
Imagem: iStock/ Edson Souza
O tema das tarifas comerciais voltou com força ao radar de curto prazo dos mercados globais. O presidente americano decidiu escalar a retórica protecionista e, no fim de semana, ameaçou duas regiões de enorme relevância econômica: México e União Europeia. Em novas cartas, Trump indicou tarifas de 30% para produtos oriundos de ambos, desvalorizando imediatamente o euro e empurrando os futuros das bolsas americanas para baixo. Mesmo assim, os mercados financeiros seguem operando em uma espécie de estado de negação controlada, confortáveis com a ideia de que, no fim das contas, Trump recuará — como já o fez tantas vezes no passado. Mas a aleatoriedade da política comercial impõe riscos concretos. A imprevisibilidade tarifária tem um custo e ele aparece antes nas decisões corporativas do que nos preços de tela.
Na Ásia, as bolsas recuaram diante da proximidade dos prazos para as tarifas — os dados comerciais da China, referentes a junho, reforçam a tese de rearranjo: enquanto as exportações para os EUA seguem em queda, os embarques para outras regiões avançam (Pequim está desviando mercadorias para reduzir o peso tributário ao consumidor americano). Na Europa, o impacto das ameaças tarifárias também se fez sentir. Já entre as commodities, o petróleo sobe, impulsionado tanto pelas sanções americanas contra a Rússia quanto por compras adicionais da China. No Brasil, seguimos como reféns dessa história tarifária, especialmente após o grau de excepcionalidade (para pior) com que fomos tratados (envolvendo política interna).
· 00:53 — O tempo será o nosso maior aliado
Por aqui, o grande assunto dos últimos dias foi o anúncio de Donald Trump, impondo uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras aos Estados Unidos. A notícia caiu como uma bomba no mercado, ainda que, estruturalmente, o impacto econômico direto sobre o Brasil tenda a ser limitado. Vale lembrar que as exportações brasileiras para os EUA representam algo em torno de 1,7% do PIB — ou seja, mesmo que a tarifa venha a ser integralmente aplicada, o efeito estimado sobre o crescimento econômico seria de uma perda de aproximadamente 0,30 ponto percentual do PIB ao longo de doze meses. Neste cenário, o país deixaria de exportar entre US$ 15 bilhões e US$ 20 bilhões por ano. Ruim? Sim, sem dúvida. Um colapso? Longe disso.
O problema, como de costume, não está apenas nos números frios, mas no risco de escalada e nas implicações políticas, ainda que concentradas no curto prazo. A imprevisibilidade do movimento e o mau humor técnico dos investidores — que já vinham posicionados de forma mais construtiva com o Brasil — amplificaram a reação dos mercados. Caso a avaliação mais estrutural se confirme e o impacto permaneça restrito, é razoável supor que essa turbulência nos ativos será passageira. Mas, para isso, é essencial que a retórica não escale e que os efeitos políticos sejam diluídos.
Diante disso, a agenda econômica doméstica, como o IBC-Br de maio — proxy mensal do PIB —, acabou ficando em segundo plano. A expectativa é de uma ligeira retração de 0,02%, mas dificilmente isso vai roubar os holofotes do noticiário político-comercial.
Seguimos também acompanhando os desdobramentos em Brasília: há a audiência de conciliação sobre o IOF e a regulamentação da Lei de Reciprocidade Econômica, que permite ao Brasil responder a tarifas estrangeiras. O governo montou um comitê interministerial para discutir com os setores produtivos como — e se — reagirá às medidas de Trump. Neste momento, a última coisa que o país precisa é de um surto protecionista de retaliação desorganizada. Qualquer movimento brusco só serviria para piorar o quadro, com impacto direto no câmbio, na inflação e, portanto, na política monetária. Em outras palavras, se o governo brasileiro resolver “pagar na mesma moeda”, o risco é ficar com a conta. Por isso, a percepção de que Trump pode — como já fez inúmeras vezes — recuar, bem como a margem real de negociação que ainda existe, são ingredientes fundamentais para conter a sangria. Há também espaço nos EUA para judicializar a questão das tarifas, o que poderia suavizar o impacto.
O pano de fundo político, no entanto, segue sendo o mais espinhoso. A pressão da ala bolsonarista para aprovar a lei da anistia não ressoa no Congresso e só contribui para a imagem de uma oposição desorganizada e autocentrada. Isso mina uma das principais teses que temos reiterado por aqui: a alternância de poder em 2026 como força estruturante dos mercados. Como já disse na segunda-feira da semana passada, o principal risco à tese de virada política não é Lula — é a própria oposição, que insiste em flertar com o delírio ao invés de construir um nome viável para um projeto coerente, reformista, pró-mercado e fiscalmente responsável. A oposição, hoje, está sequestrada.
