros países, inclusive no Brasil.
Nesse ambiente, o indicador doméstico de inflação também assume papel relevante. O IPCA de julho apresentou uma composição qualitativamente benigna e veio abaixo do esperado (0,26% na comparação mensal, contra 0,36% esperado, e desaceleração em 12 meses de 5,35% para 5,23%), abrindo espaço para que o Banco Central considere um corte na Selic já neste ano — possivelmente em dezembro —, especialmente se o Federal Reserve iniciar seu próprio ciclo de flexibilização monetária entre setembro e outubro. Esse resultado levemente abaixo das expectativas deverá ser bem recebido pelo mercado, mas, de todo modo, a reação geral dependerá mais do CPI americano.
No campo comercial, no entanto, cresce o receio de que as tensões entre Brasil e Estados Unidos voltem a escalar. O cancelamento da reunião entre Haddad e o Tesouro americano é um sinal preocupante, especialmente considerando a evolução que vinha sendo construída no diálogo bilateral. Internamente, avalia-se que a decisão de cancelar o encontro pode estar ligada à reunião marcada entre o deputado Eduardo Bolsonaro e autoridades americanas, também prevista para esta quarta-feira (13). Embora o parlamentar negue relação entre os eventos, ele mesmo já havia declarado que faria o possível para travar as negociações, ao mesmo tempo em que defende novas sanções contra autoridades brasileiras. Esse tipo de postura tende a gerar ruído adicional e envia sinais contrários ao que o mercado deseja: a pacificação do tema tarifário.
Ainda hoje (12), está prevista a apresentação do plano de contingência para apoiar os setores mais afetados pelo tarifaço. Caso esse pacote implique um impacto fiscal maior e mais duradouro do que o inicialmente estimado, o efeito sobre os mercados pode ser negativo, já que o país ainda opera sob forte pressão nas contas públicas. No mesmo front, o presidente Lula conversou por telefone com Xi Jinping, que declarou estar disposto a, juntos, darem exemplo de “autossuficiência do Sul Global”. Apesar do tom colaborativo, a declaração soou mais como promessa do que como ação concreta, reforçando a percepção de que o BRICS+ carece de coesão efetiva. Paralelamente, governo e exportadores brasileiros continuam empenhados em ampliar a lista de produtos agropecuários isentos das tarifas americanas. Atualmente, cerca de 75% das exportações do agronegócio brasileiro aos EUA enfrentam alíquota de 50%. A prioridade, neste momento, é incluir todas as commodities agrícolas, com foco especial no café (34% do café americano é nosso) e, com sorte, também as carnes (mais difícil).
Como já destacado anteriormente, o impacto direto das tarifas sobre a economia brasileira é limitado e se reduziu ainda mais com as isenções já conquistadas. Ótimo, sem dúvida. No entanto, permanecem os efeitos indiretos, mais difíceis de mensurar, que podem atingir setores adjacentes e manter o risco de uma nova escalada nas tensões comerciais — um fator que segue no centro do radar dos investidores.
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· 01:31 — E essa inflação?
Os mercados iniciaram a semana sob um clima de cautela, com investidores evitando movimentos mais ousados diante de uma agenda carregada de indicadores capazes de redefinir o humor dos ativos. O principal foco recai sobre o CPI (índice de preços ao consumidor) de julho nos EUA, para o qual se projeta alta de 0,20% no mês e de 2,80% no acumulado de 12 meses — ligeiramente acima dos 2,70% registrados em junho. Já o núcleo do índice, que exclui alimentos e energia para oferecer uma leitura mais estável da tendência inflacionária, deve acelerar para 0,30% na variação mensal e 3,00% na anual, refletindo, ainda que parcialmente, os efeitos das tarifas comerciais.
O resultado será acompanhado de perto pelo Federal Reserve, que busca avaliar se a inflação está convergindo para níveis compatíveis com cortes de juros ainda em 2025 — cenário que ganhou tração após o payroll de julho revelar fraqueza e as revisões para maio e junho apontarem números mais baixos. Além do CPI, a semana reserva outros dados relevantes para a formação de expectativas, como o PPI, as vendas no varejo e a prévia do índice de sentimento do consumidor da Universidade de Michigan.
Historicamente, a retomada do ciclo de afrouxamento monetário pelo Fed após um período de pausa — hipótese que se desenha no horizonte — tende a trazer volatilidade nos estágios iniciais. Desde a década de 1980, em todas as seis ocasiões em que o banco central voltou a reduzir juros após uma interrupção, o S&P 500 apresentou queda no mês seguinte, mas recuperou-se nos meses posteriores. Os impactos imediatos costumam incluir recuo nos yields, enfraquecimento do dólar e um desempenho desigual nas bolsas. Nos mercados emergentes, a reação inicial tende a ser positiva. Nesse contexto, a inflação se torna peça-chave para calibrar o compasso da política monetária americana e para balizar o reposicionamento global das carteiras.
