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Bolsas asiáticas caem e petróleo sobe em semana de decisões monetárias: veja os destaques econômicos

Federal Reserve, Banco do Japão e Banco da Inglaterra dominam decisões de política monetária da semana. Leia mais.

Por Matheus Spiess

16 dez 2024, 09:16 - atualizado em 16 dez 2024, 09:16

BOLSA DE VALORES IBOVESPA mercado (1) europa

Imagem: iStock/ solarseven

A semana nos mercados internacionais será dominada por decisões de política monetária, com destaque para a reunião do Federal Reserve nos Estados Unidos na quarta-feira (18). Apesar de dados de inflação mais elevados do que o esperado divulgados na semana passada, o consenso aponta para um corte de 25 pontos-base na taxa básica de juros. Na sequência, o Banco do Japão e o Banco da Inglaterra também anunciarão suas decisões na quinta-feira (19), atraindo a atenção dos mercados globais.

Enquanto isso, os mercados asiáticos iniciaram a semana de forma negativa. As bolsas da região fecharam em baixa nesta segunda-feira (16), influenciadas por uma combinação de fatores: dados decepcionantes de vendas no varejo na China, tensões sobre uma possível elevação dos juros no Japão e um desdobramento político significativo na Coreia do Sul. O presidente Yoon Suk Yeol foi afastado após não sobreviver ao seu segundo pedido de impeachment no final de semana. Durante esse período, Han Duck-soo assumiu interinamente a presidência, ampliando a incerteza política no país. 

Na Europa, o sentimento não foi diferente. As principais bolsas do continente operam em queda, afetadas por uma combinação de fatores negativos. A agência Moody’s rebaixou a nota de crédito da França, destacando fragilidades na perspectiva fiscal do país. Além disso, cresce a apreensão sobre o futuro político da Alemanha, com a percepção de que o primeiro-ministro Olaf Scholz deve cair hoje (16). Esses eventos ofuscaram qualquer impacto positivo do corte de juros realizado pelo Banco Central Europeu na semana passada, reforçando o clima de cautela entre os investidores.

· 00:56 — Não adianta insistir

No Brasil, a semana começa sob o peso de intensas pressões no mercado financeiro, impulsionadas por crescentes preocupações com a situação fiscal. Nem mesmo a postura correta e firme do Banco Central na semana passada foi suficiente para aliviar as tensões sobre o câmbio e os juros futuros. O mercado permanece cético em relação à capacidade do governo de aprovar o pacote fiscal proposto ainda neste ano, e há dúvidas generalizadas de que ele passará sem sofrer desidratações significativas.

A saúde do presidente Lula também adiciona incertezas ao cenário. Embora tenha recebido alta hospitalar, ele só deve retornar a Brasília na quinta-feira (19) e, mesmo assim, provavelmente em uma capacidade limitada de atuação — sua entrevista ontem ao Fantástico deverá ser recebida e dificilmente contribuirá para melhorar o humor do mercado (esse negócio de “la garantía soy yo” não funciona mais).

Com o calendário legislativo se aproximando do fim, o ambiente em Brasília é marcado por questionamentos sobre a viabilidade de avançar com pautas tão cruciais como o pacote fiscal, a reforma tributária e o Orçamento de 2025 antes do recesso de Natal. Nesse contexto, o presidente da Câmara, Arthur Lira, já indicou que adotará seu “modo turbo” (ou “tratoraço”) para acelerar as discussões e votações.

Enquanto Brasília segue em compasso de espera, os ativos de risco precificam um cenário de deterioração, antecipando dificuldades ainda maiores para 2025. O temor crescente é de que o país se aproxime de um cenário de dominância fiscal, como já discutido anteriormente. Embora o contexto atual seja diferente de 2015, o mercado, calejado por experiências passadas, reage com cautela, antecipando os impactos das decisões equivocadas que vêm sendo tomadas.

O Brasil não chegou a um ponto irreversível, mas está perigosamente no caminho para um beco sem saída. A solução é clara: o ajuste fiscal deve ocorrer por meio de cortes de gastos. Insistir em alternativas que não abordem o cerne do problema é como dar murro em ponta de faca. Sem uma mudança substancial na política fiscal, mesmo os esforços do Banco Central, como a alta nos juros, se tornam inócuos.

No atual contexto, intervenções no câmbio por parte da autoridade monetária são igualmente questionáveis. O Brasil conta com reservas internacionais robustas, na casa de US$ 369 bilhões, que atuam como um seguro essencial para momentos de crise. Queimar essas reservas em tentativas de estabilizar o câmbio, como ocorreu na semana passada, pode ser contraproducente, prejudicando a percepção de robustez econômica e reduzindo a capacidade do país de enfrentar desafios futuros. O cenário exige pragmatismo, decisões técnicas e, acima de tudo, coragem política para corrigir a rota fiscal antes que seja tarde demais.

· 01:45 — Corte de 25 pontos

Nos EUA, o índice Nasdaq 100 registrou alta pela quarta semana consecutiva, enquanto o S&P 500 segue acumulando sucessivos recordes ao longo do ano, consolidando um desempenho impressionante. Em contraste, o Dow Jones encerrou a sexta-feira (13) com sua sétima queda consecutiva, marcando a sequência negativa mais longa do índice em quase cinco anos. O mercado agora volta suas atenções para o Federal Reserve, aguardando o tão esperado corte nos juros e observando cuidadosamente qualquer estratégia mais abrangente que o BC possa adotar para administrar a oferta monetária e garantir um pouso suave para a economia, especialmente considerando as muitas incertezas que ainda pairam no horizonte.

