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O grande destaque da semana é a posse de Donald Trump como presidente dos EUA, marcando seu retorno ao poder após um intervalo de quatro anos. Esta é apenas a segunda vez na história americana que um presidente assume um mandato não consecutivo — o primeiro caso foi há mais de um século, com Grover Cleveland.
Curiosamente, a cerimônia de posse coincide com o feriado de Martin Luther King Jr., o que significa que os mercados americanos permanecerão fechados, reduzindo a liquidez global. Desde que o feriado foi estabelecido em 1983, esta é apenas a segunda vez que coincide com uma posse presidencial — a primeira foi na reeleição de Bill Clinton, na década de 1990 (a coincidência só deverá ocorrer novamente em 2053).
Outro fator notável é o local da posse. Em vez da tradicional cerimônia ao ar livre, Trump será empossado dentro do Capitólio devido ao frio intenso em Washington, algo que não acontecia desde o segundo mandato de Ronald Reagan. Assim, o dia de hoje (20) entra para a história de várias formas, mas o principal destaque será a sinalização inicial do governo Trump sobre como pretende conduzir sua nova administração. Dado o contexto singular, os investidores já estão atentos aos primeiros passos da nova gestão, antecipando o tom das políticas econômicas e diplomáticas que podem moldar os mercados nos próximos meses. A posse de Trump não é apenas um evento político, mas também um marco que pode influenciar a direção do cenário econômico global.
· 00:59 — Ajustando o posicionamento
No Brasil, mesmo após a sanção da reforma tributária — que, embora represente um avanço, não está isenta de críticas —, os desafios permanecem significativos. A reforma ministerial segue envolta em indefinições, não há sinais concretos de medidas adicionais para conter o crescimento dos gastos públicos, e o governo ainda tenta se recuperar do desgaste provocado pela polêmica envolvendo a fiscalização do PIX na semana passada. A conjuntura, porém, exige que o presidente Lula volte suas atenções não apenas para os ajustes na Esplanada dos Ministérios, mas também para os desdobramentos internacionais, com destaque para a nova liderança de Donald Trump na Casa Branca. Os próximos dias e semanas assumem importância crescente.
Hoje (20), Lula reúne seus ministros pela primeira vez em 2025 para cobrar ações concretas que possam ser percebidas pela população. A preocupação com a popularidade é evidente, especialmente em um ano que já começa com inflação alta, dólar pressionado e sinais de desaceleração econômica. Paralelamente, as negociações para a reforma ministerial seguem intensas, com a expectativa de que o novo desenho do primeiro escalão seja definido após as eleições para as presidências da Câmara e do Senado. O mercado, por sua vez, observa com cautela como essas movimentações políticas se alinharão às esperadas medidas fiscais adicionais.
A semana passada expôs mais uma vez as fragilidades do governo na condução do cenário econômico. Em reunião com representantes do Banco Central, economistas reforçaram a preocupação com a dinâmica fiscal. Como já sabemos, os preços dos ativos têm respondido à evolução da dívida pública, e não às metas estabelecidas pelo arcabouço fiscal, cuja credibilidade continua sendo questionada. Para agravar o cenário, o ambiente externo tende a se tornar mais desafiador para economias emergentes diante das incertezas em torno das políticas econômicas de Trump.
Por outro lado, há um elemento que pode trazer algum alívio: boa parte do pessimismo em relação ao Brasil já parece estar precificada nos ativos locais. É difícil imaginar um agravamento significativo, a menos que o governo insista em políticas desastrosas ou que um evento excepcional desencadeie mais turbulências. Nesse contexto, o mercado continua voltado para o horizonte de 2026, quando a provável mudança do pêndulo político pode ser um catalisador importante para a recuperação econômica, semelhante ao que foi observado entre 2016 e 2019. Por ora, seguimos atentos à prévia da inflação, que será divulgada na sexta-feira, um dado crucial para entender os próximos movimentos da política monetária e sua influência no cenário econômico do país.
· 01:43 — Os primeiros dias
Nos Estados Unidos, todas as atenções estão voltadas para a posse de Donald Trump, marcando seu retorno à Casa Branca após quatro anos. Em um comício realizado na véspera do evento, o presidente eleito fez promessas ambiciosas, incluindo a assinatura de cerca de 100 ordens executivas poucas horas após tomar posse, sinalizando um início de governo com medidas imediatas e de grande impacto.
O evento de posse de Trump, por si só, será histórico. Pela primeira vez, líderes estrangeiros comparecerão à cerimônia de posse de um presidente americano. Entre os convidados estão figuras conservadoras de destaque, como Javier Milei, da Argentina, e Giorgia Meloni, da Itália, reforçando o alinhamento de Trump com governos de direita em várias partes do mundo (um sinal para a escolha dos brasileiros em 2026). A China, por sua vez, será representada pelo vice-presidente Han Zheng (algo histórico). Do Brasil, membros da família Bolsonaro, com exceção do ex-presidente, e alguns parlamentares marcarão presença, reforçando a conexão entre os movimentos conservadores globais.
No campo econômico, as expectativas sobre a relação com a China são particularmente altas. A segunda maior economia do mundo se prepara para enfrentar tarifas possivelmente ainda mais severas do que durante a primeira guerra comercial conduzida por Trump, em um contexto em que sua dependência de exportações permanece elevada. O retorno de Trump ao poder ameaça reconfigurar o comércio global e intensificar disputas econômicas, especialmente no que diz respeito à produção industrial e tecnológica. E temos a questão da imigração ilegal também.
