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Queda de decreto do aumento do IOF, dados do PIB dos EUA e mudança de tom de Powell: fique por dentro dos destaques desta quinta-feira (26)

O cenáiro global opera em aparente estabilização dos conflitos no Oriente Médio. Leia mais.

Por Matheus Spiess

26 jun 2025, 09:39 - atualizado em 26 jun 2025, 09:39

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Imagem: iStock

No exterior, a agenda do dia concentra-se na divulgação da leitura revisada do PIB do primeiro trimestre dos EUA, em meio à digestão de uma virada de tom mais branda — ou, no jargão do mercado, “dovish” — por parte de membros do Federal Reserve, inclusive do próprio Jerome Powell, após suas apresentações ao Congresso nesta semana. A mensagem transmitida foi mais flexível do que o esperado, reacendendo apostas de cortes de juros ainda neste ano.

Como pano de fundo, cresce também a expectativa em torno da sucessão de Powell, cujo mandato à frente do Fed se encerra no ano que vem. Nos bastidores de Washington, circula com força a possibilidade de que Donald Trump, já em campanha e agindo como se estivesse no comando, antecipe a indicação de seu nome preferido para o cargo — possivelmente entre setembro e outubro. E, segundo as apostas mais racionais, esse nome deverá ser ainda mais leniente em termos monetários, o que reforça o cenário de flexibilização adiante.

No Oriente Médio, o cenário aparenta relativa estabilização. O governo americano tem se empenhado em conter os questionamentos sobre os reais efeitos da ofensiva contra instalações nucleares iranianas. O ruído foi alto, mas o dano estrutural, ao que tudo indica, ficou bem aquém do prometido. Com isso, os mercados voltam a observar movimentos que marcaram o primeiro semestre do ano: leve enfraquecimento do dólar, retomada da rotação geográfica entre ativos globais e alguma recomposição de posições em emergentes — entre eles, o Brasil.

O problema é que, por aqui, ficou difícil engatar qualquer otimismo mais estrutural depois da derrota acachapante do governo na votação de ontem (26). A insegurança fiscal retornou ao centro do radar dos investidores, impondo cautela e represando parte do fluxo estrangeiro. Enquanto isso, na Ásia, os principais índices encerraram o pregão em direção mista. Já na Europa, as bolsas operam em alta nesta manhã, acompanhadas pelos futuros americanos. Entre as commodities, o petróleo volta a subir, amparado por estoques menores nos EUA.

· 00:59 — Um governo de joelhos?

No Brasil, a agenda do dia traz a digestão do Relatório de Política Monetária do Banco Central, divulgado nesta manhã, seguido da prévia da inflação oficial via IPCA-15, cuja expectativa é de leve desaceleração — de 0,36% em maio para 0,31% em junho. Em 12 meses, o índice deve recuar de 5,40% para 5,32%. Além disso, serão conhecidos os dados de arrecadação da Receita e o resultado primário do Governo Central. Mas, convenhamos, diante da conjuntura, poucos parecem interessados nessas divulgações. A atenção segue completamente dominada pelo terremoto fiscal causado pela derrota acachapante do governo com a derrubada da elevação do IOF.

Como já havia alertado, apesar de ser esperado apenas para julho, o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) que revogava o aumento passou com folga: 383 votos favoráveis na Câmara contra apenas 98, e aprovação também no Senado — a primeira de um PDL desde os tempos do governo Collor. A derrota é profundamente reveladora da fraqueza política estrutural do atual governo. Reforça, inclusive, nossa leitura de que o pêndulo político tende a se mover com força em 2026. A questão, porém, é o caminho até lá. E ele parece cada vez mais tortuoso. Não adianta celebrar indicadores pontuais que surpreendam positivamente, quando o enredo maior é francamente desfavorável. A revogação do aumento do IOF, por mais mal concebido que tenha sido, abre um buraco fiscal de R$ 20 bilhões. E nos vemos novamente diante do velho dilema: ruim com ele, mas pior sem? A crise do IOF, afinal, é apenas um sintoma de um problema muito maior — a rigidez dos gastos públicos — e antecipa o tipo de discussão que inevitavelmente virá à tona em 2027, passada a próxima eleição.

A incerteza até lá deixa os investidores nervosos. Isso explica a deterioração dos ativos locais e o aumento dos prêmios na curva de juros. Afinal, um governo que se recusa a cortar despesas e não tem musculatura política para entregar reformas só pode recorrer à judicialização de medidas, arrastando o país para um confronto institucional entre os três Poderes. E que fique claro: o Congresso está longe de ser inocente. Sua retórica reformista convive com uma prática claramente expansionista. Vive em disputa por mais emendas — e, não por acaso, parte da insatisfação com o governo decorre da frustração com os valores liberados. Ontem mesmo, inclusive, o Parlamento aprovou o aumento no número de deputados, um gesto que expõe com crueza o nível da disfuncionalidade institucional. O Executivo, sem convicção nem apoio, vê-se de joelhos. E sem liderança vinda de cima, dificilmente o Congresso será o vetor de qualquer transformação estrutural. Eis o porquê do “trade eleitoral” ser tão importante.

