Mercado em 5 minutos

Mercado aguarda divulgação do FED e cortes na taxa de juros estão cada vez mais incertos no Brasil; saiba mais

Após o feriado de Corpus Christi, o mercado financeiro brasileiro volta às atividades com a expectativa de um ajuste positivo nos ativos locais.

Por Matheus Spiess

31 maio 2024, 09:36 - atualizado em 31 maio 2024, 09:36

taxas de juros - Fed
Imagem: Freepik

Bom dia, pessoal. Voltamos do feriado nesta terça-feira, ainda digerindo os eventos de ontem e atentos às novidades do dia. Começamos com dados sobre a inflação na zona do euro, que fornecem pistas sobre a direção e a velocidade das ações do Banco Central Europeu, que está prestes a iniciar um ciclo de flexibilização muito aguardado na próxima semana.

A inflação anual acelerou para 2,9% em maio, após dois meses em 2,4%. Esse aumento pode influenciar as perspectivas de cortes nas taxas pelo BCE. No entanto, o principal evento do dia ocorre nos EUA, com a divulgação do índice de despesas de consumo pessoal (PCE) de abril, o indicador favorito do Federal Reserve para medir a inflação. Um número abaixo do esperado poderia beneficiar o mercado, incluindo o brasileiro.

Os ativos europeus começaram o dia predominantemente em queda, assim como os futuros americanos. Na Ásia, a maioria das ações subiu ligeiramente nesta sexta-feira, com o foco nos dados de inflação PCE dos EUA. Os mercados chineses avançaram, apesar de dados fracos da atividade empresarial, que alimentaram esperanças de mais estímulos econômicos.

O PMI industrial caiu de 50,4 em abril para 49,5 em maio, indicando que a atividade econômica está agora em contração. O PMI de serviços também recuou de 51,2 para 51,1. Outro ponto de atenção é a repercussão da condenação de Trump, que, francamente, pode não alterar significativamente o cenário das eleições americanas.

Na próxima semana, não estarei aqui escrevendo para vocês. Contudo, os leitores fiéis ainda contarão com meus colegas de equipe na Empiricus diariamente, dando continuidade ao M5M. Retorno logo em seguida.

A ver…

· 00:56 — O dia lá fora não foi dos piores.

Após o feriado de Corpus Christi, o mercado financeiro brasileiro volta às atividades com a expectativa de um ajuste positivo nos ativos locais. Esse otimismo é impulsionado pelo bom desempenho dos ADRs brasileiros nos mercados internacionais ontem, sustentados pela esperança de que o Federal Reserve possa antecipar um corte nas taxas de juros.

Esse movimento otimista ocorre apesar da queda significativa nas bolsas de Nova York, impactadas pela desvalorização de 20% nas ações da Salesforce. Paralelamente, os fracos indicadores econômicos da China merecem atenção. Embora sugiram a possibilidade de mais estímulos por parte do governo chinês, eles também contribuem para a queda dos preços internacionais do petróleo e do minério de ferro, refletindo uma fragilidade momentânea no mercado.

Localmente, com uma agenda econômica menos intensa, os investidores brasileiros estão cautelosos, especialmente aguardando a divulgação do índice de despesas de consumo pessoal (PCE) de abril nos Estados Unidos. Um resultado acima do esperado pode complicar o cenário econômico, especialmente porque a possibilidade de novos cortes na taxa de juros no Brasil se torna cada vez mais incerta.

Essa incerteza é agravada pelos recentes dados do mercado de trabalho brasileiro, que mostraram uma robustez inesperada, com a criação de 240 mil novos empregos formais em abril, uma taxa de desemprego de 7,5% — abaixo das previsões do mercado — e uma massa salarial recorde de R$ 313,1 bilhões, sugerindo que o espaço para cortes adicionais na taxa de juros é limitado.

· 01:42 — Fragilidade entre as empresas de tecnologia

Nos EUA, os índices de ações recuaram ontem, pressionados por uma queda nas ações de tecnologia, que vinham apresentando bom desempenho nos últimos dias, especialmente após os resultados trimestrais positivos da Nvidia. As ações de tecnologia de software e hardware fecharam em queda significativa, com o setor de tecnologia do S&P 500 perdendo 2,3%.

Um destaque negativo foi a Salesforce, que caiu quase 20% após um resultado trimestral mal recebido divulgado na noite de quarta-feira. Embora os lucros tenham superado as expectativas, a receita e as projeções para o trimestre atual ficaram aquém do consenso, pintando um quadro geral de desaceleração nos negócios da Salesforce.

