Investimentos

S01E16 – Against All Odds

Nosso analista com cara de mau te ajuda a fugir do machado do mercado – fuja da ruína e não morra na véspera.

Por Alexandre Mastrocinque

13 fev 2017, 01:54

Um pouco antes da Copa de 2010, tomei a pior decisão financeira de minha vida – “animado” demais com o evento, vendi 5 mil contratos de Coreia do Norte a um centavo cada um.

Sem me alongar nos detalhes dos contratos padrão de eventos esportivos (sim, existem e são bastante “regulados”), minha posição implicava em receber 50 reais caso o império de Kim Jong-un não levasse o título.

No caso de uma improvável vitória da “Evil Korea”, eu teria que pagar a nababesca soma de 500 mil reais.

É isso mesmo!

Você não leu errado.

Meu racional era de que zebras desse tamanho não acontecem em Copas do Mundo.

No fim das contas, acabei levando os 50 reais – a Coreia perdeu os 3 jogos, sofreu 12 gols, fez apenas 1 (contra o Brasil, diga-se) e voltou para casa com a pior campanha de todas.

Mas será que o fato de eu ter ganhado dinheiro quer dizer que eu estava certo?

O Leicester, um dos favoritos ao rebaixamento na temporada 2015/2016 do campeonato inglês, chegou a pagar 5.000/1 em algumas casas de aposta da Inglaterra – todo mundo duvidava do título dos Blues mesmo quando estávamos próximos do fim da temporada.

E o que falar dos Cavs, que viraram a final da NBA após estarem perdendo por 3 a 1 (inédito) para o time com a melhor campanha de todos os tempos?

E o Chicago Cubs que, depois de 108 anos sem títulos, também virou a World Series depois de estar perdendo por 3 a 1 (outro fato inédito)?

O impossível aconteceu bastante em 2016.

O combo Brexit + Leicester + Trump pagou 3 milhões para cada Libra nas principais casas de aposta de Londres.

Pare e pense nisso: o Trump é o presidente dos Estados Unidos da América.

E você certamente considerava isso impossível há seis meses.

Se passar a vida apostando contra o azarão, a cada rodada ganha 50 reais, compra uma Fanta Uva, duas paçocas e sai feliz da vida.

Aí, no dia que o Rocky Balboa aparece, você quebra.

Percebe a besteira dessa estratégia?

É o Peru de Natal do Taleb, que o Felipe adora.

O penoso passa a vida felizão, sendo bem tratado.

O mundo é bom, lindo.

Todo dia, um pouco de ração e água.

Um carinho fortuito.

Na véspera do Natal: Pá! Já era!

Perdeu, playboy peru!

O peru acha que o sol vai nascer todo dia, que nunca nada de ruim vai acontecer e que os 50 reais vão pingar na conta para todo o sempre.

Mas não é assim.

O caos reina.

O imponderável acontece.

Domingo passado escrevi sobre o Super Bowl. Algumas horas depois do texto  ter sido publicado, o mundo vivenciou uma das viradas mais improváveis do esporte.

Os Falcons, depois de abrirem 28×3 no terceiro quarto, acabaram perdendo o jogo na prorrogação.

34 x 28.

Até domingo, nenhum time que ficou atrás por mais de dez pontos havia levado o Super Bowl. Desde 1991, quando um time abriu 25 pontos, ganhou 1.057 vezes e perdeu apenas 4.

Como americanos adoram estatísticas, existe um gráfico que apresenta, em tempo real, a chance de vitória de cada time (baseada em estatísticas de outras partidas).

A probabilidade de vitória do time de Atlanta chegou a 99,7 por cento e, em algumas casas de aposta, uma vitória dos Patriots pagava quase 25x cada dólar “investido”.

Enquanto você estava de olho no show da Lady Gaga, um cisne negro passou na sua frente e, provavelmente, você nem percebeu.

E o que isso importa?

Quando você monta sua carteira, tem que evitar, a todo custo, ser o peru de Natal.

De que adianta ganhar ração e água se o machado é a outra face da moeda?

De alguma forma, você tem que sobreviver mais um dia e, melhor, se preparar para capturar o inesperado.

Tem que comprar o azarão, apostar no Daniel San contra os bombados da Cobra Kai. 

É isso que vai te deixar rico.

O mercado, do mesmo jeito que você, não deu devida atenção ao impossível em 2016. Os outliers são mal precificados, e opções fora do dinheiro são bem mais baratas do que deveriam.

Por uma falsa sensação de segurança, todo mundo espera que o mundo se comporte de forma normal.

Até que vem um tsunami e aparecem peixes com 3 cabeças em Fukushima.

Mas claro que não dá para fazer all in no Rocky ou no LaRusso. Na maior parte dos casos, eles perdem mesmo.

A ideia é constituir um portfólio que tenha uns 80 por cento de ativos de baixo risco (LFTs e ações do Itaú, Ambev e Ultrapar, por exemplo) e uma pimenta concentrada em bons azarões, aquelas coisas que ninguém quer, os cachorros sarnentos do mercado.

E, cá entre nós, nada é melhor para se investir em azarões do que opções.

Dá para comprar algumas por poucos centavos e, mesmo que você coloque apenas 5 por cento de sua carteira em algumas calls e puts escolhidas a dedo, há boas chances de multiplicar seu investimento!

Como se escolhe opções?

Ah, para isso é preciso de muito estudo e conhecimento de mercado.

Opções são instrumentos relativamente complexos e seria loucura tentar vencer sem bons conselhos.

Recomendo que bata um longo papo com o Bruce, nosso especialista no assunto!

Ele, com certeza, sabe qual o Leicester da Bolsa e vai te explicar tudo de forma bem clara e simples.

Desconfio que até o Trump entenderia!

 

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Formado em Economia pela FEA-USP e Contabilidade pela PUC-SP, atua no mercado financeiro há mais de dez anos. Ávido por análises e discussões, sejam sobre futebol, política, ou o mercado de capitais, segue sempre estudando e caçando o valor escondido dos ativos.

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