Crypto Insights

Pior que Covid, LUNA e FTX? Como market makers podem ter lucrado com a perda de US$ 800 bilhões no mercado de criptomoedas

Liquidações forçadas colocaram o mercado de criptomoedas diante de uma das piores quedas da história. Entenda.

Por Marcello Cestari

04 fev 2025, 08:51 - atualizado em 04 fev 2025, 08:51

bitcoin cripto criptomoedas

Imagem: iStock.com/Violka08

Nos últimos dias, o mercado de criptomoedas passou por uma das piores quedas da história, com US$ 800 bilhões evaporados e mais de US$ 2 bilhões em liquidações em apenas 24 horas (sim, tivemos uma queda mais forte do que Covid, LUNA, FTX).

O movimento foi impulsionado pelo efeito cascata das liquidações forçadas – quando investidores que operam com alavancagem (ou seja, tomando dinheiro emprestado para aumentar suas apostas) não conseguem cobrir suas perdas, forçando as corretoras a vender seus ativos automaticamente. Esse fenômeno acelera ainda mais a queda dos preços, gerando um ciclo vicioso de pânico e liquidações ainda maiores.

Além disso, tem rolado rumores no mercado que market makers (empresas que fornecem liquidez para o mercado) podem ter se aproveitado dessa queda para lucrar. Um dos principais alvos dessas suspeitas foi a Wintermute, uma grande market maker que, segundo dados on-chain, pode ter vendido grandes quantidades de tokens no mercado, forçando preços para baixo e desencadeando mais liquidações – apenas para recomprá-los a preços mais baixos. 

Ou seja, manipulando o mercado com uma prática conhecida como “liquidation hunting“, que obviamente levantou debates sobre a transparência do mercado cripto.

Novas tarifas comerciais intensificam crise no macro

Outro ponto que intensificou a crise foi o contexto macroeconômico e geopolítico. Novas tarifas comerciais impostas pelo governo dos EUA, juntamente com incertezas no mercado financeiro tradicional, levaram a um sell-off em ativos de risco, incluindo criptomoedas. Com a institucionalização do mercado de cripto, estamos cada vez mais vendo fatores macroeconômicos que impactam ativos de risco, impactando o mercado cripto. 

O Bitcoin chegou a negociar na casa dos US$ 91.245, já as altcoins sofreram quedas muito mais agressivas, refletindo a aversão ao risco dos investidores nesse momento de incerteza global.

Diante desse cenário, reforça a necessidade de regras mais claras e mecanismos de proteção para evitar que eventos como esse se repitam com tamanha intensidade. O impacto das liquidações automáticas e da falta de transparência dos market makers mostra que o mercado ainda precisa amadurecer para oferecer um ambiente mais estável e previsível aos investidores, é complicado. 

Por fim, um evento importante pode trazer novos direcionamentos: o czar de IA e criptomoedas do presidente Trump, David Sacks, realizará uma coletiva de imprensa nesta terça-feira (4) para discutir ativos digitais e como os EUA garantirão sua posição de liderança no setor. 

Então nos resta acompanhar e ficar atento aos possíveis anúncios e mudanças regulatórias que possam surgir dessa coletiva e quem sabe isso não anima o mercado novamente que segue ainda tentando se recuperar desse choque.

Variações semanais (27/01/25 a 03/02/25) 

  • ₿ Bitcoin (BTC): US$ 100.704 | Var. +1,20%
  • ♦ Ethereum (ETH): US$ 2.740 | Var. -10,69%
  • 🟠 Dominância Bitcoin: 61,38% | Var. +3,68%
  • 🌐 Valor total do mercado cripto: US$ 3,25t | Var. -2,40%
  • 💵 Valor de mercado de stablecoins: US$ 217,765b | Var. +1,08%
  • 📊 Valor total travado (TVL) em DeFi: US$ 107,646b | Var. -8,06%

