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Investimentos

Análise: Felipe Miranda explica bom momento da bolsa e recomenda ações baratas

CEO da Empiricus vê bolsa americana exageradamente otimista; no Brasil, empresas aparecem com bons prêmios de risco e valuations atrativos

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Autor
Juan Rey
Data de publicação
12 de agosto de 2022
Categoria
Investimentos
Felipe Miranda vê bolsa brasileira atrativa e com boas oportunidades no bear market

Em um 2022 de turbulências, o mercado financeiro parece finalmente ter proporcionado um respiro nas últimas semanas. Prova disso é que os principais índices de referência fecharam julho em alta. Hora de se jogar na bolsa? Para o CEO e estrategista-chefe da Empiricus, Felipe Miranda, o momento ainda é de cautela.

“Acho que as coisas melhoraram, mas não é para ter euforia. Não acho que seja hora de tornar os portfólios mais agressivos nesse momento”, aconselha.

Em sua live semanal do Instagram, Felipe disse acreditar em uma alta probabilidade do momento se tratar de um bear market rally – uma recuperação temporária do mercado que não se mantém, já que a tendência geral segue sendo de queda.

Para o analista, os valuations (valor justo de uma ação) norte-americanos estão contemplando um cenário positivo, o que, na prática, não parece ser o caso. 

Ele acredita que haverá uma revisão das estimativas de lucro, como historicamente costuma acontecer em um bear market. Sendo assim, uma correção adicional na bolsa americana pode fazer com que o S&P 500 (índice com as quinhentas maiores empresas da bolsa norte-americana) volte a despencar. Ao menos é o que os antecedentes e o prognóstico de uma forte desaceleração indicam.

“Me parece que a bolsa americana tem sido projetada com um cenário róseo se realizando, com uma recessão muito branda, que permitisse que o Fed não tivesse que fazer muita coisa. Pode acontecer? Evidente que pode, mas eu não quero pagar por isso antecipadamente”, explica Felipe Miranda. 

Fed contribuiu para bom momento

O CEO da Empiricus vê a guinada momentânea baseada na interpretação generalizada de que o Fed não será tão agressivo a partir da percepção de que as economias poderiam entrar em recessão. 

Com isso, os investidores aumentaram a disposição ao risco, comprando mais empresas de tecnologia – com maior potencial de crescimento, ao invés de optar pela segurança das companhias com fluxo de caixa. A melhora no pessimismo que dominava o mercado também fez com que as posições short, que eram grandes, fossem reduzidas. O movimento fez com que a Nasdaq subisse fortemente.

Felipe Miranda também analisou o Payroll, relatório de emprego americano, em que a criação de postos de trabalho superou em mais de duas vezes os 240 mil esperados. O analista, a partir da dinâmica keynesiana que estabelece a inflação ligada à dinâmica do mercado de trabalho se mostra reticente com a resolução dos problemas inflacionários norte-americanos. 

“Vai ser tão fácil assim controlar a inflação americana com tanta vaga gerada no mercado de trabalho? Não temos a resposta. A gente tem uma boa corrente que defende que o Fed já fez bastante, que a economia já vai entrar em recessão e a inflação vai cair, e tem gente que defende que para domar a inflação o Fed vai ter que ir pra cima de 4% pelo menos”, afirmou.

Felipe Miranda: “short em bolsa americana é um bom hedge para posições brasileiras”

Por todos os motivos destacados, Felipe Miranda diz estar em uma posição leve de bolsa americana. Ele, inclusive, acredita que o short é um bom hedge (proteção) para posições compradas em bolsa brasileira.

O short, também chamado de venda a descoberto, consiste na venda de um ativo que o investidor não possui em carteira. Para isso, são necessárias duas operações: o aluguel e a posterior venda do ativo.

O investidor aluga uma ação que acredita que irá desvalorizar e a vende. Caso a tendência de queda se confirme, o investidor poderá comprar posteriormente o ativo a um preço mais barato do que vendeu e, assim, terá lucro na operação. 

