Investimentos

Mercados globais abrem no vermelho com prazo final para definição das ‘tarifas recíprocas’ nos EUA; veja os destaques da semana

A semana segue com a liquidez reduzida nos mercados globais em razão do verão no hemisfério norte.

Por Matheus Spiess

07 jul 2025, 09:35 - atualizado em 17 jul 2025, 16:05

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Imagem: iStock/ jxfzsy

Iniciamos a semana com os mercados em leve tom negativo, em meio à aproximação de uma data crítica para o comércio global. O prazo final para a definição das chamadas “tarifas recíprocas” nos EUA se encerra nesta quarta-feira, 9 de julho, e, como era de se esperar, o presidente Donald Trump voltou a endurecer o discurso contra os países que ainda não fecharam acordo comercial com Washington. A retórica mais agressiva, combinada com a liquidez reduzida típica do verão no hemisfério norte, abre espaço para um aumento pontual da volatilidade nos próximos dias — com investidores operando no escuro e no compasso da próxima cartada da Casa Branca.

Até o momento, apenas dois acordos foram efetivamente firmados: um com o Reino Unido e outro com o Vietnã, além de uma trégua com a China, centrada no comércio de terras raras. Diante do avanço modesto e da complexidade diplomática envolvida, tudo indica que o presidente norte-americano optará por estender, mais uma vez, a suspensão das tarifas. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, já antecipou que a imposição das tarifas originalmente previstas para abril será adiada para 1º de agosto, mas com uma nova rodada de pressão: até quarta-feira (9), Trump deve enviar cerca de 15 cartas a países que ainda não apresentaram propostas (no estilo “pegar ou largar”).

As bolsas europeias até começaram a semana em alta moderada, refletindo a espera tensa por uma definição no tabuleiro tarifário. Os mercados asiáticos, por sua vez, encerraram a segunda-feira majoritariamente no vermelho, refletindo o nervosismo com o fim iminente do prazo e o potencial impacto sobre o comércio global. O movimento negativo é parecido com o que vemos entre os futuros americanos nesta manhã — o mercado sabe que está à beira de mais um ato imprevisível protagonizado por Trump.

· 00:51 — Reconciliação?

No Brasil, o epicentro das tensões continua sendo a crise do IOF, que ameaça paralisar de vez a já capenga pauta econômica do governo no Congresso. Diante do impasse, o ministro Alexandre de Moraes propôs uma audiência de conciliação entre Executivo e Legislativo — uma espécie de terapia institucional para tentar estancar o sangramento político. Tanto Motta quanto Lula e Haddad vêm sinalizando disposição para o diálogo, agora com a mediação de Davi Alcolumbre. A costura política tem uma motivação clara: o Supremo Tribunal Federal, ciente de que o episódio pode desencadear uma ofensiva mais ampla do Congresso sobre o Judiciário, prefere evitar uma escalada institucional que acabe em mais uma crise entre os Poderes. Em outras palavras, a Suprema Corte não está preocupada apenas com o IOF, mas com o precedente.

A tensão, no entanto, não impediu o Ibovespa de renovar seu recorde nominal na última sexta-feira, encerrando o pregão aos 141.264 pontos. O alívio veio da percepção de que a disputa institucional pode ser contornada a tempo — ou ao menos empurrada com a barriga. Havia um receio legítimo de que a ruptura entre Congresso e Planalto radicalizasse ainda mais o discurso do governo, empurrando-o para soluções cada vez mais heterodoxas. De um lado, isso reforçaria a narrativa de que a virada do pêndulo político se aproxima — afinal, um governo que convoca manifestação para defender aumento de imposto (sendo que IOF, convenhamos, está longe de ser ferramenta de redistribuição de renda) já perdeu a conexão com o centro que o elegeu. De outro, esse tipo de desespero fiscal abre caminho para medidas ainda mais problemáticas, que só postergam o inevitável: o ajuste profundo que terá de ser feito a partir de 2027.