· 02:36 — Mais uma trégua
O presidente Donald Trump assinou um decreto que estende por mais 90 dias a trégua tarifária com a China, postergando para 9 de novembro o prazo final para a retomada de tarifas mais elevadas. A decisão, anunciada a poucas horas do vencimento do prazo anterior, foi tomada após a terceira rodada de negociações entre autoridades americanas e chinesas realizada em Estocolmo, e preserva as tarifas dos EUA sobre produtos chineses no patamar de 30% — significativamente inferiores aos mais de 140% que seriam aplicados sem o acordo — enquanto a China mantém tarifas de 10% e retoma as exportações de metais de terras raras. A prorrogação não apenas reduz a tensão imediata no comércio bilateral, mas também garante um ambiente diplomático mais estável antes de compromissos estratégicos, como o encontro entre Trump e Vladimir Putin marcado para esta sexta-feira (15) e a reunião internacional na Coreia do Sul, em outubro, que contará com a presença do presidente Xi Jinping. O movimento reflete a continuidade das negociações sobre temas sensíveis, como compras agrícolas, restrições à exportação de tecnologia e acesso a minerais críticos estratégicos.
No campo tecnológico, seguimos repercutindo o acordo polêmico envolvendo Nvidia e AMD, que comentei ontem — as empresas poderiam continuar vendendo determinados chips à China mediante o repasse de 15% da receita dessas operações ao governo americano. Trata-se de uma proposta inédita, que já provoca forte debate jurídico e político: especialistas ressaltam que a legislação atual proíbe atrelar taxas à receita como condição para a concessão de licenças de exportação. A iniciativa suscita questionamentos sobre a possibilidade de institucionalização de um modelo “pay-to-play” na política comercial dos EUA — algo que encontra paralelo em gestos recentes de grandes corporações. Um exemplo é a Apple, cujo CEO, Tim Cook, prometeu investir US$ 600 bilhões no país e presenteou Trump com uma placa dourada, ou ainda a aprovação governamental para a aquisição da U.S. Steel pela japonesa Nippon Steel, operação de US$ 14,1 bilhões com forte relevância estratégica.
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· 03:23 — Os dados econômicos estão menos confiáveis?
Desde a pandemia, a leitura dos indicadores econômicos tornou-se mais errática, marcada por maior volatilidade e por revisões frequentes, o que dificulta a precisão das projeções e desafia a previsibilidade dos modelos. Alguns elementos ajudam a explicar essa perda de confiabilidade. O primeiro é a acentuada queda nas taxas de resposta a pesquisas — um movimento que já se desenhava antes de 2020, mas que ganhou velocidade com as restrições sanitárias —, reduzindo a representatividade das amostras e abrindo espaço para distorções, sobretudo quando as respostas possuem vieses políticos. O segundo é a própria velocidade das transformações na economia global, que cria novas formas de atividade muitas vezes não captadas pelos instrumentos tradicionais de mensuração. O terceiro é o subfinanciamento crônico de agências estatísticas, que compromete a abrangência e a profundidade das medições.
Ainda assim, mesmo com suas imperfeições, as estatísticas oficiais preservam independência e seguem como a âncora mais confiável para decisões econômicas. O risco maior surge quando há interferência governamental deliberada para moldar dados de acordo com narrativas convenientes, substituindo o retrato real da economia por versões politicamente ajustadas — prática que eleva o potencial de erros graves na formulação de políticas. As medições privadas, embora relevantes como complemento, carecem de padronização e comparabilidade, o que limita sua capacidade de servir como referência robusta. Nesse vácuo de dados sólidos e consistentes, agentes econômicos — sejam eles empresas, investidores ou consumidores — tendem a se apoiar mais em percepções subjetivas ou relatos anedóticos, muitas vezes enviesados, o que distorce expectativas, amplia incertezas e pode levar a decisões equivocadas.
· 04:19 — Os 100 primeiros dias
Completados os primeiros 100 dias de governo, Friedrich Merz imprimiu à Alemanha um tom mais incisivo na política externa, buscando reposicionar o país como um pilar central da segurança europeia e transatlântica. Em contraste com a prudência de Angela Merkel e a hesitação inicial de Olaf Scholz diante da guerra na Ucrânia, Merz optou por agir com rapidez e objetivismo, como evidenciado na visita conjunta a Kiev, logo no início do mandato, ao lado dos líderes do Reino Unido, França e Polônia.
No campo econômico e de defesa, sinalizou ambições robustas: elevar os gastos militares para 3,5% do PIB e implementar um pacote de US$ 578 bilhões voltado à infraestrutura e energia sustentável, de modo a sustentar a competitividade alemã em um cenário global fragmentado e cada vez mais disputado. Entretanto, transformar esses planos em realidade exigirá superar a rigidez fiscal imposta pelo Reichstag e enfrentar as duras negociações orçamentárias, que prometem reacender divisões históricas entre defensores da austeridade e adeptos de maior flexibilidade nos gastos.
No cenário interno, Merz se vê diante de uma coalizão sob pressão constante. O crescimento de partidos mais radicais, impulsionado por campanhas digitais junto ao eleitorado jovem, intensifica o risco de polarização. Assim, embora Merz já tenha reposicionado a Alemanha no tabuleiro internacional e ampliado seu peso dentro da União Europeia, sua real capacidade de liderança será medida não apenas pela execução da agenda externa, mas também pela habilidade de manter a coesão política interna, gerir disputas fiscais e conter o impacto corrosivo do populismo digital. A grande incógnita é se conseguirá conduzir uma Europa mais firme e integrada.
· 05:05 — Se protegendo
Proteger-se da inflação, tarefa que já exigia estratégia e disciplina, pode estar se tornando ainda mais desafiador. Tradicionalmente, muitos investidores — e me incluo entre eles — enxergam o ouro como um escudo contra a corrosão do poder de compra, ainda que a relação direta entre o metal e a inflação esteja longe de ser consenso acadêmico.
Nos últimos dias, porém, até mesmo esse refúgio clássico…