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Mantendo a esperança

Finalmente um mês negativo nas bolsas americanas; entenda o momento atual do mercado.

Por Tony Volpon

6 de maio de 2024, 13:32

Fonte: Shutterstock

Finalmente um mês negativo nas bolsas americanas. Oportunidade de compra ou o começo de uma correção mais profunda (seguindo o ditado “sell in May and go away)?

No mês passado, tínhamos alertado para o fato de que os fundamentos que ajudam a determinar a inflação estavam mais para um “no landing” do que para o pouso suave sinalizado pelo Fed e desejado pelo mercado.

E os dados durante o mês – especialmente os dados de inflação – foram todos nessa direção, com algumas pequenas exceções. O CPI (Consumer Price Index), por exemplo, foi de 3,5% no acumulado dos últimos 12 meses, fechando março em 0,4%, assim como em fevereiro. 

Lembramos que, na última reunião do Fed, Powell disse que era importante “não ter uma reação exagerada” aos dados mensais, e a parte mais dovish do mercado continuava acreditando que os dados estavam poluídos por fatores sazonais típicos do início do ano. Mas, depois de março, tais argumentos acabaram perdendo força: houve uma clara aceleração da inflação americana no início do ano.

Isso não deveria ser nenhuma surpresa. Só que, mais uma vez, o mercado ficou muito impressionado com o forward guidance otimista do Fed e a pivotada dovish de dezembro, esquecendo de olhar os fundamentos.

As condições financeiras (estou aqui usando o índice do Chicago Fed) começaram a ficar mais expansionistas no meio de 2023, e esse movimento acelerou no final do ano. E, a despeito da recente correção altista nas taxas das Treasuries e das bolsas, há somente uma leve reversão contracionista no final de abril que deve ser revertida com o movimento dos mercados nos últimos dias.

O patrimônio líquido das famílias (total net worth) no final do ano estava subindo 8,4%, com os preços dos imóveis subindo 6,6% no ano – a despeito de taxas de financiamento imobiliário superando os 7% ao ano. Mais um dado interessante: o pagamento de juros pelo Tesouro americano superou 1 trilhão de dólares nos últimos doze meses. Em 2020, essa cifra estava em 450 bilhões de dólares. Se os juros não caírem, o Bank of America calcula que chegaremos a 1,7 trilhão em 2025.

Há algumas qualificações. É verdade que muitos desses benéficos estão se concentrando no topo da pirâmide de renda – aqueles que têm mais ativos do que passivos. Assim, dados como inadimplência nos cartões de crédito ou em empréstimos para a compra de automóveis estão subindo. E o setor de imóveis comerciais está em plena crise, apesar do jogo de “extend and pretend” entre as empresas do setor e o sistema bancário.

Mas o “conjunto da obra” ainda aparece muito saudável. Não devemos esquecer talvez os mais importantes condicionantes da demanda agregada: o déficit fiscal está rodando perto de 6%, e a média desde 2020 está em 9,4% ao ano. E, com as pesquisas eleitorais ainda dando Trump como vitorioso, o governo Biden está em modo populismo fiscal (mais um pacote de perdão de empréstimos estudantis foi anunciado recentemente).

Com esse cenário, o mercado chegou na reunião do Fed bastante preocupado, especialmente depois de falas hawkish por Jay Powell durante as reuniões de primavera do FMI em Washington. Seria possível ver uma pivotada hawkish anulando o que ocorreu em dezembro?

Felizmente não – para o mercado. Foi muito ao contrário, reconhecendo no comunicado que o “progresso continuado” na convergência da inflação à meta de 2% foi interrompido no início do ano. Powell, porém, afirmou sua forte convicção de que a inflação em breve voltará a se comportar melhor com condições monetárias restritivas. É só uma questão de tempo para voltar ao caminho da convergência.

Durante a conferência de imprensa, os repórteres tentaram de todas as maneiras tirar de Powell qual o cenário para o Fed voltar a subir os juros, mas Powell permaneceu resoluto em sua convicção que o próximo movimento será de queda.

E, seguindo a ideia de que o que importa é o último dado, o número de novos empregos (Non-farm payroll) para abril saiu em 175 mil contra 240 mil esperados, com salários subindo somente 0.2% e a taxa de desemprego subindo para 3,9% – o tipo de número “goldilocks” que o mercado desesperadamente gostaria de ver, mostrando que Powell acertou em sua mensagem dovish.

Assim começamos maio de forma bem mais positiva do que foi abril. Sigo uma regra que, se não infalível, tem uma taxa de acerto bastante alta: se o payroll for positivo, o mês será positivo: buy the April dip!

Apesar do payroll, não vamos esquecer que ainda temos uma economia com demanda sobreaquecida e com uma inflação atolada acima de 2%. Powell certamente não vai mais subir os juros neste ciclo, mas o caminho para cortar o fed funds ainda não existe. Os dados de inflação ao longo do mês vão ditar se a reação positiva aos dados do mercado de trabalho terão ou não fôlego para continuar.

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Tony Volpon