Até lá, seguimos na corda bamba, como meros passageiros de uma agonia fiscal crescente. A Instituição Fiscal Independente (IFI), em seu último relatório mensal, voltou a acender o alerta: a trajetória da dívida pública continua se deteriorando. No ritmo atual, ultrapassaremos 100% do PIB até o fim da década. É um cenário simplesmente insustentável — e que clama por reforma. E não é só isso. Voltamos a conviver com os chamados déficits gêmeos: além do rombo fiscal, o país amplia também o déficit externo.

O saldo negativo em transações correntes passou de -1,8% do PIB entre janeiro e maio de 2024 para -2,8% no mesmo intervalo de 2025. Em 12 meses, o déficit em conta corrente é de 3,3% do PIB — mais do que o dobro do registrado um ano antes. Trata-se de um nível de fragilidade alarmante para qualquer economia, mas especialmente delicado para um país emergente como o Brasil. Manter simultaneamente desequilíbrios nas frentes fiscal e externa por muito tempo não é uma opção. O tempo para reagir está se esgotando — e, mais cedo ou mais tarde, a realidade se imporá. Resta saber se faremos isso por vontade própria ou sob pressão.

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· 01:48 — Dados fracos?

Nos EUA, a trégua recente no mercado de ações sofreu uma pausa nesta quinta-feira. Depois de uma recuperação nas últimas semanas, o S&P 500 desacelerou, ainda operando em um patamar notavelmente próximo da máxima registrada em fevereiro — um feito notável, considerando o histórico recente de solavancos. As ações ligadas à inteligência artificial, por exemplo, já deixaram para trás o susto provocado pela turbulência do DeepSeek em janeiro e a queda provocada pela reintrodução de tarifas.

A atual onda de otimismo teve como combustível duas variáveis de peso: a reversão parcial das tarifas anunciadas por Donald Trump no início de abril e o cessar-fogo entre Israel e Irã, que reduziu o risco geopolítico e devolveu algum apetite ao mercado. No entanto, o tom desta manhã é mais cauteloso. O destaque do dia é a divulgação da terceira e última leitura do PIB dos EUA para o primeiro trimestre. A estimativa anterior apontava para uma leve contração de 0,2%, e uma confirmação (ou piora) desse número pode fortalecer a narrativa de desaceleração econômica — e, por consequência, alimentar as apostas em cortes de juros ainda neste ano.

Essa expectativa pode ganhar ainda mais tração se Donald Trump antecipar o anúncio de quem será o nome indicado para suceder Jerome Powell na presidência do Federal Reserve, cujo mandato termina no próximo ano. Caso se confirme um perfil mais “dovish”, como o de Kevin Warsh — frequentemente citado nos bastidores —, o mercado tende a antecipar novos cortes na curva, já precificando um Fed mais tolerante com a inflação e mais disposto a sustentar o crescimento. 

· 02:32 — Um gasto invejável

Na mais recente Cúpula da OTAN, realizada nesta semana, os 32 países-membros formalizaram um compromisso ousado: atender à exigência do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de elevar os gastos com defesa dos atuais 2% para 5% do PIB até 2035. Trata-se de um salto monumental que, embora travestido de escudo contra a ameaça russa e resposta às tensões persistentes no Oriente Médio, também representa uma vitória política para Trump — que, desde seu primeiro mandato, insiste em que os aliados da aliança atlântica arquem com uma fatia maior da conta militar.

O gesto não é trivial. Em diversas ocasiões, Trump flertou publicamente com a ideia de retirar os EUA da OTAN, usando o tema como instrumento de pressão. Agora, no entanto, ao mesmo tempo em que celebra o compromisso renovado dos parceiros europeus, sinaliza um envolvimento mais estável dos EUA com a aliança. Em paralelo, também afirmou que os americanos se reunirão com o Irã na próxima semana, tentando manter viva a chama de um cessar-fogo ainda muito frágil com Israel.

Alguns países europeus já se antecipam ao novo patamar de exigência. A Alemanha, por exemplo, prometeu aumentar seus gastos militares em 70% até 2029. O Reino Unido, por sua vez, intensifica a aquisição de caças com capacidade nuclear, enquanto a Polônia quer alcançar a meta de 5% ainda neste ano. Mas nem tudo são aplausos. A elevação dos investimentos em defesa deve tensionar ainda mais os orçamentos públicos de países acostumados a zelar por modelos robustos de bem-estar social. 

