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Cosan (CSAN3) tem queda de 57% no lucro líquido do 3T24 e reconhece problemas – é hora de investir?

Após entregar um balanço dividido no 3T24, as ações da Cosan (CSAN3) ainda estão recomendadas? Veja análise.

Por Larissa Quaresma, CFA

18 nov 2024, 09:29 - atualizado em 18 nov 2024, 09:39

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Na quarta-feira (13), após o fechamento do mercado, a Cosan (CSAN3) divulgou seus números do 3T24, que vieram marginalmente abaixo da expectativa. O Ebitda da Cosan sob gestão do conglomerado, de R$ 8,2 bilhões, cresceu 2% na visão anual.

Já o lucro líquido da Cosan Corporativo (holding) foi de R$ 293 milhões, queda anual de 57%, principalmente devido ao resultado da Raízen (RAIZ4). A alavancagem financeira, ponto crítico da tese de investimentos, ficou estável no nível da holding, mas o índice de cobertura de juros caiu em função dos menores dividendos recebidos das subsidiárias, principalmente devido à queima de caixa na Raízen.

Dados da Raízen (RAIZ4), Rumo (RAIL4) e mais subsidiárias da Cosan (CSAN3)

Na Raízen, operação de açúcar, álcool e distribuição de combustíveis, o Ebitda caiu 2% na visão anual, para R$ 3,7 bilhões. Isso se deve ao menor preço médio do etanol, que foi mais direcionado ao mercado interno do que à exportação, a qual tem prêmio. Além disso, a redução do volume de combustível distribuído no Brasil contribuiu negativamente.

Na ponta positiva, o maior volume de açúcar vendido, assim como seu preço, compensaram quase totalmente os efeitos negativos. Entretanto, a manutenção das despesas financeiras em patamar elevado e os impostos corporativos maiores levaram a um prejuízo líquido de R$ 105 milhões na visão Cosan (74% maior que no mesmo período do ano passado).

Já a Rumo (RAIL3), destaque positivo do trimestre, viu seu Ebitda subir 22% na visão anual, para R$ 2,2 bilhões, puxado pelo aumento de 2% no volume transportado, e de +18% na tarifa praticada. Com o endividamento controlado, o lucro líquido da Rumo, na visão Cosan, cresceu 42% anualmente, para R$ 207 milhões.

Por sua vez, a Compass (PASS3), distribuidora de gás do conglomerado, teve um Ebitda de R$ 1,3 bilhão, estável na comparação anual. Aqui, o crescimento em volume de gás distribuído foi neutralizado pela queda do segmento de marketing & serviços, cuja variação foi distorcida por um efeito pontual positivo no 3T23. O aumento do endividamento acarretou uma despesa de juros maior, o que fez com que o lucro líquido na visão Cosan caísse 50% anualmente.

A Moove, distribuidora de lubrificantes do grupo, teve um Ebitda de R$ 385 milhões, +9% na visão anual. O bom desempenho se deve a uma boa gestão do mix de produtos, fazendo com que a receita crescesse mesmo em um cenário de redução de volume. Entretanto, a linha final foi afetada pelas despesas não-recorrentes com o IPO da subsidiária, que acabou sendo cancelado. Com isso, o lucro líquido visão Cosan foi revertido a um prejuízo de R$ 90 milhões no trimestre. 

A Radar, que concentra o portfólio de terras da Cosan, viu seu Ebitda cair 73% anualmente, para R$ 143 milhões. Isso se deve à base de comparação forte pela reavaliação de terras no 3T23. Sendo assim, o lucro líquido na visão Cosan caiu 66%, para R$ 44 milhões.

Finalmente, a Vale (VALE3) gerou um lucro líquido visão Cosan de R$ 534 milhões (-32% sequencialmente), sem considerar a despesa de juros da dívida para aquisição da mineradora.

Cosan enfrenta queda anual de 57% no lucro

Em suma, o lucro líquido da Cosan, já deduzindo despesas operacionais da holding e despesas financeiras da dívida da controladora, foi de R$ 293 milhões, queda anual de 57%.

Olhando para a geração de caixa: a Cosan recebeu R$ 343 milhões em dividendos, sendo R$ 316 milhões da Vale e R$ 28 milhões da Radar.

Por outro lado, a companhia pagou R$ 1,8 bilhão em amortização e juros da dívida, levando a queima de caixa para R$ 1,5 bilhão. O índice de cobertura de juros dos últimos 12 meses, que relaciona os dividendos recebidos com as despesas financeiras, está em 1,2x, deterioração versus o 1,3x no trimestre anterior.

Fica claro que a companhia está com a geração de caixa pressionada pelo endividamento elevado. Entretanto, isso já foi percebido, o que pode ser notado em movimentos recentes. A Cosan estendeu o prazo de pagamento da dívida da holding, que soma R$ 24 bilhões e tem a próxima amortização prevista somente para 2027, além de ter um custo menor (CDI+1,37%, versus CDI+1,41% anteriormente). Além disso, a Radar vendeu a Fazenda Vista Alegre, o que pode ter ajudado no pagamento de dividendos da Cosan. 

Ainda vale investir em CSAN3?

Vemos esses movimentos com bons olhos, mas acreditamos que uma recuperação da ação CSAN3 está dependente de uma redução mais drástica da alavancagem. Isso provavelmente virá somente com

  • i) o retorno da geração de caixa na Raízen;
  • e/ou ii) a venda de ativos maiores, que permitiriam redução relevante da alavancagem. 

A Cosan anunciou uma recompra de até 10% das ações em circulação com prazo em maio/2026, somando R$ 2,4 bilhões, o que chama a atenção diante da elevada alavancagem. Entretanto, isso pode ser um sinal de que a companhia pretende vender algum ativo grande, o que seria bom. Por ora, estamos dando o benefício da dúvida.

Sobre o autor

Larissa Quaresma, CFA

Analista de ações há 10 anos, é responsável pela série As Melhores Ações da Bolsa e pela carteira mensal Empiricus 10 Ideias, além de integrar a equipe da Carteira Empiricus, o portfólio multimercado da casa. Ao longo da carreira, teve passagens pela Núcleo Capital, tradicional fundo de ações brasileiro, e pelo Credit Suisse. Administradora formada pelo Ibmec-MG, aluna visitante da Stanford University e com certificações CFA, CNPI e CGA.