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Economia global volta a crescer, mas há “um aumento na expectativa de inflação”, diz presidente do Banco Central

Em evento promovido por Empiricus e Arko Advice, Roberto Campos Neto projeta os rumos da economia no Brasil e no mundo

Por Danilo Moliterno

16 de março de 2021, 08:38

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central (BC), afirmou, na terça-feira (02), que a economia global vem acelerando seu ritmo de crescimento, mas pontuou que esse processo se acompanha de “um aumento na expectativa de inflação”. Em evento promovido por Empiricus e Arko Advice, ele apontou que uma das razões para isso é o avanço da vacinação contra a covid-19, que acarreta o desaparecimento do “fator medo”.

Outro aspecto que explicaria essa tendência é a implementação de pacotes de estímulo, como o dos Estados Unidos. O governo norte-americano vem tramitando uma proposta de injeção de $1.9 trilhões na economia, com o objetivo de auxiliar a população mais pobre e avançar com o plano de vacinação.

A inflação no Brasil e no mundo emergente

A inflação acumulada do ano de 2020 está em 4.56%. O presidente do Banco Central entende que 2,5% desse valor se concentra em alimentos, e é exatamente essa seção que desequilibra o índice no Brasil. Os números referentes a serviços e indústria estariam “emparelhados” com os de outros países emergentes.

“Lembrando que a maior parte dos países tiveram alta na inflação de alimentos, de 6, 7, 8 [%] e depois estabilizaram, e o Brasil se manteve, parte devido à depreciação cambial e parte pela alta das commodities”, aponta Campos Neto.

Apesar desse resultado específico ser negativo, o presidente do BC ressalta que o “Brasil fez um grande programa de enfrentamento à covid”, se referindo ao auxílio emergencial. Isso teria colocado o país em “uma posição de perda menor em relação ao restante do mundo emergente”.

Roberto Campos Neto participa de evento promovido pela organização das Cooperativas Brasileiras (Foto: Marcelo Camargo/Ag. Brasil)

A fim de garantir que o momento de alta na inflação seja “temporário”, é necessário “manter a credibilidade das políticas fiscais e monetárias”, diz Campos Neto. “Com a piora da pandemia a incerteza fiscal passou a preocupar ainda mais. É necessária uma resposta institucional”, completa.

Efeitos da “Reflação”

Esse processo, de recuperação econômica e aumento da inflação, que vem sendo chamado de reflation, acarreta ainda outros efeitos. Um deles, o crescimento na taxa de juros dos países desenvolvidos. Outro, o aumento nos preços das commodities. Alta que, de acordo com Campos Neto, não vem sendo acompanhada pelas moedas dos países emergentes, sequer pelas moedas de países produtores de commodities.

Uma percepção ruim em relação ao fiscal explicaria parcialmente esse gap, mas não completamente, o presidente do BC explica. 

“Então a grande pergunta é se estamos vivendo o fim desse ambiente de liquidez mundial acentuada. Nós não sabemos. Mas o que podemos dizer é que o mercado está reprecificando essas condições de liquidez mundial, e isso tem um efeito grande no mundo emergente, que vem se endividando muito”, completa.

Futuro da economia vai depender de rumos da pandemia

À medida que novas variantes da covid-19 se espalham pelo território brasileiro, as incertezas sobre os rumos da economia voltam a crescer. Enquanto grande parte dos países — principalmente os desenvolvidos — já vivem um momento de queda de casos da doença, o Brasil permanece registrando alta no números de infectados e mortos.

O presidente do BC reitera o efeito negativo disso para a economia, principalmente pois, em algumas regiões do país, o lockdown volta a ser implementado. Como resultado, os níveis de confiança da indústria, dos serviços e da construção apresentaram recuo. 

Porém, Campos Neto acredita que as medidas restritivas serão temporárias e que “o segundo semestre, com o avanço da vacinação, deve mostrar um avanço melhor, com recuperação dos setores que foram prejudicados”. 

“Pelo que temos das farmacêuticas, a partir de abril deve aumentar a oferta de vacinas. Devemos ter uma oferta, inclusive maior que a demanda”, completa.

Sobre o autor

Danilo Moliterno

Jornalista em formação pela Universidade de São Paulo (USP), com passagem pela redação do Jornal da USP