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Carta de Trump a Bolsonaro, declarações de Lula sobre tarifas e mais: Veja os destaques desta sexta-feira (18)

A agenda dos mercados globais segue centrada na temporada de resultados do trimestre. Leia as principais manchetes.

Por Matheus Spiess

18 jul 2025, 09:20 - atualizado em 18 jul 2025, 09:22

Eleições Bolsonaro x Lula

Foto: Montagem Andrei Morais / Shutterstock

A agenda desta sexta-feira (18) nos mercados internacionais segue concentrada na temporada de resultados corporativos nos EUA — que, até o momento, tem apresentado um bom desempenho, pelo menos nesses primeiros dias. No campo dos indicadores, o destaque fica por conta da leitura da confiança do consumidor americano em julho, medida pela Universidade de Michigan. Embora seja um indicador tradicionalmente relevante, vale lembrar que ele costuma sofrer certo viés ideológico, contaminado por preferências políticas. Ainda assim, sua divulgação continua sendo importante, sobretudo por vir acompanhada das expectativas de inflação dos consumidores — dado sensível neste momento em que o mercado tenta calibrar as chances de um eventual corte de juros pelo Federal Reserve ainda em 2025.

A equação, porém, continua complexa. Caso as tarifas prometidas por Donald Trump sejam de fato implementadas em agosto, a probabilidade de afrouxamento monetário nos EUA tende a diminuir significativamente. Neste pano de fundo, as bolsas asiáticas encerraram a semana de forma mista, refletindo a cautela dos investidores. Na Europa, por outro lado, o dia começou com mais um pregão de alta, enquanto os futuros de Nova York apontam para uma abertura positiva. Entre as commodities, o petróleo avança, impulsionado por interrupções na produção iraquiana após ataques com drones a estruturas próximas de oleodutos — episódio que reacende preocupações com a oferta e eleva a tensão geopolítica no mercado de energia internacional.

Por aqui, o foco recai nas recentes declarações do presidente Lula sobre as tarifas americanas. A situação tem sido recebida como um presente inesperado: além de reforçar o discurso nacionalista de Lula perante o eleitorado, permite ao Planalto colar no bolsonarismo parte do desgaste gerado pelas intempéries externas de Trump. Uma dádiva, diriam os aliados. Mas como todo presente político, este também carrega embutida uma armadilha. Se Lula calibrar mal a retórica — ou for longe demais na escalada verbal — pode, sem querer, agressivar ainda mais o discurso da Casa Branca. O cavalo foi dado, sim. Mas talvez valha, sim, olhar os dentes com cuidado.

· 00:51 — Tem que tomar muito cuidado para não escalar

No Brasil, o Ibovespa voltou a fechar praticamente estável ontem (17), refletindo a divisão dos investidores entre os impactos da revalidação do decreto do IOF e os sinais positivos vindos da economia americana. Sem agenda econômica relevante no Brasil, o noticiário político voltou a dominar a cena — com mais fumaça do que fogo, mas ainda assim suficiente para tirar o mercado do compasso. O ambiente esquentou após uma entrevista do presidente Lula à CNN Internacional, na qual afirmou que Donald Trump “não é imperador do mundo”. A resposta veio poucas horas depois, com o presidente americano publicando no Truth Social uma carta aberta a Jair Bolsonaro.

Apesar do discurso inflamado de ambos os lados, há indícios de que o governo brasileiro prefere negociar a escalar a crise — com razão. Como já destacamos, uma retaliação direta poderia transformar uma situação ruim, porém contida, em um desastre com efeitos econômicos relevantes. O problema está na retórica: Lula até tem mantido, no geral, uma linha prudente, mas tropeços verbais — especialmente diante de um adversário que opera à base de provocação — podem custar caro. Trump não precisa vencer a disputa; basta parecer que venceu. Nesse sentido, o uso da Seção 301 pelos EUA, embora problemático, ao menos introduz uma moldura técnica à escalada. As acusações são conhecidas: o Brasil estaria aplicando tarifas preferenciais a países como Índia e México, prejudicando empresas americanas; seria leniente em acordos de leniência com empresas corruptas; e teria anulado condenações relevantes por lavagem de dinheiro. Por pior que seja, esse processo ainda abre espaço para negociação. O problema é que, ao puxar Bolsonaro para a conversa, Trump dificulta tudo. Acaba fortalecendo Lula e acelerando a desidratação política de Bolsonaro.

