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Recuo de Trump, ata ‘dura’ do Copom e resultados trimestrais: saiba o que está no radar do mercado nesta terça (4)

Donald Trump postergou a imposição de tarifas agressivas sobre o México e o Canadá; no Brasil, ata do Copom manteve tom duro do BC

Por Matheus Spiess

04 fev 2025, 09:37 - atualizado em 04 fev 2025, 09:37

bolsa de valores ibovespa mercado

Imagem: iStock/ y-studio

Bom dia, pessoal. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, optou por postergar mais uma vez a imposição de tarifas agressivas sobre produtos mexicanos e canadenses. Esta é, na verdade, a terceira vez que essa medida é adiada desde o início de seu segundo mandato, o que reduz parte do peso da ameaça e reforça a percepção de que as tarifas vêm sendo usadas como ferramenta de barganha política e econômica. Esse adiamento teve um impacto imediato nos mercados globais. As bolsas asiáticas encerraram o dia em alta, revertendo as perdas da sessão anterior, quando o anúncio do “tarifaço” de Trump no sábado provocou quedas expressivas nos mercados. No entanto, as tarifas sobre a China foram mantidas, criando um cenário de reações distintas entre os parceiros comerciais dos EUA. Afinal, o gigante asiático adotou uma postura de retaliação, sinalizando que não aceitará pressões unilaterais, diferente do México e do Canadá. O mercado agora aguarda uma possível conversa entre Trump e Xi Jinping, mas num tom muito diferente do adotado com os vizinhos americanos.

Como a China se recusou a ceder à pressão de Trump, os futuros de ações dos EUA operam em baixa. O dólar se fortaleceu frente a todas as moedas do G-10. Já as bolsas europeias operam de forma mista, com as perdas sendo lideradas pelo setor financeiro, após a divulgação dos resultados trimestrais do UBS e diante de novas incertezas na política francesa, que fragilizam o eixo franco-alemão, o coração da Zona do Euro. Na agenda do dia, o foco se volta para o início da rodada de dados de emprego nos EUA, com a divulgação do relatório JOLTS, que pode fornecer novos sinais sobre a dinâmica do mercado de trabalho americano. Além disso, o mercado acompanha os primeiros resultados corporativos do dia, que serão divulgados ainda nesta noite. Por aqui, a tendência é que o mercado siga os humores externos, ao mesmo tempo em que digerimos a ata do Copom, divulgada na manhã de hoje, que trouxe sinais mais claros sobre os próximos passos da política monetária doméstica.

· 00:55 — O tom duro prevaleceu

O pregão de ontem no Brasil foi marcado por movimentos atípicos no mercado. No segmento de ações, houve uma correção, embora menos intensa do que o esperado no início do dia, à medida que os sinais de um possível recuo na aplicação das tarifas de Donald Trump ajudaram a amenizar parte da pressão sobre os ativos locais. Por outro lado, o dólar encerrou o dia cotado a R$ 5,815, atingindo seu menor patamar desde o fim de novembro e completando 11 sessões consecutivas de queda. No acumulado de 2025, a moeda americana já desvalorizou quase 6%, consolidando-se abaixo dos R$ 6,00. Esse movimento reflete, em parte, a percepção de que o Brasil tem sido poupado, até o momento, das recentes medidas protecionistas de Washington, tornando-se uma alternativa relativamente mais atraente.

Na manhã de hoje, o foco voltou-se para a divulgação da ata do Copom, que manteve o tom duro da autoridade monetária, já observado na decisão da semana passada, quando a Selic foi elevada em 100 pontos-base. Naturalmente, havia uma expectativa significativa em torno da argumentação que o documento adotaria em relação a uma possível desaceleração econômica, já que alguns sinais de fragilidade na atividade vêm sendo observados, como os dados mais fracos de emprego divulgados na semana passada. A ata confirmou que o balanço de riscos permanece assimétrico para o lado altista, mas trouxe uma mudança importante nos riscos de baixa para a inflação, refletindo um ajuste nas projeções diante desse cenário menos robusto.

