Investimentos

‘Rotation trade’ joga big techs para baixo e abre janela de oportunidade para small caps, avalia Felipe Miranda 

Estrategista-chefe da Empiricus Felipe Miranda analisa o rotation trade observado no mercado internacional, com oportunidades para small caps.

Camila Paim Figueiredo Jornalista

Por Camila Paim

25 jul 2024, 15:22 - atualizado em 25 jul 2024, 15:22

wall street nova york bolsa de valores
Imagem: Unsplash

Uma reviravolta no cenário político e econômico dos Estados Unidos provocou um efeito distante da média: o Nasdaq caiu cerca de 3%, enquanto o Russell 2000 se valorizou aproximadamente na mesma medida. 

O acontecimento, denominado “rotation trade”, é novidade pelas empresas às quais os índices estão associados. Enquanto o Nasdaq representa o lado mais tecnológico de Wall Street, o Russell 2000 reúne as “small caps” norte-americanas. 

A variação de cerca de 3% para os indicadores representou a maior discrepância diária entre o Nasdaq e o Russel desde 6 de janeiro de 2021, guiada por um rali das small caps, compara Felipe Miranda, co-fundador e estrategista-chefe da Empiricus. 

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Elaboração: Empiricus | Fonte: Bloomberg.

“Depois de vários anos em que a alta das bolsas norte-americanas esteve muito concentrada em big techs, sobretudo ligadas à inteligência artificial, investidores começam a reduzir sua exposição ao nicho para comprar outras coisas, mais descontadas e sensíveis à iminente queda da taxa básica de juro por lá”, explica o estrategista-chefe. 

Small caps têm momento de ascensão com queda das techs

A comparação de valor nos índices teve uma movimentação por cinco dias que não era visto desde 2020, um movimento de 99º percentil nos últimos 10 anos. Os gráficos abaixo ilustram a grandiosidade do movimento.

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Large Cap vs Small Cap – Fonte: Goldman Sachs.
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Desempenho dos Índices – Fonte: FactSet.

Na visão de Miranda, em sua experiência esses momentos de turnaround na bolsa são raros, e quando bem capturados, podem construir fortunas. Um exemplo apontado é a trajetória da Magazine Luiza (MGLU3), que decolou entre 2015 e 2021. Da mesma forma, como vemos no cenário do varejo brasileiro, é igualmente importante saber quando é a hora de sair das tendências setoriais.

O especialista acredita que o mercado de valores americano pode estar diante de uma dessas situações agora. Após um crescimento do valuation das big techs que parecia não ter fim, agora os investidores parecem estar reavaliando o potencial destas companhias em meio à temporada de balanços do 2T24.

É o caso da Tesla (TSLA34), cujas ações chegaram a cair 10% no after-market após a companhia reportar uma queda de 40% no lucro líquido.

Alívio na política monetária pode beneficiar certas companhias americanas; veja quais

Enquanto isso, o horizonte se desenha mais otimista para as small caps e empresas menores, que vinham sofrendo com as altas consecutivas das taxas de juros desde 2022. 

“A velha economia era mais afetada do que as grandes empresas de tecnologia. O capital migrou para monopólios ou oligopólios capazes de aguentar o tranco do juro mais alto, com muita geração de caixa, balanço robusto, poder de marca e externalidade de rede”, comenta Miranda. 

O analista ainda destaca que, enquanto a inteligência artificial permeava todos os meios, de conversas de bar a Davos, dos “tech crunches” a “Ted talks”, o mercado adotou que não havia porque estar posicionado em small caps ou em mercados emergentes – segmentos historicamente associados a mais expansão. 

É o que ilustra esse gráfico do crescimento do S&P 500, constituído pelas 500 maiores empresas das bolsas de valores NYSE e Nasdaq. O desempenho das “sete magníficas”, apelido das 7 big techs que se destacam (na linha vermelha) mostra como a valorização dessas companhias destoou do resto do índice. 

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Fonte: FactSet e Goldman Sachs.

