Investimentos

O que é a meta contínua de inflação e por que a reunião do Conselho Monetário Nacional anima o mercado?

Depois da notícia, Ibovespa já subiu 1%. Para analista, cenário é bem positivo e mudança na meta de inflação deve destravar o preço das ações mais fragilizadas desde 2021, de setores sensíveis ao juro.

Por Nicole Vasselai

30 jun 2023, 13:34 - atualizado em 30 jun 2023, 13:34

Inflação - taxas de juros
Imagem: Unsplash

Nesta quinta-feira (29), o Conselho Monetário Nacional (CMN) manteve a meta de inflação em 3%, com limite de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, pelos próximos três anos e realizou uma mudança no regime de metas. A notícia animou o mercado brasileiro e o Ibovespa respondeu com alta de 1% no encerramento do dia.

Para Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, o mercado vem reagindo ao fechamento da curva de juros, que está acompanhado de uma pacificação da temática fiscal e da desaceleração da inflação nos últimos meses. Mas, em janeiro, o cenário não era esse.

“O ano começou de maneira bastante estressada. Se a gente for lembrar, o governo desafiou o Banco Central algumas vezes, sobre o posicionamento dos juros bem contracionistas no Brasil, e havia um receio de que houvesse uma mudança na meta de inflação. Mas esse receio foi se diluindo ao longo do tempo. Tanto que a meta foi mantida para 2024, 2025 e 2026”, explica Spiess.

O que muda com a meta de inflação contínua?

Uma mudança proposta pelo CMN na reunião de ontem e anunciada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é que o Banco Central passará a adotar a meta contínua de inflação. Além de Haddad, o conselho é formado pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, e pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto.

Atualmente a meta de inflação é considerada para um período fechado, de janeiro a dezembro de um determinado ano. Então, o índice, medido em dezembro e acumulado desde janeiro, deve estar dentro da meta. Em 2023, a meta é de 3,25%.

Já no modelo contínuo, a inflação tem que estar na meta ao longo de um horizonte de tempo, independente de data fechada.

O ministro da Fazenda prevê um horizonte de 24 meses, mas a definição do período caberá ao Banco Central.

“Quando se abre um debate de revisionismo da meta de inflação, você não o conclui sem que haja alguma mudança; é necessário alterar alguma coisa. No caso, a gente alterou o horizonte de atuação e ficamos mais alinhados com normas internacionais mais sofisticadas, tanto que o próprio Banco Central defendia essa atuação“, explica o analista.

Segundo ele, foi uma vitória muito importante da ala mais contracionista do governo do ponto de vista político-monetário: “Só quem seguia o modelo de meta de inflação que tínhamos é a Turquia, então estamos nos movimentando para algo mais ‘civilizado‘”.

A única questão que segue com alguma nebulosidade é sobre como a medida será implementada. “A formalização em si não veio. A própria fala do Haddad foi um pouco confusa e não deixou claro se a implementação será via decreto do BC ou por outro meio. Mas, de qualquer forma, foi muito positivo e a gente pode ter uma continuação na queda de expectativas de inflação por conta dessa decisão, porque tem um ‘efeito-certeza'”.

Com esse cenário, a Bolsa pode sonhar com os 150 mil pontos no final do ano?

Se continuarmos nessa toada positiva, não vejo por que não“, responde Spiess. “E eu nem estou sendo construtivo com Brasil, eu estou falando de um Brasil médio, que é o que a gente precisa para ver um ‘catch-up’ de valuation na Bolsa, que há tanto tempo a gente precisa“.

Mas ele ressalta que não será um caminho linear e, inclusive, prefere que haja correções de preço no meio do caminho. “O importante é que a trajetória é positiva”.

Para o analista, quem mais deve se beneficiar desse ambiente são todos os setores mais sensíveis ao fechamento da curva de juros e que têm sofrido de junho de 2021 até agora, principalmente as small caps e cíclicas domésticas. “Todas aquelas que apanharam muito nos últimos dois anos, que têm muito endividamento e setores associado a crédito também, como varejo, incorporadoras, shoppings, energia, devem se recuperar e subir“.

Confira a fala completa do analista da Empiricus Research, Matheus Spiess, no Giro do Mercado de hoje:

Sobre o autor

Nicole Vasselai

Editora do site da Empiricus. Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero, com MBA em Análise de Ações e Finanças e passagem por portais de notícias e fintechs.

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