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Super Quarta, cúpula do G7 e continuidade dos conflitos entre Israel e Irã são alguns dos destaques da semana; confira

A semana de feriado será marcada por novas definições nas taxas de juros no Brasil e nos EUA. Confira.

Por Matheus Spiess

16 jun 2025, 09:19 - atualizado em 16 jun 2025, 09:19

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Imagem: iStock/ Nuthawut Somsuk

No cenário internacional, o prolongamento das trocas de mísseis entre Irã e Israel ao longo do fim de semana não foi capaz de abalar significativamente os mercados financeiros. A surpresa veio mesmo com a intensidade do primeiro ataque israelense, que, pela sua magnitude, não deixou de provocar reações. Ainda assim, os desdobramentos econômicos mais imediatos do conflito seguem concentrados nos preços da energia, como de costume. A questão central agora se desloca para os EUA: com o petróleo pressionado para cima e as tarifas comerciais começando a se infiltrar no índice de preços, o temor passa a ser o efeito conjunto sobre as expectativas de inflação — justo no momento em que o Fed tenta calibrar o pouso da economia.

A semana se desenha como um verdadeiro cruzamento de frentes sensíveis: teremos Super Quarta, com decisões de política monetária no Brasil e nos EUA. Além dos dois, também entram em cena os bancos centrais do Japão, Reino Unido, China e Turquia. Espera-se manutenção das taxas em todos eles, com a possível exceção do Brasil, onde ainda paira a possibilidade de alta residual na Selic. Para adicionar uma pitada de volatilidade ao roteiro, teremos feriados em sequência — Corpus Christi por aqui e Juneteenth nos Estados Unidos —, o que esvazia os mercados na quinta-feira (19) e potencializa movimentos abruptos em sessões de menor liquidez. Como se não bastasse, a cúpula do G7 começa no Canadá com um ingrediente geopolítico a mais: será a primeira participação de Donald Trump desde o retorno à Casa Branca.

Enquanto isso, as bolsas europeias oscilam entre o otimismo técnico e a apreensão geopolítica, reagindo mais aos dados econômicos do que ao barulho das explosões. O petróleo, por sua vez, recua — não por alívio com a tensão no Oriente Médio, mas por preocupações renovadas com a demanda chinesa e a possibilidade de desaceleração global. Neste momento, seguimos como passageiros de um trem instável, tentando interpretar o mapa do caminho pelo comportamento do preço do barril de petróleo. Por ora, a commodity continua sendo nosso melhor termômetro para medir a febre.

· 00:57 — 2026: a ressaca do populismo e a conta da demagogia

No Brasil, o Ibovespa encerrou a semana em queda, refletindo o movimento global de aversão a risco deflagrado pelos ataques de Israel ao Irã. O cenário interno tampouco oferece alívio: a novela do IOF continua, com o governo e o Congresso em rota de colisão e a ameaça real de um Projeto de Decreto Legislativo (PDL) que pode enterrar o pacote arrecadatório da Fazenda. Mais uma vez, a fórmula do puxadinho improvisado e da tensão política substitui o planejamento e o diálogo — e o mercado toma nota.

Apesar disso, os juros ainda elevados funcionam como ímã para o capital estrangeiro, especialmente em um mundo onde o apetite por retorno real continua vivo. O Brasil segue se beneficiando de valuations deprimidos, fluxo técnico favorável e, paradoxalmente, da percepção de que, mesmo caótico, o país oferece prêmio (e a chance de uma guinada política em 2026) — aliás, vale conferir as oportunidades em microcaps que a Empiricus está selecionando. Com uma possível alta residual de 25 pontos-base na Selic nesta Super Quarta (18), o aperto monetário se impõe, ainda que a economia real já dê sinais claros de enfraquecimento. Enquanto isso, o governo se equilibra como pode entre incêndios políticos e mais da velha deterioração fiscal.

A inflação segue elevada e o mal-estar econômico se espalha, corroendo o capital político de Lula. Na sexta-feira, novas pesquisas de opinião voltaram a escancarar a perda de popularidade do presidente e o aumento do espaço para uma alternativa de perfil reformista, pró-mercado e comprometida com o ajuste fiscal — personificada, até o momento, por Tarcísio de Freitas, cuja trajetória tem ganhado tração. Em contraste, Lula, que completa 80 anos em outubro, parece cada vez mais ancorado a um modelo político datado, insistindo em um receituário que o país já não está disposto a seguir. Os paralelos com Joe Biden são inevitáveis: um líder que encarna uma ordem envelhecida, sem capacidade de renovação, e que agora enfrenta o risco real de não concluir sua ambição por um novo mandato. É cedo para descartá-lo. Mas, pela primeira vez desde seu retorno ao Planalto, até mesmo os aliados mais fiéis começam a questionar se ainda há gás suficiente para sustentar sua narrativa até 2026.

