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Bom dia, pessoal. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, optou por postergar mais uma vez a imposição de tarifas agressivas sobre produtos mexicanos e canadenses. Esta é, na verdade, a terceira vez que essa medida é adiada desde o início de seu segundo mandato, o que reduz parte do peso da ameaça e reforça a percepção de que as tarifas vêm sendo usadas como ferramenta de barganha política e econômica. Esse adiamento teve um impacto imediato nos mercados globais. As bolsas asiáticas encerraram o dia em alta, revertendo as perdas da sessão anterior, quando o anúncio do “tarifaço” de Trump no sábado provocou quedas expressivas nos mercados. No entanto, as tarifas sobre a China foram mantidas, criando um cenário de reações distintas entre os parceiros comerciais dos EUA. Afinal, o gigante asiático adotou uma postura de retaliação, sinalizando que não aceitará pressões unilaterais, diferente do México e do Canadá. O mercado agora aguarda uma possível conversa entre Trump e Xi Jinping, mas num tom muito diferente do adotado com os vizinhos americanos.
Como a China se recusou a ceder à pressão de Trump, os futuros de ações dos EUA operam em baixa. O dólar se fortaleceu frente a todas as moedas do G-10. Já as bolsas europeias operam de forma mista, com as perdas sendo lideradas pelo setor financeiro, após a divulgação dos resultados trimestrais do UBS e diante de novas incertezas na política francesa, que fragilizam o eixo franco-alemão, o coração da Zona do Euro. Na agenda do dia, o foco se volta para o início da rodada de dados de emprego nos EUA, com a divulgação do relatório JOLTS, que pode fornecer novos sinais sobre a dinâmica do mercado de trabalho americano. Além disso, o mercado acompanha os primeiros resultados corporativos do dia, que serão divulgados ainda nesta noite. Por aqui, a tendência é que o mercado siga os humores externos, ao mesmo tempo em que digerimos a ata do Copom, divulgada na manhã de hoje, que trouxe sinais mais claros sobre os próximos passos da política monetária doméstica.
· 00:55 — O tom duro prevaleceu
O pregão de ontem no Brasil foi marcado por movimentos atípicos no mercado. No segmento de ações, houve uma correção, embora menos intensa do que o esperado no início do dia, à medida que os sinais de um possível recuo na aplicação das tarifas de Donald Trump ajudaram a amenizar parte da pressão sobre os ativos locais. Por outro lado, o dólar encerrou o dia cotado a R$ 5,815, atingindo seu menor patamar desde o fim de novembro e completando 11 sessões consecutivas de queda. No acumulado de 2025, a moeda americana já desvalorizou quase 6%, consolidando-se abaixo dos R$ 6,00. Esse movimento reflete, em parte, a percepção de que o Brasil tem sido poupado, até o momento, das recentes medidas protecionistas de Washington, tornando-se uma alternativa relativamente mais atraente.
Na manhã de hoje, o foco voltou-se para a divulgação da ata do Copom, que manteve o tom duro da autoridade monetária, já observado na decisão da semana passada, quando a Selic foi elevada em 100 pontos-base. Naturalmente, havia uma expectativa significativa em torno da argumentação que o documento adotaria em relação a uma possível desaceleração econômica, já que alguns sinais de fragilidade na atividade vêm sendo observados, como os dados mais fracos de emprego divulgados na semana passada. A ata confirmou que o balanço de riscos permanece assimétrico para o lado altista, mas trouxe uma mudança importante nos riscos de baixa para a inflação, refletindo um ajuste nas projeções diante desse cenário menos robusto.