A oportunidade caiu no colo de Lula. Se estivéssemos em pleno ano eleitoral, a chance do atual presidente se reeleger seria elevada. Mas ainda faltam 15 meses. A janela para uma inflexão política ainda está aberta, mas a oposição parece empenhada em sabotar a si mesma. Como tenho dito repetidamente: o maior risco para a tese do rali eleitoral pró-mercado não é Lula — é a própria direita, nacional e internacional. Se quiser ter chance em 2026, a oposição precisa de um nome viável, popular, com convicção e capacidade de unificar as três alas fundamentais: a direita bolsonarista, a centro-direita pró-mercado e o centro político. Hoje, o nome mais plausível é Tarcísio de Freitas, que flerta com a candidatura, mas depende do apoio de Bolsonaro.

A pesquisa Quaest reforça o ponto: Tarcísio é o único que empata com Lula no segundo turno, dentro da margem de erro. O problema é que o entorno bolsonarista mais inflamado trava mais do que ajuda. A disputa por espólio político entre o governador paulista e Eduardo Bolsonaro, embora aparentemente pacificada pelo ex-presidente, escancara a dificuldade da direita em organizar sua sucessão. Ainda assim, o conflito não é necessariamente ruim: Eduardo é altamente rejeitado, e um segundo turno contra Lula exigirá uma opção palatável até para o bolsonarismo mais radical. Aliás, vale lembrar: no fim do dia, o que está em jogo é o futuro do ajuste fiscal.

Porque, sejamos diretos: ou arrumamos as contas públicas em 2027 ou o Brasil voltará a conviver com fantasmas que achávamos enterrados. O governo Lula dificilmente entregará estabilidade até lá. A tensão entre os Poderes deve escalar após o recesso parlamentar, agravada pelo veto ao aumento do número de deputados e pela decisão do ministro Alexandre de Moraes de manter o decreto que eleva o IOF. A primeira resposta já veio: aprovação de um novo licenciamento ambiental e atraso na nova PEC dos Precatórios. E a oposição ainda terá palanque garantido com a CPMI do INSS.

Enquanto isso, a bomba fiscal não para de crescer. O governo já sinaliza que poderá aliviar o contingenciamento no próximo relatório bimestral, escorado em uma arrecadação recorde — mas artificial. O resultado fiscal de 2025 será inflado por um represamento de despesas, como os precatórios, concentrados em julho devido ao Orçamento ter sido aprovado com atraso. Na prática, nada muda: continuamos com uma trajetória fiscal preocupante, num governo que só conhece uma direção — aumentar a arrecadação. Já são, no mínimo, 25 medidas para elevar receitas em menos de três anos. Mesmo com esse esforço arrecadatório, o governo não consegue cumprir os limites do próprio arcabouço. As despesas continuam fora da meta, e o déficit nominal já consome quase 8% do PIB. Não há mais espaço para improvisos. Ou resolvemos em 2027 — com liderança, convicção e capacidade de articulação — ou voltaremos a colecionar crises. E não será por falta de aviso. Não é hora de brincar.

· 01:44 — Medindo a temperatura da economia

Nos EUA, os dados de inflação divulgados nesta semana trouxeram, à primeira vista, certo alívio. Tanto o índice de preços ao consumidor (CPI) quanto o índice de preços ao produtor (PPI) de junho vieram abaixo do esperado, sugerindo uma moderação no avanço dos preços. Mas como quase tudo na política econômica americana recente, o alívio é apenas aparente. As tarifas impostas pelo presidente Donald Trump já começaram a se infiltrar de forma silenciosa em categorias amplas de produtos, inclusive em itens considerados essenciais, como os que excluem alimentos e energia. Ou seja, por mais que os números agregados ofereçam algum conforto no curto prazo, a conta tende a aparecer adiante. O americano médio ainda sentirá o aperto inflacionário, com impacto direto no custo de vida.

Apesar desse pano de fundo desconfortável, os mercados acionários mantiveram o tom otimista. Dados robustos de vendas no varejo revelaram um consumidor ainda resiliente e disposto a gastar, o que ajudou o S&P 500 e o Nasdaq Composite a cravarem novos recordes de fechamento ontem. A leitura é que, enquanto o bolso ainda permite, o consumo resiste — embora o fôlego pareça mais um reflexo de um presente em modo estendido do que de um futuro sustentável. Para esta sexta-feira, os investidores acompanham o índice de Sentimento do Consumidor referente a julho, com atenção especial às expectativas de inflação embutidas no indicador. Além disso, a temporada de resultados corporativos segue em ritmo acelerado, com destaques do dia para 3M, American Express e Charles Schwab.

· 02:31 — Escalando

A tensão comercial entre EUA e União Europeia subiu mais um degrau. Ontem, surgiram relatos de que a Comissão Europeia trabalha discretamente em uma nova lista de medidas retaliatórias caso Washington leve adiante a imposição de tarifas sobre produtos do bloco. A novidade — e o que torna este movimento particularmente sensível — é que a lista agora inclui alvos no setor de serviços norte-americano, o que configuraria uma escalada relevante na disputa. As medidas em estudo não se restringem às tradicionais empresas de tecnologia, mas se estenderiam a controles de exportação e até mesmo à criação de um imposto sobre serviços digitais.

