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Trump ameaça México e União Europeia com novas tarifas enquanto Brasil ainda digere imposição de 50%; veja os destaques desta segunda-feira (14)

Os mercados globais voltam esta semana comprados na ideia de que o presidente norte-americano ainda voltar atrás com as tarifas.

Por Matheus Spiess

14 jul 2025, 09:23 - atualizado em 17 jul 2025, 16:10

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Imagem: iStock/ Edson Souza

O tema das tarifas comerciais voltou com força ao radar de curto prazo dos mercados globais. O presidente americano decidiu escalar a retórica protecionista e, no fim de semana, ameaçou duas regiões de enorme relevância econômica: México e União Europeia. Em novas cartas, Trump indicou tarifas de 30% para produtos oriundos de ambos, desvalorizando imediatamente o euro e empurrando os futuros das bolsas americanas para baixo. Mesmo assim, os mercados financeiros seguem operando em uma espécie de estado de negação controlada, confortáveis com a ideia de que, no fim das contas, Trump recuará — como já o fez tantas vezes no passado. Mas a aleatoriedade da política comercial impõe riscos concretos. A imprevisibilidade tarifária tem um custo e ele aparece antes nas decisões corporativas do que nos preços de tela.

Na Ásia, as bolsas recuaram diante da proximidade dos prazos para as tarifas — os dados comerciais da China, referentes a junho, reforçam a tese de rearranjo: enquanto as exportações para os EUA seguem em queda, os embarques para outras regiões avançam (Pequim está desviando mercadorias para reduzir o peso tributário ao consumidor americano). Na Europa, o impacto das ameaças tarifárias também se fez sentir. Já entre as commodities, o petróleo sobe, impulsionado tanto pelas sanções americanas contra a Rússia quanto por compras adicionais da China. No Brasil, seguimos como reféns dessa história tarifária, especialmente após o grau de excepcionalidade (para pior) com que fomos tratados (envolvendo política interna).

· 00:53 — O tempo será o nosso maior aliado

Por aqui, o grande assunto dos últimos dias foi o anúncio de Donald Trump, impondo uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras aos Estados Unidos. A notícia caiu como uma bomba no mercado, ainda que, estruturalmente, o impacto econômico direto sobre o Brasil tenda a ser limitado. Vale lembrar que as exportações brasileiras para os EUA representam algo em torno de 1,7% do PIB — ou seja, mesmo que a tarifa venha a ser integralmente aplicada, o efeito estimado sobre o crescimento econômico seria de uma perda de aproximadamente 0,30 ponto percentual do PIB ao longo de doze meses. Neste cenário, o país deixaria de exportar entre US$ 15 bilhões e US$ 20 bilhões por ano. Ruim? Sim, sem dúvida. Um colapso? Longe disso.

O problema, como de costume, não está apenas nos números frios, mas no risco de escalada e nas implicações políticas, ainda que concentradas no curto prazo. A imprevisibilidade do movimento e o mau humor técnico dos investidores — que já vinham posicionados de forma mais construtiva com o Brasil — amplificaram a reação dos mercados. Caso a avaliação mais estrutural se confirme e o impacto permaneça restrito, é razoável supor que essa turbulência nos ativos será passageira. Mas, para isso, é essencial que a retórica não escale e que os efeitos políticos sejam diluídos.

Diante disso, a agenda econômica doméstica, como o IBC-Br de maio — proxy mensal do PIB —, acabou ficando em segundo plano. A expectativa é de uma ligeira retração de 0,02%, mas dificilmente isso vai roubar os holofotes do noticiário político-comercial. 

Seguimos também acompanhando os desdobramentos em Brasília: há a audiência de conciliação sobre o IOF e a regulamentação da Lei de Reciprocidade Econômica, que permite ao Brasil responder a tarifas estrangeiras. O governo montou um comitê interministerial para discutir com os setores produtivos como — e se — reagirá às medidas de Trump. Neste momento, a última coisa que o país precisa é de um surto protecionista de retaliação desorganizada. Qualquer movimento brusco só serviria para piorar o quadro, com impacto direto no câmbio, na inflação e, portanto, na política monetária. Em outras palavras, se o governo brasileiro resolver “pagar na mesma moeda”, o risco é ficar com a conta. Por isso, a percepção de que Trump pode — como já fez inúmeras vezes — recuar, bem como a margem real de negociação que ainda existe, são ingredientes fundamentais para conter a sangria. Há também espaço nos EUA para judicializar a questão das tarifas, o que poderia suavizar o impacto.

O pano de fundo político, no entanto, segue sendo o mais espinhoso. A pressão da ala bolsonarista para aprovar a lei da anistia não ressoa no Congresso e só contribui para a imagem de uma oposição desorganizada e autocentrada. Isso mina uma das principais teses que temos reiterado por aqui: a alternância de poder em 2026 como força estruturante dos mercados. Como já disse na segunda-feira da semana passada, o principal risco à tese de virada política não é Lula — é a própria oposição, que insiste em flertar com o delírio ao invés de construir um nome viável para um projeto coerente, reformista, pró-mercado e fiscalmente responsável. A oposição, hoje, está sequestrada.