Olhando além da agenda, o histórico sugere boas perspectivas para o mercado na virada de ano. Desde 1950, o S&P 500 registra um ganho médio de 1,3% durante o período que abrange os últimos cinco pregões de dezembro e os dois primeiros pregões de janeiro. Em 2024, esse intervalo começa na semana que vem. Conhecido como o “Rali de Natal“, esse fenômeno histórico viu o S&P 500 fechar em alta em 77% das vezes, reforçando a tendência sazonal de otimismo nos mercados nesse período. Com base nos padrões históricos e na atual dinâmica do mercado, a reta final do ano parece promissora, sugerindo que os investidores podem se beneficiar de um fechamento positivo no que já é um ano marcante para os índices americanos.

·02:33 — Restringindo embarques

Na semana passada, o petróleo encerrou sua primeira semana de alta desde novembro, impulsionado por crescentes tensões geopolíticas na Europa e no Oriente Médio, com destaque para a possibilidade de novas sanções do Ocidente contra a Rússia. Na sexta-feira (13), a Rússia intensificou sua ofensiva aérea contra a Ucrânia, focando em instalações de energia. Paralelamente, projeções recentes da Agência Internacional de Energia (AIE) provocaram alertas de algumas casas, que consideram as estimativas de oferta excessivamente otimistas, sem levar em conta os riscos associados a possíveis quedas no fornecimento de petróleo pelo Irã e pela Venezuela, caso os Estados Unidos endureçam suas sanções.

Além disso, os Emirados Árabes Unidos, integrante da OPEP+, anunciaram que reduzirão suas exportações de petróleo no início de 2024, em linha com os esforços da aliança para impor maior disciplina no cumprimento das metas de produção e sustentar os preços. Embora os dados do cartel indiquem que os EAU estão respeitando sua cota de 2,9 milhões de barris por dia, há ceticismo. Estimativas da AIE, baseada em Paris, sugerem que a produção real pode ser maior, girando em torno de 3,2 milhões de barris por dia. Essa discrepância evidencia a dificuldade operacional dentro do cartel, que tem lutado para alinhar as ações de seus membros. Ainda que o preço do barril esteja caindo nesta manhã, há espaço para voltar a subir na reta final do ano. 

· 03:21 — Ruídos no Velho Mundo

O chanceler alemão, Olaf Scholz, enfrenta hoje uma votação de confiança que, caso perdida, desencadeará uma eleição geral antecipada, marcada para 23 de fevereiro. Essa crise política teve início quando sua coalizão desmoronou devido a divergências em torno do orçamento federal. Com a possibilidade de mudança de governo, os conservadores, apontados como favoritos para vencer as eleições, já sinalizaram que pretendem manter o limite de endividamento e se opor à emissão conjunta de dívida pela União Europeia, postura que deverá reafirmar as políticas fiscais do bloco.

A situação alemã reflete um padrão semelhante ao observado na França, onde o governo também enfrenta turbulências orçamentárias. Após a queda do primeiro-ministro Michel Barnier, o presidente Emmanuel Macron nomeou François Bayrou, de centro, para liderar um novo governo. No entanto, o impasse orçamentário francês provocou o rebaixamento da nota de crédito do país pela agência Moody’s, uma medida que reflete a deterioração esperada das finanças públicas nos próximos anos. Isso evidencia uma tendência global: os governos enfrentam agora as consequências dos pacotes de estímulo fiscal implementados durante a pandemia. 

· 04:18 — Frustração chinesa

Na China, a produção industrial registrou crescimento de 5,4% em novembro, superando ligeiramente tanto o desempenho de outubro quanto a expectativa de 5,3% do mercado. Contudo, o alívio gerado por esse dado foi rapidamente ofuscado pelo desempenho decepcionante das vendas no varejo, que subiram apenas 3% no mesmo período, um resultado inferior ao aumento de 4,8% observado no mês anterior e distante do consenso de 4,6%. Essa surpresa negativa teve um impacto mais profundo sobre o humor dos mercados, desencadeando uma correção nas bolsas e ampliando as preocupações com a fragilidade da economia chinesa.

A fraqueza do consumo interno agrava os temores sobre a resiliência da economia da China, especialmente em um momento crítico em que o país se prepara para enfrentar uma nova rodada de tensões comerciais com os Estados Unidos. Os dados foram divulgados após a Conferência Central de Trabalho Econômico, um encontro de dois dias realizado em Pequim na semana passada, onde os líderes chineses apelaram por esforços para estimular a demanda doméstica. Diante desse cenário, as atenções agora se voltam para a próxima decisão do Banco Popular da China, programada para a noite de quinta-feira. Cortes de juros nas taxas de 1 e 5 anos podem acontecer.

· 05:02 — Subiu bastante

Poucos investidores foram tão beneficiados pelo rali das ações pós-eleição quanto Elon Musk e os acionistas da Tesla. Desde que Donald Trump garantiu um novo mandato, as ações da empresa dispararam 73% (aumento de valor de mercado superior a US$ 600 bilhões). Desde os resultados do terceiro trimestre da fabricante de veículos elétricos, em outubro, as ações praticamente dobraram de valor.

Se considerarmos minha recomendação feita aqui no final de junho, o ganho acumulado é impressionante: 122%. A pergunta que fica: ainda há espaço para mais altas?

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.