Essa notícia afetou negativamente as ações de software em geral. A ServiceNow caiu 12%, a Adobe recuou 6,6%, a Intuit perdeu 5,9% e a Microsoft teve uma queda de 3,4%. No setor de hardware, as ações da Nvidia e de outros fabricantes de chips caíram devido às manchetes sobre a desaceleração das licenças de exportação de chips relacionados à inteligência artificial nos EUA. A Micron Technology caiu 4%, a Nvidia perdeu 3,8% e a Broadcom caiu 1,9%.

O S&P 500 terminou o dia com uma queda de 0,6%, o Dow Jones Industrial Average recuou 0,9% e o Nasdaq Composite caiu 1,1%. Apesar da queda nos rendimentos dos Treasuries, as ações americanas não conseguiram se manter estáveis. Esse cenário representa um grande risco para os próximos trimestres, em que pequenas frustrações nos resultados podem ter um impacto significativo nos preços das ações.

· 02:35 — E o PCE?

A leitura de abril da medida de inflação preferida do Federal Reserve, programada para hoje de manhã, deve confirmar uma estagnação na taxa de crescimento dos preços em abril. Essa tendência manteve o Fed em compasso de espera com as taxas de juros, enquanto as autoridades buscam maior certeza de que a inflação está diminuindo de forma sustentável.

As previsões de consenso apontam para aumentos anuais de 2,7% para o índice principal e de 2,8% para o núcleo. O Fed tem uma meta de inflação anual de 2%. Um número abaixo ou em linha com o esperado ajudaria o mercado a respirar, mantendo viva a chance de um corte de juros em setembro. No entanto, um número acima do esperado seria prejudicial para os mercados em geral.

· 03:27 — Trump culpado muda alguma coisa?

Donald Trump foi considerado culpado no primeiro julgamento criminal de um ex-presidente dos EUA na história do país. Condenado por todas as 34 acusações de falsificação de registros comerciais por um júri de Manhattan ontem, Trump ainda pode concorrer à presidência, mas pode não ter permissão para votar.

Os promotores alegaram – e o júri concordou – que Trump participou de uma conspiração criminosa para influenciar as eleições presidenciais de 2016, subornando a estrela de filmes adultos Stormy Daniels para que ela permanecesse em silêncio sobre um suposto encontro sexual. Um homem conservador, pela família e bons costumes.

O veredito poderá remodelar o cenário político antes de novembro, com a sentença marcada para 11 de julho, poucos dias antes da convenção do Partido Republicano. Trump deve recorrer da decisão, argumentando que não lhe foi dado um julgamento justo porque foi realizado na cidade de Nova York. O processo de recurso poderá prolongar-se muito além do dia das eleições.

Para os investidores, a questão agora é saber como o veredito impactará os mercados que já estão começando a se preparar para as eleições de 2024, quando Trump deve enfrentar o Presidente Joe Biden. Atualmente, Trump é o favorito na corrida. Uma condenação desse tipo poderia complicar seu caminho durante um eventual segundo mandato.

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· 04:19 — A situação europeia

Antes da próxima reunião do BCE, marcada para o dia 6 de junho, tivemos a leitura preliminar da inflação de maio. O dado aumentou mais do que o esperado, passando de 2,4% para 2,6% em termos anuais, enquanto o núcleo do índice avançou para 2,9%. Embora essa surpresa não deva dissuadir o BCE de cortar as taxas, pode contribuir para uma potencial pausa em julho, resultando em apenas um corte. De qualquer forma, um corte, ainda que isolado, pode ajudar a tirar pressão de curvas de juros de países emergentes, como o Brasil.

Hoje, é quase certo que o Banco Central Europeu reduzirá as taxas de juros antes do Federal Reserve, contrariando a tendência do banco central dos EUA de liderar em termos de política monetária. Autoridades do BCE praticamente confirmaram que o primeiro corte ocorrerá na reunião da próxima semana, à medida que a inflação se aproxima do objetivo de 2%. Isso contrasta com a falta de confiança dos dirigentes do Fed em facilitar a flexibilização tão cedo. Portanto, espera-se pelo menos um corte de 25 pontos base, com a dúvida permanecendo sobre os próximos passos.

· 05:04 — Sobre ficar comprado

O ano tem sido desafiador para investidores de ações brasileiras. O Brasil continua uma decepção, dificultando a vida de quem já enfrenta um mercado extremamente volátil desde meados de 2021, quando os juros começaram a subir e surgiram as preocupações com os precatórios. Isso afugenta investidores.

Naturalmente, o tamanho da posição deve ser ajustado de acordo com dois fatores: i) o perfil do investidor (um investidor mais conservador pode ter, por exemplo, 10% em Bolsa, enquanto um mais arrojado pode ter 30%); e ii) o momento do mercado. O ponto central, entretanto, é que você deve sempre manter uma exposição equilibrada na classe, mesmo que pequena.

O argumento principal é que você deve estar sempre investido em Bolsa e evitar o market timing…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.

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