Me parece mesmo difícil sustentar uma Selic a 16% se o país entrar em recessão, o que já antecipava a possibilidade de o Copom continuar o ciclo de aperto monetário em maio, mas de forma menos agressiva. Essa postura foi reforçada pela correção de um ponto que chamou atenção na decisão anterior, que foi a falta de foco na desancoragem das expectativas inflacionárias, elemento que agora recebeu o devido destaque. Assim, o ciclo de aperto monetário continua, enquanto o mercado aguarda definições sobre o Orçamento de 2025, a Reforma Ministerial e, principalmente, medidas adicionais para conter o crescimento dos gastos públicos, caso o governo de fato apresente um plano concreto nesse sentido – o que permanece uma incógnita.

· 01:41 — Pressão

Nos Estados Unidos, o mercado de ações começou o dia em pânico, mas conseguiu se recuperar à medida que ficou evidente que a Casa Branca estava disposta a adiar o prazo final para a imposição de tarifas pesadas sobre o México e o Canadá. Embora o adiamento tenha sido por apenas um mês, o movimento foi bem recebido pelos investidores, sinalizando que Trump está aberto a negociações, ainda que em seus próprios termos. No entanto, o uso dessa tática de pressão é algo já conhecido do presidente, um padrão que marcou seu primeiro mandato. Com isso, os mercados devem se acostumar a um ambiente de maior volatilidade, onde cada decisão pode ser revista ou ajustada de acordo com o jogo político e econômico da Casa Branca.

Além das tensões comerciais, os mercados também voltam suas atenções para o início da divulgação da série de dados de emprego nos EUA, que deve fornecer indicações importantes sobre os próximos passos do Federal Reserve em relação à política monetária. No cenário corporativo, os investidores acompanham uma agenda carregada de balanços trimestrais, com destaque para os resultados de Alphabet, Advanced Micro Devices (AMD), Chipotle, PayPal Holdings, PepsiCo, Pfizer e Spotify. Esses números podem impactar significativamente o mercado, adicionando ainda mais elementos à já intensa volatilidade do momento.

· 02:34 — Postergou

Como mencionei anteriormente, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recuou momentaneamente de sua postura mais agressiva e optou por adiar, por um mês, a imposição das tarifas comerciais sobre o México e o Canadá. A decisão veio após conversas diretas com a presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, e o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, que, vale destacar, está de saída do cargo. O recuo ocorreu em meio a ameaças de retaliação rápida e contundente por parte dos dois países, caso Trump seguisse adiante com a implementação das tarifas de 25%, que vêm sendo prometidas há meses. A postergação, no entanto, veio acompanhada de exigências e concessões dos vizinhos, numa vitória de Trump.

No caso do México, os EUA concordaram em reforçar o combate ao tráfico de armas para o país, enquanto o governo mexicano se comprometeu a deslocar mais 10 mil soldados para a fronteira com os EUA, com o objetivo de bloquear o fluxo de fentanil e conter a imigração ilegal – dois temas centrais para Trump. Poucas horas depois, um acordo semelhante foi firmado com o Canadá, garantindo um adiamento das tarifas por mais um mês. No entanto, o estrago diplomático pode já estar feito. No Canadá, a percepção pública em relação a Trump não é das melhores, e há um crescente descontentamento com o que muitos consideram uma abordagem agressiva e temerária do presidente americano. Independentemente do adiamento, o potencial para retaliações vindas do norte da fronteira continua crescendo.

· 03:23 — Problema na França

Na França, o primeiro-ministro François Bayrou enfrentou forte resistência ao aprovar seu projeto de lei orçamentária para 2025 na câmara baixa do parlamento, recorrendo a uma disposição constitucional controversa que pode desencadear um voto de desconfiança já na quarta-feira. Sem contar com uma maioria na Assembleia Nacional, o líder centrista teve poucas alternativas além de ativar um mecanismo constitucional que permite a aprovação de projetos sem votação parlamentar, mas que pode levar à derrubada do governo caso a oposição mobilize apoio suficiente para contestá-lo.