· 03:26 — Ninguém sabe ao certo o quanto foi danificado

Ainda paira uma névoa espessa sobre os reais danos provocados pelo ataque dos Estados Unidos às instalações nucleares iranianas no último fim de semana. A CIA chegou a afirmar ontem que possui informações confiáveis indicando que o programa atômico da República Islâmica foi “severamente comprometido”. Mas a verdade é que, até aqui, ninguém sabe ao certo. O que está em jogo é mais do que a infraestrutura física do Irã: é a própria credibilidade do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), firmado em 1970 sob os auspícios da ONU, e que tem sido a principal âncora jurídica e diplomática dos esforços globais para evitar a proliferação de arsenais nucleares.

Quase 200 países assinaram o tratado, incluindo o próprio Irã. O TNP reconhece formalmente apenas os arsenais de China, França, Rússia, Reino Unido e EUA — os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU — e impõe aos demais o compromisso de não desenvolver armas nucleares, embora permita o uso da energia atômica para fins civis (energia. Em contrapartida, os signatários devem aceitar inspeções regulares da Agência Internacional de Energia Atômica. O tratado é, sim, um sucesso incontestável: há mais países que iniciaram programas nucleares e os abandonaram, do que nações que efetivamente chegaram a deter armas atômicas.

Mas o medo sempre foi outro: o de que um Estado pária, instável, com ambições regionais e conexões bem documentadas com milícias extremistas e terroristas, viesse a cruzar essa linha vermelha. O Irã, nesse contexto, é o maior dos pesadelos dos EUA. Note que nem mesmo seus aliados — China e Rússia — querem vê-lo transformado em potência nuclear de fato. Uma eventual bomba iraniana teria potencial de desestabilizar não apenas o Golfo Pérsico, mas de acionar gatilhos para uma corrida armamentista na região, com Arábia Saudita, Turquia e Egito entrando na disputa.

Por isso, entender o real impacto dos bombardeios recentes não é uma questão técnica: é estratégica. A dúvida que se impõe não é se houve dano — mas se houve atraso suficiente para que o jogo diplomático recupere o fôlego e evite que o mundo entre numa nova era de proliferação nuclear. A resposta, por ora, continua fora do alcance da inteligência ocidental — e, mais preocupante ainda, talvez também fora do alcance das decisões políticas que se avizinham. A discussão é séria e pouco trivial.

· 04:15 — Simbiose tecnoautoritária

Entre terça e quarta-feira (clique nos links para conferir), abordei neste espaço o surgimento de uma nova arquitetura de poder global, na qual as grandes empresas de tecnologia não apenas influenciam, mas passam a estruturar as engrenagens centrais da ordem internacional. Trata-se de um mundo “tecnopolar“, onde o protagonismo tradicional dos Estados Nações cede espaço à ascensão de plataformas tecnológicas com apetite para remodelar, a seu modo, os contornos da sociedade, da economia e da própria política. Neste cenário, o futuro passa a ser cada vez mais distópico.

Enquanto governos travam batalhas regulatórias para retomar o controle do espaço digital, figuras emblemáticas do Vale do Silício já decidiram que não querem mais obedecer ao Estado: querem substituí-lo. Elon Musk, Alex Karp, Peter Thiel e Marc Andreessen são expoentes desse novo ethos tecnocrático. Não escondem a ambição de ultrapassar os limites da política tradicional, substituindo a mediação pública por soluções privadas, algoritmos e visões de mundo autorreferentes. Foram por muito tempo rotulados como “tecnoutópicos”, tendo em vista a ambição que se desenha.

Na prática, estamos vendo o contorno de algo mais estranho: uma tentativa de colonização institucional por uma elite digital que controla a inteligência artificial, domina a infraestrutura espacial, arbitra a esfera pública e agora quer escrever as regras do jogo político. É a formação de uma nova instituição híbrida — metade pública, metade privada — na qual o poder do Estado é reprogramado. Não há garantias de que esse será o caminho — mas, se for, seria desejável que a maior revolução tecnológica da nossa geração não fosse desperdiçada em uma sanha tecnoautoritária. Que a tecnologia amplie possibilidades humanas, sim — mas que não atropele as instituições que sustentam a convivência civilizada. O risco de o futuro ser comandado por códigos opacos em mãos concentradas exige vigilância e lucidez.

· 05:54 — Entrando em outro mundo

Quem diria que um dos pilares do crescimento da Coca-Cola viria justamente do universo fitness? Pois é exatamente isso que está acontecendo. Desde que adquiriu a marca Fairlife em 2020, a gigante americana viu sua estratégia…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.