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Mercado começa dia morno nesta segunda-feira (11) aguardando definições do fiscal brasileiro – veja os destaques do dia

Nos Estados Unidos, o dia é de menor liquidez com o feraido do Dia do Veterano. Confira os destaques do mercado brasileiro nesta segunda-feira (11)

Por Matheus Spiess

11 nov 2024, 08:47 - atualizado em 11 nov 2024, 08:47

Imagem: iStock/ wenjin chen

Em um dia de menor liquidez nos EUA devido ao feriado do Dia do Veterano — que fecha o mercado de títulos do governo, mas mantém o mercado de ações em funcionamento —, os futuros americanos registram alta.

O entusiasmo dos investidores com a vitória de Trump, o grande evento da semana passada, segue no centro das atenções, enquanto aguardamos os dados de inflação de outubro, previstos para quarta-feira (13). Esses dados são fundamentais, dado que o Federal Reserve deve realizar mais um corte de 25 pontos-base na taxa de juros em dezembro, repetindo o ajuste visto na última semana.

As bolsas europeias também avançam, beneficiadas pelo otimismo nas máximas históricas do mercado americano, embora a incerteza política na região tenha ganhado espaço com o colapso da coalizão governante na Alemanha. Já na Ásia, os mercados encerraram o dia sem uma direção definida, refletindo em parte a decepção dos investidores com o recente anúncio dos planos de estímulo fiscal da China, que ficaram abaixo das expectativas.

No Brasil, além de uma política monetária cada vez mais restritiva, convivemos com a persistente incerteza fiscal, alimentada pela longa espera por um pacote de cortes de gastos robusto e convincente, que o governo ainda se empenha em formular.

· 00:51 — Nem apareceu e já foi desidratado?

Nesta semana encurtada pelo feriado da Proclamação da República na sexta-feira (15), que fechará o mercado brasileiro, começamos as atividades com o foco no tema fiscal, até porque hoje será divulgado o resultado consolidado do setor público referente a setembro. A demora no anúncio das medidas de contenção de gastos tem levado o mercado a pressionar o dólar e os juros, e caso essa indefinição persista, não seria surpreendente ver o dólar atingir os R$ 6,00 no pico do pessimismo.

Durante o fim de semana, as reuniões sobre as propostas de cortes nas despesas públicas prosseguiram, mas a percepção de que o pacote poderá ser apresentado de forma desidratada aumentou na sexta-feira (8), o que gera um sinal extremamente negativo.

Enquanto não forem conhecidos o tamanho e os detalhes das medidas propostas pela Fazenda, o mercado tende a permanecer em um estado de cautela e pessimismo. Diversas propostas vêm sendo ventiladas, como limitar o reajuste do salário mínimo a 2,5% acima da inflação, ajustes profundos no Benefício de Prestação Continuada (BPC), cortes no piso de investimentos em educação e até mudanças no seguro-desemprego. No entanto, há uma forte resistência interna dentro do governo. Dada a conjuntura, qualquer pacote com cortes abaixo de R$ 30 bilhões seria recebido de forma negativa. O ideal é que viesse algo na casa dos R$ 50 bilhões.

Na ausência de uma âncora fiscal sólida, dependemos de uma âncora monetária mais rigorosa, o que justifica a alta recente da Selic. Esse movimento foi reforçado pela leitura do IPCA de outubro, que superou as expectativas e ultrapassou o teto da meta do Banco Central no horizonte de 12 meses. Em resumo, enfrentamos uma inflação elevada e de baixa qualidade, enquanto as expectativas inflacionárias permanecem desancoradas, aumentando a pressão sobre a política monetária.

· 01:44 — O otimismo continua

Nos EUA, o fenômeno do “Trump Trade” continua a dominar as atenções, com os mercados reagindo positivamente à vitória de Trump. Esse otimismo impulsionou o S&P 500 a registrar sua melhor semana em mais de um ano, chegando a ultrapassar a marca histórica de 6.000 pontos durante o pregão de sexta-feira, embora tenha fechado ligeiramente abaixo desse nível. O índice Dow Jones Industrial Average também teve um marco importante ao cruzar, em seu melhor momento, os 44 mil pontos pela primeira vez, e ambos os índices podem consolidar esses patamares no fechamento de hoje.

Com a eleição e o recente corte de juros de 0,25% pelo Federal Reserve agora em segundo plano, as atenções se voltam para uma semana movimentada no calendário econômico e para o início da temporada de balanços. Entre os destaques, estão o índice de inflação, que será divulgado na quarta-feira, e os resultados de grandes empresas como Disney (DISB34), Cisco, Home Depot, Shopify e Spotify, todos sob o olhar atento dos investidores.

