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Hoje (21), é impossível escapar da figura do novo presidente dos Estados Unidos. Com a retomada da liquidez nos mercados americanos após o feriado, o noticiário é dominado pelos desdobramentos da posse de Donald Trump. Como discutimos ontem — e, na verdade, temos abordado há meses, uma vez que este será um tema recorrente pelos próximos quatro anos, dado o estilo de comunicação de seu governo —, as atenções estavam voltadas para os primeiros movimentos do novo ocupante da Casa Branca.
O discurso de posse foi uma extensão da retórica eleitoral que mobilizou sua base durante a campanha. Sem grandes surpresas, manteve o tom combativo e a promessa de mudanças radicais. Contudo, a ação concreta veio depois, com a assinatura das primeiras dezenas de ordens executivas, sinalizando um início de governo bem ativo. Apesar disso, o principal receio dos mercados, relacionado à imposição de tarifas comerciais, permaneceu mais na retórica do que na prática, ainda que Trump tenha ressuscitado a ideia de um imposto de 25% sobre produtos provenientes do México e do Canadá, não apresentando medidas concretas, o que trouxe alívio temporário.
Esse alívio se refletiu na queda do dólar e no otimismo generalizado, com os investidores apostando em um início de governo menos agressivo do que se temia. Entretanto, é prudente não se iludir: este governo está apenas começando, e o governo Trump promete ser uma montanha-russa de emoções, marcada por narrativas polarizadoras e movimentos bruscos. Já nas primeiras horas, vimos sinais claros de um estilo agressivo em temas como imigração e o relacionamento dos Estados Unidos com organismos internacionais.
Neste contexto, os futuros americanos apontam para uma abertura em alta nesta manhã, acompanhados pela maioria dos índices europeus. No entanto, os ganhos na Europa são moderados, refletindo a persistência de incertezas sobre as tarifas comerciais de Trump. Na Ásia, o comportamento dos mercados foi semelhante, com investidores digerindo as primeiras ações do novo presidente e buscando pistas sobre os próximos passos.
· 00:58 — Fora do radar, pelo menos por enquanto
Para o Brasil, parece que ocuparemos um papel secundário na agenda inicial do governo Trump, pelo menos por ora. Esse é um alívio significativo, já que não estar na mira direta do presidente americano é um bom sinal, especialmente neste início de mandato. Trump mencionou o Brasil e a América Latina (exceto o México) em poucas ocasiões, repetindo um discurso genérico: “eles precisam mais da gente do que nós deles.” Essa relativa indiferença nos oferece um respiro no curto prazo.
O foco principal, como era esperado, está direcionado à China, com quem as tensões comerciais deverão se intensificar. No primeiro mandato de Trump, os chineses redirecionaram parte de suas compras para o Brasil, compensando parcialmente as perdas comerciais com os Estados Unidos. Se esse padrão se repetir, pode abrir uma nova janela de oportunidade para o agronegócio e outros setores brasileiros. Surfamos, portanto, o alívio global de ontem, com alta do Ibovespa e valorização do real.
Por aqui, a reunião ministerial revelou um Lula que já demonstra estar em modo eleitoral, mirando diretamente as eleições de 2026. O presidente parece decidido a se posicionar como o candidato natural à reeleição, ciente de que as opções para um sucessor dentro de sua base política são limitadas. Isso explica o foco crescente em medidas voltadas para aumentar sua popularidade, que continua em trajetória de queda. A principal preocupação no Planalto é o impacto do aumento dos preços dos alimentos, que tem pesado sobre a percepção popular de seu governo. Será crucial monitorar como o governo responderá à perda de popularidade, especialmente se isso resultar em medidas que comprometam ainda mais o equilíbrio fiscal.
Neste contexto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacou em sua exposição um aumento na arrecadação federal — uma sinalização preocupante para os mercados, já que sugere mais peso tributário para sustentar as contas públicas. Haddad também apresentou um plano com 25 prioridades. Entre as principais, estão: i) conclusão da reforma tributária sobre a renda, com a isenção do IRPF para rendimentos até R$ 5 mil, compensada pela tributação sobre milionários; ii) fortalecimento do arcabouço fiscal, em linha com o compromisso de responsabilidade fiscal; e iii) reforma da previdência dos militares e medidas para conter supersalários no funcionalismo público. Embora as propostas sejam importantes, é evidente que, isoladamente, essas iniciativas não são suficientes para enfrentar os desafios fiscais e restaurar a confiança do mercado. Em resumo, enquanto o governo Trump avança com sua agenda internacional, o Brasil enfrenta desafios internos crescentes, onde a queda na popularidade do presidente, combinada com sinais insuficientes de ajustes fiscais, mantém os ativos locais sob pressão. A capacidade de reação do governo nas próximas semanas será determinante para evitar uma deterioração ainda maior.