Aliás, sobre esse ajuste: o relatório preliminar da LDO de 2026, encaminhado ao Congresso em abril, deve ser votado nesta quarta-feira na Comissão Mista de Orçamento. Mas, sejamos francos, 2025 e 2026 são apenas o aperitivo — a antessala do verdadeiro ajuste estrutural que será exigido no próximo governo. E essa antessala já começa a ganhar contornos eleitorais. Faltando quinze meses para o pleito presidencial, Tarcísio de Freitas já dá sinais públicos de que deve disputar o Planalto, enquanto o Centrão flerta com a possibilidade de ter Ciro Nogueira como vice. O paralelo com a Argentina não passa despercebido: o rali de Milei começou 14 meses antes de sua vitória. A história, ao que tudo indica, pode se repetir por aqui.

A lógica é simples: a vitória da oposição em 2026 parece hoje mais provável que a reeleição do atual governo. O desafio está na construção de um nome que una três forças decisivas — a popularidade da direita bolsonarista, a credibilidade da centro-direita tecnocrática e liberal, e a governabilidade do Centrão. Se alguém conseguir reunir esses três elementos, a chance de uma virada histórica do Brasil é real. Um nome como o de Tarcísio, que circula com desenvoltura entre essas correntes e tem a aprovação de Bolsonaro, seria naturalmente o candidato ideal. Mas o bolsonarismo raiz ainda não parece pronto para soltar o osso — resiste à inevitável transição de liderança. Uma eventual “passada de bastão” por parte de Bolsonaro até o final do ano é plausível, mas ainda não é consenso dentro do bolsonarismo. Talvez não percebam com clareza, mas a insistência em uma candidatura de alto desgaste — ou a recusa em convergir para um nome mais viável e com menor rejeição — pode acabar prestando um serviço involuntário à esquerda e ao lulopetismo. No fim das contas, o maior beneficiado por essa desorganização continua sendo o atual governo Lula.

Dito isso, volto ao ponto central: a virada do pêndulo político está mais próxima de acontecer. A sua concretização dependerá cada vez mais da capacidade de articulação de uma frente ampla à direita. O roteiro até lá, no entanto, será tudo, menos previsível. Prepare-se: volatilidade política e ruídos institucionais continuarão sendo parte do pacote. E, como sempre, os preços dos ativos serão o espelho dessa travessia.

· 01:42 — Pouso suave?

Nos EUA, antes do feriado da última sexta-feira (4), a semana passada terminou com um dado-chave para os mercados globais: o relatório oficial de emprego. O número veio para reforçar a tese de que a maior economia do mundo está desacelerando no ritmo certo — nem rápido demais, a ponto de desabar, nem devagar demais, a ponto de obrigar o Fed a seguir de braços cruzados. Há, enfim, sinais convincentes de que o mercado de trabalho americano está perdendo força de forma gradual e ordeira, com as pressões salariais perdendo intensidade. Um equilíbrio que pavimenta a trilha para eventuais cortes de juros no segundo semestre — se a inflação continuar sob controle.

Foram criadas 147 mil vagas em junho, acima do consenso, e a média de geração de empregos nos últimos três meses continua robusta, sustentada especialmente por setores como serviços e governo. Ao mesmo tempo, do lado dos salários, o crescimento seguiu abaixo do esperado, e a tendência de desaceleração no acumulado em 12 meses permanece firme. Tudo isso reduz a pressão sobre o Federal Reserve e melhora as perspectivas para ativos de risco. Agora, os olhos se voltam para a ata do FOMC, a ser divulgada nesta semana — e qualquer sinal de que o corte em setembro está na mesa pode trazer novo impulso aos mercados.

· 02:35 — Pausa estendida

O otimismo de Washington quanto ao fechamento de acordos comerciais antes do novo prazo imposto por Trump — 1º de agosto — parece, até aqui, mais bravata política do que realidade. Apesar das declarações animadas do secretário do Tesouro, Scott Bessent, a prometida enxurrada de acordos se restringiu, até o momento, a apenas dois casos: Reino Unido e Vietnã. O primeiro ainda carece de ajustes técnicos; o segundo é de importância limitada. Já nas tratativas com os grandes blocos econômicos ou países, como União Europeia e Japão, o que se vê é morosidade. E com a China, que tem peso central na balança, há um calendário próprio com prazo até meados de agosto, fruto de um acordo parcial envolvendo terras raras.

