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Preocupações fiscais voltam à atenção do mercado, agora com proposta relacionada aos precatórios; confira

Na manhã de hoje (27), Campos Neto discute proposta relacionada aos precatórios em audiência na Câmara e encontra presidente Lula à tarde

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Data de publicação
27 de setembro de 2023
Categoria
Investimentos
‘Esses precatórios têm retornos tão brutais que os bancos não querem dividir com o cliente’: títulos rendendo até 210% do CDI são exclusividade da Empiricus Investimentos
Imagem: Pexels

Bom dia, pessoal. Os investidores continuam a lidar com preocupações persistentes sobre o possível aumento das taxas de juros nos EUA. Os mercados globais receberam apenas uma liderança modesta dos índices de Wall Street, que sofreram fortes quedas nas negociações do pregão de ontem, muito por conta da crescente inquietação relacionada a uma série de sinalizações contundentes do Federal Reserve. O aumento nos rendimentos dos títulos do Tesouro foi uma fonte significativa de pressão sobre as ações de tecnologia, ao mesmo tempo que desviou capital de ativos de risco mais amplos em todo o mundo.

Os dirigentes do Fed afirmaram que as taxas de juros poderiam subir pelo menos uma vez ainda este ano e provavelmente se manterão acima de 5% até o final de 2024. Além disso, o sentimento em relação às ações dos EUA foi prejudicado pelos crescentes receios de um possível shutdown do governo, um cenário que os analistas alertam que poderia prejudicar o crescimento econômico. Como resultado, as ações na Ásia também apresentaram quedas adicionais nesta quarta-feira, embora o mercado chinês tenha se recuperado um pouco após dados relativamente positivos e promessas de mais estímulos.

A ver…

· 00:45 — Uma aproximação válida

No Brasil, as preocupações fiscais estão voltando cada vez mais à atenção dos investidores, agora com a proposta relacionada aos precatórios, que pode parecer suficientemente fora do padrão para deixar os economistas locais apreensivos. A questão será discutida pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, durante sua audiência na Câmara pela manhã. Além disso, ele terá um encontro com o presidente Lula no final da tarde de hoje, marcando a primeira vez que os dois se encontram, o que parece uma aproximação importante dada a situação atual.

O que talvez não tenha recebido tanta atenção é a percepção de que a Reforma Tributária, que já estava muito incerta em sua tramitação no Senado, vai sofrer atrasos. O relator do projeto, o senador Eduardo Braga, afirmou que não apresentará seu texto em setembro e provavelmente o fará apenas no próximo mês. Nos bastidores, os ajustes exigidos pelos senadores ainda não foram concluídos. Portanto, não sabemos se a votação ocorrerá em novembro ou dezembro.

É importante lembrar que, depois de aprovado no Senado, o texto ainda precisa retornar à Câmara para a validação das várias mudanças que podem ter ocorrido.

· 01:30 — Curva estourada

Nos Estados Unidos, uma combinação do aumento dos rendimentos dos títulos e estresse fiscal do governo levou a uma queda generalizada nas ações ontem. O rendimento dos títulos do Tesouro dos EUA de 10 anos atingiu uma máxima de 16 anos, chegando a quase 4,6%. Isso representa um aumento de 130 pontos-base desde abril e quase 50 pontos desde o início do mês, o que fortaleceu o dólar e enfraqueceu os ativos de risco globalmente (pressionando as curvas de juros).

Todos os 11 setores do S&P 500 perderam terreno na terça-feira, com os serviços públicos sendo os mais afetados, registrando uma queda de 3%. Esse setor é considerado um grupo clássico de “proxy de títulos”: quando os rendimentos aumentam, as ações de serviços públicos tendem a cair. As ações das grandes empresas de tecnologia, que impulsionaram o S&P 500 ao longo de 2023, também foram duramente atingidas. Nesta manhã, os futuros do mercado americano tentam uma recuperação, mas de forma hesitante, sem grandes movimentações.

· 02:19 — Paralisar ou não paralisar, eis a questão

Os Estados Unidos estão se encaminhando para um possível shutdown do governo em 1º de outubro, apesar de algum progresso na Câmara e no Senado em relação a projetos de lei de gastos. Houve um acordo temporário que estendeu o financiamento do governo até meados de novembro. Os líderes do Senado apresentaram seu próprio projeto de lei para evitar um shutdown, enquanto o presidente da Câmara, Kevin McCarthy, iniciou debates sobre uma série de projetos conservadores de gastos.

