Day One

O eclético da Faria Lima

Apesar de tímida, não resisto a uma oportunidade de iniciar uma conversa. A tarefa em geral é simples. O desafio é engajar o outro lado e evitar pausas descompassadas para não cair, em questão de segundos, naquele silêncio constrangedor.

Por Lais Costa

27 ago 2021, 10:25

Apesar de tímida, não resisto a uma oportunidade de iniciar uma conversa. A tarefa em geral é simples. O desafio é engajar o outro lado e evitar pausas descompassadas para não cair, em questão de segundos, naquele silêncio constrangedor.

Faço esse exercício quase diariamente quando pego um Uber a caminho do escritório. Como o interlocutor é completamente desconhecido, o segredo é tentar encontrar pontos de conexão: um chaveiro com o escudo do time de futebol, um adereço no retrovisor ou o sotaque (de ambas as partes) ajudam a construir uma pauta. Quase qualquer assunto é preferível ao clima. A música de fundo ou uma notícia de última hora na estação de rádio também pode ajudar.

Aliás, se você acertar o gosto musical do motorista, é cinco estrelas na certa. O problema é que não é raro encontrar quem se diz eclético.

Na prática, contudo, o adjetivo “eclético” quer dizer pouca coisa. Você pode estar falando com um especialista em música e profundo apreciador da arte ou alguém completamente alheio ao tema, que pouco se interessa ou conhece do assunto.

Com bastante frequência, encontro investidores ecléticos de fundos de investimento. Refiro-me àqueles que já ouviram de tudo, mas não se aprofundaram em nada e parecem não ter lá muito interesse em fazê-lo.

O resultado são portfólios construídos através de uma rebuscada técnica do uso dos nomes em alta, rebalanceados quase que diariamente ao som de lives e podcasts e ajustados pelas performances mais recentes. Naturalmente, os retornos obtidos também estarão, infalivelmente, em completa desafinação com os objetivos e as expectativas do investidor.

Os investimentos, assim como a música, têm um alicerce, um arcabouço teórico profundo que alimenta a prática. Destaco sete notas de cabeceira para qualquer investidor de fundos de investimento globais:

#Alocação global não deve ser a nota dissonante do portfólio. Ao contrário, tenha uma alocação estrutural e diversificada no exterior e carregue-a.

#Benchmark deve ser definido pela estratégia, e não pela geografia, assim como o tom não muda se a melodia principal for tocada em uma oitava diferente.

#Composição e regência andam juntas. Alocação estratégica e tática também.

#Dólar é a sensível (sétimo grau), quando o mercado estiver pessimista ou em tom menor, ele será ainda mais relevante, e não menos.

#Espelhos são como escalas menores, nas regras de aporte não há surpresa (subida), mas na saída (volta) entenda os possíveis obstáculos como a inexistência da portabilidade.

#Fundos no exterior cobram taxas que se somam às dos veículos locais. Entenda se esses custos já foram considerados na taxa total divulgada pela sua corretora. Assim você previne contratempos.

#Ganhos das estratégias irrestritas — Cayman e 555 — não serão os mesmos de suas versões UCITS e de previdência, estratégias com maiores restrições. Além das diferenças regulatórias, é preciso analisar a aderência das estratégias. Fundos (e tons) homônimos são tocados de formas diferentes.

Para nós aqui da série Os Melhores Fundos de Investimento, a profundidade da análise é a tônica para qualquer recomendação de alocação. Se você quer conhecer melhor o nosso processo de composição de carteiras e ficar sempre bem-informado sobre o tom dos mercados, junte-se a nós.

Informação, conhecimento técnico e, consequentemente, retornos expressivos: isso é música para os nossos ouvidos.

Um abraço,
Laís

Sobre o autor

Lais Costa

Engenheira eletricista pela UTFPR com passagem pelo MIT e especialização em finanças pela Columbia University. Iniciou a carreira no mercado financeiro com foco no mercado de bonds nos EUA. Após uma experiência na Itaú Asset em NY, ela esteve por três anos no time de Global Macro Strategy da XP Inc também em NY, cobrindo mercados emergentes asiáticos e Brasil com foco em criação de ideias de investimento de renda fixa para clientes institucionais. Desde maio de 2021, Laís faz parte do time de análise da Empiricus. Por dois anos foi responsável pela alocação e seleção de fundos globais e hoje é a analista a frente das séries Super Renda Fixa e Os Melhores Fundos de Investimento.