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Petrobras (PETR4): Vale a pena investir nas debêntures incentivadas da companhia?

Confira as atualizações relacionadas à nova emissão de debêntures incentivadas da Petrobras.

Por Matheus Spiess

12 jun 2025, 12:00

Petrobras (PETR4)

Imagem: Agência Brasil

Ampliamos a análise para o lado da renda fixa da Petrobras (PETR4), com atenção especial à sua nova emissão de debêntures incentivadas.

Trata-se de uma oportunidade complementar relevante para investidores que buscam unir previsibilidade de fluxo, isenção fiscal e exposição a um emissor com elevado grau de qualidade creditícia.

Em um ambiente de juros ainda elevados e incertezas persistentes no mercado, esses títulos surgem como uma solução eficiente de diversificação — sobretudo para quem já reconhece o valor estrutural da estatal, mas deseja suavizar o risco de capital ao longo do tempo.

Petrobras: 8ª emissão de debêntures incentivadas

A Petrobras retorna ao mercado de capitais com sua 8ª emissão de debêntures incentivadas, composta por três séries distintas. O destaque deste relatório recai sobre a primeira série, com vencimento previsto para 15 de junho de 2035 e duration estimada em 7,6 anos.

A estrutura do título contempla uma remuneração teto de IPCA + 6,85% ao ano — ou NTN-B 2035 menos 0,40%, o que for maior — configurando um prêmio relevante, especialmente quando ponderado com a isenção de Imposto de Renda para investidores pessoa física, um dos principais atrativos desse tipo de ativo.

A debênture, classificada como simples, quirografária e não conversível em ações, conta com garantia firme de colocação no valor total de R$ 3 bilhões. É uma emissão que combina atributos essenciais para o investidor de longo prazo: retorno real elevado, risco de crédito adequado e destinação dos recursos a projetos estratégicos de infraestrutura energética nacional.

Em um cenário de política monetária restritiva e volatilidade macroeconômica, o papel se mostra ainda mais pertinente como peça de composição de uma carteira diversificada e bem calibrada.

Destinada exclusivamente a investidores qualificados, a primeira série da nova emissão de debêntures incentivadas da Petrobras reúne atributos especialmente atrativos para quem busca previsibilidade de fluxo e ganho real expressivo ao longo do tempo. A remuneração teto oferecida é de IPCA + 6,85% ao ano, com isenção de Imposto de Renda para pessoas físicas — um diferencial importante no contexto da renda fixa nacional.

Os juros serão pagos semestralmente, o que favorece a geração periódica de caixa para o investidor. Considerando uma inflação implícita de 10 anos na casa de 6,54%, essa taxa equivale a um retorno bruto real de 9,14% ao ano, ou cerca de 143 pontos-base acima da NTN-B 2035 — referência do Tesouro para o mesmo prazo.

A amortização do principal ocorrerá de forma integral apenas no vencimento, em junho de 2035, adotando o modelo bullet. Isso a torna especialmente adequada para investidores que desejam carregar o título até o vencimento, sem necessidade de resgates intermediários. O papel conta ainda com classificação AAA.br pela Moody’s, atribuída em 30 de maio de 2025 — nota máxima na escala nacional, que reforça a percepção de baixo risco de crédito por parte da companhia.

Dado o perfil da oferta e o provável excesso de demanda, estimamos que uma taxa mínima competitiva para participação esteja em torno de IPCA + 6,45%, o que ainda garantiria um spread confortável de 100 pontos-base sobre os papéis públicos equivalentes. A estrutura da emissão prevê também a possibilidade de resgate antecipado facultativo por parte da Petrobras, com pagamento de prêmio ao investidor, conforme previsto na escritura.

Em suma, trata-se de uma oportunidade robusta de alocação em renda fixa de longo prazo, ideal para compor a parcela da carteira destinada à proteção inflacionária com isenção fiscal — e com o respaldo de um dos emissores mais relevantes do mercado brasileiro.

O perfil financeiro da Petrobras

A Petrobras segue reforçando sua posição de robustez financeira ao apresentar, mais uma vez, resultados consistentes e expressivos. No primeiro trimestre de 2025, a companhia registrou um EBITDA ajustado de R$ 49,3 bilhões, o que representa um crescimento de 8% em relação ao último trimestre de 2024.

No mesmo período, o fluxo de caixa operacional atingiu R$ 62,3 bilhões, com alta de 4% frente ao trimestre anterior. Esses números não apenas evidenciam a capacidade da empresa de gerar caixa de forma robusta, mas também demonstram sua resiliência operacional — especialmente relevante em um cenário ainda marcado por incertezas macroeconômicas e volatilidade setorial.

Fonte: RI da companhia.

Ao longo de 2024, a Petrobras acumulou R$ 490,8 bilhões em receita de vendas. Embora o montante represente uma retração em relação aos anos anteriores, a companhia conseguiu preservar um elevado nível de rentabilidade — reflexo direto de sua disciplina operacional e rigor na alocação de capital.

A alavancagem, medida pela razão entre dívida líquida e EBITDA ajustado, encerrou o ano em 1,29x, permanecendo dentro de uma faixa considerada saudável para os padrões da indústria de óleo e gás.

Mesmo em um contexto de menor geração de caixa operacional entre 2023 e 2024, a Petrobras demonstrou firmeza em sua gestão financeira, mantendo a eficiência e evitando excessos que comprometessem sua estrutura de capital.

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Fonte: RI da companhia.

