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Trump ameaça Japão com tarifas de 35%; no Brasil, Lula envolve STF em briga com o Congresso: veja os destaques desta quarta

Trump anunciou que não pretende adiar a definição de tarifas de exportação, previstas para divulgação no dia 9 de julho. Leia mais.

Por Matheus Spiess

02 jul 2025, 09:18 - atualizado em 17 jul 2025, 16:04

brasília governo federal brasil

Imagem: Pixabay

Os ativos de risco iniciam esta manhã em alta no cenário internacional, mantendo o viés de recuperação dos últimos dias. As bolsas europeias avançam embaladas pela expectativa de progresso nas negociações comerciais. Donald Trump declarou que não pretende estender o prazo de 9 de julho para a definição tarifária, enquanto a Comissão Europeia deve apresentar nesta semana uma nova rodada de exigências.

Esse otimismo europeu contrasta com o tom negativo observado na Ásia. A maioria das bolsas da região fechou no vermelho — exceção feita a Hong Kong e Taiwan. Ontem, o presidente dos EUA elevou o nível de tensão ao ameaçar o Japão com tarifas de até 35%, reacendendo o receio de um desdobramento comercial mais agressivo.

Apesar do clima instável, o petróleo avança, contrariando o que seria esperado após sinais de distensão geopolítica. Trump também afirmou que Israel aceitou os termos para um cessar-fogo de 60 dias com o Hamas. Com isso, vemos uma moderação nas condições financeiras globais — alta dos ativos, fechamento dos juros e queda do dólar —, o que tende a aliviar restrições à atividade econômica e apoiar o crescimento.

Na agenda, além das questões geopolíticas e comerciais, os investidores voltam suas atenções para a divulgação de novos dados do mercado de trabalho nos EUA e para as negociações no Congresso americano em torno do pacote fiscal, que inclui cortes de impostos e revisão de gastos. Já no Brasil, a política continua no centro das atenções. O governo parece empenhado em ampliar a crise institucional que ele próprio deflagrou, comprometendo ainda mais a sua governabilidade. Quando a crise é autoinfligida, o custo político e econômico costuma ser alto e mais difícil de reverter.

· 00:55 — Sem base, sem apoio, sem plano: a arte de escalar crises

Embora os ativos brasileiros sigam em boa medida ancorados pelo fluxo externo — impulsionados por dólar fraco, rotação de recursos e juros em queda lá fora —, não convém ignorar os riscos domésticos. O Ibovespa voltou a subir ontem (1º), mas isso está longe de significar alívio definitivo. Brasília continua sendo uma fonte inesgotável de ruídos — e, como sabemos, pode surpreender negativamente a qualquer momento.

A nova frente de tensão institucional vem do próprio Planalto. O governo decidiu acionar formalmente o Supremo Tribunal Federal para tentar reverter, na Justiça, a revogação do aumento do IOF aprovada pelo Congresso. A equipe econômica pressiona por uma liminar antes da divulgação do próximo relatório bimestral de receitas e despesas, prevista para o dia 22. Até agora, a movimentação surtiu pouco efeito sobre os preços dos ativos, mas o pano de fundo está claro: a antecipação do debate eleitoral para 2026, que já comentei aqui, tende a ganhar cada vez mais tração.

A deterioração da relação entre Executivo e Congresso é um risco material. Quando o governo perde sustentação política no Legislativo, perde também capacidade de articulação, trava a agenda e compromete a governabilidade. Não são poucas as experiências recentes de presidentes que se isolaram e terminaram enfraquecidos, sem apoio para buscar reeleição. Isso pode jogar a nosso favor: o esgarçamento institucional abre espaço para o movimento de mudança do pêndulo político em 2026, rumo a uma agenda de convicção mais reformista, fiscalista e pró-mercado.

A aposta judicial do governo é tão arriscada quanto desnecessária. Durante um tempo, eu mesmo acreditei que Lula evitaria o confronto institucional direto com o Congresso, justamente por saber que, qualquer que fosse o desfecho, sairia perdendo. Se o STF negar a revisão, o governo amargará uma derrota jurídica e política — e ainda queimará capital institucional. Se vencer, sairá como vilão de um Congresso já hostilizado, aprofundando o clima de animosidade. Tudo isso para sustentar, com gambiarras, um arcabouço fiscal que o próprio governo já admitiu não se sustentar.

É a típica escolha errada, feita tarde demais e mal executada. O ajuste fiscal que deveria ter sido feito com seriedade virou um emaranhado de puxadinhos e medidas paliativas, adiando o inevitável. A verdade é que a única chance de um ajuste estrutural virá em 2027 (novo governo) — presumivelmente mais disposto a enfrentar a realidade.

