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Negociações tarifárias entre EUA e China avançam e Haddad vai à Câmara defender medidas de arrecadação; veja os destaques econômicos desta quarta-feira (11)

Nesta quarta-feira (11), os dados de CPI dos EUA e a cobertura da audiência do ministro Haddad na Câmara devem atrair a atenção dos investidores.

Por Matheus Spiess

11 jun 2025, 09:25 - atualizado em 11 jun 2025, 09:25

dólar eua mercado bolsas

Imagem: iStock/ Dilok Klaisataporn

Tudo indica que houve avanço nas negociações entre EUA e China — embora, como de costume, a névoa da diplomacia siga encobrindo os detalhes mais relevantes. Aparentemente, os americanos concordaram em solicitar formalmente que o presidente Trump retorne ao Acordo de Genebra, cuja proposta original era criar um armistício tarifário enquanto se buscava uma solução mais abrangente para as disputas comerciais. Não houve divulgação oficial sobre o conteúdo das conversas, tampouco clareza sobre eventuais concessões adicionais por parte dos Estados Unidos. O que se delineia, por ora, é uma tentativa de reanimar o compromisso já existente.

Enquanto isso, os futuros americanos recuam levemente, refletindo uma postura de cautela diante da ausência de confirmação formal de conclusão das conversas em Londres — comportamento oposto ao das bolsas europeias, que sobem em linha com o tom mais construtivo observado nos mercados asiáticos. O cenário global, portanto, oscila entre o otimismo especulativo e a prudência diante de eventos inconclusivos.

No radar de hoje (11), o dado mais aguardado é o índice de preços ao consumidor (CPI) de maio nos EUA, que deve calibrar expectativas quanto ao rumo da política monetária por lá — e, por tabela, ditar o humor dos ativos ao redor do mundo. Já no Brasil, o mercado digere a surpresa baixista da inflação corrente, que veio abaixo do esperado. Esse movimento, não fosse pelo tom duro adotado recentemente por Galípolo, poderia ter encerrado de vez a discussão sobre novas altas da Selic. Mas, ao que parece, ainda estamos presos entre o alívio do presente e o receio do que vem adiante.

· 00:55 — Selic vai subir de novo?

No Brasil, os holofotes desta quarta-feira (11) se voltam para a participação do ministro Fernando Haddad em audiência na Câmara, onde deve defender as medidas alternativas à extinção do IOF — ou, em termos mais francos, o novo cardápio arrecadatório do governo. Ontem (10), Haddad esteve duas vezes no Palácio da Alvorada para apresentar ao presidente Lula o resultado das negociações com o Congresso e os elementos que deverão compor a próxima Medida Provisória. Entre as propostas em discussão, destacam-se: o aumento da alíquota sobre apostas esportivas (bets), de 12% para 18%; a taxação de 5% sobre rendimentos hoje isentos; a padronização das alíquotas de imposto para aplicações financeiras em 17,5%; e o aumento da tributação sobre Juros sobre Capital Próprio (JCP), de 15% para 20%.

São medidas que ampliam a arrecadação no curto prazo, mas passam longe de atacar o verdadeiro problema: a estrutura viciada e insustentável da despesa pública. Segundo Haddad, temas mais sensíveis e verdadeiramente estruturantes — como o teto dos supersalários no funcionalismo ou o ajuste das aposentadorias militares — estariam sendo “conversados” com o Congresso. Tradução: empurrados para o escanteio mais uma vez. Se algo for encaminhado, será apenas no segundo semestre, talvez embalado pela prometida redução linear dos gastos tributários, que, embora muito relevante, não deixa de ser mais uma via para reforçar o caixa do governo.

