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Lições alvinegras

O ano do Corinthians traz uma outra dimensão para reflexão, inclusive para os torcedores de outras agremiações ou mesmo os que não se interessam por futebol.

Por Caio Mesquita

16 dez 2024, 09:48 - atualizado em 16 dez 2024, 09:48

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Reprodução: Freepick

Acabei de assistir o episódio desta semana do Sports Market Makers, braço esportivo do Market Makers, que recebeu o jornalista Rodrigo Vessoni, especialista em Corinthians, para tratar do inusitado ano do clube

Corintiano desde que me conheço por gente, não me lembro de um ano assim.

Um aspirante a Rivelino de kichute (1973)

Esportivamente, passamos três quartos do ano sob risco de rebaixamento, fazendo contas para o salvamento até no campeonato estadual. Na política e nas finanças, o noticiário foi ainda mais pesado, com uma sucessão de crises e escândalos que desanimaram até o mais fiel torcedor.

De repente, porém, algo mudou. Com um final exuberante, com o time marcando uma sequência recorde de nove vitórias consecutivas, confirmando inclusive uma improvável vaga para a Copa Libertadores de 2025, meu coração alvinegro terminou o ano entusiasmado e esperançoso quanto ao que está por vir.

O ano do Corinthians traz, porém, uma outra dimensão para reflexão, inclusive para os torcedores de outras agremiações ou mesmo os que não se interessam por futebol.

Traçando um paralelo entre a situação do Clube com a de uma empresa enfrentando uma profunda crise financeira e estrutural, nota-se a necessidade de se tomar decisões ousadas para reverter situações adversas, especialmente diante de um cenário de recursos escassos e altos riscos.

Como em empresas com passivos descontrolados, o Corinthians herdou problemas de gestões anteriores, com dívidas que ultrapassaram R$ 2 bilhões, incluindo R$ 300 milhões gastos apenas em juros nos últimos dois anos – situação resultante de anos de expansão desenfreada ou má administração, acumulando custos fixos altos e passivos que comprometem a viabilidade financeira do clube.

Assim como é primordial para a continuidade de um negócio assegurar o pagamento de fornecedores e funcionários, a nova diretoria entendeu como fundamental a manutenção dos salários em dia, mesmo diante da pressão financeira, blindando o centro de treinamento e permitindo que a equipe mantivesse um desempenho aceitável.

Outro movimento ousado do clube foi aproveitar a segunda janela de transferências para realizar contratações estratégicas, muitas das quais se tornaram fundamentais para a recuperação esportiva do time.

A improvável vinda do craque holandês Memphis Depay resgatou a confiança e a autoestima necessárias para a equipe e os torcedores se mobilizarem para uma reação. Sua postura dentro e fora de campo cativou a torcida e reforçou a conexão emocional com o clube.

Aqui também um paralelo pode ser traçado com empresas que, em momentos de crise, optam por investir em novas tecnologias ou contratar talentos de peso para transformar áreas-chave do negócio. Embora arriscada, essa abordagem pode gerar retornos imediatos e abrir caminho para uma retomada sustentável.

Apesar de um final de ano glorioso, a situação corintiana ainda está longe de ser resolvida. O altíssimo endividamento precisa ser equacionado e a situação política do clube segue instável com o presidente sob ameaça constante de impeachment.

Em 2025, decisões difíceis continuarão sendo necessárias, como priorizar a venda de jogadores e buscar novas fontes de receita, enquanto o clube tenta preservar sua essência e seu legado.

Tal como uma empresa em processo de turnaround, o Corinthians precisa, mais do que nunca, de um planejamento claro, com execução disciplinada e o apoio de seus stakeholders para superar a crise e construir um futuro mais sólido.

Sobre o autor

Caio Mesquita

CEO da Empiricus