Mercado em 5 minutos

Mercados globais iniciam último pregão de janeiro em tom otimista; veja o que esperar desta sexta (31)

Dia começa com altas nos contratos futuros das bolsas americanas e nos principais índices europeus

Por Matheus Spiess

31 jan 2025, 09:13 - atualizado em 31 jan 2025, 09:13

alta do dólar mercado bolsa ibovespa

Imagem: iStock/Lari Bat

Chegamos ao fim de janeiro, um mês que, para muitos, parece ter durado uns 90 dias em vez de 31. Curiosamente, o fechamento pode consolidar um resultado positivo para o Brasil, dependendo do desempenho do pregão de hoje, o que seria um alívio após o final turbulento de 2024, quando os ativos brasileiros enfrentaram forte pressão.

No cenário internacional, o dia começa com altas nos contratos futuros das bolsas americanas e nos principais índices europeus, que atingiram máximas históricas impulsionadas pelos setores de tecnologia e saúde. Esse movimento ocorre apesar da cautela dos investidores, que aguardam o desfecho da mais recente ofensiva comercial do governo Trump. Ontem, o presidente confirmou a imposição de tarifas de 25% sobre o petróleo importado do Canadá e do México, com vigência já a partir deste sábado.

O otimismo nos mercados globais também reflete o desempenho positivo da Bolsa de Tóquio, que encerrou seu terceiro pregão consecutivo em alta. Além disso, o corte de juros do Banco Central Europeu (BCE), que reduziu a taxa para 2,75%, reforça o tom favorável do mercado. Esse movimento já era amplamente esperado, mas ganha importância diante da possibilidade de que o BCE abandone, em sua próxima reunião de março, a descrição de sua política monetária como “restritiva”.

Enquanto isso, o dólar sobe no mercado internacional, impulsionado pela ameaça de novas tarifas comerciais de Trump e pela expectativa dos investidores em relação ao dado de inflação dos EUA, que será divulgado hoje. O número pode definir o tom dos mercados nas próximas semanas, influenciando os próximos passos do Fed.

· 00:56 — Você é tão bom quanto seu último trade

O Ibovespa registrou uma forte alta no pregão de ontem, avançando mais de 3 mil pontos e encerrando o dia próximo dos 127 mil pontos. Com isso, o índice acumula uma valorização de aproximadamente 5,5% em janeiro, consolidando um início de ano bastante positivo para o mercado brasileiro. Historicamente, há um dado curioso: em todos os anos em que o Ibovespa subiu em janeiro, ele nunca fechou negativo no acumulado do ano. Além disso, a performance de janeiro de 2025 já figura como a sétima melhor do século. Se olharmos para os anos em que o índice registrou ganhos no primeiro mês do ano (10 ocorrências em 22 possíveis), o desempenho médio do restante do ano foi de 20%, variando entre uma máxima de 74,5% e uma mínima de -3,4%. Claro, esses números não devem ser interpretados como uma correlação direta ou um indicador determinístico, mas sim como uma curiosidade estatística. Afinal, se descartarmos todas as relações espúrias, sobrará bem pouco para alimentar o otimismo. O ponto central é que o nível de preços importa, e 2025 começou em meio a um pico de pessimismo para os ativos locais, o que pode criar um ponto de inflexão.

O otimismo do mercado ontem foi impulsionado, em grande parte, pelo alívio nas taxas de juros após a reunião do Copom. O fato de o Banco Central ter deixado aberta a possibilidade de reduzir o ritmo do aperto monetário em maio, mesmo que ainda haja aumentos, coincidiu com a divulgação de dados fracos do mercado de trabalho, como o fechamento líquido de 535 mil empregos formais em dezembro, segundo o Caged. O enfraquecimento dos dados de emprego já sugere uma desaceleração da atividade econômica, e não se pode descartar a possibilidade de uma recessão técnica entre 2025 e 2026 (dois trimestres consecutivos de queda no PIB).