Bruxelas, pragmática, sinaliza que poderia engolir tarifas de até 10%, desde que consiga negociar a redução das tarifas setoriais de 25% impostas sobre automóveis. Outro objetivo central é assegurar alguma blindagem contra as futuras tarifas setoriais prometidas por Trump — especialmente sobre os setores farmacêutico e de semicondutores, áreas nas quais a Europa ainda mantém alguma vantagem competitiva. A expectativa, por ora, é de que os EUA adiem a implementação dessas tarifas, como já se especula também no caso de outros países, inclusive o Brasil. Mas o tom da retórica europeia sugere que a paciência está no fim — e que, desta vez, Bruxelas está disposta a responder no mesmo idioma de Trump: o da força comercial.

· 03:26 — A situação japonesa

O fim de semana promete ser particularmente conturbado no Japão. No domingo, ocorre a eleição para a Câmara Alta do Parlamento, com 125 dos 248 assentos em disputa. Para manter o controle da casa, o Partido Liberal Democrata (PLD) precisa garantir ao menos 50 cadeiras — uma meta que, neste momento, parece distante. O governo de Shigeru Ishiba, já fragilizado após a derrota nas eleições antecipadas para a Câmara Baixa em outubro passado, chega à votação com popularidade minguando, flertando perigosamente com a marca dos 20%. Desde então, o PLD tem governado em minoria e, pressionado, foi forçado a uma série de concessões à oposição.

O PLD ainda deve permanecer como a maior legenda, mas uma nova derrota pode selar o destino de Ishiba. A oposição, historicamente fragmentada e desorganizada, dá sinais de que pode finalmente se articular em torno de um voto de desconfiança. Caso avance, Ishiba ficará sem saída: ou renuncia junto de seu gabinete ou dissolve o Parlamento, mergulhando o Japão em nova instabilidade institucional. Qualquer um desses cenários desorganiza a agenda do premiê justamente às vésperas do prazo final de 1º de agosto, data-limite para a imposição das tarifas americanas. Após meses de negociações sem avanços concretos, o impasse comercial com os EUA segue sem solução, e os mercados já começam a precificar o risco político — um lembrete de que, mesmo em democracias maduras, a volatilidade pode vir embalada em votos.

· 04:12 — Megainvestimento

O presidente Donald Trump anunciou recentemente um pacote de US$ 70 bilhões em investimentos voltados para inteligência artificial e energia, em evento realizado na primeira Cúpula de Energia e Inovação da Pensilvânia, na Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh. A iniciativa prevê a construção de novos data centers, ampliação da capacidade de geração energética e modernização da infraestrutura de redes — uma tentativa ambiciosa de posicionar os EUA como epicentro da próxima revolução tecnológica-industrial. Ao lado de Trump estavam nomes de peso como Larry Fink (BlackRock), Alex Karp (Palantir), Dario Amodei (Anthropic), Darren Woods (ExxonMobil) e Mike Wirth (Chevron), o que reforça a confluência entre capital, dados e energia como o novo triângulo estratégico da geoeconomia global.

A estimativa é de que os data centers passem a consumir até 8,6% da eletricidade dos EUA até 2035 — mais que o dobro dos atuais 3,5%. Para fazer frente a essa demanda explosiva, o governo Trump não esconde sua inclinação: a prioridade recai sobre fontes tradicionais como carvão, gás natural e energia nuclear. Paralelamente, Elon Musk continua ampliando seu império de dados e chips: após a SpaceX comprometer US$ 2 bilhões na xAI, agora caberá aos acionistas da Tesla decidirem se a montadora também participará da empreitada. A injeção de capital visa conter a impressionante queima de caixa mensal de US$ 1 bilhão da xAI, que tenta posicionar-se como antagonista da OpenAI, liderada por Sam Altman. A mensagem é clara: a corrida da inteligência artificial não conhece limites — nem técnicos, nem orçamentários. 

· 05:05 — Não consegue parar

Mark Zuckerberg, CEO da Meta, parece ter encontrado uma nova obsessão — e não, não é o metaverso desta vez. Agora, seu apetite insaciável gira em torno da inteligência artificial. A empresa anunciou que está construindo uma série de data centers de grande porte voltados exclusivamente para seus projetos de IA, com o primeiro previsto para entrar em operação já no próximo ano. Para viabilizar isso, a Meta pretende praticamente dobrar o volume de investimentos direcionados a data centers em comparação com o ano passado, concentrando esforços e capital em uma infraestrutura que sustente sua corrida pela supremacia algorítmica.

Zuckerberg, que vem promovendo um verdadeiro…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.