Me parece mesmo difícil sustentar uma Selic a 16% se o país entrar em recessão, o que já antecipava a possibilidade de o Copom continuar o ciclo de aperto monetário em maio, mas de forma menos agressiva. Essa postura foi reforçada pela correção de um ponto que chamou atenção na decisão anterior, que foi a falta de foco na desancoragem das expectativas inflacionárias, elemento que agora recebeu o devido destaque. Assim, o ciclo de aperto monetário continua, enquanto o mercado aguarda definições sobre o Orçamento de 2025, a Reforma Ministerial e, principalmente, medidas adicionais para conter o crescimento dos gastos públicos, caso o governo de fato apresente um plano concreto nesse sentido – o que permanece uma incógnita.
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· 01:41 — Pressão
Nos Estados Unidos, o mercado de ações começou o dia em pânico, mas conseguiu se recuperar à medida que ficou evidente que a Casa Branca estava disposta a adiar o prazo final para a imposição de tarifas pesadas sobre o México e o Canadá. Embora o adiamento tenha sido por apenas um mês, o movimento foi bem recebido pelos investidores, sinalizando que Trump está aberto a negociações, ainda que em seus próprios termos. No entanto, o uso dessa tática de pressão é algo já conhecido do presidente, um padrão que marcou seu primeiro mandato. Com isso, os mercados devem se acostumar a um ambiente de maior volatilidade, onde cada decisão pode ser revista ou ajustada de acordo com o jogo político e econômico da Casa Branca.
Além das tensões comerciais, os mercados também voltam suas atenções para o início da divulgação da série de dados de emprego nos EUA, que deve fornecer indicações importantes sobre os próximos passos do Federal Reserve em relação à política monetária. No cenário corporativo, os investidores acompanham uma agenda carregada de balanços trimestrais, com destaque para os resultados de Alphabet, Advanced Micro Devices (AMD), Chipotle, PayPal Holdings, PepsiCo, Pfizer e Spotify. Esses números podem impactar significativamente o mercado, adicionando ainda mais elementos à já intensa volatilidade do momento.
· 02:34 — Postergou
Como mencionei anteriormente, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recuou momentaneamente de sua postura mais agressiva e optou por adiar, por um mês, a imposição das tarifas comerciais sobre o México e o Canadá. A decisão veio após conversas diretas com a presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, e o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, que, vale destacar, está de saída do cargo. O recuo ocorreu em meio a ameaças de retaliação rápida e contundente por parte dos dois países, caso Trump seguisse adiante com a implementação das tarifas de 25%, que vêm sendo prometidas há meses. A postergação, no entanto, veio acompanhada de exigências e concessões dos vizinhos, numa vitória de Trump.
No caso do México, os EUA concordaram em reforçar o combate ao tráfico de armas para o país, enquanto o governo mexicano se comprometeu a deslocar mais 10 mil soldados para a fronteira com os EUA, com o objetivo de bloquear o fluxo de fentanil e conter a imigração ilegal – dois temas centrais para Trump. Poucas horas depois, um acordo semelhante foi firmado com o Canadá, garantindo um adiamento das tarifas por mais um mês. No entanto, o estrago diplomático pode já estar feito. No Canadá, a percepção pública em relação a Trump não é das melhores, e há um crescente descontentamento com o que muitos consideram uma abordagem agressiva e temerária do presidente americano. Independentemente do adiamento, o potencial para retaliações vindas do norte da fronteira continua crescendo.
· 03:23 — Problema na França
Na França, o primeiro-ministro François Bayrou enfrentou forte resistência ao aprovar seu projeto de lei orçamentária para 2025 na câmara baixa do parlamento, recorrendo a uma disposição constitucional controversa que pode desencadear um voto de desconfiança já na quarta-feira. Sem contar com uma maioria na Assembleia Nacional, o líder centrista teve poucas alternativas além de ativar um mecanismo constitucional que permite a aprovação de projetos sem votação parlamentar, mas que pode levar à derrubada do governo caso a oposição mobilize apoio suficiente para contestá-lo.