Vale destacar que o recente aumento da dívida bruta da Petrobras está diretamente relacionado à incorporação de grandes ativos operacionais ao seu parque produtivo — em especial, a entrada do FPSO Almirante Tamandaré, uma das maiores e mais sofisticadas unidades de produção offshore do mundo. Mesmo com esse movimento, a companhia conseguiu preservar sua disciplina financeira, mantendo a dívida líquida dentro dos parâmetros estratégicos previamente definidos.

O prazo médio do endividamento foi ampliado para 12,2 anos, o que contribui para mitigar riscos de refinanciamento no curto prazo. Além disso, a empresa encerrou o primeiro trimestre de 2025 com um colchão de liquidez robusto, totalizando R$ 48,6 bilhões em disponibilidades ajustadas — mais uma evidência da prudência na gestão de seu balanço.

Fonte: RI da companhia.

Os números apresentados reforçam a capacidade da Petrobras de sustentar um perfil financeiro sólido, mesmo em meio a ciclos intensivos de investimento e transformações operacionais relevantes. A geração consistente de caixa, aliada a um elevado nível de liquidez e a um controle rigoroso da alavancagem, evidencia uma gestão comprometida com a saúde do balanço e com a preservação da solidez corporativa.

Para o investidor, essa combinação é especialmente valiosa: transmite segurança mesmo em estruturas mais enxutas de garantia, como é o caso das debêntures quirografárias — aquelas que não contam com garantias reais. Nesse contexto, a atratividade da emissão se sustenta não apenas pelos retornos oferecidos, mas pelo equilíbrio entre risco e qualidade do emissor.

Para onde serão destinados os recursos da emissão de debêntures incentivadas?

Os recursos captados na 8ª emissão de debêntures incentivadas da Petrobras serão integralmente direcionados a dois empreendimentos de grande escala, ambos classificados como estratégicos pelo Ministério de Minas e Energia — o que reforça não apenas sua importância econômica, mas também seu papel estrutural na política energética nacional. O primeiro deles é o Projeto Integrado Rota 3, voltado à ampliação da capacidade de escoamento e processamento do gás natural proveniente do pré-sal da Bacia de Santos.

Com investimento total estimado em R$ 14,9 bilhões — dos quais R$ 1,01 bilhão virá da presente emissão —, o projeto prevê o transporte de até 18 milhões de metros cúbicos de gás por dia e a geração de aproximadamente 10 mil postos de trabalho durante sua implantação. A conclusão está prevista para dezembro de 2027. Além de seu impacto direto na economia, o Rota 3 é fundamental para reduzir a dependência brasileira de gás importado e fortalecer a segurança energética do país.

O segundo projeto contemplado é o Raia, uma iniciativa conduzida em consórcio com Equinor e Repsol Sinopec, voltada à exploração da área BM-C-33, localizada no pré-sal da Bacia de Campos. Estima-se que a região contenha mais de 1 bilhão de barris em reservas recuperáveis, o que confere ao projeto escala e potencial relevantes.

A participação da Petrobras corresponde a 30% do CAPEX total, com investimento próprio de R$ 14,8 bilhões — dos quais R$ 1,98 bilhão serão viabilizados por meio desta emissão. O início das operações está previsto para 2028, por meio de uma plataforma FPSO equipada com tecnologia de ciclo combinado, capaz de operar com emissões de carbono inferiores a 6 kg de CO₂ por barril equivalente — um dos menores índices do setor global, o que posiciona o projeto como referência em eficiência e sustentabilidade.

Ambas as iniciativas combinam impacto ambiental reduzido, geração de empregos qualificados e relevância para a infraestrutura energética brasileira, fortalecendo o compromisso da Petrobras com o desenvolvimento sustentável e com a consolidação de sua posição estratégica na matriz energética nacional. São projetos que traduzem, na prática, a aplicação responsável dos recursos captados, com retornos não apenas financeiros, mas também sociais e ambientais.

Vale a pena investir nas debêntures incentivadas da Petrobras?

Após a análise detalhada de seus principais atributos, a debênture da 1ª série da 8ª emissão da Petrobras se destaca como uma rara combinação de retorno atrativo, solidez creditícia e alinhamento com projetos de infraestrutura estratégicos e sustentáveis no setor energético brasileiro. Trata-se de um papel que, ao aliar rentabilidade real elevada à isenção fiscal para pessoas físicas, se diferencia de forma relevante no universo da renda fixa nacional.

A estrutura da emissão — com pagamento semestral de juros, vencimento em 2035 no modelo bullet e cláusula de resgate antecipado com prêmio — oferece uma proposta de investimento equilibrada: há previsibilidade de fluxo e potencial de retorno, mas sem negligenciar os cuidados exigidos em alocações de longo prazo.

Considerando uma inflação implícita de 10 anos na casa de 6,54%, a remuneração teto do título, de IPCA + 6,85% ao ano, corresponde a uma taxa bruta de 9,14% real — valor significativamente superior ao das NTN-Bs de vencimento comparável. Mesmo em um cenário de compressão de taxas, com remuneração mínima estimada em IPCA + 6,45%, o spread em relação aos títulos públicos segue expressivo, sustentando a atratividade da oferta frente às alternativas tradicionais do Tesouro.

Para o investidor qualificado que busca proteção contra a inflação, diversificação de portfólio e ganhos reais consistentes, especialmente em um contexto de juros ainda elevados e incertezas fiscais, esta debênture representa uma alternativa robusta, bem estruturada e estrategicamente bem posicionada.

Reiteramos, portanto, nossa recomendação de compra, com ênfase em uma alocação relevante dentro da fatia da carteira dedicada à renda fixa indexada ao IPCA.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.