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No exterior, todas as atenções se voltam para a divulgação do índice de gastos com consumo (PCE) nos EUA — o indicador de inflação preferido do Federal Reserve. Se o resultado vier em linha com as expectativas — indicando estabilidade em patamares baixos ou até mesmo abaixo do projetado —, cresce a probabilidade de cortes de juros à frente. Em paralelo, ganhou força a informação de que os EUA teriam fechado um acordo comercial com a China. Se confirmado, trata-se de um vetor relevante de descompressão de riscos globais, especialmente após semanas de tensão.
Com a dissipação — ainda que temporária — desses riscos de cauda, inclusive do Oriente Médio, o mercado americano respondeu com euforia: os principais índices acionários testaram novas máximas históricas, os juros americanos recuaram e o dólar enfraqueceu globalmente. Aliás, no campo geopolítico, novas confirmações reforçam o impacto severo do ataque americano ao programa nuclear iraniano. Agora foi a vez da ONU confirmar que as centrífugas da instalação nuclear de Fordow não estão mais operacionais. Ainda que seja forçado dizer que o Irã foi completamente aniquilado do ponto de vista nuclear, o fato é que a operação americana provocou danos reais.
Com isso, as bolsas europeias caminham para encerrar a semana em tom francamente positivo, embaladas tanto pela notícia sobre a China quanto pela perspectiva de que um eventual acordo com a União Europeia também possa ganhar tração. A exceção ficou com os mercados asiáticos, que encerraram o pregão desta sexta-feira sem direção clara, refletindo um misto de cautela e ruído local. Enquanto isso, no Brasil, seguimos aguardando a resposta institucional do governo após a derrota acachapante sofrida nesta semana, como analisado ontem. Embora ainda exista a possibilidade de judicialização da queda do decreto do IOF, essa alternativa começa a perder força — o que resta é tentar alguma forma de articulação que salve o mínimo de governabilidade.
· 00:56 — O dia depois da derrota
No Brasil, os dados macroeconômicos começam a reforçar, ainda que timidamente, um cenário mais benigno para a inflação. A agenda desta sexta traz o IGP-M de junho, logo após a prévia da inflação oficial (IPCA-15) surpreender positivamente com números abaixo das expectativas. Os destaques ficaram por conta da deflação nos alimentos consumidos em casa, da redução no índice de difusão — agora abaixo da média histórica — e da queda nos núcleos de serviços, normalmente mais inerciais. No agregado, o quadro qualitativo da inflação apresentou melhora. E isso é importante: reforça a leitura de que o Banco Central poderá, sim, voltar a discutir cortes de juros ainda este ano — talvez em dezembro, dependendo da postura do Federal Reserve, que pode reabrir a porta para afrouxamento monetário entre setembro e outubro.
É bom lembrar: a política monetária brasileira segue excessivamente contracionista. Se o governo optar por um viés fiscal menos expansionista — por exemplo, privilegiando o contingenciamento ao invés de buscar novas fontes de arrecadação —, abre-se espaço para uma desinflação mais forte no segundo semestre, o que favoreceria uma postura mais proativa do Copom. E, inevitavelmente, o tema fiscal continua a dominar as conversas. Depois da queda do decreto do IOF — uma derrota histórica do governo Lula —, o Planalto agora avalia três possíveis saídas para tapar o novo buraco nas contas públicas: judicialização, nova fonte de receita ou corte adicional no orçamento. A primeira alternativa, defendida por Fernando Haddad, envolvia levar o caso ao STF. Mas, com o clima de tensão entre os Poderes e a percepção de que o governo também perderia por lá, a ideia parece ter perdido tração. O ministro da Fazenda, isolado e esvaziado, sente-se traído por um governo que optou por não comprar a briga.
Lula, pragmático, parece ter entendido que judicializar a questão apenas desgastaria ainda mais uma base política já ruída. Como já observamos, o placar da votação que derrubou o decreto foi acachapante — algo que não se via desde os tempos de Collor. E as costuras que levaram a isso começam a vir à tona: Davi Alcolumbre, por exemplo, teria articulado nos bastidores o movimento de Hugo Motta para pautar a votação do PDL, em troca do apoio à derrubada do ministro Alexandre Silveira. Em paralelo, viabilizou-se a aprovação da ampliação do número de deputados — de 513 para 531.
Uma aberração. Enquanto o Congresso se autoproclama o guardião da responsabilidade fiscal, aprova um aumento de parlamentares em plena crise fiscal. Para efeito de comparação: os Estados Unidos, com 340 milhões de habitantes, têm 435 representantes. O Brasil, com pouco mais de 200 milhões, caminha para ter 531 — e, pior, com impacto em cascata: a medida deve gerar mais 30 vagas em assembleias legislativas estaduais. Mas deixemos esse capítulo para outro momento.
