Day One

Não subestime a reversão à média

” último dos resultados do 2T22 foi divulgado ontem, e, com isso, fechamos a […]”.

Por Lais Costa

16 ago 2022, 10:55 - atualizado em 16 ago 2022, 10:56

Crescimento
Fonte: Free Pik

O último dos resultados do 2T22 foi divulgado ontem, e, com isso, fechamos a temporada de resultados, a última antes das eleições. Usarei esse espaço, então, para fazer um balanço geral dos números.
 
Dentre vários temas presentes nessa temporada, um chamou atenção: uma espécie de inversão de performance. “Darlings” decepcionaram, e patinhos feios surpreenderam. Quase uma reversão à média.
 
Caso o leitor tivesse ido junto com o consenso antes de os números saírem, no good news. Só há upside relevante quando você pensa diferente – e certo.
 
Houve alguns exemplos interessantes disso.
 
Commodities x domésticos

• Empresas de commodities, exceto as de óleo & gás, ultrapassaram seus picos de resultado, começando a desacelerar na margem. Vide Vale.

• Varejistas aceleraram o crescimento, especialmente as de bens discricionários e não duráveis. Vide Riachuelo e Arezzo.
 

Depois que as commodities e a energia elétrica fizeram seus ralis, agora foi a vez de outras categorias de consumo subirem; notadamente, o vestuário. No caso das varejistas de moda, diria que pelo menos metade das altas de receita tenha vindo de aumento de preço, de modo geral. Que seja; isso significa que as empresas de moda estão encontrando demanda suficiente para repassar a pressão inflacionária que recebem nos custos.
 
Inclusive, a inflação de julho corrobora com a continuidade dessa dinâmica: vestuário é a segunda categoria que mais subiu dentro do IPCA.
 
Isso não significa que é para sair comprando qualquer varejista de moda. As generalizações, por mais que eu esteja fazendo algumas aqui, são perigosas, em especial no caso da escolha de ações. É importante separar o joio do trigo.
 
Fintechs x bancões

• A inadimplência está corroendo o lucro das fintechs – essa aqui foi bola cantada. Vide Inter e Nu.

• O Banco do Brasil emergiu das cinzas para entregar um retorno sobre patrimônio líquido maior que o de Itaú. Confesso que nem eu esperava por essa, mesmo apostando grande em Banco do Brasil na Carteira Empiricus.

O pano de fundo desse tema foi o aumento da inadimplência no crédito à pessoa física, algo que aconteceu no sistema financeiro como um todo.
 
As fintechs focadas nesse público, como é justamente o caso de Inter e Nu, acabam sentindo mais. Inter viu seu índice de empréstimos atrasados há mais de 90 dias subir 0,9 ponto percentual, na comparação anual.
 
O caso de Nu foi ainda um pouco pior: o mesmo indicador piorou 1,1 ponto percentual anualmente. Contudo, uma mudança na metodologia de cálculo acabou enviesando esse número para melhor. A companhia passou a reconhecer que os empréstimos pessoais atrasados há mais de 120 nunca serão pagos – até o resultado anterior, a companhia considerava 360 dias. Com isso, os índices de inadimplência apresentados ao mercado foram “limpados”. Na metodologia antiga, a piora anual teria sido de 2,5 pontos percentuais.
 
Na outra ponta do espectro, os bancões, que já viveram diversas crises no Brasil e fora dele, também viram a inadimplência à pessoa física crescer, mas de forma mais controlada. Ainda, para os bancos com a carteira de crédito mais conservadora, com menos foco na pessoa física e maior em empresas, o impacto foi menor ainda. Esse é justamente o caso de Banco do Brasil, que tem boa parte do crédito direcionado para produtores rurais.
 
O banco estatal controlou bem o aumento da inadimplência: +0,2 ponto percentual anualmente. Além disso, avançou nos spreads e na eficiência operacional. O Banco do Brasil entregou não só o melhor retorno sobre patrimônio líquido da sua história (20,6%), mas em linha com o de Itaú (20,8%), que, aliás, também divulgou um ótimo resultado.
 
Com isso, as fintechs continuam caras, e os bancos, baratos. Nu negocia a 5x seu valor patrimonial, enquanto Brasil negocia a 0,8x. Nu deve pagar 0% de dividend yield nos próximos 12 meses, enquanto Banco do Brasil deve pagar 10%. A discrepância salta aos olhos.
 
Mais uma vez, a reversão à média fez seu trabalho nos mercados. Não a subestime.
 
Um abraço.

Sobre o autor

Lais Costa

Engenheira eletricista pela UTFPR com passagem pelo MIT e especialização em finanças pela Columbia University. Iniciou a carreira no mercado financeiro com foco no mercado de bonds nos EUA. Após uma experiência na Itaú Asset em NY, ela esteve por três anos no time de Global Macro Strategy da XP Inc também em NY, cobrindo mercados emergentes asiáticos e Brasil com foco em criação de ideias de investimento de renda fixa para clientes institucionais. Desde maio de 2021, Laís faz parte do time de análise da Empiricus. Por dois anos foi responsável pela alocação e seleção de fundos globais e hoje é a analista a frente das séries Super Renda Fixa e Os Melhores Fundos de Investimento.