Investimentos

Após Senado aprovar Lei do Desenrola, Câmara vota hoje lei de tributação de fundos offshore e exclusivos; confira

Mercado também aguarda dados brasileiros de produção industrial de agosto. Nos EUA, os treasuries de 10 anos batem novo recorde de rendimento.

Por Matheus Spiess

03 out 2023, 08:52 - atualizado em 03 out 2023, 09:41

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Imagem: Pexels

Bom dia, pessoal. Uma vez mais, o rendimento dos títulos do Tesouro dos EUA de 10 anos voltou a aumentar, atingindo 4,67% na segunda-feira (2), comparado aos 4,58% de sexta-feira (29). Assim, a taxa está se aproximando do seu patamar mais alto desde 2007. Esse movimento está afetando negativamente as ações e fortalecendo o dólar. Dessa vez, a surpresa com alguns dados de atividades em setembro foi o gatilho para esse aumento.

A ideia de “juros mais altos por mais tempo” está cada vez mais presente na mente dos investidores, com apostas renovadas em um novo aumento de 25 pontos na taxa de juros pelo Fed. Qualquer alívio proporcionado pelo compromisso aprovado pelo Congresso para evitar uma paralisação foi desconsiderado.

A força do dólar americano em relação às principais moedas asiáticas foi evidente. Os mercados na Ásia estão incompletos devido ao feriado na China e na Coreia do Sul. Mesmo com liquidez limitada, as ações negociadas na região hoje não tiveram um desempenho tão bom. Os mercados europeus estão novamente em queda nesta manhã, enquanto os futuros americanos tentam se recuperar. Na agenda, aguardamos alguns dos principais dados mensais sobre o emprego nos EUA, buscando pistas sobre as perspectivas para as taxas de juros. Este é o primeiro de três indicadores de emprego da semana, que incluem o relatório ADP (amanhã) e o payroll (o mais significativo, na sexta-feira).

A ver…

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· 00:54 — Há limitação para a queda da Selic?

No Brasil, após o Caged confirmar a robustez do mercado de trabalho ontem, estamos atentos aos números da produção industrial de agosto. As expectativas médias do mercado apontam para um crescimento de 0,50% na comparação mensal, compensando parte da queda de 0,60% em julho. Se os dados superarem as expectativas, irão reforçar a vitalidade da economia brasileira, o que pode afetar negativamente a perspectiva de uma queda consistente nas taxas de juros. A melhora nos índices de confiança do consumidor e dos produtores também contribui para o otimismo, especialmente devido ao desempenho positivo da indústria de alimentos e da produção de automóveis.

Outro fator que influencia a percepção sobre a trajetória de relaxamento monetário é a situação fiscal, que atualmente enfrenta um episódio relevante. Após o Senado aprovar ontem a “Lei do Desenrola”, os deputados da Câmara votam hoje a lei que propõe a tributação de fundos offshore e exclusivos. Essa medida é crucial para que o governo possa buscar suas metas desafiadoras para o resultado primário de 2024. Além das preocupações fiscais, os investidores estão de olho nos juros americanos, que flertaram com 4,70% ao ano no título de 10 anos. Há uma crescente reflexão no mercado sobre a possibilidade das condições locais e estrangeiras não estabelecerem um piso para o ciclo de redução de juros no Brasil, um cenário que seria desfavorável.

· 01:47 — O que esperar desse mercado de trabalho?

Nos Estados Unidos, enquanto os congressistas mais extremistas do Partido Republicano buscam destituir o presidente da Câmara dos EUA, Kevin McCarthy, o que realmente captura o interesse dos investidores é o relatório sobre vagas de emprego nos EUA (JOLTS). Espera-se que tenham sido criadas 8,8 milhões de vagas de emprego no último dia útil de agosto, igualando os dados de julho. Embora as vagas tenham caído 27% em relação ao pico recorde de março de 2022, elas ainda estão acima das médias históricas.