Era esperado que essa decisão gerasse insatisfação dentro e fora do parlamento. No entanto, a liderança socialista já sinalizou que não apoiará uma moção de desconfiança, o que reduz as chances de um colapso imediato do governo. Ainda assim, o episódio ressalta como a instabilidade política segue como um desafio estrutural para a França. Vale lembrar que a crise atual não é um caso isolado. Bayrou assumiu o cargo recentemente, substituindo Michel Barnier, que permaneceu apenas três meses na função, também enfrentando impasses orçamentários. O cenário reforça a percepção de que as dificuldades políticas no eixo franco-alemão continuam a se aprofundar, o que pode gerar novos desafios para a estabilidade da União Europeia.

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· 04:18 — Mas a China não recuou…

A retaliação da China contra os Estados Unidos domina os noticiários nesta manhã, ampliando as tensões comerciais globais. A decisão de Pequim foi anunciada pelo Ministério do Comércio poucas horas após Donald Trump suspender temporariamente, por 30 dias, a imposição de tarifas ao México e ao Canadá. A resposta chinesa adiciona combustível à disputa comercial, aumentando os riscos de uma escalada que pode reverberar por toda a economia global. As novas tarifas impostas pela China incluem 15% sobre o carvão e o gás natural liquefeito (GNL) e 10% sobre petróleo bruto, máquinas agrícolas e veículos de grande potência. Essas medidas entrarão em vigor na próxima segunda-feira e representam um golpe significativo para setores estratégicos da economia americana. A China não quer ser vista como fraca, claro.

Além do impacto direto sobre os mercados e cadeias produtivas, essa nova rodada de tarifas reacende um problema estrutural de confiança no comércio global. À medida que os Estados Unidos demonstram inconsistência no cumprimento de acordos comerciais, países estrangeiros passam a ter menos incentivos para fazer concessões em negociações futuras, tornando os tratados internacionais menos previsíveis. O que estamos testemunhando não é um evento isolado, mas sim o ressurgimento explícito da guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo. Na realidade, essa disputa nunca foi totalmente superada – durante o governo Biden, ela apenas assumiu contornos mais discretos e estratégicos. Com Trump de volta ao comando, o confronto volta à sua forma mais agressiva, adicionando mais um capítulo à nova Guerra Fria econômica que molda as relações globais no século XXI.

· 05:06 — De qualquer forma, o excepcionalismo continua

Na disputa econômica global, os Estados Unidos seguem reforçando sua posição de liderança, apesar dos desafios comerciais e geopolíticos. Em 2024, o crescimento do PIB nominal americano superou o da China, impulsionado, em grande parte, pela força do consumidor americano, que continua sustentando a demanda interna. Os dados divulgados na última quinta-feira mostraram que o PIB nominal dos EUA – antes do ajuste pela inflação – cresceu 5,3% no ano passado, superando com folga os 4,2% da China, que enfrenta um cenário de deflação. Esse foi o terceiro ano consecutivo em que os EUA registraram um crescimento nominal superior ao da segunda maior economia do mundo, um marco significativo, considerando que, historicamente, economias emergentes tendem a crescer mais do que nações desenvolvidas.

Essa diferença fica ainda mais evidente quando analisamos o PIB per capita. Em 2023, segundo os dados mais recentes do Banco Mundial, a renda per capita da China foi de US$ 12.614, um valor ainda muito distante dos US$ 82.769 dos Estados Unidos. Essa disparidade ressalta o longo caminho que a China ainda precisa percorrer para reduzir a lacuna econômica em relação aos EUA. Além disso, a economia chinesa segue pressionada pela crise no setor imobiliário, que continua afetando a confiança do consumidor e limitando a capacidade de recuperação sustentada do país. Enquanto isso, o PIB real dos EUA segue acima da tendência histórica, crescendo 2,8% em 2024, bem acima da média de 1,9% observada entre 2000 e 2019.

Diante desse cenário, parece claro que os Estados Unidos seguem como a principal potência econômica mundial e devem continuar dominando o cenário global, mesmo com os desafios geopolíticos que podem emergir sob a nova administração na Casa Branca. Por essa razão, continuo acreditando que os investidores devem…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.