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Dados de inflação de fevereiro nos EUA e no Brasil e repercussão do discurso da presidente do BCE são destaques desta quarta-feira (12)

No aguardo do IPCA de fevereiro e índice de inflação ao consumidor dos EUA, o mercado observa as perdas das ações americanas. Leia mais.

Por Matheus Spiess

12 mar 2025, 09:20 - atualizado em 12 mar 2025, 09:20

Imagem: iStock/tadamichi

Os mercados internacionais tentam se recompor nesta manhã, ainda zonzos depois de mais um golpe da política comercial errática de Donald Trump. No mais recente capítulo dessa novela tarifária sem roteiro definido, a Casa Branca confirmou que entraram em vigor as tarifas de 25% sobre o aço e o alumínio importados pelos EUA. O Brasil, claro, não escapou da nova taxação e agora corre atrás do prejuízo, enquanto Brasília tenta, sem muito alarde, reviver um acordo nos moldes de 2018. 

O problema é que essa montanha-russa de incertezas não sai de graça. O vaivém tarifário desgasta o mercado e gera instabilidade, principalmente entre os ativos americanos, que têm sido castigados. A decisão de Trump de recuar na sobretaxa de 50% sobre o aço e o alumínio canadenses é um exemplo claro da falta de coerência na estratégia comercial — a pressão da alta nos custos de energia em Ontário, que afetaria os EUA, falou mais alto, constrangendo o presidente americano.

Enquanto isso, os índices europeus operam em alta, tentando se recuperar após um dia de sentimentos mistos na Ásia. Os futuros americanos também sobem, ainda que comedidamente, enquanto os investidores aguardam ansiosos os dados de inflação de fevereiro nos EUA e no Brasil, ambos programados para esta manhã. No radar, também repercute o discurso da presidente do BCE, Christine Lagarde, que reforçou preocupações sobre a fragmentação comercial crescente — um eufemismo elegante para a bagunça que Trump continua promovendo no comércio global.

· 00:53 — Espaço para o fim do aperto monetário

No Brasil, o dia é marcado pela divulgação do IPCA de fevereiro, que deve acelerar, impulsionado principalmente pela devolução do bônus de Itaipu na tarifa de energia elétrica – um efeito que já havíamos antecipado no final do ano passado. Não adiantava o governo comemorar a inflação artificialmente baixa de janeiro, como fez, pois o alívio era temporário. Agora, o jogo vira: fevereiro deve registrar uma inflação de 1,32%, levando o acumulado em 12 meses acima de 5%. Receita perfeita para o governo entrar ainda mais em modo desespero, especialmente porque os grupos de alimentação e bebidas, além de transportes, devem continuar pressionando o índice.

Naturalmente, um número abaixo das expectativas poderia reforçar o dado de atividade industrial divulgado ontem (11), abrindo espaço para um aperto monetário menos intenso. Mas esse cenário esbarra no maior problema da atual gestão: o completo desequilíbrio entre discurso e ação. O governo tenta acelerar a economia com o freio de mão puxado (juros), sabotando qualquer tentativa de ajuste estrutural. Hoje, por exemplo, Lula assinará a MP que cria o novo empréstimo consignado para trabalhadores do setor privado – uma linha de crédito em que as parcelas são descontadas diretamente na folha de pagamento. Se, por um lado, o Banco Central busca esfriar a atividade para controlar a inflação, por outro, o governo implementa medidas que estimulam o consumo e pressionam ainda mais os preços. O resultado? Um cenário onde se aceita implicitamente juros e inflação mais altos, mas sem assumir as consequências disso.