É justamente essa relutância em enfrentar o desequilíbrio fiscal de frente que tem alimentado o desancoramento das expectativas de inflação e, por consequência, forçado o Banco Central a manter — ou até intensificar — o aperto monetário. Em outras palavras: o governo tenta empurrar a atividade com estímulos de curtíssimo prazo e viés eleitoral, enquanto o BC precisa subir os juros para conter a instabilidade que esse tipo de política gera. Resultado: perda de eficácia na condução monetária e mais peso sobre a Selic. Nesse contexto, todas as atenções também se voltam para a fala de Galípolo em evento hoje. Será interessante observar se o presidente do BC manterá o tom duro, mesmo após o alívio vindo do IPCA de maio, que desacelerou para 0,26%, contra 0,43% em abril — abaixo da mediana das expectativas. Embora a inflação siga elevada e ainda distante da meta, o dado mais benigno reacende as apostas de que o ciclo de alta da Selic pode estar próximo do fim.

Como já mencionamos aqui, o Banco Central deixou em aberto a possibilidade de um último ajuste residual de 25 pontos-base na reunião da semana que vem — uma alta que se justificaria mais pela persistência da inflação elevada e pela falta de âncora fiscal do que por qualquer surto inflacionário novo. Na ausência de responsabilidade do lado fiscal, o trabalho da autoridade monetária precisa ser redobrado. E, nesse esforço solitário, o BC pode sim levar a taxa básica a 15%, mas com crescente expectativa de que esse seja o último aperto, abrindo espaço para o início da discussão sobre cortes no segundo semestre. Ontem, esse cenário mais construtivo ganhou força — e os mercados reagiram em alta. Mais sinais nessa direção seriam positivos.

· 01:41 — A chance de uma surpresa na inflação americana

Nos EUA, as bolsas encerraram o pregão de ontem em alta, refletindo o alívio momentâneo com os avanços nas negociações comerciais com a China — embora o entusiasmo siga condicionado à divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI), prevista para hoje. Trata-se de um dado com potencial de mover mercados, já que o número trará não apenas a fotografia da inflação de maio, mas também pistas sobre a capacidade do Federal Reserve de retomar sua intenção de corte de juros neste ano.

A projeção de consenso aponta para uma alta de 0,2% no mês, com aceleração da taxa anual de 2,3% para 2,5%. Já o núcleo da inflação, que exclui os componentes mais voláteis, deve avançar 0,3% na margem, elevando o acumulado em 12 meses de 2,8% para 2,9%. O temor dos investidores é que os recentes reajustes tarifários promovidos por Donald Trump já estejam contaminando os preços — ainda que, na média, o impacto sobre o consumidor leve cerca de três meses para aparecer, considerando os estoques ainda em circulação nas cadeias de suprimento americanas. Mas é uma média: setores com maior sensibilidade ao custo de reposição ou empresas que já anteciparam ajustes em seus ciclos de precificação podem acelerar o repasse.

Nesse contexto, qualquer surpresa altista no CPI pode enfraquecer a chance de retomada do ciclo de corte de juros pelo Fed. Por outro lado, um número em linha com o esperado ou levemente abaixo manteria a porta entreaberta para um alívio monetário mais à frente. A política monetária americana, por ora, continua pendurada no fio da inflação — e hoje o mercado inteiro estará com os olhos voltados para esse dado.

· 02:34 — As conversas parecem ter dado certo

Estados Unidos e China chegaram a um entendimento preliminar para aliviar as tensões comerciais. Após dois dias de negociações intensas em Londres, os dois países concordaram em avançar na implementação do acordo provisório firmado em Genebra no mês passado — acordo que, vale lembrar, já havia sido alvo de acusações mútuas de violação por ambas as partes.

Os termos do novo compromisso ainda não foram divulgados em sua totalidade, mas autoridades americanas demonstraram expectativa de que temas sensíveis, como o acesso às terras raras chinesas e os controles de exportação de tecnologia impostos pelos EUA, sejam finalmente enfrentados com mais objetividade. Por ora, porém, o mercado reagiu com indiferença: os ativos pouco se moveram, refletindo a falta de substância no anúncio. Faltaram compromissos claros, prazos definidos e, principalmente, gestos críveis de confiança mútua.