No âmbito doméstico, Trump pretende iniciar seu mandato com medidas ousadas. Ele já sinalizou a intenção de invocar poderes de emergência para impulsionar a produção de energia nos Estados Unidos, priorizando a autossuficiência energética e o domínio global do setor. Além disso, ele revelou planos para criar o maior fundo soberano do mundo, inspirado nos modelos de sucesso vistos na Noruega e na Arábia Saudita, um movimento que pode redirecionar significativamente os fluxos financeiros globais.
O tom do novo governo começará a ser desenhado já no primeiro dia, com os mercados atentos às suas primeiras ações e ao impacto potencial de suas políticas no cenário global. Os próximos quatro anos prometem ser marcados por mudanças substanciais, e os investidores aguardam ansiosos para ajustar suas estratégias de acordo com a direção que será traçada por Trump. Algo mais moderado seria melhor.
· 02:34 — E o TikTok?
O TikTok retomou suas operações nos Estados Unidos após um breve período de suspensão, marcando um novo capítulo na longa disputa envolvendo a plataforma de vídeos. O serviço começou a ser restaurado no domingo (19), logo após o presidente eleito Donald Trump anunciar que estenderia o prazo para a venda da empresa. A decisão ocorre mesmo após a Suprema Corte ter confirmado, em abril, a constitucionalidade da proibição bipartidária sancionada pelo presidente Joe Biden.
Com o assunto agora sob a alçada de Trump, o presidente eleito sinalizou que está explorando a possibilidade de uma joint venture que permitiria a investidores baseados nos EUA assumirem pelo menos 50% de participação na operação americana do TikTok. Elon Musk seria um dos candidatos para a aquisição. Essa solução busca atender às preocupações de segurança nacional que foram o principal motivo da proibição inicial do aplicativo. A administração Trump parece disposta a negociar, mas deixou claro que o retorno completo da plataforma ao mercado americano dependerá de garantias de maior controle por parte de atores americanos.
O futuro da rede social, portanto, figura entre as prioridades de Trump já nos primeiros dias de sua administração. A posição de liderança do TikTok no segmento de redes sociais e seu vasto alcance entre o público jovem o tornam um ativo estratégico. Contudo, sem um acordo que aborde as questões de segurança nacional — especialmente no que diz respeito ao acesso a dados sensíveis e sua gestão por uma empresa chinesa —, o retorno total da plataforma permanece incerto. A situação coloca o TikTok no centro do debate entre interesses comerciais e segurança nacional, um dilema que promete moldar o início do novo mandato presidencial.
· 03:21 — Uma vitória da paz
O Hamas libertou três reféns em troca de prisioneiros palestinos, marcando o início do cessar-fogo na guerra de Gaza, que já se estendia por 15 meses. Esta trégua, com duração inicial de seis semanas, tem como objetivo garantir a libertação de 33 reféns israelenses. Agora, as negociações para uma possível extensão do cessar-fogo estão sob a liderança do presidente eleito Donald Trump, cuja equipe já desempenhou um papel fundamental na rodada final de conversas que viabilizou o acordo atual.
Existe uma probabilidade concreta de que um novo entendimento seja alcançado nos primeiros dias de seu mandato, o que seria visto como uma demonstração de capacidade de ação imediata por parte do novo governo. A trégua não apenas reduz as tensões no Oriente Médio, mas também alivia os mercados globais. O risco geopolítico é suavizado, removendo prêmios de risco significativos, enquanto o barril de petróleo, que vinha sendo pressionado pelas incertezas na região, apresenta sinais de estabilização. Este desenrolar dos eventos reforça a expectativa de um início de governo com foco em resultados concretos e impacto imediato nas dinâmicas globais.
· 04:18 — Outro destaque internacional
Além da posse de Donald Trump, outro grande destaque internacional é o início do Fórum Econômico Mundial, que começa hoje em Davos, na Suíça. Este tradicional encontro, que se estenderá por quatro dias, reunirá líderes globais, CEOs de algumas das maiores empresas do mundo e representantes de organizações da sociedade civil para discutir questões centrais que moldam o cenário global.
O tema central deste ano, “Colaboração na Era Inteligente“, reflete a urgência de abordar as complexas transformações que o avanço tecnológico trouxe para a sociedade. Entre os tópicos previstos estão estratégias para relançar o crescimento econômico, explorar o potencial disruptivo de novas tecnologias e fortalecer a resiliência social e econômica diante de desafios crescentes.
Embora Trump não compareça ao evento (ao menos não presencialmente), sua figura e as possíveis implicações de sua volta à Casa Branca certamente dominarão as discussões paralelas. É provável que seu novo governo seja tema de intenso debate em um fórum que, por tradição, reflete os dilemas e esperanças da elite global.
· 05:02 — Chamou a atenção
Três dias antes de sua posse, o novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, surpreendeu o mercado ao lançar sua própria criptomoeda meme (piada), batizada de $TRUMP. O lançamento causou um frenesi imediato, com a moeda registrando uma impressionante valorização de mais de 1.200% até domingo.
Esse movimento meteórico consolidou Trump como um bilionário no mercado de memecoins, uma situação inédita e que gerou intensos debates.