Esse é um ponto crítico para os investidores: sem uma alternativa política robusta e comprometida com o ajuste fiscal, a tese perderia força e os ativos brasileiros voltam a sofrer. Sim, é possível que Lula surfe algum ganho de popularidade nesse curto-circuito comercial. E sim, poderemos ver um certo reequilíbrio nas intenções de voto nas próximas pesquisas. Mas isso não muda o fato de que ainda estamos longe da eleição e, nesse ínterim, o tempo joga a nosso favor. A escalada agora, neste caso, seria suicídio econômico — e governo sabe disso (ou, ao menos, deveria saber).

Enquanto isso, a volatilidade dos ativos no curto prazo é parte do caminho. Como antecipamos, o processo não seria linear nem tranquilo. Estamos atravessando essa turbulência agora. Sejam bem-vindos! Mas, se evitarmos erros táticos e deixarmos a racionalidade prevalecer, a tese da mudança de pêndulo político continua viva. O tempo segue sendo nosso maior aliado. Basta ter paciência — e sangue frio.

· 01:46 — Ainda apostando no TACO?

Nos EUA, os fantasmas tarifários finalmente deixaram de ser apenas ruído de fundo e passaram a impactar de fato o mercado acionário, interrompendo a sequência de recordes do S&P 500 e do Nasdaq. Após dias de ameaças veladas, a Casa Branca passou à ação, disparando cartas a diversos parceiros comerciais com o anúncio de novas tarifas. Até então, os mercados vinham preferindo a incredulidade estratégica: ignoraram solenemente os avisos, apostando no velho padrão de Trump — anunciar com estrondo e recuar em silêncio. E de fato, mesmo com o ruído ensurdecedor, dois dos três principais índices americanos chegaram a renovar suas máximas. Mas ao mirar agora o Canadá, talvez o mais inofensivo e próximo dos aliados comerciais dos EUA, com uma tarifa de 35%, o governo americano parece ter cruzado uma linha que nem os investidores mais cínicos estavam dispostos a relativizar.

O movimento acendeu o alerta. Ainda que a queda recente do mercado esteja longe da correção mais intensa observada no início do ano — quando Trump ressuscitou a ideia de “tarifas recíprocas” —, a reação sinaliza que o mercado já não compra mais qualquer bravata como ensaio. A intermitência e a inconsistência dos anúncios tarifários geraram uma espécie de “imunidade seletiva” entre os investidores, que preferem manter o ceticismo até ver as medidas efetivamente implementadas. A aposta corrente continua sendo na já consagrada Operação TACO (Trump Always Chickens Out) — o presidente sempre recua. Mas nem mesmo essa tese é capaz de blindar os ativos contra a volatilidade. A queda de sexta-feira foi um lembrete de que há um limite para o cinismo do mercado: quando a ameaça deixa o campo retórico e passa a incluir parceiros estratégicos de primeira grandeza a complacência começa a fazer água.

As oscilações devem continuar enquanto os acordos comerciais estiverem em aberto. Há ruído pela frente. Nesse contexto, a temporada de resultados do segundo trimestre, que começa esta semana, ganha ainda mais peso. Será ela a responsável por dizer se o mercado tem fôlego real para retomar sua trajetória de alta, mesmo em meio ao ambiente mais conturbado. Além dos balanços, os dados de inflação também estarão no radar, ajudando a calibrar expectativas para política monetária e, eventualmente, contrabalançar os impactos desse novo capítulo da guerra comercial.

· 02:39 — Atacando aliados

Além do Brasil e Canadá, Donald Trump resolveu ampliar sua cruzada tarifária e mirar também o México e a União Europeia. O presidente publicou em sua rede Truth Social cartas dirigidas à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e à presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, informando que tarifas de importação de 30% passarão a valer para ambos os parceiros comerciais a partir de 1º de agosto.

No caso mexicano, o impacto pode ser relevante: nada menos que 80% das exportações do país têm como destino os Estados Unidos. Trata-se, portanto, de um torpedo direto ao coração da economia mexicana. Já na frente europeia, as tarifas marcam a escalada formal da guerra comercial reiniciada por Trump em abril. Tanto a União Europeia quanto o México vinham negociando com o entorno trumpista há semanas, mas, como era de se esperar, sem sucesso. Em resposta, ambos indicaram que seguirão tentando costurar um acordo até o prazo fatal — mesmo sabendo que a previsibilidade não é o forte do atual presidente americano.