No campo econômico, o Brasil continua apresentando fundamentos que não devem ser ignorados: crescimento aceitável (ainda que não necessariamente sustentável), inflação em trajetória de desaceleração — embora ainda acima da meta — e contas externas robustas. Mas a chave está, como sempre, na política fiscal. Se houver coragem para um ajuste estrutural de verdade em 2027, sem maquiagem ou procrastinação, o país poderá finalmente acessar a janela de oportunidade que se abre à sua frente.

Para isso, o Brasil exige um projeto reformista claro, tecnicamente consistente e conduzido por uma liderança com convicção e capital político suficientes para levá-lo adiante. E, a julgar pela crescente fadiga com o governo atual, a virada em 2026 parece cada vez mais nas mãos da oposição — desde que consiga se articular em torno de um nome viável, com baixa rejeição e capacidade de diálogo. Nesse cenário, mais uma vez Tarcísio de Freitas desponta como a figura mais competitiva, reunindo atributos que o transformam, até aqui, no principal ponto de convergência para quem busca mudança com pragmatismo, unindo a direita e o centro político.

· 01:43 — O Brasil se beneficiando da guerra comercial

O recente pacto entre Estados Unidos e China trouxe uma trégua parcial na guerra comercial, com a redução das tarifas impostas em abril — os EUA recuaram para 30% e a China, para 10%. Apesar disso, o alívio foi seletivo: produtos do agronegócio norte-americano seguiram enfrentando tarifas elevadas, sendo usados como instrumento de barganha por Pequim para extrair concessões adicionais de Washington. E é justamente nesse ponto que o Brasil entra na equação.

A atual disputa tarifária abriu espaço para o agronegócio brasileiro ampliar sua fatia no mercado chinês. Itens como soja, milho, algodão e proteínas — segmentos em que Brasil e EUA disputam diretamente a preferência chinesa — passaram a ser beneficiados por um diferencial tarifário expressivo. E, mesmo após o acordo provisório, essa vantagem competitiva permanece.

Mas convém não romantizar demais. O cenário atual favorece o Brasil, sim, mas está alicerçado em uma instabilidade conjuntural. Se Washington e Pequim avançarem para um entendimento mais duradouro — e é do interesse de ambos fazê-lo —, o diferencial tarifário que hoje impulsiona o agro nacional tende a desaparecer. Nesse caso, o Brasil deixaria de ser o beneficiário colateral do litígio entre superpotências e voltaria a enfrentar uma concorrência mais equilibrada, com menos margem de manobra.

· 02:38 — Foco no sumário de projeções econômicas

Nos Estados Unidos, os holofotes dos investidores se desviaram de Wall Street na última sexta-feira (13). O epicentro da atenção global passou a ser o crescente conflito entre Israel e Irã, que dominou o noticiário e impôs uma nova camada de incerteza aos mercados. Nesse contexto, os maiores movimentos do dia se concentraram no setor de energia — o único a fechar em alta no S&P 500, com avanço de 1,7%, refletindo o salto do petróleo diante do temor de interrupções no fornecimento global.

Para esta semana, o foco se desloca novamente para a política monetária. O Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) inicia nesta terça-feira (17) sua reunião de dois dias, que culmina na quarta-feira com a coletiva de imprensa de Jerome Powell. A expectativa do mercado é de manutenção das taxas de juros no patamar atual, mas a atenção estará voltada ao tom da comunicação do presidente do Fed — especialmente diante do cenário binário entre inflação resiliente e desaceleração econômica.

O mercado busca pistas mais claras sobre como o Fed enxerga o equilíbrio entre os dois pilares de seu mandato: estabilidade de preços e pleno emprego. A publicação do novo sumário de projeções econômicas, o primeiro após a adoção das novas tarifas do “Dia da Libertação”, tende a atrair ainda mais interesse. Afinal, o que se espera de Powell não é apenas a repetição do discurso técnico, mas uma sinalização concreta sobre o caminho da política monetária em um ambiente que voltou a ser imprevisível.

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· 03:24 — Substituindo Powell

Donald Trump parece decidido a reescrever, à sua maneira, o protocolo informal que rege a nomeação do presidente do Federal Reserve. Embora o atual titular, Jerome Powell, tenha mandato até maio de 2026 — e possa, em tese, permanecer como membro do conselho até janeiro de 2028 —, o presidente já vem sinalizando que pretende indicar um sucessor. E, como de costume, não tem poupado ataques públicos a Powell, a quem acusa de “idiota” por, segundo ele, manter os juros elevados. 

