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Bradesco (BBDC4): Americanas piora resultados do 4T22, que já seriam fracos; cenário para 2023 é desanimador

Inadimplência é novamente o destaque negativo dos resultados, que devem se deteriorar ainda mais nos próximos trimestres

Por Larissa Quaresma, CFA

10 de fevereiro de 2023, 15:33

Bradesco BBDC4
Imagem: Divulgação

O Bradesco (BBDC4) divulgou na noite de quinta-feira (9) seus números do 4T22, que vieram abaixo da expectativa.

O banco entregou um lucro líquido gerencial de R$ 1,6 bilhão, com retorno sobre patrimônio líquido de 4%, uma perda de rentabilidade expressiva, decorrente principalmente do efeito Americanas.

Mas, mesmo excluindo isso, os resultados ainda teriam sido decepcionantes.

A carteira de crédito atingiu R$ 892 bilhões, crescimento trimestral de 2%. Os destaques foram as linhas de cartão de crédito (+6%) e financiamento imobiliário (+2%).

O spread médio ficou estável ao redor dos 10%; com isso, a margem financeira (diferença entre receita de juros e custo de captação) cresceu em linha com o portfólio de crédito (+2%).

Americanas piora inadimplência – que já seria ruim

A inadimplência foi, mais uma vez, a vilã do resultado, sendo as Americanas o principal ofensor. Seguindo o movimento de Itaú, o Bradesco provisionou 100% da sua exposição à varejista, de R$ 4,9 bilhões, como perda de crédito. Isso teve um grande impacto na despesa de inadimplência do trimestre, que mais que dobrou contra o tri anterior.

Todavia, mesmo sem o efeito Americanas, essa linha ainda teria piorado em 38% na mesma comparação, em função da deterioração dos índices de atraso de mais de 90 dias.

A piora veio principalmente dos segmentos de pessoa física (aumento de 0,4 p.p.) e pequenas e médias empresas (+0,8p.p.).

Os executivos do banco afirmaram, durante a teleconferência para analistas, que os calotes devem continuar piorando ao longo de 2023, com a deterioração ainda vinda do varejo até meados do ano; e passando a vir do atacado a partir do segundo semestre.

BBDC4: margem financeira total cai 80% no trimestre

A margem com o mercado, que reflete o resultado de tesouraria, veio negativa, mais uma vez: -R$ 803 mihões.

É verdade que o prejuízo foi menor que o do trimestre anterior, mas ainda assim, um resultado negativo nessa linha não é bom. A companhia afirmou, durante a teleconferência para analistas, que a margem com o mercado só deve voltar para o terreno positivo em meados do ano.

Com isso, a margem financeira total após inadimplência ficou em R$ 1,8 bilhão, queda trimestral de 80%. 

Nem mesmo o bom resultado da vertical de seguros (R$ 4,3 bilhões, +24% tri a tri), ou o crescimento de 5% na receita dos demais serviços, foram capazes de reverter esse “baque”, sobretudo considerando o crescimento de 8% das despesas administrativas, em função do dissídio coletivo.

Sendo assim, a companhia entregou um prejuízo antes dos impostos de R$ 99 milhões

Não fosse o crédito tributário de R$ 1,7 bilhão na linha de imposto de renda, a companhia teria entregue um prejuízo na linha final.

Resultados do Bradesco devem continuar se deteriorando em 2023

Com isso, o lucro líquido consolidado foi de R$ 1,6 bilhão, com ROE de 4% – excluindo o efeito Americanas e o crédito tributário, estimamos que o ROE teria sido de 6%, uma deterioração significativa.

Olhando à frente, o cenário traçado pela companhia para 2023 não parece muito animador: ao que tudo indica, os resultados continuarão a se deteriorar, mesmo que o efeito Americanas já tenha ficado para trás.

Em função do valuation já depreciado, contudo, mantemos uma visão neutra para Bradesco (BBDC4).

Sobre o autor

Larissa Quaresma, CFA

Analista de Ações focada em Bancos e Instituições Financeiras, integra a equipe da Carteira Empiricus, o portfólio multimercado da casa. Mais de 5 anos de experiência em análise de empresas, com passagens pela Núcleo Capital e pelo Credit Suisse. Administradora formada pelo Ibmec-MG, com certificações CFA, CNPI e CGA.