Porém, enquanto o aperto monetário e a manutenção de juros altos por mais tempo foram o principal catalisador para tamanha concentração, Miranda enxerga que um novo ciclo de corte de juros deveria nos empurrar em outra direção.

“Com a inflação mais bem comportada e o mercado de trabalho dando claros sinais de desaquecimento, hoje se atribui 100% de probabilidade de queda da taxa básica de juros nos EUA em setembro. Na sequência, teríamos mais um ou dois cortes ainda neste ano, seguidos de mais três a quatro cortes em 2025. Trata-se de um ambiente desinflacionário e de juros bem menores, bastante diferente do observado desde 2022 lá fora”, explica o estrategista-chefe. 

Desse modo, é amenizada a necessidade de ter uma carteira concentrada em empresas menos cíclicas e mais preparadas para atravessar momentos adversos e de aperto monetário.

É o que aconteceu nos últimos dias, com a subida do Russell 500 e queda da Nasdaq: um movimento “migratório” de “rotation trade”.

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Ativos sensíveis a juros podem se favorecer

“Podemos migrar os portfólios para os casos de mais sensibilidade a juros, que se beneficiam do afrouxamento, têm suas receitas beneficiadas pela queda das taxas de juro e observam destacada melhora de seus balanços”, complementa o analista. 

Ademais, a notícia de que o governo Biden poderia sobretaxar qualquer tipo de acesso ou exportação de tecnologia de chips ou semicondutores aos chineses pesou bastante sobre as empresas ligadas ao segmento.

Soma-se isso ao pensamento de parte relevante dos analistas do mercado “de que o valuation das ações de grandes empresas de tecnologia, sobretudo aquelas ligadas diretamente à inteligência artificial, é muito mais esticado do que aqueles das small caps”. 

Levando em consideração os múltiplos das big techs, a qualidade das companhias, os balanços fortes e o bom ritmo de crescimento contratado à frente, é natural que o valuation seja generoso. “Contudo, o tamanho da discrepância chama atenção”, aponta Miranda.

Daqui para frente, big techs devem desacelerar

No geral, o analista acredita que a perspectiva é de uma desaceleração do crescimento das big techs à frente. 

Em sua análise, ele aponta que:

  • Amazon, Alphabet, Meta, Microsoft e Nvidia devem aumentar os lucros em 2024 em 37%, em comparação com 5% para as ações medianas do S&P 500;
  • Porém, no consenso, as vendas para estas cinco ações deverão desacelerar de 22% na comparação anual no 1T24 para 17% no 2T24, e gradualmente para 16% no 3T24 e 14% no 4T24;
  • As vendas do NVDA34 deverão desacelerar de 262% ano a ano no 1T para 111% no 2T, 73% no 3T e 56% no 4T;
  • Por outro lado, espera-se que as ações medianas do S&P 500 devem aumentar o volume de negociações, com vendas crescendo ano a ano de 2%, 3%, 4% e 5%).

Enquanto isso, a regressão dos juros poderá impulsionar as empresas que foram mais abaladas pelo seu crescimento. 

“Com a inflexão da trajetória dos juros nos EUA e a materialização do afrouxamento monetário em setembro, a tendência seria de diminuição desse gap de valuation. Depois de anos de outperformance [performance acima da média] das big techs dos EUA, a migração em direção aos nomes de value investing e menor capitalização de mercado pode estar apenas engatinhando, tendo percorrido seus primeiros passos”, avalia Miranda. 

Neste cenário, os analistas da Empiricus Research separaram uma lista de 10 ações internacionais promissoras e com fundamentos para valorizar em breve. Veja a lista completa aqui.

Camila Paim Figueiredo Jornalista

Sobre o autor

Camila Paim

Jornalista formada na Universidade de São Paulo (USP), com mobilidade acadêmica na Université Lumière Lyon 2 (França). Trabalhou com redação de jornalismo econômico e mercado financeiro, webdesign e redes sociais, além de escrever sobre gastronomia e literatura.

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