Apesar da retórica inflamada, a realidade é que o governo americano está apenas empurrando a discussão adiante. Bessent já sinalizou que as cartas que Trump deve enviar nesta semana aos países que ainda não fecharam acordos serão apenas mais uma rodada de pressão. Isso porque as tarifas só passarão a valer em 1º de agosto, permitindo mais três semanas de margem para negociação. Ao que tudo indica, trata-se de uma tentativa de ganhar tempo diante do impasse diplomático. 

O Brasil, que até então havia escapado de represálias mais duras, foi puxado para o centro da confusão. Não por razões comerciais, mas políticas: o alinhamento do governo Lula ao BRICS — grupo que Trump agora trata como antítese do Ocidente — custará caro. As importações desses países devem sofrer sobretaxa de 10 pontos percentuais. Me parece pouco coerente da parte de Trump. Como já discutimos, o BRICS é tudo, menos um grupo coeso — seus membros mal se toleram e a cúpula realizada no Brasil está sendo um fiasco. Sem Xi, sem Putin e sem relevância. Trump mira os BRICS como ameaça, mas acerta mesmo é no vazio.

· 03:24 — Em alta apesar das notícias

O petróleo inicia a semana em alta, com o Brent cotado a US$ 68,52 por barril. O movimento, à primeira vista, soa contraintuitivo: no sábado, a OPEP+ surpreendeu os mercados ao anunciar o acréscimo de 548 mil barris por dia à produção já no próximo mês — uma decisão que, em tese, deveria elevar o excedente da commodity no segundo semestre e pressionar os preços para baixo. Delegados do cartel indicaram ainda a possibilidade de novo aumento de mesma magnitude em setembro. Tudo isso, somado, deveria ancorar expectativas mais baixas para o preço do barril.

Mas o mercado parece disposto a ignorar a lógica tradicional. O noticiário geopolítico, por exemplo, tampouco justifica a valorização: as negociações por um cessar-fogo entre Israel e Hamas devem ser retomadas no Catar nos próximos dias, com emissários israelenses em Doha discutindo um possível armistício de 60 dias — outro fator que, em tese, reduziria o prêmio de risco e, por consequência, o preço da commodity. Ainda assim, o petróleo sobe. Talvez a resposta esteja na percepção de que, com o adiamento de medidas tarifárias mais duras por parte dos EUA — consequência da postergação da “trégua” de Donald Trump —, haverá fôlego adicional para a atividade econômica global no curto prazo, o que manteria o consumo de energia aquecido. Em resumo, o mercado está preferindo enxergar o copo meio cheio.

· 04:19 — Opção alemã

A Alemanha avalia a possibilidade de adquirir até 2.500 veículos blindados de combate e cerca de mil tanques de guerra, como parte de um esforço conjunto da Europa para fortalecer as capacidades da OTAN diante da crescente ameaça russa. A aliança militar teria solicitado a Berlim o fornecimento de até sete brigadas de combate nos próximos dez anos — um salto relevante no compromisso militar da principal economia europeia. 

A expansão do arsenal reflete o clima de insegurança que paira sobre o continente desde a invasão em larga escala da Ucrânia por Moscou — um marco que selou o fim da ingenuidade estratégica europeia. No centro dessa guinada está o novo chanceler alemão, Friedrich Merz, que prometeu transformar as forças armadas alemãs nas mais poderosas da Europa. A mensagem é clara: a era do pacifismo confortável acabou. A Europa, que por décadas terceirizou sua defesa aos EUA, mudou de posição…

· 05:03 — A investida da Meta

Mark Zuckerberg decidiu que não basta à Meta competir no campo da inteligência artificial — é preciso liderá-lo. E, para isso, resolveu construir uma divisão de elite capaz de eclipsar qualquer concorrente, por mais bem posicionado que esteja. A sorte, claro, é que dinheiro não falta: em vez de desenvolver talento do zero, a estratégia parece ser simplesmente comprar os melhores cérebros — ainda que estejam hoje nas trincheiras dos rivais. Pacotes salariais que chegam à casa dos US$ 100 milhões estão sendo oferecidos para atrair especialistas de primeira linha e montar uma equipe que, nas palavras de Zuckerberg, será dedicada à criação de “superinteligência“.

Nas últimas semanas, a Meta conseguiu…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.