O ponto é que o governo está encurralado. O risco de judicialização ainda existe, mas diminui à medida que a realidade se impõe. Agora, é preciso tomar decisões difíceis. O rombo aberto pela derrubada do decreto do IOF é estimado em R$ 12 bilhões neste ano. A equipe econômica tem algumas semanas para encontrar uma solução antes da entrega do próximo relatório bimestral de receitas e despesas, previsto para 22 de julho. E este documento será especialmente sensível, dado o momento político.
Importante observar: a arrecadação federal em maio subiu 7,6% em relação ao mesmo mês do ano anterior — acima da inflação. No acumulado do ano, o avanço real é de 4%. Ou seja, o problema não é arrecadação. O problema continua sendo o gasto. Os R$ 10 bilhões a mais com IOF não resolveriam o quadro — só criariam margem para gastar mais. Para 2026, o cenário fiscal se agrava. Já ganha corpo a ideia de revisão da meta de superávit primário de 0,25% do PIB para 0% — e, como sabemos, o governo sempre mira a banda inferior, o que implicaria na prática um déficit de 0,25%.
Um recado nada animador aos mercados. A principal ameaça até 2026 é a trajetória fiscal — e ela só piora. Os ruídos continuarão pressionando a curva de juros e corroendo o espaço para qualquer recuperação sustentada da confiança. Por isso, a urgência de uma reforma ampla é cada vez maior. Infelizmente, ele só virá em 2027.
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· 01:42 — Uma cúpula esvaziada
Em uma semana marcada pela reafirmação do eixo transatlântico na cúpula da OTAN, onde Europa e Estados Unidos ensaiaram uma reaproximação estratégica, o bloco do Sul Global parece seguir por um caminho divergente. A próxima cúpula do BRICS, marcada para o dia 6 de julho, ocorrerá sem a presença de dois de seus principais protagonistas: Xi Jinping e Vladimir Putin. No caso de Putin, a justificativa é até previsível: o presidente russo evita viagens ao exterior por conta do mandado de prisão expedido pelo Tribunal Penal Internacional, que o acusa de crimes de guerra. Já a ausência de Xi vem embalada em justificativas pouco convincentes: o líder chinês não participará porque já teria se encontrado com Lula duas vezes recentemente.
O fato é que o Brasil, que sedia a cúpula, se vê diante de um esvaziamento desconfortável. A ausência dos dois maiores pesos do grupo compromete a relevância do encontro e soa, para Brasília, como uma recusa velada — e, de certa forma, como uma afronta à sua tentativa de se posicionar como mediador relevante no tabuleiro internacional. A diplomacia brasileira colhe agora uma espécie de constrangimento. E o recado, ainda que não dito em voz alta, é claro: o BRICS não é palco prioridade no mundo — e tampouco o Brasil é visto como maestro dessa orquestra dissonante.
· 02:31 — Dia de máxima
Nos EUA, os mercados chegaram a flertar com novos recordes na quinta-feira, mas perderam fôlego nos instantes finais. O S&P 500 encerrou o dia com alta de 0,8%, enquanto o Nasdaq Composite subiu 1%. Ambos chegaram a negociar, ainda que brevemente, acima de seus maiores fechamentos históricos — uma tentativa de romper novos patamares que acabou abortada na reta final. Ainda assim, junho foi generoso com os investidores, oferecendo um alívio bem-vindo após um início de ano turbulento. A boa performance de junho se soma ao otimista de maio, quando o S&P 500 registrou seu melhor desempenho mensal para o mês em mais de três décadas.
O entusiasmo, porém, vem acompanhado de uma pontada de inquietação. Por mais que seja animador ver os índices rondando os níveis mais elevados já registrados, cresce a dúvida sobre o que, exatamente, poderá servir de novo gatilho para impulsionar os preços ainda mais. O mercado parece estar subindo mais por inércia do que por convicção — e essa fragilidade pode cobrar seu preço mais adiante.
Julho, por sua vez, adiciona uma dose extra de incerteza. É o mês-limite para que o governo Trump anuncie se vai ou não aplicar sua nova leva de tarifas “recíprocas”. Boa parte do rali recente carrega a expectativa de que essas tarifas sejam, mais uma vez, adiadas. Se vierem de fato, podem mudar o humor dos mercados de forma abrupta.