Esse é um ponto crítico para os investidores: sem uma alternativa política robusta e comprometida com o ajuste fiscal, a tese perderia força e os ativos brasileiros voltam a sofrer. Sim, é possível que Lula surfe algum ganho de popularidade nesse curto-circuito comercial. E sim, poderemos ver um certo reequilíbrio nas intenções de voto nas próximas pesquisas. Mas isso não muda o fato de que ainda estamos longe da eleição e, nesse ínterim, o tempo joga a nosso favor. A escalada agora, neste caso, seria suicídio econômico — e governo sabe disso (ou, ao menos, deveria saber).
Enquanto isso, a volatilidade dos ativos no curto prazo é parte do caminho. Como antecipamos, o processo não seria linear nem tranquilo. Estamos atravessando essa turbulência agora. Sejam bem-vindos! Mas, se evitarmos erros táticos e deixarmos a racionalidade prevalecer, a tese da mudança de pêndulo político continua viva. O tempo segue sendo nosso maior aliado. Basta ter paciência — e sangue frio.
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· 01:46 — Ainda apostando no TACO?
Nos EUA, os fantasmas tarifários finalmente deixaram de ser apenas ruído de fundo e passaram a impactar de fato o mercado acionário, interrompendo a sequência de recordes do S&P 500 e do Nasdaq. Após dias de ameaças veladas, a Casa Branca passou à ação, disparando cartas a diversos parceiros comerciais com o anúncio de novas tarifas. Até então, os mercados vinham preferindo a incredulidade estratégica: ignoraram solenemente os avisos, apostando no velho padrão de Trump — anunciar com estrondo e recuar em silêncio. E de fato, mesmo com o ruído ensurdecedor, dois dos três principais índices americanos chegaram a renovar suas máximas. Mas ao mirar agora o Canadá, talvez o mais inofensivo e próximo dos aliados comerciais dos EUA, com uma tarifa de 35%, o governo americano parece ter cruzado uma linha que nem os investidores mais cínicos estavam dispostos a relativizar.
O movimento acendeu o alerta. Ainda que a queda recente do mercado esteja longe da correção mais intensa observada no início do ano — quando Trump ressuscitou a ideia de “tarifas recíprocas” —, a reação sinaliza que o mercado já não compra mais qualquer bravata como ensaio. A intermitência e a inconsistência dos anúncios tarifários geraram uma espécie de “imunidade seletiva” entre os investidores, que preferem manter o ceticismo até ver as medidas efetivamente implementadas. A aposta corrente continua sendo na já consagrada Operação TACO (Trump Always Chickens Out) — o presidente sempre recua. Mas nem mesmo essa tese é capaz de blindar os ativos contra a volatilidade. A queda de sexta-feira foi um lembrete de que há um limite para o cinismo do mercado: quando a ameaça deixa o campo retórico e passa a incluir parceiros estratégicos de primeira grandeza a complacência começa a fazer água.
As oscilações devem continuar enquanto os acordos comerciais estiverem em aberto. Há ruído pela frente. Nesse contexto, a temporada de resultados do segundo trimestre, que começa esta semana, ganha ainda mais peso. Será ela a responsável por dizer se o mercado tem fôlego real para retomar sua trajetória de alta, mesmo em meio ao ambiente mais conturbado. Além dos balanços, os dados de inflação também estarão no radar, ajudando a calibrar expectativas para política monetária e, eventualmente, contrabalançar os impactos desse novo capítulo da guerra comercial.
· 02:39 — Atacando aliados
Além do Brasil e Canadá, Donald Trump resolveu ampliar sua cruzada tarifária e mirar também o México e a União Europeia. O presidente publicou em sua rede Truth Social cartas dirigidas à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e à presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, informando que tarifas de importação de 30% passarão a valer para ambos os parceiros comerciais a partir de 1º de agosto.
No caso mexicano, o impacto pode ser relevante: nada menos que 80% das exportações do país têm como destino os Estados Unidos. Trata-se, portanto, de um torpedo direto ao coração da economia mexicana. Já na frente europeia, as tarifas marcam a escalada formal da guerra comercial reiniciada por Trump em abril. Tanto a União Europeia quanto o México vinham negociando com o entorno trumpista há semanas, mas, como era de se esperar, sem sucesso. Em resposta, ambos indicaram que seguirão tentando costurar um acordo até o prazo fatal — mesmo sabendo que a previsibilidade não é o forte do atual presidente americano.
A União Europeia já indicou que buscará alinhar sua resposta com outros países afetados, como Canadá e Japão, numa tentativa de construção de um front comum. Bruxelas, ao menos por ora, ainda aposta na via diplomática: adiou a implementação de medidas retaliatórias para manter a porta da negociação entreaberta. Mas a paciência tem prazo de validade. Caso o diálogo fracasse, a UE promete reagir à altura. Um pacote de retaliações já está pronto, só aguardando a ordem de ataque. Se Trump buscava tensão, conseguiu. Se queria desorganizar o tabuleiro global, também. A dúvida agora é se o mundo civilizado vai mesmo se contentar com mais um blefe ou se, desta vez, a retórica protecionista americana será enfrentada de maneira firme.