Era esperado que essa decisão gerasse insatisfação dentro e fora do parlamento. No entanto, a liderança socialista já sinalizou que não apoiará uma moção de desconfiança, o que reduz as chances de um colapso imediato do governo. Ainda assim, o episódio ressalta como a instabilidade política segue como um desafio estrutural para a França. Vale lembrar que a crise atual não é um caso isolado. Bayrou assumiu o cargo recentemente, substituindo Michel Barnier, que permaneceu apenas três meses na função, também enfrentando impasses orçamentários. O cenário reforça a percepção de que as dificuldades políticas no eixo franco-alemão continuam a se aprofundar, o que pode gerar novos desafios para a estabilidade da União Europeia.
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· 04:18 — Mas a China não recuou…
A retaliação da China contra os Estados Unidos domina os noticiários nesta manhã, ampliando as tensões comerciais globais. A decisão de Pequim foi anunciada pelo Ministério do Comércio poucas horas após Donald Trump suspender temporariamente, por 30 dias, a imposição de tarifas ao México e ao Canadá. A resposta chinesa adiciona combustível à disputa comercial, aumentando os riscos de uma escalada que pode reverberar por toda a economia global. As novas tarifas impostas pela China incluem 15% sobre o carvão e o gás natural liquefeito (GNL) e 10% sobre petróleo bruto, máquinas agrícolas e veículos de grande potência. Essas medidas entrarão em vigor na próxima segunda-feira e representam um golpe significativo para setores estratégicos da economia americana. A China não quer ser vista como fraca, claro.
Além do impacto direto sobre os mercados e cadeias produtivas, essa nova rodada de tarifas reacende um problema estrutural de confiança no comércio global. À medida que os Estados Unidos demonstram inconsistência no cumprimento de acordos comerciais, países estrangeiros passam a ter menos incentivos para fazer concessões em negociações futuras, tornando os tratados internacionais menos previsíveis. O que estamos testemunhando não é um evento isolado, mas sim o ressurgimento explícito da guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo. Na realidade, essa disputa nunca foi totalmente superada – durante o governo Biden, ela apenas assumiu contornos mais discretos e estratégicos. Com Trump de volta ao comando, o confronto volta à sua forma mais agressiva, adicionando mais um capítulo à nova Guerra Fria econômica que molda as relações globais no século XXI.
· 05:06 — De qualquer forma, o excepcionalismo continua
Na disputa econômica global, os Estados Unidos seguem reforçando sua posição de liderança, apesar dos desafios comerciais e geopolíticos. Em 2024, o crescimento do PIB nominal americano superou o da China, impulsionado, em grande parte, pela força do consumidor americano, que continua sustentando a demanda interna. Os dados divulgados na última quinta-feira mostraram que o PIB nominal dos EUA – antes do ajuste pela inflação – cresceu 5,3% no ano passado, superando com folga os 4,2% da China, que enfrenta um cenário de deflação. Esse foi o terceiro ano consecutivo em que os EUA registraram um crescimento nominal superior ao da segunda maior economia do mundo, um marco significativo, considerando que, historicamente, economias emergentes tendem a crescer mais do que nações desenvolvidas.
Essa diferença fica ainda mais evidente quando analisamos o PIB per capita. Em 2023, segundo os dados mais recentes do Banco Mundial, a renda per capita da China foi de US$ 12.614, um valor ainda muito distante dos US$ 82.769 dos Estados Unidos. Essa disparidade ressalta o longo caminho que a China ainda precisa percorrer para reduzir a lacuna econômica em relação aos EUA. Além disso, a economia chinesa segue pressionada pela crise no setor imobiliário, que continua afetando a confiança do consumidor e limitando a capacidade de recuperação sustentada do país. Enquanto isso, o PIB real dos EUA segue acima da tendência histórica, crescendo 2,8% em 2024, bem acima da média de 1,9% observada entre 2000 e 2019.
Diante desse cenário, parece claro que os Estados Unidos seguem como a principal potência econômica mundial e devem continuar dominando o cenário global, mesmo com os desafios geopolíticos que podem emergir sob a nova administração na Casa Branca. Por essa razão, continuo acreditando que os investidores devem…