E o pior: o governo não quer uma inflação elevada, mas combate o problema com remendos e flertes heterodoxos, sem nenhuma solução estrutural. A cereja do bolo é a expectativa pela isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, uma medida mal concebida e, na prática, insustentável do ponto de vista fiscal. Enquanto isso, o país segue sem um Orçamento aprovado para 2025 – algo que, com sorte, deve ocorrer na próxima semana – e a tão falada reforma ministerial sumiu do radar (Lula perdeu o timing). O grau de desorganização é tamanho que já se cogita reduzir a lista de prioridades da equipe econômica, um efeito previsível da entrada de Gleisi Hoffmann na Secretaria de Relações Institucionais. Como esperado, bastou um dia no cargo para seus esforços começarem a esvaziar os planos de Haddad. Com o governo perdido e sem foco, o mercado segue sem referência, à mercê da turbulência.

· 01:41 — Sob pressão

Nos EUA, o S&P 500 refletiu a escalada da guerra comercial e os desdobramentos das negociações entre Ucrânia e EUA. O índice encerrou a sessão no nível mais baixo desde setembro, pressionado pelo clima de incerteza que tomou conta dos mercados. Como se não bastasse, Larry Summers, ex-secretário do Tesouro, jogou ainda mais lenha na fogueira ao afirmar que há uma chance de quase 50% de uma recessão.

Trump, por sua vez, tentou minimizar a forte queda do mercado, afirmando que não vê sinais de desaceleração econômica. O problema? Ele próprio contribuiu para o pânico no final de semana ao admitir publicamente que uma recessão poderia acontecer – tarde demais para conter o estrago. O reflexo desse desajuste pôde ser visto no S&P 500, que chegou a entrar brevemente em território de correção antes de uma leve recuperação no fechamento. Já o Nasdaq, que esteve prestes a atingir a marca de -10% desde seu pico em 19 de fevereiro, limitou as perdas a 9,3%.

Oscilações são normais quando uma nova administração implementa suas políticas, mas, como em tantas outras áreas dos anos Trump, este ciclo tem sido qualquer coisa, menos convencional. A incerteza gerada pelas mudanças erráticas na Casa Branca, especialmente no que diz respeito às tarifas, representa um risco concreto de contágio para a economia real. Se o caos continuar sem controle, a volatilidade do mercado pode se transformar em uma contração econômica palpável.

Além disso, o nível de juros continua sendo um fator crítico. Hoje (12), os investidores aguardam a divulgação do índice de inflação ao consumidor, que deve registrar alta de 0,3% em fevereiro e 2,9% no acumulado de 12 meses. Um número abaixo das expectativas poderia alimentar apostas em cortes de juros no segundo semestre. Mas há um limite: se o dado vier fraco demais, o temor de recessão ganha força e a euforia por juros mais baixos se transforma rapidamente em pânico nos mercados.

· 02:38 — The Boy Who Cried Wolf

Todo mundo conhece a fábula do jovem pastor que repetidamente grita sobre um lobo que não existe, até que, quando o perigo finalmente aparece, ninguém mais acredita nele. O jogo de Trump com as tarifas parece estar trilhando um caminho semelhante. A cada nova sanção, ameaça, recuo e reviravolta, a previsibilidade da política comercial americana se dissolve um pouco mais – e, com ela, a paciência dos mercados.

Ontem, um grupo de cerca de 100 CEOs das maiores empresas dos EUA – incluindo Apple, JPMorgan e Walmart – se reuniu para pressionar Trump a encerrar a guerra comercial. A principal reivindicação? Que a Casa Branca e o Congresso preservem os benefícios do acordo de livre comércio com México e Canadá. O timing da reunião não foi coincidência: foi logo depois disso que Trump recuou das tarifas mais agressivas sobre o aço e o alumínio canadenses, e o Canadá, por sua vez, cancelou a retaliação que planejava impor sobre a eletricidade exportada para os EUA — Ontário chegou a ameaçar sobretaxar em 25% a energia enviada para Nova York, Michigan e Minnesota.

