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O Brasil tem jeito? Ex-ministro Maílson da Nóbrega diz ter pecado pelo excesso de otimismo e defende reformas

Em bate-papo na RadioCash, podcast da Empiricus e da Vitreo, o economista fala sobre avanços e retrocessos no país e o que precisa ser feito para a economia evoluir. E, como não poderia faltar, também comenta sobre a inflação e a atuação do Banco Central.

Por Marina Gazzoni

08 jun 2021, 14:54 - atualizado em 04 jul 2023, 13:57

O Brasil deu certo? Pelo menos, por algum tempo, estava indo muito bem. Esta é a opinião de Maílson da Nóbrega, economista e ex-ministro da Fazenda. E diferentemente do que muitos podem pensar, com a imagem de que fracassamos, ele ressalta que o país não perdeu diversas conquistas.

Criador do documentário que foi lançado em 2013 “O Brasil deu certo. E agora?”, o economista respondeu no último episódio RadioCash, podcast da Empiricus em parceria com a Vitreo, à provocativa pergunta que esse título evoca no atual cenário: E agora? 

Para você entender melhor o contexto, essa produção reuniu análises próprias, além de ex-presidentes da República, ex-presidentes do Banco Central, empresários e acadêmicos. O foco era a trajetória de crescimento do país desde o governo José Sarney, na época da hiperinflação, passando pelo governo FHC, com a política do Plano Real, e finalizando no governo Lula, com uma equipe econômica forte e programas sociais. Todos falaram de forma positiva sobre o Brasil e tinham boas projeções, embora apontando alguns ajustes necessários. 

Mas depois, veio um banho de água fria – o país entrou na maior recessão da sua história, passou por um processo de impeachment e teve diversos escândalos de corrupção. Isso até chegarmos ao momento atual complexo de polarização política, dificuldade de lidar com a pandemia e de andar com as reformas.

A discussão no RadioCash foi muito interessante (dê o play abaixo e ouça na íntegra). Inclusive, há poucos dias, a revista The Economist trouxe novas reflexões à tona sobre o país, com a sua capa mostrando o Cristo Redentor respirando com uma máscara de oxigênio. E recentemente o Brasil também foi destaque do Wall Street Journal pela recuperação econômica a níveis pré-pandemia. Clique aqui para ouvir o podcast.

Apesar de tudo, eu continuo acreditando que o Brasil construiu instituições sólidas, e este era até um dos temas centrais. Com isso, eu tenho um consolo sobre o meu erro que foi o otimismo excessivo. Mas esse era o ambiente na época (do documentário), o Brasil estava decolando”, disse Maílson no podcast. 

Segundo ele, mesmo com o impeachment de Dilma Rousseff, o país não sofreu uma ruptura da democracia. Outro ponto favorável é que o sistema financeiro é sólido, sofisticado e bem regulamentado pelo Banco Central. Maílson ainda destacou a imprensa independente e livre. 

Quando eu me refiro à solidez das instituições, eu quero dizer as instituições que preservam a democracia e a estabilidade da moeda. Sem essas duas coisas a gente não vai muito longe, não é?”, destacou no podcast. Clique aqui para ouvir o podcast.

Agora, o que é necessário para o Brasil dar certo?

Diante das mudanças tão acentuadas no cenário, Mailson contou que está escrevendo um novo livro que já possui até título provisório: “Ainda tem jeito?”

A ideia dele é discutir o desafio do país de vencer a renda média, armadilha em que caiu a partir de meados do governo Lula.Eu acho que o Brasil tem condições de escapar, não é uma tarefa simples, isso demanda transformações estruturais muito grandes. O esforço é maior porque o país perdeu muito tempo, principalmente do governo Dilma para cá.

Ele defendeu as reformas tributária e administrativa. Para o economista, há muito o que ser feito nessas áreas para o país crescer de forma sustentável, entretanto, ele reconhece que a atual Constituição engessa muitos trabalhos necessários. “A Constituição de 88 representou um grande avanço nos campos político e social, mas foi um desastre no campo econômico”, ressaltou. 

Ele também avalia que é preciso melhorar a qualidade da educação para que haja ganho de produtividade no país. Clique aqui para ouvir o podcast.

E como não poderia faltar, a inflação entrou na pauta

Seria estranho se um economista e ex-ministro da Fazenda não comentasse sobre a inflação, tema que Felipe e Jojo vem debatendo constantemente no RadioCash. 

Para Maílson, a inflação foi de certa forma surpreendente nos últimos meses por dois motivos – a alta das commodities e o risco fiscal. Ambas impactaram o câmbio, ou seja, depreciaram o real. Aqui, a lógica é de que os produtos importados ficaram mais caros, diminuindo o poder de compra.

Então, é uma situação diferente de outros momentos de subida de preço de commodities, tanto as agrícolas quanto as minerais. Desta vez, o real não se valorizou. Antes, você neutralizava o aumento do preço das commodities com a elevação do câmbio”, disse. 

Com essa trajetória de alta da inflação ele acredita que o Banco Central poderá elevar a taxa Selic para 5,5% até o fim do ano. 

Quer ficar por dentro das opiniões e análises de Maílson da Nóbrega sobre o futuro do Brasil, a posição do governo Bolsonaro no atual momento, inflação e diversos outros assuntos que rolaram nesse papo? Então, é só conferir o RadioCash aqui na íntegra.

Sobre o autor

Marina Gazzoni

CEO do Seu Dinheiro. É CFP® (Certified Financial Planner). Tem graduação em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e MBA em Informação Econômico-Financeira e Mercado de Capitais no Instituto Educacional BM&FBovespa. Foi Diretora de Conteúdo e editora-chefe do Seu Dinheiro, editora de Economia do G1 e repórter de O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e do portal IG.

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