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Retaliações à guerra comercial de Trump, dados de inflação nos EUA e incertezas sobre a economia global: veja os destaques desta quinta-feira (13)

A paciência com as medidas tarifárias de Donald Trump parece estar se esgotando nas economias globais. Leia mais.

Por Matheus Spiess

13 mar 2025, 09:31 - atualizado em 13 mar 2025, 09:31

donald trump estados unidos eua

Imagem: iStock/ 400tmax

Lá fora, a paciência com Donald Trump está se esgotando, e as retaliações comerciais já começaram. O mais recente capítulo da guerra tarifária foi disparado quando o presidente americano decidiu avançar sobre o setor de aço e alumínio, atingindo aliados. A União Europeia e o Canadá agora se sentem traídos e já anunciaram suas contramedidas. O Brasil, também na linha de fogo, ainda aguarda um acordo semelhante ao de 2018 — a dúvida é se Trump está disposto a negociar ou se continuará dobrando a aposta no protecionismo. Esse ambiente de tensão comercial está aumentando o nível de incerteza sobre a economia global.

O impacto já se reflete nas bolsas asiáticas, que fecharam em queda nesta quinta-feira (13), enquanto os mercados europeus tentam, com pouco sucesso, recuperar as perdas do início do dia. O cenário segue volátil, com os investidores de olho nos dados de inflação ao produtor nos EUA. Depois de um CPI levemente abaixo do esperado, o PPI ganha ainda mais relevância, já que reflete diretamente o poder de precificação das empresas — um indicador importante para entender até que ponto tarifas e impostos comerciais estão sendo repassados ao longo da cadeia produtiva. 

· 00:57 — Algum sinal?

No Brasil, a inflação de fevereiro veio dentro das expectativas, mas isso não significa que o cenário seja confortável. O IPCA acelerou, impulsionado pelo efeito rebote da devolução do bônus de Itaipu, como falamos ontem, e já acumula mais de 5% em 12 meses. A tendência é que o índice siga subindo nos próximos meses, podendo romper a marca dos 6% antes de voltar a ceder no segundo semestre e fechar 2025 próximo de 5,5%. Embora qualitativamente o dado não tenha sido desastroso, a inflação continua sendo um problema persistente, com uma dinâmica que ainda preocupa.

Por outro lado, começam a surgir sinais de desaceleração da atividade econômica, o que poderia facilitar a vida do Banco Central no processo de corte de juros. O problema é que essa trajetória depende de um ajuste fiscal minimamente coordenado, e o governo parece caminhar na direção oposta. Ontem, por exemplo, Lula assinou a MP do Consignado Privado, um estímulo direto ao crédito que reforça a impressão de que o governo quer “acelerar com o freio de mão puxado”. Enquanto o BC tenta conter a inflação, o Planalto flerta com medidas heterodoxas que jogam na direção contrária.

Ainda na novela do ajuste fiscal, finalmente tivemos um sinal de vida do Orçamento de 2025, que segue sem aprovação – um feito notável, considerando que já estamos no fim do primeiro trimestre. A notícia não foi das piores, mas também não há muito o que comemorar. O governo anunciou um corte de R$ 7,7 bilhões no Bolsa Família para fechar as contas do ano que vem, mas a realidade é menos austera do que parece. O valor inclui a incorporação do Vale Gás, estimado em R$ 3 bilhões, e o corte no Bolsa Família reflete o pente-fino realizado no programa no ano passado, parte do pacote de contenção de despesas. Ou seja, nada muito além do esperado. Pelo menos, é uma evolução em relação ao pacote fiscal do ano passado, que previa uma redução bem mais modesta, de R$ 2 bilhões, na despesa com o Bolsa Família em 2025.

Mas, como sempre, há um porém: os gastos com benefícios previdenciários foram ampliados em R$ 8 bilhões, e o programa Pé-de-Meia não foi incluído. No saldo final, continuamos praticamente no mesmo lugar, sem um ajuste estrutural real. Mais cedo ou mais tarde, novas medidas serão necessárias. Em meio a esse cenário, Lula voltou a colecionar falas trágicas, mais uma vez sobre mulheres – algo que pode custar ainda mais popularidade entre esse público e entre os jovens nas próximas pesquisas. No entanto, em um raro momento de lucidez econômica, ele fez um aceno ao ministro Fernando Haddad e defendeu um certo pragmatismo fiscal. Modesta alívio, mas ainda insuficiente. Agora, resta saber se esse discurso será traduzido em ações concretas.

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· 01:45 — Direção

Nos EUA, a inflação abaixo do esperado deu carta branca para Wall Street retomar o apetite por risco, impulsionando ativos que haviam sido duramente penalizados nos últimos pregões. O Nasdaq Composite, referência para o setor de tecnologia, avançou 1,2%, enquanto o S&P 500 subiu 0,5%. A recuperação foi capitaneada por papéis que haviam sido massacrados recentemente, com destaque para Tesla, Micron Technology, Palantir Technologies, Vistra e Nvidia. Aparentemente, o mercado encontrou uma nova rotação, puxando os nomes que mais sofreram desde a máxima em 19 de fevereiro.

Curiosamente, os rendimentos dos títulos do Tesouro também avançaram, mesmo com o índice de preços ao consumidor (CPI) de fevereiro registrando uma alta mensal de apenas 0,2%, abaixo da expectativa de 0,3%. A reação dos preços futuros foi contraditória: enquanto o alívio na inflação deveria reforçar apostas em cortes de juros, as probabilidades implícitas nos mercados indicaram uma redução na expectativa de afrouxamento monetário. Um dos fatores que ajudou a puxar o CPI para baixo foi a queda nos preços das passagens aéreas – um componente altamente volátil, o que reduz a confiabilidade da leitura como um termômetro das tendências inflacionárias.