Mas até quando esse jogo de empurra e recua pode continuar sem que o mercado simplesmente pare de levar a sério as ameaças de Trump? As tarifas de 25% sobre o aço e o alumínio em geral já entraram em vigor, mas, ao atacar aliados históricos de maneira tão errática, o governo americano está brincando com um equilíbrio geopolítico delicado. As retaliações são inevitáveis e, embora tarifas sobre produtos chineses tenham um espaço político mais óbvio, estender essa ofensiva a parceiros estratégicos como Canadá e México parece uma jogada desnecessariamente agressiva – para não dizer contraproducente. E vale lembrar: nem completamos dois meses de governo. 

· 03:25 — Aceitou

A Ucrânia finalmente cedeu à pressão e aceitou a proposta dos EUA para um cessar-fogo imediato de 30 dias. Como parte do acordo, Kiev também se comprometeu a acelerar a conclusão do tratado sobre minerais raros com os americanos – uma peça-chave do tabuleiro geopolítico que Trump quer consolidar o quanto antes.

Em resposta, a Casa Branca suspendeu a pausa na ajuda militar e no compartilhamento de inteligência com os ucranianos. Mas há um detalhe crucial: a Rússia ainda não deu sua aprovação. Se o Kremlin concordar nos próximos dias, teremos a primeira interrupção do conflito em três anos. No entanto, ninguém deve se iludir. Vladimir Putin continua irredutível em suas exigências por concessões territoriais, presença de forças de paz e a neutralidade de Kiev em qualquer acordo definitivo.

Enquanto isso, outro front diplomático se abre com as negociações para a segunda fase do cessar-fogo em Gaza. Em meio ao caos comercial e às incertezas sobre as tarifas de Trump, o mercado encontra algum alívio com a possibilidade de redução do prêmio de risco geopolítico no curto prazo (ajuda os mercados nesta manhã). Mas a questão maior persiste: as concessões feitas hoje podem estar plantando as sementes para uma ruptura formal das fronteiras estabelecidas no pós-1945. 

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· 04:12 — Transferência de riqueza

A maior transferência de riqueza intergeracional da história dos Estados Unidos já está em curso. Estima-se que, nos próximos 25 anos, cerca de US$ 105 trilhões passem das gerações mais velhas para seus herdeiros – um valor que equivale, grosso modo, ao PIB global de 2023. O fenômeno é impulsionado por décadas de valorização do mercado de ações, alta dos preços dos imóveis e, claro, pela inflação. Isso significa que os baby boomers, nascidos entre 1946 e 1964, deixarão para trás um patrimônio monumental, consolidando o que pode ser chamado de a era da herança.

A magnitude desse evento econômico surpreende até mesmo os especialistas: a estimativa para essa transferência de riqueza cresceu 45% em apenas três anos. Para se ter ideia, só em 2025, as heranças e doações nos EUA devem somar US$ 2,5 trilhões. Mas, apesar do volume impressionante, o dinheiro não será distribuído de forma homogênea. Pelo contrário: a riqueza permanecerá fortemente concentrada.

O efeito? A economia americana está se afastando de seu ideal de meritocracia e se transformando, cada vez mais, em uma máquina de dinastias. O capital herdado responde por uma fatia crescente da riqueza total das famílias, superando cada vez mais a participação da renda gerada pelo trabalho ou pelos investimentos.

Para muitos americanos, construir patrimônio por conta própria tem se tornado uma ilusão – o diferencial é ter nascido na família certa. Embora a narrativa tradicional dos EUA ainda exalte o empreendedorismo e o esforço individual, os números mostram que a mobilidade social está encolhendo. A herança, que historicamente era um fator periférico na construção de riqueza, agora se consolida como uma força dominante. 

· 05:09 — Um novo ano recorde

A Direcional (DIRR3) abriu a semana com a divulgação de seus resultados do 4T24, encerrando mais um ano histórico para a incorporadora. Como já havia sido antecipado na prévia operacional, a companhia entregou 20 lançamentos/etapas no trimestre, acumulando um Valor Geral de Vendas (VGV) de R$ 1,8 bilhão, dos quais R$ 1,4 bilhão correspondem à participação da Direcional.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.