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· 03:25 — Rivais
O Projeto Kuiper, ambicioso plano da Amazon para oferecer Wi-Fi via satélite, começou a sair do papel no segundo trimestre, com o início da implantação de satélites. A promessa é agressiva: mais de 3 mil unidades em órbita até o fim da década, com serviços começando possivelmente ainda este ano. Em tempos de obsessão com cortes de custos, a investida soa como um contrassenso, mas é, na verdade, uma das maiores apostas de crescimento da alta cúpula da companhia. Isso porque o Kuiper poderá consumir cerca de US$ 23 bilhões ao longo do tempo — só os lançamentos devem engolir cerca de US$ 15 bilhões. O pico de investimentos da Amazon no Kuiper deve ocorrer no quarto trimestre de 2025, com um desembolso estimado em US$ 1,1 bilhão. A conta não é pequena, mas há uma visão de retorno: espera-se uma receita anual de US$ 7,2 bilhões até 2032, ancorada em algo como sete milhões de usuários.
O problema? O Kuiper está correndo atrás de uma gigante. A SpaceX, de Elon Musk, não só saiu na frente como abriu uma avenida. Já colocou mais de 9 mil satélites em órbita e conquistou seis milhões de assinantes com a Starlink. Além disso, domina o mercado de lançamentos com sua tecnologia de foguetes reutilizáveis, onde reina sozinha. A Blue Origin, empresa aeroespacial do próprio Jeff Bezos, ainda engatinha: seu foguete New Glenn só chegou à órbita em um único teste. Enquanto isso, a Amazon tem que se contentar em pagar preço de mercado pelos lançamentos. A disparidade de ritmo é notável. A SpaceX foi recentemente avaliada em US$ 400 bilhões — um monstro privado. A Amazon, embora tenha capital para tentar algum tipo de participação no serviço rival, provavelmente terá que assistir de camarote ao domínio de Musk, pelo menos por enquanto. Em resumo: a corrida espacial corporativa virou guerra de bilionários — e Bezos ainda está aquecendo, enquanto Musk já orbita.
· 04:11 — Petróleo em alta
Os contratos futuros de petróleo voltaram a subir e atingiram o nível mais alto em três semanas, reanimando um mercado que vinha pressionado. A alta reflete dois vetores principais: a perspectiva de novas sanções dos Estados Unidos à Rússia, que poderiam restringir ainda mais a oferta global, e uma inesperada intensificação nas importações de petróleo por parte da China. O curioso é que esse avanço ocorre mesmo diante de um aumento significativo de produção pela Arábia Saudita. Em junho, o reino elevou sua produção em cerca de 700 mil barris por dia, alcançando 9,8 milhões — um patamar bem acima de sua cota formal.
A elevação saudita não foi isolada. Iraque, Kuwait e Emirados Árabes Unidos também entregaram produção em linha com ou acima de seus tetos mensais, segundo o relatório mais recente da Agência Internacional de Energia (AIE). A justificativa não poderia ser mais geopolítica: a escalada entre Israel e Irã no último mês adicionou um grau de urgência à produção regional. O Irã, por sua vez, foi na direção oposta — sua produção caiu 400 mil barris por dia, refletindo diretamente o impacto do conflito.
Apesar desse novo ímpeto de produção, o mercado ainda se depara com um problema difícil de contornar: um superávit estrutural que não desapareceu. Desde meados de junho, os preços do petróleo já cederam cerca de 13%, pressionados pela combinação de estoques elevados e desaceleração no consumo global. Agora, os aumentos de oferta estão colidindo com esse excesso, criando uma situação em que o mercado precisa decidir se teme mais o risco geopolítico ou a realidade de um mundo com petróleo demais. O resultado é essa gangorra de preços — cada vez mais reativa a manchetes e menos ancorada em fundamentos de equilíbrio entre oferta e demanda.
· 05:07 — Chegamos aos US$ 120 mil
Em pleno voo histórico, o Bitcoin acaba de ultrapassar a marca dos US$ 120 mil nesta manhã, renovando suas máximas absolutas. Os últimos dias foram particularmente generosos com o universo cripto. O setor surfou o bom humor dos mercados de tecnologia, impulsionado por apostas renovadas em cortes de juros por parte do Federal Reserve já em setembro, novas entradas líquidas em ETFs de cripto à vista e um pano de fundo regulatório menos hostil — ou, ao menos, com sinais de racionalização. Legisladores americanos devem votar nas próximas semanas uma série de propostas voltadas à regulação de ativos digitais, o que tem alimentado o entusiasmo dos investidores institucionais.
A performance do Bitcoin está…