Cenário brasileiro é mais favorável

Se nos Estados Unidos as coisas não parecem tão atrativas, o cenário brasileiro é o contrário. 

Felipe Miranda destacou a revisão sistemática das projeções de crescimento do PIB brasileiro para acima de 2% em um momento que o mundo flerta com uma desaceleração. Apesar de ponderar que o número é influenciado pelos grandes gastos fiscais do atual governo e pelas commodities, Felipe elogiou os dados de arrecadação brasileiros. 

“Para quem ia crescer 0,5%, crescer 2,5% é uma excelente notícia, temos que reconhecer esse mérito”, completou.

Um outro motivo de comemoração para o analista é a grande probabilidade de que o Copom tenha parado de subir a taxa de juros e o final da incerteza que pairava sobre o mercado. Você pode conferir aqui gratuitamente o relatório dos analistas da série Super Renda Fixa com comentários sobre a decisão do Copom, além de recomendações de investimentos em renda fixa para a semana.

Confira a análise de Felipe Miranda de algumas das ações que compõem sua carteira: 

Com o cenário econômico positivo – quando comparado ao momento vivido por Estados Unidos e Europa, por exemplo -, os ativos da B3 seguem negociando a valuations atrativos.

Felipe Miranda revela que tem reduzido o peso das commodities e migrando para cíclicos domésticos.

“Se a gente entrar mesmo num ciclo positivo, podemos ter uma multiplicação por 3 ou 4 vezes dessas ações. Muita coisa já quase dobrou desde a mínima e ninguém tá vendo ainda. Já teve coisa subindo 60%, 70%”.

Confira os comentários do analista sobre algumas empresas que fazem parte do seu portfólio:

  • BR Partners (BRBI11): “acredito em um bom resultado pela frente, negociando a 8x lucro e crescimento de 30%. A empresa tem feito um combo interessante: quando o mercado esfria ela tem feito muita emissão de renda fixa. Se o juros cai, ela entra no case do financial deepening (veja aqui o significado do termo). Acho que você deveria comprar antes de vir o resultado, vem um bom resultado por aí”.
  • Lojas Quero-Quero (LJQQ3): “Subiu uma barbaridade nesta semana. Não gostei do resultado, não tem como gostar. Mas acho que o pior ficou para trás. É muito bem tocada e se conseguir executar essa expansão do sul para o sudeste, com paciência, é um case de multiplicação”.
  • Gerdau (GGBR4): “Um 2T22 muito bom mas a ação não reagiu bem. Acho que há uma cobrança excessiva no management nesse momento, 2x Ebitda, pagando mais de 10% de dividendo, aguenta desaforo mesmo com a queda do preço do aço. Mesmo que você possa reduzir um pouquinho a posição em Gerdau na margem, por conta dessa dinâmica que temos feito, estou otimista com o case”.
  • Mitre (MTRE3): “Esse é um daqueles cases que você poderia multiplicar por dois que (o papel) continuaria barato. Acho que Mitre vale muito a pena se ela fizer bem esse altíssimo padrão”.
  • Equatorial (EQTL3): “Uma das melhores empresas da bolsa e que tem nos dado a chance de comprar a ação barata, vale a pena dar uma olhada mais carinhosa”.
  • Posição short – Alpargatas (ALPA4): “Resultado muito ruim, lá fora um desastre. Pegamos muito bem esse short e continuamos short”. 
  • Posição short – XP Inc. (XPBR31): “O mercado gostou da prévia operacional da XP, um bom Net New Money, mas TPV (Volume total de pagamentos) do cartão, crédito e número de clientes vieram ruins. O que me preocupa na XP é o quanto ela está conseguindo rentabilizar no varejo. Para mim essa é a grande variável. Queria pegar a Expert como uma metonímia do que pode ser essa história, tem um certo desinteresse momentâneo por investimentos no geral. O evento não foi o sucesso e o lucro que dava nos anos anteriores. O valuation de XP, neste momento, me parece fora do que seria a razoabilidade”, finalizou Felipe Miranda.