No meio do caos, o governo tenta atribuir a crise ao presidente da Câmara, Hugo Motta, que teria rompido acordo com a Fazenda ao aprovar, de surpresa, o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) que revogou o aumento do IOF. Mas a própria argumentação do Planalto se enfraquece quando se constata que tentou usar um imposto regulatório como ferramenta arrecadatória. Escalar Motta como bode expiatório é o tipo de gesto que gera efeito reverso: em vez de contornar a crise, amplifica o desgaste do governo.

Lula sabia, desde antes do segundo turno de 2022, que teria que lidar com um Congresso mais conservador. Prometeu diálogo e habilidade política — está entregando confronto e improviso. Hoje, repete os mesmos erros que criticava em Bolsonaro, mas reacendendo a ultrapassada lógica petista do “nós contra eles” como ensaio para a campanha de 2026. O Brasil, mais uma vez, fica em segundo plano.

A resposta do Congresso não tardou: parlamentares ameaçam travar a votação do projeto que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda até R$ 5 mil. A apresentação do parecer de Arthur Lira, marcada para a sexta-feira, foi adiada em acordo com a Fazenda. Mesmo que a medida seja aprovada, deve vir com uma compensação fiscal desidratada, o que só piora o quadro das contas públicas.

Nos bastidores, partidos como União Brasil e PP já cogitam abandonar a base. Motta, por sua vez, estuda entregar a presidência da CPMI do INSS a Nikolas Ferreira — o que não só aprofundaria o desgaste do governo, como daria mais munição à oposição. Tudo isso porque o governo se recusou a fazer o dever de casa fiscal no momento certo. O preço agora é alto — e deve subir ainda mais. O que se vê são recuos retóricos de aliados, tentando abafar o incêndio. Mas a essa altura, a vaca já foi pro brejo. A questão foi judicializada, o clima político azedou, e a retórica oficial mergulhou de vez no populismo e na demagogia. Resolver, agora, será bem mais difícil.

· 01:42 — O que os dados estão nos dizendo?

Nos Estados Unidos, o segundo semestre começou com os mercados de ações adotando uma postura mais cautelosa. O S&P 500 encerrou o pregão com leve queda de 0,1%, enquanto o índice Nasdaq Composite, tradicionalmente mais sensível às oscilações do setor de tecnologia, recuou 0,8%. O principal motor dessa fraqueza veio justamente do grupo que vinha puxando o bonde até aqui: as big techs. Empresas como Tesla, Meta e Nvidia puxaram o índice para baixo — no caso da Nvidia, é plausível supor que o movimento refletiu uma pausa para realização de lucros, após uma escalada vertiginosa alimentada pelo entusiasmo com a inteligência artificial.

O gatilho para a reversão parece ter sido o relatório de JOLTS, que apontou um crescimento inesperado nas vagas de emprego abertas nos EUA em maio — o maior nível desde novembro do ano passado — com destaque para o setor de lazer e hotelaria. Ao mesmo tempo, as demissões diminuíram, pintando um retrato de mercado de trabalho ainda resiliente. Esse tipo de dado, que em outros tempos seria lido como sinal de força econômica, hoje cai mal. Isso porque estamos naquele estágio do ciclo em que “notícias boas” são más para os ativos de risco: números fortes demais reduzem a probabilidade de cortes de juros pelo Federal Reserve.

A tese do momento requer dados moderadamente fracos — nada que indique recessão iminente, mas também longe de um superaquecimento. Um cenário de desaceleração suave, que permita ao Fed começar a aliviar a política monetária. Por isso, os olhos hoje se voltam para o Relatório Nacional de Emprego de junho (ADP), com expectativa mediana de criação de 88 mil vagas no setor privado, após um tímido ganho de 37 mil em maio. Um resultado abaixo do consenso — mas não catastrófico — ajudaria a reforçar o argumento em favor de um corte de juros ainda neste segundo semestre.

· 02:33 — Expansionismo fiscal

Após uma verdadeira maratona legislativa, o vice-presidente JD Vance precisou exercer seu papel de árbitro: deu o voto de desempate e garantiu, por 51 a 50, a aprovação no Senado de uma versão remendada do projeto de lei econômico proposto por Donald Trump. A proposta agora retorna à Câmara para avaliação final das alterações promovidas pelo Senado — mas o cerne da iniciativa já está claro.

O projeto estende os cortes de impostos instituídos em 2017, elimina tributos sobre gorjetas e desmonta gradualmente os incentivos para veículos elétricos e energia limpa. Como bônus, injeta recursos adicionais em centros de detenção e no reforço das barreiras fronteiriças. Para equilibrar as contas — ou fingir que sim —, o texto impõe um corte de US$ 1 trilhão no Medicaid ao longo da próxima década.