* dados referentes ao fechamento em 03/02/25

Tópicos da semana 

  • As exchanges Kraken e Coinbase garantiram aprovações regulatórias essenciais para expandirem suas operações na União Europeia e no Reino Unido, respectivamente: A Kraken obteve uma licença MiFID na UE, permitindo oferecer derivativos regulados em mercados europeus, enquanto a Coinbase recebeu o registro VASP da Financial Conduct Authority (FCA) do Reino Unido, permitindo expandir seus serviços de conversão cripto-fiat. Com a regulamentação MiCA da UE e um novo marco regulatório britânico em 2025, ambas as exchanges consolidam sua presença nesses mercados. 
  • A MicroStrategy encerrou sua sequência de 12 semanas consecutivas de compras de Bitcoin, mantendo seu total em 471.107 BTC: A empresa, conhecida por sua estratégia agressiva de acumulação de BTC, interrompeu as aquisições nesta semana, marcando uma pausa em sua expansão contínua de holdings.
  • O recém-nomeado Secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, foi designado por Donald Trump para atuar como diretor interino do Consumer Financial Protection Bureau (CFPB): A agência, responsável por regular mercados financeiros de consumo, tem trabalhado em regras para o setor cripto, incluindo uma “regra interpretativa” recente para proteger usuários contra fraudes em transações com criptomoedas. A nomeação ocorre após a demissão do ex-diretor Rohit Chopra, e faz parte de uma possível reestruturação da entidade.
  • A THORChain aprovou um plano para lidar com sua crise de US$ 200 milhões em dívidas, convertendo passivos em tokens de equity chamados TCY (Thorchain Yield): Os detentores de TCY terão direito a 10% da receita da rede em perpetuidade, substituindo pagamentos em Bitcoin ou Ethereum. Serão emitidos 200 milhões de TCY a uma taxa de 1 TCY por dólar de dívida inadimplente, e um pool de liquidez RUNE/TCY será criado com US$ 500 mil financiados pelo tesouro da THORChain. A decisão vem após a suspensão dos serviços ThorFi (Savers e Lending), como parte de um plano de reestruturação de 90 dias.

Gráficos da semana 

A Raydium, exchange descentralizada baseada na Solana, superou a Uniswap em volume de negociações em janeiro, tornando-se a maior DEX do período. Esse crescimento foi impulsionado principalmente pelo aumento das negociações de memecoins, levando a Raydium a representar 27% do volume total de DEXs, enquanto a Uniswap viu sua participação cair de 34,5% em dezembro para 22% em janeiro, em meio a críticas sobre a falta de inovação no ecossistema Ethereum. Outras DEXs, como PancakeSwap (17%) e as exchanges da Solana Orca e Meteora, também se destacaram.

Fonte: The Block

O sucesso da Raydium reflete a ascensão da Solana, que processou cinco vezes mais transações que o Ethereum em uma única semana de janeiro, consolidando sua posição como líder no setor. Além disso, a explosão de negociações foi parcialmente atribuída ao hype em torno do memecoin oficial de Donald Trump, que rapidamente se tornou uma das criptomoedas mais valiosas do momento. 

Por fim, vale salientar que escrevo aqui no Crypto Insights como convidado do time da Empiricus Research, uma vez que faço parte do time da Empiricus Gestão. Mas é sempre um prazer escrever aqui para vocês e agradeço novamente pelo convite.

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Aviso obrigatório: Este conteúdo é apenas informativo e tem como objetivo compartilhar insights e análises sobre o mercado. Não constitui recomendação de investimento, e qualquer decisão financeira deve ser feita com base em sua própria análise e, preferencialmente, com o apoio de profissionais qualificados.

Sobre o autor

Marcello Cestari

Marcello Cestari é analista e trader responsável por todos os fundos de criptoativos na Empiricus Gestão. É formado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP). Além de suas responsabilidades na Empiricus Gestão, Marcello Cestari compartilha regularmente sua expertise por meio da produção de conteúdos e análises aprofundadas sobre o mercado de criptoativos, contribuindo para a disseminação de conhecimento e informação no setor.