Hoje, o mercado segue atento a novos indicadores, incluindo os dados de emprego da Pnad e os números consolidados das contas do governo. No campo fiscal, o grande desafio do Brasil, os números divulgados mostram um déficit primário de 0,09% do PIB em 2024 – sem considerar as despesas do Rio Grande do Sul. Apesar de o governo comemorar o cumprimento das metas do arcabouço fiscal, há questionamentos sobre a real situação das contas públicas. Como já falei, segundo cálculos do economista Marcos Mendes, publicados na Folha de S.Paulo, o déficit primário real deveria estar próximo de 2% do PIB, se eliminadas os ajustes contábeis utilizados pelo governo. Ou seja, não há muito o que celebrar. Hoje, também será divulgado o patamar de endividamento, que deve fechar em torno de 77% do PIB. O mercado ainda aguarda medidas adicionais de contenção de gastos, mas não está claro se elas virão.

Ontem, o presidente Lula reforçou seu posicionamento contra cortes no orçamento, uma mensagem que agora faz parte de sua nova estratégia de comunicação, que inclui coletivas de imprensa periódicas. Se a posição do governo permanecer inalterada, será um sinal negativo para a trajetória fiscal. Ao menos, a coletiva de ontem serviu para reforçar a confiança de Lula em Fernando Haddad, após as críticas de Gilberto Kassab, e também demonstrar apoio ao presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo. O mercado viu essa sinalização com bons olhos, mas sem medidas concretas, dificilmente haverá uma melhora sustentável na percepção de risco. Viveremos voos de galinha. A expectativa é que ajustes fiscais venham acompanhados de uma reforma ministerial, com o Centrão pressionando o governo a realocar Haddad para a Casa Civil e Alckmin para a Fazenda. Seria bom, mas não sei se vai acontecer. O que realmente importa não são os nomes, mas sim a estratégia para equilibrar as contas públicas — está cada vez mais evidente que a saída é revisar os gastos.

· 01:42 — O otimismo ainda persiste

Nos Estados Unidos, o mercado de ações quase desperdiçou um dia de ganhos sólidos devido a novas declarações da Casa Branca sobre tarifas comerciais, mas os principais índices conseguiram se recuperar nos minutos finais do pregão. O Dow Jones Industrial Average, que esteve próximo de alcançar seu maior fechamento histórico ao longo da tarde, sofreu uma queda abrupta após declarações do presidente Donald Trump. Durante uma entrevista no Salão Oval, Trump confirmou sua intenção de avançar com a imposição de tarifas de 25% sobre as importações do Canadá e do México a partir de 1º de fevereiro. A notícia gerou tensão imediata nos mercados, refletindo o receio de que a escalada protecionista possa impactar o crescimento.

Essa reação negativa foi intensificada pelos dados do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA, que mostraram uma desaceleração para uma taxa anual ajustada pela inflação de 2,3% no quarto trimestre, ligeiramente abaixo da expectativa de 2,4%. Embora o número não tenha sido uma grande surpresa, reforçou a percepção de que a economia americana está perdendo fôlego. Por outro lado, essa leitura mais fraca do PIB aliviou a pressão sobre a curva de juros, abrindo espaço para que o Federal Reserve considere novos cortes de juros em um momento posterior. O foco agora se volta para a divulgação do Índice de Preços de Despesas de Consumo Pessoal (PCE) de dezembro, o indicador de inflação favorito do Fed. Esse dado será crucial para calibrar as expectativas sobre a trajetória da política monetária nos próximos meses.

· 02:37 — A China ainda preocupa

Além dos dados macroeconômicos, seguimos acompanhando a temporada de resultados corporativos, que até agora tem sido bastante positiva. Hoje, o mercado aguarda os números de Charter Communications, Chevron e Exxon Mobil, enquanto, na noite de ontem, foi a vez da Apple divulgar seus resultados trimestrais. A gigante de tecnologia reportou US$ 69,1 bilhões em vendas de iPhones no primeiro trimestre fiscal de 2024, registrando uma queda de 1% em relação ao ano anterior e ficando abaixo das expectativas do mercado. Apesar disso, a Apple compensou essa fraqueza com um crescimento robusto em outras áreas do negócio. Suas unidades de Mac, iPad e serviços apresentaram crescimento de 16%, 15% e 14%, respectivamente, demonstrando resiliência e diversificação em suas fontes de receita. No total, a receita trimestral ficou em US$ 124,3 bilhões, enquanto o lucro por ação atingiu US$ 2,40 – ambos em linha com as projeções, mesmo com o desempenho mais fraco do iPhone.