A dívida nacional dos EUA ultrapassou a marca dos 33 trilhões de dólares, aumentando a um ritmo alarmante, com um acréscimo de 1 trilhão de dólares apenas nos últimos três meses. O déficit orçamentário, que representa a diferença entre os gastos do governo e suas receitas, atingiu 1,5 trilhão de dólares nos primeiros 11 meses do ano fiscal, representando um aumento de 61% em relação ao ano anterior. O recente aumento das taxas de juros tornou mais caro para o governo pagar suas dívidas. Um shutdown agora só agravaria essa situação.

As próximas 24 horas serão cruciais para resolver esse problema. Se isso não acontecer, o governo dos EUA enfrentará uma paralisação pela primeira vez desde 2019. Historicamente, um shutdown tende a gerar mais ruído do que sinal. No entanto, desta vez pode ser diferente devido à falta de tempo, pois já vimos no primeiro semestre como os atrasos na conclusão levaram a Fitch a rebaixar a classificação de crédito soberano dos EUA de AAA para AA+ em agosto.

· 03:08 — A eleição já começou: lições sobre a espiral preços-salários

Joe Biden fez história ao se tornar o primeiro presidente em exercício dos Estados Unidos a se unir a trabalhadores em greve, juntando-se a membros do sindicato United Auto Workers (UAW) no Michigan ontem. Ele expressou apoio aos manifestantes, afirmando que eles merecem um aumento salarial significativo. Em um cenário ideal, o crescimento médio dos salários deve superar sempre a inflação. Isso se torna mais possível quando a inflação se aproxima da meta de 2% estabelecida pelo Fed. Nessas circunstâncias, os salários podem crescer de forma sustentável entre 3% e 4% ao ano sem impulsionar demasiadamente os preços.

No entanto, o sistema enfrenta colapsos quando a taxa de inflação se aproxima dos 10%, como ocorreu no ano passado. Esse cenário é prejudicial, levando os trabalhadores a demandarem aumentos substanciais para compensar as perdas. Isso é uma das principais razões pelas quais o sindicato UAW está exigindo aumentos salariais de 40% ao longo de quatro anos. No entanto, o presidente Biden parece ter esquecido que o país está lutando contra a inflação, a qual costuma impactar de maneira desproporcional as classes financeiramente menos favorecidas, que ele afirma defender. Isso reflete uma certa hipocrisia e oportunismo típicos da classe política pragmática. A campanha eleitoral nos Estados Unidos já está em andamento.

No entanto, não é apenas Biden que busca capitalizar o movimento sindical. Seu antecessor e provável rival em 2024, Donald Trump, planeja se encontrar hoje com membros atuais e aposentados da UAW no estado dos Grandes Lagos. Com candidatos à presidência como esses, os americanos parecem não precisar de inimigos. Essa situação ressalta a relevância da greve, com mais de 18.300 pessoas paralisando suas atividades. Como resultado, a produção de automóveis na América do Norte pode em breve ficar estagnada.

Os impactos podem se estender a longo prazo. Se a greve persistir e os estoques de veículos diminuírem, é provável que os preços de carros novos e usados da Ford, GM, Chrysler, Dodge, Jeep e Fiat aumentem. Além disso, fornecedores de componentes automotivos, como faróis e freios, podem receber menos pedidos, levando a demissões. Os trabalhadores demitidos ou em greve terão um poder de compra reduzido, possivelmente prejudicando as empresas em regiões do Centro-Oeste que dependem da indústria automotiva. Estima-se que apenas 10 dias de greve possam custar 5,6 bilhões de dólares em perdas. Para um país que já enfrenta desafios, os Estados Unidos acabaram de adicionar mais um à lista.

· 04:20 — Os problemas chineses não param de chegar

Na Ásia, apenas as ações chinesas conseguiram se manter fora da tendência de correção, em grande parte devido ao renovado entusiasmo dos investidores em relação aos estímulos econômicos na China. Apesar das contínuas preocupações de que a crise imobiliária possa afetar o crescimento econômico, os investidores parecem persistir na ideia de que o governo chinês tem capacidade para intervir e preservar a estabilidade do país, mesmo diante dos cortes nas projeções do PIB.

Uma boa notícia foi o desempenho dos lucros industriais na China, que apresentaram uma redução menos acentuada na comparação anual. A queda ainda é de 11,7% de janeiro a agosto, mas representa uma melhora em relação aos 15,5% registrados anteriormente. Essa melhora na margem se soma à percepção de que os estímulos implementados desde julho estão começando a ter algum impacto. Além disso, é importante mencionar que a China possui outras estratégias à disposição para estabilizar seu mercado interno, o que contribui para manter a confiança dos investidores.