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Investimentos

Ações da Aeris (AERI3): lucrando com o vento

A empresa que surfa na revolução do mercado energético pode ser a próxima WEG para os acionistas

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Data de publicação
28 de abril de 2021
Categoria
Investimentos

As recentes ações da Aeris Energy (AERI3), companhia que estreou na Bolsa de Valores em novembro de 2020, são sugeridas nas séries Empiricus FIRE e PRP, ambas lideradas por Rodolfo Amstalden, sócio e analista da Empiricus.

Além disso, Ruy Hungria, nosso analista, já tinha feito uma análise completa sobre o IPO da empresa.

Neste artigo, vamos entender a companhia, as tendências macroeconômicas brasileira e global sobre as quais ela surfa e, claro, os riscos intrínsecos à tese de AERI3. Para facilitar a leitura, dividimos o conteúdo nos tópicos abaixo:

  • Aeris e o futuro do mercado energético

  • AERI3 é a nova WEG?

  • Alertas sobre a tese

  • Conclusão

Aeris e o futuro do mercado energético

Fundada em 2010, a Aeris Energy é uma desenvolvedora e fabricante de pás eólicas localizada no Ceará (leia-se: “região preferida do país para a instalação de usinas eólicas”, destaca Ruy Hungria).

Na prática, funciona assim: as empresas de geração elétrica que desejam montar um parque eólico contratam as companhias fornecedoras de equipamentos (Aeris, aqui) para produzir as turbinas de geração eólica.

Nesse processo, a logística ocupa um papel crucial.

Isso acontece porque transportar uma pá eólica com mais de 70 metros está longe de ser uma tarefa simples — quem já carregou algo pesado em uma mudança, pode ter uma noção muito clara.

Fonte: Governo do Estado do Ceará

Essa operação é delicada e envolve custos elevados, que impactam nos preços finais (quanto mais distante e difícil, mais caro fica). Estamos falando, portanto, de um diferencial crítico entre ganhar ou perder um contrato de fornecimento.

Assim, a posição privilegiada das fábricas da Aeris, no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, se traduz em um excelente custo-benefício logístico para os seus clientes. Para trazermos isso à luz, “as instalações da companhia estão localizadas a menos de 500 km de metade da capacidade eólica instalada no Brasil”, revela Ruy.

E por falar em clientes, vemos um movimento interessante para a tese em Aeris.

As maiores fabricantes globais dessas turbinas são, por ordem de relevância, Vestas, Siemens Gamesa, General Electric e Nordex. No entanto, esses players mostram uma tendência de terceirização da produção dessas turbinas por motivos estratégicos.

Adivinha quem está lucrando com isso?

Até o momento, a Aeris já conquistou os maiores participantes do segmento e vê sua receita se distribuir na Vestas (primeiro), General Electric (terceiro) e Nordex (quarto). Tudo fica ainda melhor quando Ruy aponta que o segundo maior (Siemens Gamesa) também se tornará cliente da Aeris e, quando isso acontecer, ela terá o panteão inteiro na sua carteira de clientes.

Há certa sabedoria na diversificação das fontes de receita, como veremos adiante

O breakdown da receita da Aeris nos mostra que ela não depende de um cliente específico, o que é essencial nesse setor. Para exemplificarmos: a brasileira Tecsis, que já esteve entre as três maiores fabricantes de pás do mundo, teve que pedir falência depois que a GE, que era responsável por uma fatia de 90% das suas vendas, começou a cancelar pedidos.

Além disso, a empresa se aproveita de uma tendência macroeconômica brasileira e global: a relevância cada vez maior da preservação do meio-ambiente acelera a transição dos combustíveis fósseis e grandes usinas hidrelétricas para fontes mais harmoniosas com o nosso planeta, como a energia eólica.

Apenas aqui no Brasil, o setor apresentou uma expansão agressiva: a capacidade instalada das usinas eólicas bateu 1.000% desde 2010.

Fonte: Aneel, ABEEólica, ABSOLAR | Elaboração: Empiricus

Essas vantagens competitivas — tendências macroeconômicas, ótima localização e diversificação de clientes — esticaram o tapete vermelho para a Aeris na última década, que já lidera o mercado brasileiro com 70% de market share e se mostra relevante no cenário internacional, abocanhando 7% do mercado (nossos analistas excluíram a China para chegar nesse valor, porque seus dados são nebulosos).

