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Por que o mercado parece não ter sentido o payroll acima das estimativas? Analista explica

Em tese, payroll muito acima das expectativas deveria resultar em queda do S&P 500 e do Ibovespa, que estão segurando as pontas

Por Juan Rey

8 de dezembro de 2023, 15:09

Imagem representando o payroll ibovespa
Payroll

O payroll divulgado nesta sexta-feira (8) apontou para a criação de 199 mil novos postos de trabalho nos Estados Unidos em novembro, acima das estimativas dos analistas de 180 mil, segundo o consenso Refinitiv.

O dado era o mais importante da semana para o mercado financeiro e, em tese, deveria guiar o pregão.

Caso viesse acima das expectativas, como foi o caso, a tendência era uma queda das bolsas ao redor do mundo. Se viesse abaixo, os investidores deveriam esperar uma alta vigorosa.

Basicamente, esses movimentos eram esperados por dois motivos:

  • Uma criação de empregos robusta significaria que o aperto monetário feito pelo Fed para conter a inflação ainda não teria sido suficiente, e novos aumentos na taxa de juros poderiam ser feitos – o que é ruim para os ativos de risco.
  • Uma criação de empregos mais fraca mostraria a eficiência das medidas já tomadas pelo Fed e abriria margem para queda nas taxas de juros no primeiro semestre de 2024, o que seria bom para as bolsas em todo o mundo.

No entanto, o que se viu até o momento foi uma reação branda dos mercados. O S&P 500 operava em leve alta às 15h desta sexta-feira.

No Brasil, o Ibovespa subia 0,4% no mesmo horário.

Por que os mercados não desabaram com o payroll acima das expectativas?

Segundo o analista Enzo Pacheco, da Empiricus, a reação moderada do mercado até aqui pode ter sido porque o relatório mostrou que o chamado “soft land” (pouso suave, na tradução) da economia norte-americana é possível.

“O mercado de trabalho ainda está robusto, mas não igual vimos ao longo de 2023. O número da criação de empregos é menor do que a média ao longo do ano. O aumento de salários anual de 4% está bem menor do que vimos em meados de 2020, quando estava na casa de 6%”.

No entanto, o analista pondera: “4% é o dobro da meta de inflação do Fed, então ainda mostra uma pressão inflacionária”.

Além disso, alguns fatores pontuais contribuíram para a geração robusta de empregos, como a greve dos trabalhadores da indústria automobilística. 

“Tivemos uma recuperação de funcionários da indústria automobilística entrando nesse número. Além disso, boa parte desse número veio do setor de saúde, que não muda tanto independente da situação da economia, e do próprio governo”.

Outro fator que pode ter contribuído para manter o ânimo dos investidores é um relatório da Universidade de Michigan, que trouxe uma expectativa de inflação dos consumidores para 2024 menor do que as expectativas do mercado.

“Os economistas esperavam uma inflação de 4% a 4,3%, e veio 3,1%. Isso também gerou ânimo para os investidores”, afirmou Pacheco.

Dado pode influenciar ‘super quarta’, na semana que vem?

Na próxima quarta-feira (13), o Federal Reserve e o banco central do Brasil vão comunicar as decisões sobre as taxas de juro.

O mercado aguarda uma manutenção do juro nos EUA, e uma queda de 50 pontos-base na Selic.

Isso não deve mudar, segundo o analista. Ainda assim, o payroll desta sexta pode endossar as falas do presidente do Fed, Jerome Powell, de que o mercado está apostando em cortes prematuros na taxa de juro, avalia Pacheco.

Confira a entrevista completa do analista no Giro do Mercado:

Sobre o autor

Juan Rey

Jornalista pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Contato: juan.rey@empiricus.com.br