Nos bastidores, o nome de Kevin Warsh desponta como o favorito para liderar o Federal Reserve sob um segundo mandato de Donald Trump. Ex-diretor do Fed e figura bem conectada ao núcleo duro do trumpismo, Warsh é conhecido por seu viés político assertivo e por defender um papel mais restritivo da autoridade monetária. Seu perfil agrada a ala mais ideológica do Partido Republicano — e, ao que tudo indica, também ao próprio Trump. Outras opções são ventiladas, como o atual secretário do Tesouro, Scotto Bessent, e o diretor do Conselho Econômico Nacional, Kevin Hassett, mas nenhum deles parece reunir capital político e alinhamento ideológico suficientes para suplantar Warsh na preferência do presidente.

Caso se confirme, a escolha representaria uma inflexão significativa na condução da política monetária americana, com potenciais repercussões sobre o dólar, os juros globais e o apetite por risco nos mercados internacionais.

· 04:15 — Hostilidades continuam

O confronto entre Israel e Irã entrou em seu quarto dia sem qualquer sinal claro de trégua. Nas últimas 24 horas, o Irã lançou múltiplas ondas de drones e mísseis, enquanto Israel manteve sua ofensiva sobre Teerã, resultando na morte de mais um alto comandante militar iraniano. Desde a última sexta-feira, o número de mortos no Irã já soma 224, segundo fontes do próprio governo. Do lado israelense, os ataques do Irã causaram 23 mortes e deixaram mais de 400 feridos. A tragédia humanitária se agrava, embora, por ora, os combates permaneçam restritos ao escopo regional.

Os mercados, como era de se esperar, começam a reagir com cautela. Os temores de interrupções no fornecimento global de energia ganham corpo, com alertas de que o preço do barril de petróleo pode escalar até US$ 125, caso a situação se deteriore ainda mais. E há razões para crer que a escalada atual tem motivações que transcendem o campo militar. Os ataques israelenses ocorrem logo após o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ter sobrevivido a mais um voto de desconfiança no Parlamento — evento que comentei aqui na última segunda-feira. Há especulações de que o endurecimento na postura bélica tenha sido parte de um acordo informal com as alas mais radicais da sua coalizão, ou mesmo uma tentativa deliberada de aproveitar o intervalo de seis meses até que uma nova moção possa ser apresentada. Afinal, permanecer no cargo é condição essencial para que Netanyahu continue evitando o avanço de processos judiciais relacionados a casos de corrupção.

Do ponto de vista estratégico, o cálculo de Netanyahu parece ancorado na percepção de fraqueza do Irã. As redes de influência da República Islâmica — como Hezbollah, Hamas e os Houthis — foram duramente golpeadas nos últimos 18 meses, desde os ataques terroristas que acenderam a fase mais recente da guerra. A queda do regime de Bashar al-Assad na Síria, em dezembro passado, também representou um golpe simbólico e logístico importante para Teerã.

Diante disso, embora a retaliação iraniana fosse inevitável — ao menos para manter a narrativa interna de força e garantir alguma posição em futuras negociações —, a sua capacidade de infligir danos reais e profundos ao território israelense permanece bastante limitada. Por isso, os olhos do mercado se voltam para o verdadeiro ponto de pressão: o Estreito de Ormuz.

Como já discutido anteriormente neste espaço, qualquer ameaça concreta a essa via crucial para o comércio global de petróleo pode ter efeitos significativos sobre os preços da commodity. Por enquanto, é razoável esperar que Teerã recorra ao seu tradicional tabuleiro de guerra, mobilizando sua rede de representantes e aliados regionais como peças centrais de sua estratégia de resposta. A estabilidade segue por um fio.

· 05:02 — Mais otimismo com o Ethereum

A segunda maior criptomoeda do planeta, o Ethereum, não é exatamente um anônimo em termos de relevância financeira. Com uma capitalização de mercado ao redor de US$ 330 bilhões, a rede ocuparia uma posição de destaque entre as maiores companhias americanas listadas — à frente de nomes consagrados como IBM, Coca-Cola e Palantir, e ligeiramente abaixo do Bank of America. Ou seja, não se trata de um ativo de nicho, mas de um protagonista já estabelecido no palco global.

Nos últimos dias, um grupo de vozes influentes dentro da comunidade Ethereum publicou um relatório…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.