O crescimento da Aeris acompanha o do próprio mercado brasileiro

Fonte: Prospecto da Oferta | Elaboração: Empiricus

Até aqui, você entendeu o que a Aeris faz para ganhar dinheiro e quais fatores a ajudaram a se destacar e se consagrar no seu segmento. Agora, vamos dar uma olhadinha no futuro da companhia e entender o racional da tese por trás de AERI3.

AERI3 é a nova WEG?

Para entendermos o título da seção, ou seja, o motivo pelo qual comparamos as duas companhias e, assim, a magnitude dessa oportunidade, vamos discorrer algumas linhas sobre a WEG e sua trajetória impressionante no mercado financeiro.

A maior valorização da Bolsa de Valores brasileira, desde 2000, se deu por meio da WEG (WEGE3). Em números, vimos uma ascensão de 32.000%, ou seja, R$ 1.000 se transformando em R$ 320.000.

Só que isso ficou no passado e o mercado trata — com razão — WEGE3 como um ativo premium, alçando seu preço lá em cima.

No entanto, nossos analistas veem uma via de crescimento enorme para AERI3 — uma empresa ainda não precificada e com o mesmo tipo de oportunidade.

Trata-se da posição relevante no mercado de energia renovável.

Conforme análises, o futuro do mercado energético se dará por meio de uma migração massiva para fontes de energia menos agressivas ao planeta.

Isso significa que, nos próximos anos, a demanda por turbinas e parques eólicos poderá crescer de forma brutal. Além disso, curiosamente, a WEG (WEGE3) já flerta com esse segmento e pretende produzir a maior parte das turbinas para as novas plantas solares e eólicas no Brasil.

Para a Aeris, a ambição da WEG é uma fonte de receita contínua e crescente

Assim, “guardadas as devidas proporções”, como bem destaca Rodolfo Amstalden, “a Aeris tem muitos dos atributos que podem colocá-la no mesmo caminho da WEG”.

Não estamos falando, portanto, que AERI3 se multiplicará 32.000% nos próximos vinte anos e, tampouco, negociará a valores estratosféricos (52x EV/Ebitda) como WEGE3. No entanto, pode muito bem ser uma empresa de 20x nos 24 meses seguintes e “apenas o re-rating (reprecificação) já tem o potencial de nos trazer um excelente retorno”, explica Rodolfo.

Além de surfar no crescimento estratégico da WEG, a Aeris também se beneficia dos planos do Estado.

Podemos dizer isso porque “o plano do Ministério de Minas e Energia é reduzir, cada vez mais, a dependência do país das grandes hidrelétricas, que darão espaço para os empreendimentos de energia renovável, nos quais estão inseridas geração eólica, solar, pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e térmicas de biomassa”, pontua Ruy Hungria.

O plano do governo contribui para a valorização de AERI3

Por fim, entre os pontos favoráveis para AERI3, temos a belíssima jogada do management (que o mercado adora): vendeu primeiro e arrumou dinheiro para entregar depois.

Sim, foi isso mesmo que você leu!

Imagine, por um instante, assinar um contrato de venda que você não tem condições de entregar sozinho e, depois, recorre aos seus conhecidos para conseguir o dinheiro necessário. Pode parecer um movimento inconsequente (até mesmo louco) quando aplicado no nosso cotidiano, mas, no mercado financeiro, foi “o mesmo que criou algumas das trajetórias mais bem-sucedidas da Bolsa brasileira”, diz Rodolfo.

Estamos falando de Cosan, Ultrapar, Ômega e muitas outras companhias, todas jogando esse mesmo jogo com o mercado financeiro.

O motivo pelo qual isso faz sentido é simples: a prova vale mais do que a promessa.

A Aeris, ao mostrar um volume de 9,4 mil pás contratadas até 2022 (mais do que todo o volume que a companhia já entregou de 2013 até o primeiro semestre de 2020) antes do IPO, deixou claro que os investidores pagariam “por crescimento contratado em escala crescente” ao invés de pagarem “pela possibilidade de crescimento”, esclarece Rodolfo.

Trata-se da evidência empírica em detrimento da hipótese.

A coisa toda deu certo e o IPO trouxe R$ 834 milhões para a companhia, permitindo que ela aumente sua capacidade de produção não para uma possível carteira de pedidos mas, sim, para uma bem concreta e, como entendemos, já contratada.