A proposta deve adicionar US$ 3,3 trilhões à já robusta dívida nacional. O placar ideológico foi cristalino: democratas votaram em bloco contra o projeto, alegando insensibilidade social. Já os republicanos mais fiscalistas, curiosamente, também torceram o nariz, dessa vez pela generosidade excessiva do pacote tributário e pelo impacto fiscal líquido da medida, acusando o governo de irresponsabilidade fiscal.

O resultado? Um projeto que agrada poucos por inteiro, mas avança assim mesmo — um reflexo da política americana contemporânea: polarizada e cada vez menos comprometida com qualquer tipo de consistência fiscal real (nos dois partidos).

· 03:29 — Algum acordo é possível?

A cada dia que passa, um acordo comercial dos EUA com o Japão soa mais como miragem do que como possibilidade concreta. Foi o próprio presidente Trump quem admitiu isso publicamente, acrescentando, em tom de ameaça, que espera ver o país asiático submetido a tarifas elevadas. Ao reiterar que não pretende prorrogar o prazo de 9 de julho, Trump reacende a tensão no front comercial e sinaliza que o relógio segue correndo — e rápido — para os países que ainda buscam um entendimento com Washington. Se for mesmo verdade, trata-se de uma notícia francamente ruim.

Os Estados Unidos vêm estreitando o foco para concluir acordos comerciais até a data-limite imposta pela Casa Branca. A lógica é simples: países que aceitarem termos mais restritivos desde já evitariam as tarifas recíprocas mais pesadas, embora continuassem sujeitos a uma alíquota base de 10%. O problema é que as negociações com vários parceiros estão emperradas — e o cenário se complica pela incerteza sobre que tipos de tarifas setoriais adicionais podem surgir caso os acordos não avancem.

Além disso, permanece nebuloso o critério que Trump usará para definir as penalidades aos que ficarem de fora até o prazo final. A Europa e a Índia, por exemplo, são apontadas como negociações mais promissoras no momento, mas mesmo essas seguem envoltas em dúvidas. A conclusão parece inevitável: é difícil construir confiança quando a previsibilidade da política americana se dissolve a cada nova declaração presidencial. Quando a bússola muda ao sabor do humor de quem segura o leme, não há cronograma que se sustente — muito menos mercado que opere em paz.

· 04:14 — Comprar de americanos?

A disposição de países europeus em adquirir armamentos dos Estados Unidos vem esbarrando em um obstáculo bastante particular: a política externa americana. Fica difícil justificar, perante a opinião pública, a assinatura de contratos bilionários com o mesmo governo cujo líder flerta abertamente com Vladimir Putin — o maior antagonista geopolítico do continente — e, não satisfeito, chega a sugerir a anexação de territórios, como fez ao ameaçar tomar o controle da Groenlândia. Não à toa, uma delegação de parlamentares norte-americanos, em visita recente a Copenhague, ouviu de interlocutores dinamarqueses que, após os episódios recentes, promover compras militares americanas se tornou politicamente inviável. Em outras palavras: a retórica de Trump está, literalmente, armando contra os próprios interesses comerciais dos EUA.

O presidente francês Emmanuel Macron lidera o coro pela preferência a fornecedores europeus, enquanto o Canadá avalia trocar os consagrados caças F-35 por modelos suecos. São reações compreensíveis diante de um cenário em que o principal aliado da OTAN parece sabotar a própria credibilidade. Ainda assim, há uma ironia cruel no horizonte: os estoques de armamentos na Europa estão perigosamente baixos, esvaziados pelo apoio militar à Ucrânia. E, nesse contexto, muitos países simplesmente não terão escolha. Por mais desconfortável que seja, continuarão recorrendo aos fornecedores americanos para cumprir as metas estabelecidas pela OTAN — mesmo que isso signifique engolir, junto com os contratos, o gosto amargo da submissão estratégica. Assim, a dependência militar europeia continua, ainda que com olhos revirados e dentes rangendo. E Trump, no fundo, sabe disso…

· 05:07 — Crescimento consistente, mas com leve pressão nos sinistros

A Porto (PSSA3) divulgou seu relatório operacional mais recente e, embora os números não empolguem, também não decepcionam. Em abril, os prêmios emitidos consolidados atingiram R$ 1,74 bilhão — uma alta de 7,4% na comparação anual, puxada sobretudo pelo segmento de Auto, que respondeu por R$ 1,32 bilhão, com crescimento de 5,6% sobre abril de 2024 e leve avanço de 0,8% frente a março. Nada revolucionário, mas constante.

Já os segmentos Patrimonial + Transportes (R$ 270 milhões) e Vida (R$ 150 milhões) seguiram praticamente estáveis no mês, mas com desempenho anual mais vistoso: +17% e +7%, respectivamente.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.