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Gerdau (GGBR4): hiperinflação na Argentina e importação de aço chinês impactam números do 4T23; América do Norte é destaque positivo

Apesar dos impactos na operação da América Latina, incluindo Brasil, a América do Norte é destaque positivo e mantém números resilientes no 4T23.

Por Henrique Cavalcante

21 de fevereiro de 2024, 10:26

Gerdau (GGBR4)
Imagem: Divulgação/Facebook Gerdau

A Gerdau (GGBR4) reportou números fracos no quarto trimestre de 2023, já esperados pelo mercado devido à sazonalidade do período e à desaceleração no volume de vendas vista nos últimos resultados.

O destaque negativo foi o resultado da operação na América Latina, que sofreu ajustes significativos em função da hiperinflação na Argentina.

Contudo, do lado positivo, apesar do ambiente de negócio relativamente difícil, a operação da América do Norte reportou novamente números sólidos.

Produção de aço bruto

A produção de aço bruto no período foi de 2,7 milhões de toneladas, queda de 6,2% na comparação anual. Na mesma linha, as vendas atingiram 2,7 milhões de toneladas (-0,6% vs 4T22).

A receita líquida atingiu R$ 14,7 bilhões no 4T23, queda anual de 18,1%, reflexo do menor volume vendido e dos impactos econômicos na operação da Argentina. Com volume inferior e preços de matérias primas menores, os custos de vendas caíram 13% na comparação anual, mas não foram suficientes para compensar a queda no faturamento. Assim, a Gerdau fechou o trimestre com uma margem bruta de 11,1%, 5,2 pontos percentuais abaixo do registrado no 4T22.

O Ebitda ajustado no período alcançou R$ 2,0 bilhões, queda de 43,8% em relação à forte base comparativa do 4T22. A margem Ebitda atingiu 13,9%, número que interpretamos como resiliente dados os desafios enfrentados nas principais unidades de negócio da companhia.

Fonte: Gerdau

Operação da Gerdau na América do Norte mantém números resilientes

Olhando por linha de negócio, na América do Norte (53% do resultado operacional consolidado), apesar da acomodação nos resultados após dois anos muito fortes, a Gerdau segue reportando resultados resilientes, sustentados pela atividade ainda aquecida nos EUA. A margem Ebitda foi de 19,2% no 4T23 (-9,0 p.p vs 4T22), acima dos níveis históricos.

Aço importado chinês segue pressionando mercado brasileiro

Já na ON Brasil (24% do ebitda consolidado), além dos desafios relacionados aos juros ainda em patamares elevados, a alta penetração do aço importado chinês segue pressionando o volume de vendas e os preços de mercado, reduzindo o volume de vendas e a rentabilidade da Gerdau e de outros players locais. A margem Ebitda no trimestre perdeu 2,5 p.p na comparação anual, atingindo 8,5%. Olhando o copo meio cheio, esse nível de rentabilidade na operação brasileira é historicamente muito baixo e, aliado ao ambiente de negócio atual em pico de estresse, pode indicar um fundo de ciclo.

Hiperinflação na Argentina impactou números da América Latina

A operação da América Latina (2% do resultado), conforme mencionado, foi o destaque negativo do resultado, mas com influência de fatores exógenos. O Ebitda ajustado foi de R$ 135 milhões no 4T23, uma queda anual de 62%.

O resultado é reflexo do cenário hiperinflacionário na Argentina que, devido a normas contábeis, precisou ter os números da operação localizada no país ajustadas pelo seu índice de preços.

Por fim, a operação de Aços Especiais (17% do resultado) apresentou uma margem Ebitda de 13,2% (-2,8 p.p vs 4T22), explicado pelo menor volume de vendas.

Geração de caixa de Gerdau ainda é robusta

Por mais um trimestre, a geração de caixa livre da companhia foi robusta, totalizando R$ 1,3 bilhões, mesmo diante de um resultado operacional pressionado. Parte importante desse número é resultado da gestão eficiente de capital de giro da Gerdau, que liberou R$ 1,3 bilhões em recursos.

Fonte: Gerdau

O que achamos dos resultados de Gerdau?

Por fim, apesar de ainda enxergarmos desafios para a companhia nos próximos trimestres, os resultados seguem saudáveis considerando o cenário e gerando muito caixa.

Ainda, em um horizonte temporal mais alongado, vemos espaço para a Gerdau retomar seu nível de rentabilidade histórico no Brasil com a retomada de um ambiente competitivo mais saudável e, nos EUA, os programas federais e os movimentos de nearshoring, devem fortalecer a demanda por aço.

Negociando a 4,2 vezes EV/Ebitda para esse ano, com uma carteira de pedidos ainda saudável, gestão qualificada e diversificação geográfica, enxergamos uma assimetria positiva nos preços atuais. 

Além de Gerdau, ao longo da temporada de resultados do 4º tri de 2023 estamos comentando os números de todas as empresas da B3 recomendadas pela Empiricus Research conforme são divulgados. Para receber direto no seu e-mail nossas avaliações dos balanços corporativos e saber o que fazer com a ação, cadastre-se aqui.

Sobre o autor

Henrique Cavalcante

Formado em Economia com ênfase em Finanças Corporativas, Henrique Cavalcante atua como Analista de Ações na Empiricus, cobrindo os setores de Varejo, Saúde e Infraestrutura. Integra a equipe que comanda a Carteira Empiricus, o portfólio multimercado que é o carro-chefe da casa.