Ainda assim, a leitura abre espaço para pelo menos um ou dois cortes na taxa de juros no segundo semestre, dependendo da evolução do cenário macroeconômico. Para complementar o quadro, hoje teremos a divulgação da inflação ao produtor (PPI), que pode ajudar a calibrar as expectativas sobre a trajetória da política monetária.

· 02:33 — Retaliou

A União Europeia e o Canadá decidiram responder na mesma moeda às tarifas adicionais de Donald Trump sobre o aço e o alumínio importados. Como retaliação, ambos anunciaram uma enxurrada de impostos sobre produtos americanos, totalizando dezenas de bilhões de dólares. A UE, por exemplo, começará a taxar US$ 28 bilhões em bens dos EUA a partir de 1º de abril, atingindo setores icônicos como uísque e motocicletas. Mas não para por aí – um segundo pacote tarifário, previsto para meados de abril, deverá penalizar aves, soja e outros produtos agrícolas.

Já o Canadá não ficou para trás e respondeu na mesma moeda, impondo tarifas recíprocas de 25% sobre produtos siderúrgicos, além de aumentar impostos sobre ferramentas, computadores, equipamentos esportivos e uma série de outros bens, totalizando US$ 20,8 bilhões. A represália não era uma questão de “se”, mas de “quando”, e a escalada da guerra comercial agora ganha novos contornos.

Trump, por sua vez, já sinalizou sua próxima jogada: tarifas sobre os carros europeus, provavelmente no dia 2 de abril, num jogo de xadrez tarifário que ninguém parece saber onde vai parar. O problema central, porém, não é só a retaliação dos parceiros comerciais, mas o impacto dessa estratégia na economia americana. Se essa política se mostrar inflacionária e recessiva, como tudo indica, o Federal Reserve será forçado a equilibrar a corda bamba entre o risco de estagflação e a necessidade de cortes de juros. O mercado já entrou em modo de proteção – e com razão.

· 03:21 — Ele estava falando sério

Quando Trump mencionou seu interesse no Canal do Panamá, poucos levaram a sério. Pois bem, deveriam. Ele estava falando sério – e já encontrou um caminho para colocar sua influência na região. O plano? A BlackRock está adquirindo dois portos estratégicos no Canal do Panamá, Balboa e Cristóbal, que foram desinvestidos pelo conglomerado CK Hutchinson Holdings, de Hong Kong. E não para por aí: o pacote inclui outras 40 instalações portuárias em um acordo bilionário de US$ 19 bilhões.

O que forçou essa mudança? A crescente pressão sobre os proprietários da CK Hutchinson, diante do aumento das tensões sobre o canal e das declarações incisivas de Trump sobre a administração da infraestrutura. Como resultado, o Goldman Sachs entrou na jogada para intermediar o negócio, assim que o consórcio liderado pela BlackRock sinalizou interesse nos ativos, colocando o plano de Trump em ação.

O curioso é que Trump celebrou a movimentação, mas sem mencionar diretamente que foi a BlackRock quem comprou – afinal, sua base mais ideológica e conspiracionista tem uma aversão irracional à gestora. De qualquer forma, o recado está dado: Trump tem ambições reais sobre o Panamá, e esse é apenas o primeiro lance de uma estratégia mais ampla. Devemos ficar atentos aos próximos passos (Groenlândia?).

· 04:12 — Há espaço para a China driblar sua recessão de balanço?

A recente flexibilização da política monetária e fiscal na China parece ter injetado algum fôlego na economia, mas a grande questão continua no ar: será o suficiente para restaurar de forma sustentável a confiança das empresas privadas e das famílias? Afinal, com um setor privado altamente endividado e priorizando a acumulação de caixa em vez de gastar ou investir, a China se viu presa em uma recessão de balanço nos últimos anos. E esse tipo de recessão tem uma particularidade incômoda: a política monetária convencional se torna praticamente inútil (vide caso japonês).

Enquanto o setor privado estiver focado em reparar seus balanços, cabe ao setor público intervir, absorver o excesso de poupança e direcionar investimentos estratégicos para evitar uma espiral deflacionária potencialmente catastrófica. Em outras palavras, estímulo fiscal não é apenas desejável – é essencial para evitar que o crescimento nominal do PIB entre em colapso. Para piorar, a China enfrenta ventos contrários estruturais, resultado de tendências demográficas e econômicas adversas, o que reforça nossa visão cautelosa sobre os mercados de capitais do país.

Ainda assim, alguns eventos recentes – como o avanço do DeepSeek e uma leve melhora em certos indicadores econômicos – têm ajudado o mercado a reagir, entregando altas não vistas há anos. A dúvida agora é se esses ganhos são estruturais ou apenas um respiro temporário antes de outra onda de desilusão. Para que a recuperação seja mais do que um soluço, Pequim precisará continuar despejando estímulos na economia. A questão é: o governo está disposto a pagar essa conta?

· 05:06 — Oportunidade estruturada para alta dobrada com barreira no mercado brasileiro

O mercado já se acostumou com a ideia de que o Brasil está barato — e isso não é de hoje. Após um desempenho particularmente desastroso dos ativos locais no ano passado, essa percepção de desconto ficou ainda mais evidente. Mas a grande questão não é apenas reconhecer que o Brasil está barato, e sim determinar se ele permanecerá assim indefinidamente, aprofundando ainda mais a desvalorização, ou se, em algum momento, veremos uma correção para patamares mais justos, quem sabe até entrando em um cenário de sobrevalorização.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.