· 01:43 — Preparem-se para muito ruído político vindo dos EUA a partir de agora
O discurso de posse de Donald Trump manteve a retórica característica que marcou sua trajetória política: uma abordagem populista e nacionalista, claramente voltada para energizar sua base de apoio. Esse tom não surpreende, considerando que discursos de posse frequentemente carregam elementos simbólicos e retóricos destinados a reforçar o mandato recém-conquistado. No entanto, o que realmente marcou o início de seu governo foram as ações concretas tomadas logo após o juramento, em especial as assinaturas de uma série de ordens executivas acompanhadas por declarações que deixaram claras as suas intenções.
Entre os comentários mais notáveis, Trump declarou a intenção de impor tarifas de até 25% sobre o México e o Canadá até o início de fevereiro. Além disso, pressionou a União Europeia a aumentar suas compras de petróleo e gás dos Estados Unidos, sugerindo que, caso contrário, o bloco poderia enfrentar novos impostos. Em um movimento que reforça sua postura isolacionista, retirou os Estados Unidos da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Acordo Climático de Paris, revertendo políticas centrais da administração anterior. Trump também fez declarações polêmicas ao anunciar uma emergência nacional na fronteira entre os EUA e o México, buscando acabar com a cidadania por direito de nascimento para filhos de imigrantes ilegais. Essas medidas, somadas à revogação de cerca de 80 ordens executivas do governo anterior, sublinham o antagonismo claro de sua administração em relação às políticas precedentes, reforçando sua narrativa de ruptura com o status quo.
Olhando para frente, o mercado permanece apreensivo com os desdobramentos dessas primeiras ações. Em particular, o maior foco de incerteza gira em torno da implementação de tarifas comerciais. Embora ainda não haja clareza sobre sua magnitude e velocidade, o simples anúncio das intenções já exerceu pressão sobre a curva longa de juros, que se mostra mais fragilizada diante do aumento de riscos inflacionários e de possíveis repercussões nas relações comerciais globais.
A curto prazo, é provável que o dólar continue a mostrar fraqueza, ao menos até que as tarifas sejam oficialmente detalhadas. Esse ambiente cria um cenário de elevada volatilidade para os mercados, enquanto investidores tentam antecipar as próximas movimentações do governo Trump. A combinação de ações agressivas e retórica nacionalista promete moldar os mercados globais e as dinâmicas políticas nos próximos meses, com impactos profundos que ainda estão por se desenhar.
· 02:32 — Alternativas
Em Davos, a Presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, deixou claro que a União Europeia está disposta a dialogar e buscar pontos de convergência com os Estados Unidos. No entanto, ela reconhece que o cenário com o novo governo americano, liderado por Donald Trump, pode ser desafiador. Ciente disso, a UE já vem implementando estratégias para diversificar suas alianças e fortalecer parcerias globais como forma de mitigar possíveis choques em suas relações transatlânticas.
Uma dessas medidas é o acordo comercial com o Mercosul, que, apesar de enfrentar resistência interna e desafios ambientais, sinaliza a tentativa de fortalecer os laços com a América do Sul. Além disso, a União Europeia tem intensificado esforços para ampliar sua parceria estratégica com a Índia, um mercado emergente crucial para o equilíbrio comercial global. Outro exemplo é o recente acordo comercial entre a União Europeia e o México, firmado pouco antes da posse de Trump. Esse tratado, ainda sujeito à aprovação formal pelos governos de ambos os lados, elimina tarifas elevadas aplicadas pelo México a produtos europeus como queijos e vinhos, promovendo uma maior competitividade para as exportações da UE.
Além disso, o acordo tem objetivos estratégicos claros: aumentar a participação europeia em setores chave, como serviços financeiros e comércio eletrônico, fortalecer a cadeia de suprimentos de matérias-primas essenciais e atrair mais investimentos europeus para o mercado mexicano. O tratado também traz benefícios para empresas de ambas as partes, concedendo acesso a contratos governamentais tanto no México quanto na União Europeia, o que promete intensificar os fluxos de comércio e cooperação econômica.
Com esse movimento e outros que podem surgir, a União Europeia demonstra estar se posicionando ativamente para enfrentar os desafios impostos pelo novo ambiente geopolítico. Tais iniciativas refletem uma postura pragmática e preparam o bloco para lidar com as consequências de um cenário internacional que pode se tornar ainda mais fragmentado e competitivo sob a liderança de Trump. À medida que outros países buscam proteger seus interesses, é provável que vejamos uma proliferação de acordos comerciais regionais e bilaterais em resposta às pressões econômicas de Washington.