Em outras palavras, o comunicado foi recebido como mais um capítulo de boas intenções em meio a uma novela diplomática-comercial que se arrasta sem solução definitiva. Embora o gesto seja, em tese, positivo, ainda há um longo caminho até que o comércio global retome alguma aparência de normalidade. E, pelo visto, essa estrada continuará sendo pavimentada com mais ceticismo do que otimismo.

· 03:26 — Novas sanções

A União Europeia apresentou uma nova proposta de sanções contra a Rússia, cujo objetivo é aumentar a pressão sobre Moscou e acelerar o desfecho do conflito na Ucrânia — ou, no mínimo, encarecer sua continuidade. Entre as medidas está a sugestão de proibir formalmente os oleodutos Nord Stream e reduzir o teto do preço do petróleo russo imposto pelo G7, dos atuais US$ 60 para US$ 45 por barril. Trata-se de uma tentativa clara de apertar ainda mais o cerco financeiro ao Kremlin, restringindo a receita energética que alimenta o esforço de guerra russo. A implementação desse novo limite, contudo, depende do aval dos EUA, que ainda não sinalizaram apoio definitivo. O tema deve entrar na pauta da próxima reunião de cúpula do G7.

Por ora, o limite de preço — que impede que companhias do G7 prestem serviços de transporte e seguro para barris vendidos acima do teto — tem se mostrado mais simbólico do que eficaz. A proposta de endurecimento, embora bem-intencionada, chega com atraso, quando grande parte das rotas de escoamento do petróleo russo já foi redesenhada por fora do alcance das sanções ocidentais.

Enquanto isso, a Rússia intensifica suas ofensivas. O país tem acelerado a produção de drones — agora em ritmo industrial —, o que tem permitido ataques diários em larga escala contra centros urbanos ucranianos. No campo de batalha, os avanços territoriais russos seguem lentos, mas persistentes, com o Kremlin apertando a diplomacia na outra frente: exige que Kiev aceite termos de paz que se assemelham à rendição. 

· 04:17 — Crescimento mais fraco

As perspectivas globais continuam sombrias — e, ao que tudo indica, o mundo está se acomodando a essa nova mediocridade. De acordo com as estimativas mais recentes do Banco Mundial, o crescimento econômico global caminha para uma média de apenas 2,5% nos primeiros sete anos desta década — ritmo que, salvo os anos de recessão causados pela crise financeira de 2009 e pela pandemia de 2020, seria o mais fraco em quase duas décadas. Trata-se, na prática, de uma década perdida em termos de dinamismo econômico — a mais anêmica desde os anos 1960.

O Banco Mundial, que no ano passado projetava crescimento de 2,8% para 2024, agora revisou a estimativa para 2,3%. Em janeiro, a previsão já havia sido cortada para 2,7%. A erosão nas projeções não é pontual nem localizada: quase 70% das economias globais sofreram revisões negativas, refletindo um cenário de fragilidade persistente, travamento do comércio e desaceleração sincronizada — ainda que tecnicamente não se fale (ainda) em recessão global. O problema é estrutural. 

A ausência de coordenação internacional, sobretudo no comércio, alimenta um ambiente de incerteza prolongada. Um exemplo: uma elevação adicional de 10 pontos percentuais nas tarifas médias dos EUA — cenário que não é mais mera ficção política — teria potencial para paralisar o comércio global já no segundo semestre de 2025. A fragmentação econômica global se intensifica, e a inércia política em reagir a isso pode ter custos profundos e duradouros sobre os padrões de vida em escala mundial.

· 05:09 — Keynesianismo militar continua trabalhando intensamente

No início de 2025, o aguardado encontro entre Donald Trump e Volodymyr Zelenskyy atraiu os olhos dos mercados globais — não tanto pelas declarações diplomáticas, mas pelo simbolismo político. A reunião, carregada de retórica e tensão, marcou mais um capítulo do endurecimento geopolítico no Ocidente e coincidiu com uma forte valorização das ações do setor de defesa europeu. Mais do que um evento isolado, foi mais um marco dentro de uma tendência que deixou de ser cíclica para se tornar estrutural:

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.