Investimentos

Ações chinesas sofrem com leituras decepcionantes do PIB, enquanto dados do varejo americano surpreendem positivamente; confira

O mercado está atualmente focado na narrativa de que os cortes de juros podem não ocorrer tão cedo quanto as previsões indicavam.

Por Matheus Spiess

18 jan 2024, 09:05 - atualizado em 18 jan 2024, 09:05

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Bom dia, pessoal. Hoje, espera-se mais declarações de autoridades monetárias, tanto no Fórum Econômico Mundial de Davos quanto em outras localidades. O mercado está atualmente focado na narrativa de que os cortes de juros podem não ocorrer tão cedo quanto as previsões indicavam. Essa ideia, no entanto, já era algo que vínhamos apontando, referente ao otimismo exagerado entre os investidores.

Agora, essa expectativa excessiva, que influenciou os preços entre novembro e dezembro, está sendo ajustada. Isso não significa que não haverá cortes de juros este ano, apenas que eles podem ocorrer de forma mais lenta do que muitos antecipavam.

Nesta quinta-feira, as ações asiáticas se mantiveram estáveis, influenciadas pelos fortes dados econômicos dos EUA, que reduziram ainda mais as expectativas de cortes imediatos nas taxas de juros pelo Federal Reserve.

Enquanto isso, as ações chinesas sofreram com as decepcionantes leituras do PIB.

Os mercados europeus iniciaram o dia predominantemente em alta, aguardando a ata do BCE e uma nova fala de Christine Lagarde, presidente da autoridade monetária europeia, em Davos. Nos EUA, os futuros operam sem uma direção única, mas a maioria apresenta alta. O preço do barril de petróleo também registrou um aumento.

A ver…

· 00:47 — O debate fiscal e o “PAC Verde”

No Brasil, a discussão sobre a desoneração da folha de pagamentos continua sendo um tópico de debate intenso. A equipe econômica tem se esforçado para avançar na questão, mas enfrenta obstáculos significativos. Parece improvável que haja uma resolução definitiva antes do fim do recesso parlamentar, previsto para o início de fevereiro. Diante disso, as preocupações fiscais representam um risco para novas iniciativas governamentais, levando a uma certa ansiedade entre as autoridades sobre projetos planejados para este ano.

Um desses projetos é focado na agenda ambiental, que conta com o apoio do presidente da Câmara, Arthur Lira. O programa de Aceleração da Transição Energética (PATEN), apelidado de “PAC Verde”, visa criar um fundo para financiar projetos sustentáveis como uma alternativa aos subsídios e incentivos fiscais tradicionais.

Durante o Fórum Econômico Mundial em Davos, Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e membro da delegação brasileira, promoveu o projeto como um caminho para o crescimento econômico do Brasil. O programa se propõe a apoiar projetos voltados para infraestrutura, pesquisa tecnológica e inovação que ofereçam benefícios socioambientais ou ajudem a mitigar impactos ao meio ambiente. Embora a proposta seja promissora, sua implementação enfrentará desafios se as finanças do governo não estiverem equilibradas.

· 01:35 — Não aposte contra o consumidor americano

Os mercados parecem surpreendidos pelo fato de as vendas no varejo nos EUA em dezembro terem sido mais fortes do que o esperado. O número subiu 0,6% na comparação mensal, o dobro de novembro. Note que o consumidor dos EUA é importante para evitar que um pouso econômico suave (soft landing) se transforme em um pouso duro (hard landing). O problema é que um pouso suave requer uma política monetária neutra (taxas de juro reais estáveis), e não um estímulo monetário, o que torna improváveis as apostas mais extremas em cortes nas taxas dos EUA.

Afinal, isso nos prepara para um primeiro trimestre forte ao sugerir que o consumidor ainda está vivo e bem. Ainda assim, podemos estar nos 45 minutos do segundo tempo quando se trata dos últimos resquícios dos estímulos pós-pandêmicos que já dura anos. Dito isto, tal como a maioria dos dados econômicos atuais, os gastos estão numa trajectória de normalização (as vendas em restaurantes e bares, por exemplo, permaneceram estáveis em dezembro, sugerindo que existem compensações nos orçamentos familiares). Por isso, vejo esse estresse apenas como algo passageiro.

· 02:28 — O cenário de “Goldilocks” pode não se materializar?