· 02:37 — Vibrações eleitorais

A vitória de Trump nas eleições, aliada ao controle republicano no Senado e na Câmara, configura um novo cenário para os mercados e o ambiente internacional, em que o “Excepcionalismo Americano” deve seguir firme. Esse panorama tende a impor desafios maiores para a China e Europa, com reflexos na valorização do dólar frente às moedas desses países, como já temos visto acontecer desde outurbro.

A nomeação de Robert Lighthizer para o cargo de “czar do comércio internacional” – posição que já ocupou entre 2017 e 2021 – indica que Trump adotará uma postura rígida em negociações comerciais. Lighthizer é amplamente reconhecido por seu apoio ao protecionismo e por sua postura firme contra produtos chineses, sugerindo que tarifas mais agressivas devem ser implementadas. Contudo, a extensão e a duração dessas tarifas dependerão, em última análise, das respostas dos parceiros comerciais.

A apreensão dos investidores também causou uma forte desvalorização do peso mexicano, além de afetar o euro e o yuan, devido ao temor de novas tarifas. A presidente do México, Claudia Sheinbaum, deverá buscar um acordo para evitar a imposição dessas barreiras. Outras indicações de Trump incluem Tom Holman para a fronteira e imigração, reforçando a expectativa de políticas rigorosas de deportação, e Doug Burgum como “czar da energia”, sinalizando que a desregulamentação nesse setor será uma prioridade no novo governo, como falamos aqui que seria.

· 03:28 — Rivais?

Estados Unidos e China seguem como rivais, sustentados por sistemas políticos e econômicos amplamente distintos. Suas interações têm assumido cada vez mais a natureza de um jogo de soma zero. Para os líderes chineses, as estratégias dos EUA são vistas como uma política de contenção; enquanto isso, em Washington, existe um consenso bipartidário de que a meta de Pequim é suplantar os EUA como a principal potência global. Embora esses aspectos apontem para uma possível Nova Guerra Fria, o contexto global atual dificulta que esse tipo de confronto se sustente, especialmente num cenário em que poucos países estão dispostos a escolher um lado.

Os principais atores globais preferem manter boas relações com ambas as potências: ninguém quer comprometer sua parceria de segurança com Washington nem seus laços comerciais com Pequim. Além disso, tanto os EUA quanto a China enfrentam obstáculos internos que complicam a manutenção de um confronto prolongado.

Os EUA, mesmo em uma posição relativamente mais estável que a China, ainda lidam com uma forte polarização social e política, que a recente vitória expressiva de Trump ajudou a atenuar, mas não resolveu completamente. Claro, a tendência de longo prazo entre essas potências sugere uma contínua deterioração nas relações, sem perspectivas claras de melhoria substancial. No entanto, tanto Estados Unidos quanto China parecem ainda distantes de um confronto direto mais acentuado.

· 04:13 — A crise da incumbência

No início do ano, apresentei a tese de que os governantes em exercício (incumbentes) enfrentam desafios crescentes desde a pandemia, contrariando o histórico de que incumbentes geralmente têm vantagens. Em julho, retomei essa tese, fundamentando-a nos resultados recentes das eleições na França e no Reino Unido. Agora, os resultados das eleições no Japão e nos EUA reforçam ainda mais essa teoria. Olhando para frente, espera-se que o governo alemão passe por mudanças nos próximos meses, assim como o governo canadense, que dificilmente permanecerá sob a liderança de Justin Trudeau até o fim do próximo ano.

Em outras palavras, embora, meses atrás, os líderes do G7 tenham afirmado que a economia global estava robusta, o apoio popular a esses líderes revelou-se menor do que o esperado. A persistente inflação pós-pandemia, entre outros fatores, parece ser um dos principais responsáveis por essa situação. Esse cenário pode servir como um indicativo para o Brasil em 2026, quando a “crise da incumbência” provavelmente ainda será um desafio não resolvido.

· 05:02 — “Make America Cripto Again” deu certo! E agora?

O recente rali no mercado de criptomoedas, com o Bitcoin (BTC) atingindo um novo recorde ao ultrapassar US$ 82 mil, é um movimento que merece atenção. Esse aumento expressivo iniciou-se após a divulgação dos primeiros resultados das eleições nos Estados Unidos, impulsionado pela vitória de Donald Trump, visto como um aliado do setor cripto, junto ao seu vice, JD Vance, ambos com postura pró-cripto. A pergunta que fica é: após a valorização intensa, ainda vale a pena manter no portfólio?

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.