·03:27 — O problema fiscal
Antes de deixar o cargo, Janet Yellen, ex-secretária do Tesouro dos EUA, emitiu um alerta claro sobre a iminência de mais uma batalha fiscal nos Estados Unidos. Em uma carta endereçada aos líderes do Congresso, Yellen informou que, a partir de 21 de janeiro, o Tesouro começaria a adotar medidas contábeis extraordinárias para evitar uma violação do teto da dívida federal. Essas manobras emergenciais, embora comuns em situações similares, destacam a urgência de uma ação legislativa para elevar ou suspender o limite estatutário da dívida. Basicamente, elas visam apenas ganhar tempo para evitar um calote técnico enquanto o Congresso negocia uma solução definitiva para o problema do limite de endividamento.
A situação fiscal dos EUA não é apenas uma questão técnica; é um desafio político e econômico que o recém-empossado presidente Donald Trump precisará enfrentar imediatamente. Para lidar com o déficit crescente e implementar maior eficiência na máquina pública, Trump escalou dois nomes estratégicos: Elon Musk, que será responsável por liderar esforços de eficiência governamental, e Scott Bessent, à frente do Departamento do Tesouro, encarregado de desenhar e implementar medidas fiscais.
O objetivo do governo é claro: reduzir o déficit fiscal de maneira significativa. No entanto, mesmo com os republicanos controlando todos os ramos do governo federal, um acordo orçamentário não está garantido. As divisões internas dentro do Partido Republicano e as tensões entre as alas mais conservadoras e pragmáticas podem complicar as negociações. Além disso, o clima de polarização política e o estilo combativo de Trump prometem tornar as discussões orçamentárias ainda mais complexas. O governo precisará equilibrar seu compromisso com cortes de impostos — uma marca registrada do novo governo — com a necessidade de controlar o endividamento e sustentar a confiança dos mercados globais.
Essa batalha pelo orçamento será um dos primeiros testes para o segundo mandato de Trump e terá implicações profundas, não apenas para a economia americana, mas também para a estabilidade financeira global. A forma como o governo lidará com o teto da dívida e o déficit fiscal definirá o tom para os próximos quatro anos e poderá impactar a trajetória do dólar e das taxas de juros.
· 04:14 — A Argentina pode continuar surpreendendo
O presidente da Argentina, Javier Milei, delineou uma visão ousada para a economia do país em 2025, trazendo previsões otimistas e promessas de reformas significativas. Entre as medidas anunciadas, destacam-se a retirada dos controles cambiais, a redução da carga tributária e a projeção de um crescimento econômico robusto. Essas declarações foram feitas em um contexto de alívio para o país, que realizou um pagamento de US$ 4,3 bilhões em dívidas, o maior valor quitado desde 2020.
Milei reforçou seu compromisso com uma agenda de transformações profundas. Ele assegurou que está determinado a implementar cortes de impostos significativos, o que acredita ser um catalisador para o crescimento econômico projetado em cerca de 5% em 2025. O presidente também destacou os sinais de recuperação já observados na economia. A redução da inflação, combinada com a melhora no poder de compra do salário real e das aposentadorias, está gerando um impacto positivo no consumo e na reposição de estoques. Esses fatores têm impulsionado a atividade econômica, criando um ambiente mais favorável para a retomada do crescimento. Além disso, a queda na taxa de pobreza, uma das principais heranças do governo de Alberto Fernández, é vista como um indicador de que a política econômica de Milei começa a surtir efeito.
Embora ainda enfrente desafios significativos, como o endividamento externo e a necessidade de manter o ritmo de reformas, a Argentina começa a mostrar sinais de uma possível virada econômica. Com um enfoque liberal em suas políticas e uma retórica reformista, o governo Milei tem atraído atenção dentro e fora do país. A perspectiva de um crescimento econômico consistente e de uma melhora nas condições sociais reforça a ideia de que, apesar das dificuldades, a Argentina pode continuar surpreendendo positivamente nos próximos anos.
· 05:06 — Se eu fosse você…
Espero que, ao longo de 2025, as ações de mercados desenvolvidos continuem a oferecer retornos positivos, embora em um ritmo mais moderado do que o observado em 2024. Essa expectativa é sustentada pelo crescimento projetado dos lucros corporativos, que deve ser um dos principais impulsionadores das ações.
Para ilustrar, estima-se que os lucros aumentem em torno de 10% nos EUA. Historicamente, períodos de ampliação no crescimento dos lucros tendem a ser acompanhados por um bom desempenho dos mercados acionários, como evidenciado entre 2023 e 2024…