A União Europeia já indicou que buscará alinhar sua resposta com outros países afetados, como Canadá e Japão, numa tentativa de construção de um front comum. Bruxelas, ao menos por ora, ainda aposta na via diplomática: adiou a implementação de medidas retaliatórias para manter a porta da negociação entreaberta. Mas a paciência tem prazo de validade. Caso o diálogo fracasse, a UE promete reagir à altura. Um pacote de retaliações já está pronto, só aguardando a ordem de ataque. Se Trump buscava tensão, conseguiu. Se queria desorganizar o tabuleiro global, também. A dúvida agora é se o mundo civilizado vai mesmo se contentar com mais um blefe ou se, desta vez, a retórica protecionista americana será enfrentada de maneira firme.

· 03:25 — Rivais

O Projeto Kuiper, ambicioso plano da Amazon para oferecer Wi-Fi via satélite, começou a sair do papel no segundo trimestre, com o início da implantação de satélites. A promessa é agressiva: mais de 3 mil unidades em órbita até o fim da década, com serviços começando possivelmente ainda este ano. Em tempos de obsessão com cortes de custos, a investida soa como um contrassenso, mas é, na verdade, uma das maiores apostas de crescimento da alta cúpula da companhia. Isso porque o Kuiper poderá consumir cerca de US$ 23 bilhões ao longo do tempo — só os lançamentos devem engolir cerca de US$ 15 bilhões. O pico de investimentos da Amazon no Kuiper deve ocorrer no quarto trimestre de 2025, com um desembolso estimado em US$ 1,1 bilhão. A conta não é pequena, mas há uma visão de retorno: espera-se uma receita anual de US$ 7,2 bilhões até 2032, ancorada em algo como sete milhões de usuários.

O problema? O Kuiper está correndo atrás de uma gigante. A SpaceX, de Elon Musk, não só saiu na frente como abriu uma avenida. Já colocou mais de 9 mil satélites em órbita e conquistou seis milhões de assinantes com a Starlink. Além disso, domina o mercado de lançamentos com sua tecnologia de foguetes reutilizáveis, onde reina sozinha. A Blue Origin, empresa aeroespacial do próprio Jeff Bezos, ainda engatinha: seu foguete New Glenn só chegou à órbita em um único teste. Enquanto isso, a Amazon tem que se contentar em pagar preço de mercado pelos lançamentos. A disparidade de ritmo é notável. A SpaceX foi recentemente avaliada em US$ 400 bilhões — um monstro privado. A Amazon, embora tenha capital para tentar algum tipo de participação no serviço rival, provavelmente terá que assistir de camarote ao domínio de Musk, pelo menos por enquanto. Em resumo: a corrida espacial corporativa virou guerra de bilionários — e Bezos ainda está aquecendo, enquanto Musk já orbita.

· 04:11 — Petróleo em alta

Os contratos futuros de petróleo voltaram a subir e atingiram o nível mais alto em três semanas, reanimando um mercado que vinha pressionado. A alta reflete dois vetores principais: a perspectiva de novas sanções dos Estados Unidos à Rússia, que poderiam restringir ainda mais a oferta global, e uma inesperada intensificação nas importações de petróleo por parte da China. O curioso é que esse avanço ocorre mesmo diante de um aumento significativo de produção pela Arábia Saudita. Em junho, o reino elevou sua produção em cerca de 700 mil barris por dia, alcançando 9,8 milhões — um patamar bem acima de sua cota formal.

A elevação saudita não foi isolada. Iraque, Kuwait e Emirados Árabes Unidos também entregaram produção em linha com ou acima de seus tetos mensais, segundo o relatório mais recente da Agência Internacional de Energia (AIE). A justificativa não poderia ser mais geopolítica: a escalada entre Israel e Irã no último mês adicionou um grau de urgência à produção regional. O Irã, por sua vez, foi na direção oposta — sua produção caiu 400 mil barris por dia, refletindo diretamente o impacto do conflito.

Apesar desse novo ímpeto de produção, o mercado ainda se depara com um problema difícil de contornar: um superávit estrutural que não desapareceu. Desde meados de junho, os preços do petróleo já cederam cerca de 13%, pressionados pela combinação de estoques elevados e desaceleração no consumo global. Agora, os aumentos de oferta estão colidindo com esse excesso, criando uma situação em que o mercado precisa decidir se teme mais o risco geopolítico ou a realidade de um mundo com petróleo demais. O resultado é essa gangorra de preços — cada vez mais reativa a manchetes e menos ancorada em fundamentos de equilíbrio entre oferta e demanda.

· 05:07 — Chegamos aos US$ 120 mil

Em pleno voo histórico, o Bitcoin acaba de ultrapassar a marca dos US$ 120 mil nesta manhã, renovando suas máximas absolutas. Os últimos dias foram particularmente generosos com o universo cripto. O setor surfou o bom humor dos mercados de tecnologia, impulsionado por apostas renovadas em cortes de juros por parte do Federal Reserve já em setembro, novas entradas líquidas em ETFs de cripto à vista e um pano de fundo regulatório menos hostil — ou, ao menos, com sinais de racionalização. Legisladores americanos devem votar nas próximas semanas uma série de propostas voltadas à regulação de ativos digitais, o que tem alimentado o entusiasmo dos investidores institucionais.

A performance do Bitcoin está…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.