Um número de criação de empregos abaixo do esperado poderia ajudar o mercado a lidar com os juros extremamente altos na curva de rendimentos. O mercado de futuros começou a precificar hoje uma probabilidade de cerca de 45% (cerca de 10 pontos percentuais a mais do que na sexta-feira) de outro aumento de um quarto de ponto nas taxas até o final do ano. Números de emprego mais fracos não devem descartar a possibilidade de mais um aumento, mas podem indicar um caminho mais claro para o fim do ciclo de aperto, o que seria significativo para os ativos de risco globais.

· 02:32 — Qual é a saída?

A possibilidade de uma recessão nos Estados Unidos ainda está visível, de acordo com análises da Bloomberg Economics. Vários fatores, como uma grande greve no setor automotivo, a retomada dos pagamentos de empréstimos estudantis e a ameaça de um novo shutdown do governo após o término do acordo provisório de gastos poderiam facilmente reduzir um ponto percentual do crescimento do PIB no quarto trimestre. Isso sem contar com a expectativa geral de uma desaceleração leve no final do ano.

Essas dinâmicas acontecem enquanto os efeitos plenos dos aumentos nas taxas pelo Federal Reserve estão previstos para começar a se manifestar no final deste ano ou início de 2024. No entanto, alguns otimistas apontam para a possibilidade de um aumento na produtividade e a implementação de políticas industriais pelo governo dos EUA, entre outros fatores, que poderiam sustentar o crescimento e ajudar o país a evitar uma recessão econômica grave. Alcançar um “soft landing” seria a melhor situação possível.

· 03:20 — Os problemas com a China

Enquanto os mercados chineses permanecem fechados devido ao feriado, é oportuno considerar a atual situação da segunda maior economia do mundo. Após quatro décadas de crescimento extraordinário, a economia chinesa pode estar ingressando em um período de estagnação.

O desemprego entre os jovens atingiu um recorde de 21%, a atividade industrial está em declínio, as exportações estão diminuindo devido à inflação e ao aumento das taxas de juros nos Estados Unidos e Europa, o investimento estrangeiro estagnou, as saídas de capital persistem, e o crucial setor imobiliário está fragilizado.

Os riscos econômicos e financeiros parecem mais prementes do que nunca, à medida que os limites do modelo de crescimento chinês se tornam evidentes. Os dias de crescimento de 10% ficaram para trás. O FMI projeta agora um crescimento da economia chinesa de menos de 4% ao ano nos próximos anos, uma cifra consideravelmente inferior à meta oficial do governo de cerca de 5%.

Esse desaceleramento é resultado de desafios estruturais de longo prazo enfrentados pela China, incluindo uma demografia desfavorável, elevado endividamento e a intensificação da competição geopolítica com os Estados Unidos e seus aliados. De forma crucial, parece que o povo chinês está perdendo confiança na capacidade do governo para resolver os problemas econômicos. Resta ver se os estímulos terão algum impacto.

· 04:11 — As perspectivas para o comércio global

O comércio global atingiu uma marca impressionante de US$ 32 bilhões em 2022, e a supervisão de 98% desse volume é realizada pela Organização Mundial do Comércio (OMC). A OMC desempenha um papel crucial em diversos aspectos da vida cotidiana, desde os alimentos que consumimos e as roupas que vestimos até os carros que dirigimos e os telefones que utilizamos. Ela funciona como um árbitro, proporcionando um espaço para que os países negociem acordos e resolvam disputas.

No entanto, a OMC tem sido alvo de críticas devido à sua aparente lentidão na adaptação à economia moderna e ao seu suposto favorecimento das nações ricas em detrimento das nações do Sul Global. É desconcertante que apenas 10 países sejam responsáveis por 80% das exportações mundiais de vacinas, o que demonstra uma concentração significativa. Para a instituição recuperar relevância, é necessário que seus membros renovem seu compromisso com os princípios da globalização e invistam nas economias em desenvolvimento. O Brasil pode ser um dos beneficiários desse processo.

· 05:04 — O sexto minuto: a nossa ideia do dia

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Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.

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