Recentemente, temos discutido a possibilidade de um cenário “Goldilocks” na economia, uma situação ideal para os investidores. No entanto, existem desafios associados a esse cenário. Em teoria, uma economia “Goldilocks” normalmente gera altos retornos apenas quando não é amplamente antecipada. Dado que os mercados já estão se ajustando a essa expectativa, como temos observado, o potencial para ganhos adicionais pode ser limitado. Uma preocupação alternativa é o que poderíamos chamar de “Goldilocks reverso”, um fenômeno que tem sido perceptível recentemente: o mercado teme que não haja flexibilização nas taxas de juros.

Este cenário se assemelha ao período entre agosto e outubro, que foi desafiador para os ativos globais. O padrão se repete: as ações caem enquanto os rendimentos dos títulos sobem. Uma maneira de visualizar isso é examinar a relação entre os índices S&P 500 e MSCI World e os preços dos títulos. Há uma correlação positiva observável (as ações tendem a subir quando os rendimentos dos títulos caem). Isso sugere que um novo aumento nos rendimentos dos títulos, semelhante ao observado anteriormente, poderia ocorrer facilmente se os dados da inflação nos próximos meses forem surpreendentemente altos, o que poderia ter um impacto negativo significativo no mercado. Esse é o risco do chamado “Goldilocks reverso”.

· 03:11 — As demissões voltaram

No início de 2024, as empresas de tecnologia dos EUA iniciaram o ano com uma tendência notável de redução de pessoal, continuando uma onda de demissões que já havia sido intensa em 2023. No ano passado, o setor de tecnologia cortou quase 263.000 empregos, uma realidade em parte atribuída à compreensão de que o crescimento explosivo durante a pandemia foi, em grande medida, uma consequência de taxas de juros excepcionalmente baixas. Para ilustrar a magnitude desses cortes, somente na primeira metade de janeiro deste ano, 46 empresas tecnológicas demitiram mais de 7.500 funcionários.

Essa tendência não se limita ao setor tecnológico. No setor financeiro, por exemplo, o Citigroup anunciou planos para reduzir sua força de trabalho global em 10%, o que equivale a cerca de 20 mil funcionários, ao longo dos próximos dois anos. Da mesma forma, a BlackRock está planejando dispensar 600 funcionários, aproximadamente 3% do seu total.

Há uma percepção, porém, de que essas demissões recentes diferem daquelas dos anos anteriores. Em vez de serem meros esforços para cortar custos, muitas das demissões no início de 2024 parecem refletir um reposicionamento de empresas de tecnologia relativamente estáveis, que estão ajustando suas prioridades em resposta ao crescente interesse pela inteligência artificial generativa. Esse é um aspecto que merece atenção nos próximos meses.

· 04:16 — Eles querem os investimentos de volta…

Nesta quinta-feira, o índice Shanghai Shenzhen CSI 300 da China registrou uma queda, alcançando seu menor patamar em quase cinco anos, enquanto o Shanghai Composite teve uma redução de mais de 1%, atingindo um nível baixo que não era visto há quase quatro anos. Essas perdas acentuadas nos mercados chineses seguem a divulgação de dados que indicam um crescimento menor do que o previsto para a maior economia da Ásia no quarto trimestre. Embora o crescimento tenha excedido a meta anual de 5% estabelecida pelo governo, grande parte dele veio de uma base de comparação mais baixa em relação a 2022.

Um aspecto crucial a considerar é a questão do investimento estrangeiro direto na China. Pela primeira vez desde o início dos registros em 1979, o país experimentou uma saída líquida desse tipo de investimento no último ano, evidenciando um movimento significativo de retirada de capital por empresas estrangeiras, particularmente as americanas. Isso contribui para entender o motivo pelo qual a China retorna ao Fórum Econômico Mundial de Davos com uma presença marcante, a primeira vez desde o discurso de Xi Jinping em 2017.

Para 2024, a projeção de consenso para o crescimento econômico da China é de 4,6%, uma taxa considerável para a maioria dos países, mas inferior aos 5,2% registrados no ano anterior e distante do desempenho prévio do país, que já ultrapassou os 10%. O desempenho lento do mercado imobiliário e a fraca confiança dos consumidores são fatores que contribuem para essa desaceleração. A China enfrenta desafios em se posicionar no contexto de uma potencial Segunda Guerra Fria.

· 05:19 — Estimulando as debêntures isentas

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Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.