Na agenda macroeconômica, o destaque é o índice de preços de gastos com consumo pessoal (PCE) referente a maio — a medida de inflação preferida do Federal Reserve. A expectativa é de alta anual de 2,3%, ligeiramente acima dos 2,1% registrados em abril. Um número mais fraco do que o esperado — especialmente após o PIB de ontem ter frustrado as projeções — reforçaria a tese de cortes de juros no segundo semestre.
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· 03:26 — Acordo?
Foi uma semana particularmente favorável para o presidente Trump. Em um intervalo de poucos dias, seu governo colheu frutos simbólicos e concretos no xadrez geopolítico e comercial: Israel e Irã concordaram com um cessar-fogo; a OTAN, em gesto de coesão, anunciou que elevará os gastos com defesa para 5% do PIB; e, não menos importante, a China confirmou os detalhes de um novo arcabouço comercial com os Estados Unidos, comprometendo-se a fornecer terras raras — insumos cruciais para cadeias industriais de alta tecnologia, como turbinas eólicas e aviões a jato.
Segundo um porta-voz do Ministério do Comércio chinês, os contatos entre autoridades dos dois países permaneceram intensos após as conversas realizadas em Londres no início do mês. O acordo, que teria sido assinado dois dias atrás de acordo com o Secretário de Comércio americano, Howard Lutnick, formaliza os compromissos assumidos nessas negociações e é considerado um avanço estratégico relevante. Em essência, Pequim garante o fornecimento contínuo de terras raras, enquanto Washington se compromete a suspender certas contramedidas — mas não sem antes ver os primeiros carregamentos efetivamente cruzando o Pacífico.
Em paralelo, Trump alimenta expectativas de outro avanço: um acordo comercial “muito grande” com a Índia. Adicionalmente, Lutnick afirmou que a Casa Branca está em vias de fechar acordos com outros dez grandes parceiros comerciais. A dificuldade, por ora, está na resistência desses países em assinar tratados sem antes esclarecer as regras fiscais sobre exportações. Se houver progresso, o mercado deve se animar…
· 04:14 — Um futuro tecnopolar
Ao longo dos últimos dias, tenho usado o minuto final para compartilhar com vocês uma reflexão que considero urgente: estamos assistindo à consolidação de uma nova arquitetura global, não mais moldada apenas por ideologias ou blocos militares, mas por uma ordem tecnológica emergente. Na terça-feira, introduzi o conceito dessa ordem tecnopolar; na quarta, explorei a simbiose crescente entre Big Techs e Estados; ontem, discutimos os riscos desse arranjo para as instituições globais; hoje, concluo com uma visão sobre os desdobramentos possíveis — e preocupantes — para o futuro.
Caminhamos, sem grande clareza e com muito mais velocidade do que seria saudável, rumo a um mundo híbrido, confuso e crescentemente bipolar, em que o centro de gravidade do poder se desloca para uma zona turva onde Estado e tecnologia se fundem. De um lado do tabuleiro, os Estados Unidos avançam na consolidação de um modelo tecnopolar: um punhado de empresas passaram a exercer influência direta sobre infraestrutura crítica, comportamento digital, políticas públicas e até mesmo padrões geopolíticos. Do outro lado, temos uma China rigidamente centralizada, onde a simbiose entre Estado e tecnologia não é uma tendência — é doutrina. As grandes empresas chinesas não apenas operam sob vigilância direta do Partido Comunista da China, como são extensões funcionais do projeto político de Pequim.
A Europa, por sua vez, vive o drama da impotência estratégica: deseja uma soberania digital que não tem instrumentos para alcançar. Já o Sul Global está sendo arrastado, muitas vezes involuntariamente, para a órbita de um desses dois modelos. Enquanto isso, instituições multilaterais que, em teoria, poderiam moderar esse desequilíbrio ou oferecer salvaguardas para as democracias, estão sendo contornadas, minadas ou simplesmente ignoradas. Sua irrelevância crescente abre espaço para uma disputa que se dá sem árbitros, sem mediação, e, pior, sem transparência. A pergunta que paira no ar é se as sociedades abertas conseguirão sobreviver a essa fusão entre poder estatal e poder tecnológico. Essa talvez seja uma das questões centrais da Nova Guerra Fria que já está em curso — desta vez, travada não com tanques, mas com algoritmos.
· 05:09 — Uma interessante oportunidade em renda fixa
Com a renda fixa voltando a ganhar tração, vale destacar uma oportunidade particularmente interessante no universo do crédito privado isento, ideal para quem busca diversificação com foco em renda real e proteção inflacionária: …