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Mercado em 5 minutos

Estaria o mercado local mais tranquilo sobre as eleições?

“Lá fora, os mercados asiáticos encerraram o pregão predominantemente em alta nesta terça-feira (20), seguindo os sinais positivos dos ativos ocidentais durante o dia de […]”.

Por Matheus Spiess

20 de setembro de 2022, 08:59

Reação do Trabalhador local
Fonte: Free Pik
Bom dia, pessoal. 

Lá fora, os mercados asiáticos encerraram o pregão predominantemente em alta nesta terça-feira (20), seguindo os sinais positivos dos ativos ocidentais durante o dia de ontem (19), com alguns investidores crendo que o sell-off da semana passada possa ter sido exagerado. Na China, em linha com o que se esperava, o Banco Central manteve a taxa de juros — o governo chinês parece querer trabalhar mais com estímulos fiscais agora. 

Com uma agenda mais leve, os investidores acompanham o início da reunião do Fomc (EUA) e do Copom (Brasil), que definirão a política monetária de seus respectivos países amanhã. Na Europa, a manhã é ruim, com os futuros americanos também em queda. O contexto internacional é um pouco difícil, mas há espaço para um descolamento positivo no Brasil, em linha com o que vimos na segunda-feira. 

A ver… 
00:40 — Chama o Meirelles?
No Brasil, paralelamente ao início da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que poderá encerrar o ciclo de aperto monetário no país na conclusão de seu encontro amanhã, o mercado passa a repercutir dois vetores políticos — internacionalmente, o Brasil abre a 77ª Assembleia-Geral da ONU nesta manhã, seguindo a tradição. 

O primeiro deles deriva da pesquisa de intenção de votos para presidente, que ontem mostrou consolidação do favoritismo do ex-presidente Lula nas eleições presidenciais de 2022. A menos que as pesquisas estejam absurdamente erradas, há pouco espaço para o presidente Bolsonaro virar essa eleição, ainda que não seja impossível. 

Os ruídos de uma eventual vitória no primeiro turno podem esquentar os ânimos eleitorais, mesmo que o histórico do ex-presidente nunca o tenha agraciado com algo do gênero (o único presidente que levou a eleição no primeiro turno até hoje foi FHC).  

O segundo foi o apoio de Henrique Meirelles, ex-presidente do BC e ministro da Fazenda do governo Temer, à candidatura de Lula. O movimento tranquilizou o mercado, aliviando parte do risco local e impulsionando os ativos de risco — o apoio de Meirelles é recebido com bons olhos; afinal, é uma figura mercadológica, liberal e alinhada à responsabilidade fiscal (criou o teto de gastos). 
01:40 — Se preparando para um tom agressivo de Powell 
 
Nos EUA, com o Federal Reserve se preparando para aumentar as taxas novamente nesta semana, os yields dos títulos do Tesouro voltaram a subir. O rendimento dos títulos do Tesouro de 10 anos cruzou brevemente 3,5% ontem pela primeira vez desde 2011 — mesmo que tenha recuado, ainda encerrou o pregão no nível mais alto desde abril de 2011. De maneira similar, o yield de dois anos ficou em 3,946%, seu maior nível desde outubro de 2007, na espera de um juro americano acima de 4% no curto prazo. 

São duas as principais visões do mercado: i) os pessimistas enxergam uma inflação que não deixa escolha ao Fed a não ser continuar elevando as taxas para forçar a economia a uma recessão significativa, de modo a estabilizar os preços; e ii) os otimistas entendem que muito do trabalho pesado já foi feito, sendo que os impactos dos aumentos deste ano ainda não surtiram efeito, o que permitiria um arrefecimento no ciclo de aperto monetário. 

Entre os dois, os primeiros parecem mais sensatos. 
 02:30 — As falas dos europeus 
Com uma agenda mais tranquila, os investidores europeus aguardam a fala da presidente do BCE, Christine Lagarde, que participa da Karl-Otto Pöhl-Lecture, organizada pela Sociedade de Frankfurt para Comércio, Indústria e Ciência. No evento, a autoridade deverá reforçar os seus últimos discursos, em que foi evidenciado o ímpeto do BCE na luta contra a inflação, apesar dos desafios. 

O dia já começou com inflação ao produtor alemão, que não para de subir e superar as expectativas. O índice sobe em agosto 45,8% na comparação anual, uma aceleração frente aos 37,2% de julho e acima dos 37,1% esperados pelo mercado. Apesar de ter identificado deflação em boa parte dos setores, a alta de 139% na comparação anual dos preços de energia não permite outro resultado. 

A situação é crítica no velho continente e não há muita perspectiva de melhora. Na quinta-feira, teremos reunião do Banco da Inglaterra, o Banco Central do Reino Unido, que deverá manter o discurso agressivo contra a inflação, assim como fazem, por exemplo, o BCE e o Banco Central Sueco; este último, por sinal, tomou hoje a decisão inédita de subir a taxa de juros em 1 ponto percentual (foi uma surpresa para o mercado). Ações europeias caem hoje. 
 03:29 — Nem os japoneses escapam da inflação elevada 
No Japão, nesta terça-feira, o mercado recebeu a inflação ao consumidor com alta de 3% na comparação anual — o núcleo, que contempla a inflação sem os itens mais voláteis, sobe 2,8% na comparação anual (acelerando e acima do esperado). Pode ser baixo para o mundo, mas muito elevado considerando o histórico japonês. 

Se trata da inflação mais elevada desde 2014. Antes desse período, precisaríamos voltar para o início da década de 90 para ver índices de preços como os atuais. A história é a mesma: alta dos alimentos e combustível. Contudo, como vemos elevação do núcleo, percebe-se também desafios em estabilizar a economia no contexto pós-pandemia. 
 04:01 — Mudança de eixo
Enquanto acompanhamos a abertura da Assembleia-Geral da ONU, muito se especula sobre o futuro de algumas relações entre países para os próximos anos. Na semana passada, os laços entre China e Rússia foram exibidos em um encontro no Uzbequistão, durante a reunião da Organização de Cooperação de Xangai (OCX). 

Sabemos que a relação entre os países vem crescendo na última década, à medida que as duas nações buscam combater a força econômica dos EUA e seus aliados. A OCX é uma das maiores organizações regionais do mundo, cobrindo quase 60% da área da Eurásia, 40% da população mundial e mais de 30% do PIB global. 

Diante das mudanças históricas no mundo, a China está disposta a trabalhar em conjunto com a Rússia para desempenhar um papel de liderança e injetar estabilidade no mundo turbulento. O comércio bilateral entre as duas nações, que superou US$ 140 bilhões em 2021, cresceu cerca de 30% até julho de 2022, com commodities, como o petróleo russo, representando uma quantidade significativa dos fluxos. 

A última vez que Putin se encontrou com Xi Jinping foi durante sua visita a Pequim para os Jogos Olímpicos de Inverno em fevereiro. Nesse encontro, os dois líderes estruturaram sua parceria chamada de “sem limites” e compartilharam sua oposição à “nova ampliação da OTAN”. Os crescentes laços econômicos entre a China e a Rússia são uma preocupação para o Ocidente e devem moldar parte relevante dos fluxos de capitais na próxima década, podendo dividir o mundo em dois eixos mais uma vez. 

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.