No recorte regional, o Japão se destacou, registrando US$ 9 bilhões em receita, um avanço expressivo de 16%. Já a Europa, que inclui alguns dos mercados de crescimento acelerado da Apple, como Índia e Oriente Médio, apresentou uma alta de 11% na receita. Por outro lado, a China seguiu como um ponto de preocupação. O mercado esperava estabilidade na receita chinesa, mas as vendas na região caíram 11%, indicando que a demanda por produtos da Apple na China ainda não atingiu um ponto de recuperação clara. Ainda assim, apesar das oscilações, as ações da Apple ganharam força no after-market quando a teleconferência trimestral teve início. Um dos principais fatores que impulsionaram o otimismo foi a perspectiva positiva para o trimestre atual, especialmente com as expectativas voltadas para a integração de inteligência artificial (IA) nos produtos da empresa – um movimento que ainda precisa ser testado, mas que pode representar um diferencial estratégico significativo.

· 03:29 — Ele estava falando sério…

Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump reafirmou sua intenção de implementar tarifas agressivas sobre produtos importados do Canadá e do México, impactando diretamente os consumidores americanos. No entanto, há sinais de que o setor de petróleo pode ser isento, uma vez que diversas refinarias nos EUA são configuradas para processar petróleo canadense e mexicano, e não o americano. A rápida exclusão de produtos como café da lista de tarifas reflete a imprevisibilidade da política comercial de Trump, que tem oscilado conforme pressões setoriais e estratégicas. Ainda assim, as tarifas confirmadas serão pesadas, com um imposto de 25% sobre os países, entrando em vigor já neste sábado, 1º de fevereiro.

Os impactos dessa medida serão diversos, mas a principal preocupação recai sobre a inflação, já que o encarecimento das importações pode gerar pressões adicionais sobre os preços nos EUA. Além disso, essa escalada tarifária não deve se limitar aos vizinhos americanos. Há crescentes especulações sobre uma nova rodada de tarifas direcionadas à China, que ainda estão em fase de elaboração, mas já começam a reverberar globalmente, pressionando também outros blocos econômicos.

Um exemplo disso é o impacto potencial sobre os BRICS. Trump voltou a enfatizar sua posição de que, se o grupo criar uma moeda própria para transações internacionais, os países membros serão taxados em 100%. Ele reiterou que não há qualquer possibilidade de o BRICS substituir o dólar no comércio global, reforçando seu compromisso com a hegemonia da moeda americana. Embora muitos tenham desconsiderado a viabilidade de uma moeda dos BRICS, o que chama atenção é a forma como Trump tem dado sinais concretos de que está disposto a materializar suas promessas comerciais, intensificando o protecionismo americano e aumentando as tensões no mundo. Ruim para o Brasil, que sediará este ano uma cúpula do grupo.

· 04:12 — Um belo valuation… Mas será que vale?

A OpenAI está em estágios iniciais de negociação para levantar até US$ 40 bilhões em uma nova rodada de financiamento, que poderia avaliar a empresa em impressionantes US$ 340 bilhões. O SoftBank lideraria essa captação e está discutindo um investimento de até US$ 25 bilhões, consolidando-se como um dos principais financiadores da dona do ChatGPT. No entanto, as conversas ainda estão em andamento e podem não se concretizar, especialmente após as recentes notícias sobre a DeepSeek, que trouxe preocupações quanto à sua capacidade de reduzir a vantagem competitiva da OpenAI.

Caso a rodada de financiamento seja concluída, uma parte dos recursos será destinada a cumprir o compromisso da OpenAI de aproximadamente US$ 18 bilhões com a Stargate – uma joint venture com o SoftBank e outras empresas, voltada para financiar a construção de novos data centers nos EUA. Além disso, a OpenAI pretende usar parte do capital para financiar suas operações comerciais, que ainda operam no vermelho. Resta saber se esse movimento se sustentará financeiramente ou se a empresa seguirá dependendo de injeções contínuas de capital para viabilizar sua expansão. Algo que veremos ao longo dos próximos meses…

· 05:07 — O que fazer com a gigante?

Como mencionei anteriormente, os resultados trimestrais da Apple trouxeram novas preocupações ao mercado, especialmente em relação às vendas na China e ao desempenho do iPhone. O grande ponto de atenção é que…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.