Não obstante, finalizamos essa seção com uma deixa de Rodolfo sobre uma possível repetição do ocorrido: “não seria surpresa vermos a Aeris recorrendo ao mercado daqui a uns três anos, com uma carteira de pedidos enorme na mão, para realizar seu próximo grande salto”.

Alertas sobre a tese

Mas, aqui na Empiricus, ao praticarmos transparência total, também mostramos o calcanhar de Aquiles da tese de AERI3, deixando claro quais são os pontos de atenção para se ter em mente antes de comprar as ações da companhia.

Ruy Hungria, em sua análise, destaca os seguintes riscos:

  • Aumento relevante da competição: ainda que haja uma barreira de entrada considerável nesse setor (tanto tecnológica quanto logística), o crescimento no número de fornecedores de pás pode resultar na pressão de preços e de margens para a companhia;

  • Piora da qualidade do serviço: boa parte do diferencial competitivo da companhia está na qualidade dos produtos e a piora desse aspecto nos próximos anos pode acarretar em maiores devoluções, impactando a margem e o número de pedidos no futuro (explicaremos adiante);

  • Perda de benefício fiscal: a companhia possui benefícios fiscais (Sudene) que acarretam na redução de 75% do pagamento de Imposto de Renda sobre o lucro e, assim, uma perda desses benefícios impactaria em cerca de 11% do Ebitda ajustado e 20% dos lucros.

Sobre o segundo ponto, devemos nos atentar para que o crescimento acelerado da produção das pás eólicas da Aeris não prejudique a qualidade oferecida, levando a uma substituição por concorrentes:

Ainda que haja certa folga entre a qualidade dos produtos da Aeris e suas concorrentes, um mercado competitivo pode mudar esse cenário e, portanto, devemos acompanhar essa situação de perto.

Sobre o terceiro ponto, devemos ressaltar que o prejuízo seria ruim, mas não é “nada que altere significativamente a tese”, tranquiliza Ruy.

Por fim, vamos nos aprofundar sobre a faca de dois gumes que comentamos na seção anterior.

A exposição à quase totalidade do mercado brasileiro garante que a Aeris surfe nas tendências positivas, mas, de forma análoga, também está fadada aos momentos de crise nacional, casos em que a economia brasileira não caminhe conforme as expectativas.

Para entendermos essa vulnerabilidade, Ruy nos explica que “a necessidade de usinas eólicas também depende do crescimento da demanda de energia do país, que está diretamente relacionada ao PIB”.

Assim, mesmo que não seja o nosso cenário-base, a atrofiação da economia como consequência da pandemia ou de problemas fiscais prejudicariam, de forma muito intensa, os planos de crescimento da Aeris.

Só que, felizmente, a empresa já está se esforçando para mitigar esse risco.

Para tal, a Aeris (AERI3) “começou a exportar parte da produção em 2017 e, em 2019, a maior parte da receita já veio do exterior, mais do que compensando a queda de receitas observada no mercado interno”, pontua Ruy.

A tarefa da Aeris, agora, é continuar diversificando, também, geograficamente

O êxito dessas medidas fortaleceriam a posição da Aeris no mercado porque, em síntese, contribuem para formar uma postura independente de poucos players e até mesmo de poucos países.

Conclusão

A Aeris (AERI3) tem os dois pés no futuro do mercado energético, trabalhando nos bastidores do segmento eólico ao produzir as pás necessárias para ele funcionar. Além disso, se destaca nesse mercado incipiente — mas com alto potencial de crescimento — por apresentar diferenciais competitivos que, sendo justos, não podem ser facilmente superados.

A posição privilegiada e a carteira de clientes diversificada não são ativos irreplicáveis, mas tampouco são conquistados do dia para a noite.

Além disso, o management se mostra muito competente para surfar nas tendências macroeconômicas e tranquiliza os investidores de AERI3 ao garantir o mais alto nível de governança corporativa da B3, inserindo a empresa no Novo Mercado.

A Empiricus entende que há fatores de risco que devem estar sempre em mente, mas eles não são suficientes para desconstruir a tese.

Por isso, considerando tudo e pesando os prós e contras, a indicação do Rodolfo é de compra de AERI3, sendo uma forma de garantir que o seu portfólio surfe nos lucros que o futuro do mercado energético pode proporcionar.