Acabei de assistir o episódio desta semana do Sports Market Makers, braço esportivo do Market Makers, que recebeu o jornalista Rodrigo Vessoni, especialista em Corinthians, para tratar do inusitado ano do clube
Corintiano desde que me conheço por gente, não me lembro de um ano assim.
Um aspirante a Rivelino de kichute (1973)
Esportivamente, passamos três quartos do ano sob risco de rebaixamento, fazendo contas para o salvamento até no campeonato estadual. Na política e nas finanças, o noticiário foi ainda mais pesado, com uma sucessão de crises e escândalos que desanimaram até o mais fiel torcedor.
De repente, porém, algo mudou. Com um final exuberante, com o time marcando uma sequência recorde de nove vitórias consecutivas, confirmando inclusive uma improvável vaga para a Copa Libertadores de 2025, meu coração alvinegro terminou o ano entusiasmado e esperançoso quanto ao que está por vir.
O ano do Corinthians traz, porém, uma outra dimensão para reflexão, inclusive para os torcedores de outras agremiações ou mesmo os que não se interessam por futebol.
Traçando um paralelo entre a situação do Clube com a de uma empresa enfrentando uma profunda crise financeira e estrutural, nota-se a necessidade de se tomar decisões ousadas para reverter situações adversas, especialmente diante de um cenário de recursos escassos e altos riscos.
Como em empresas com passivos descontrolados, o Corinthians herdou problemas de gestões anteriores, com dívidas que ultrapassaram R$ 2 bilhões, incluindo R$ 300 milhões gastos apenas em juros nos últimos dois anos – situação resultante de anos de expansão desenfreada ou má administração, acumulando custos fixos altos e passivos que comprometem a viabilidade financeira do clube.
Assim como é primordial para a continuidade de um negócio assegurar o pagamento de fornecedores e funcionários, a nova diretoria entendeu como fundamental a manutenção dos salários em dia, mesmo diante da pressão financeira, blindando o centro de treinamento e permitindo que a equipe mantivesse um desempenho aceitável.
Outro movimento ousado do clube foi aproveitar a segunda janela de transferências para realizar contratações estratégicas, muitas das quais se tornaram fundamentais para a recuperação esportiva do time.
A improvável vinda do craque holandês Memphis Depay resgatou a confiança e a autoestima necessárias para a equipe e os torcedores se mobilizarem para uma reação. Sua postura dentro e fora de campo cativou a torcida e reforçou a conexão emocional com o clube.
Aqui também um paralelo pode ser traçado com empresas que, em momentos de crise, optam por investir em novas tecnologias ou contratar talentos de peso para transformar áreas-chave do negócio. Embora arriscada, essa abordagem pode gerar retornos imediatos e abrir caminho para uma retomada sustentável.
Apesar de um final de ano glorioso, a situação corintiana ainda está longe de ser resolvida. O altíssimo endividamento precisa ser equacionado e a situação política do clube segue instável com o presidente sob ameaça constante de impeachment.
Em 2025, decisões difíceis continuarão sendo necessárias, como priorizar a venda de jogadores e buscar novas fontes de receita, enquanto o clube tenta preservar sua essência e seu legado.
Tal como uma empresa em processo de turnaround, o Corinthians precisa, mais do que nunca, de um planejamento claro, com execução disciplinada e o apoio de seus stakeholders para superar a crise e construir um futuro mais sólido.