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Bolsas globais têm dia misto, PIB da China cumpre meta e posse de Donald Trump nos holofotes; veja destaques da semana

A China entregou o PIB do 4º trimestre dentro da meta de crescimento para 2024. Leia mais notícias.

Por Matheus Spiess

17 jan 2025, 08:42 - atualizado em 17 jan 2025, 08:42

ações ibovespa bolsa de valores

Imagem: iStock.com/sankai

Após um desempenho misto, porém majoritariamente positivo, nos índices asiáticos nesta sexta-feira (17), iniciamos o dia no Ocidente acompanhando altas tanto na Europa quanto nos futuros americanos. Como destaque temos o robusto resultado do PIB chinês no quarto trimestre, que garantiu o cumprimento da meta de crescimento de 5% para 2024. Bom sinal para as commodities, o que deve beneficiar os ativos brasileiros.

Entretanto, o foco global está rapidamente se voltando para a posse de Donald Trump, marcada para a próxima segunda-feira (20). Não se trata apenas do simbolismo de seu retorno à Casa Branca, mas de tudo o que virá nos primeiros 100 dias de seu segundo mandato. Fontes indicam que mais de uma centena de ordens executivas já estão preparadas para serem apresentadas logo de início, evidenciando que Trump, agora mais experiente, pretende agir com assertividade. Ele conhece o funcionamento da máquina governamental e sabe como e onde implementar sua agenda.

Os mercados, no entanto, não ignoraram as sinalizações de ontem, quando o indicado de Trump para a Secretaria do Tesouro deu declarações que destoaram do pragmatismo que investidores esperavam. Isso trouxe um elemento de apreensão, reforçando que a volatilidade será uma constante nos próximos anos. Para aqueles que acompanharam o mercado durante o primeiro mandato de Trump, é uma dinâmica familiar: ruído frequente nas comunicações, decisões inesperadas e reações intensas nos mercados. Prepare-se para quatro anos de uma política econômica cheia de imprevisibilidades e, possivelmente, de rupturas. Atenção redobrada será necessária.

· 00:54 — A maré baixou e revelou que Lula estava nadando pelado o tempo todo (quem sabe, desde o primeiro mandato)

No cenário doméstico, a agenda desta sexta-feira carece de indicadores relevantes, deixando o foco nas declarações de diretores do Banco Central e na entrevista do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, à CNN. Ontem, o IBC-Br surpreendeu ao contrariar a recente sequência de indicadores que apontavam para um arrefecimento da atividade econômica, como produção industrial, vendas no varejo e volume de serviços. No entanto, a percepção geral permanece inalterada: sinais de desaceleração já começam a se consolidar e, inevitavelmente, terão impacto na popularidade de um governo que chega ao terceiro mandato já desgastado. A recente controvérsia envolvendo a fiscalização do PIX adicionou mais uma camada de desgaste político a uma gestão que parece perder o controle sobre sua narrativa.

Entre outros pontos recentes, destaca-se a sanção do primeiro projeto de regulamentação da reforma tributária. Apesar de representar um passo relevante, a reforma carrega consigo distorções significativas, fruto de disputas entre interesses setoriais e regionais em Brasília. Isso resultou em uma alíquota de IVA projetada em 28%, superando o teto de 26,5% previamente estipulado — algo que certamente precisará ser revisto até 2031. Um retrato claro de um sistema político que não consegue evitar os próprios excessos. Agora, as atenções se voltam para o segundo projeto de regulamentação, que trará definições sobre a transição do ICMS para o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e sobre a relação entre estados e municípios.

Entretanto, o cerne da questão continua sendo o fiscal. Sem um suporte robusto nessa área, os ativos brasileiros continuarão sujeitos a oscilações episódicas, como os movimentos positivos observados no início da semana que já se dissiparam. Esse mesmo padrão é visível no câmbio, que reagiu à possibilidade de um segundo mandato de Trump mais ideológico e menos pragmático, adicionando volatilidade ao real.

Olhando adiante, o governo Lula enfrenta um contexto de fragilidade estrutural, incapaz de sustentar sequer suas próprias contradições internas. A fórmula que funcionou nos dois primeiros mandatos — com espaço orçamentário, maior influência no Congresso, pragmatismo político e, sobretudo, um ciclo de alta nas commodities — não encontra mais eco na realidade atual. Mudanças como a troca de liderança na comunicação ou medidas que despejam recursos por entre marqueteiros são insuficientes para reverter a perda de credibilidade. Vai continuar perdendo para as redes sociais.

Ao longo de 2025, com a inflação pressionada — sobretudo por alimentos e combustíveis —, o dólar superando consistentemente os R$ 6,00 e a atividade econômica em desaceleração, a popularidade do governo tende a desmoronar. Lula, que no passado foi considerado um mestre da articulação política, hoje enfrenta uma conjuntura que expõe sua vulnerabilidade. Quando a maré baixa, torna-se evidente que as narrativas de grande estrategista e articulador político foram, em grande parte, sustentadas pelas circunstâncias favoráveis de outrora. Talvez ele nunca tenha sido exatamente o que muitos acreditavam — a conjuntura favorável disfarçava fragilidades que agora estão à mostra. Os tempos são outros, e Lula precisa reconhecer que sua vitória em 2022 não foi um triunfo inequívoco de seus méritos, mas, em grande medida, um reflexo dos deméritos de seu adversário. E a margem apertada da última eleição reforça essa realidade. Uma lição para 2026, quando o pêndulo político deve virar…

· 01:45 — Navegando a temporada de resultado

Nos Estados Unidos, as ações não conseguiram sustentar o ímpeto positivo registrado na quarta-feira, encerrando o pregão em um tom mais cauteloso. Embora o dia tenha sido marcado por uma avalanche de manchetes, faltaram catalisadores suficientemente robustos para direcionar o mercado de maneira decisiva, seja para cima ou para baixo.

A jornada começou com a divulgação de um novo lote de resultados referentes ao quarto trimestre, destacando relatórios de nomes importantes como Bank of America, Morgan Stanley, Taiwan Semiconductor Manufacturing (TSMC) e UnitedHealth Group. No geral, a mensagem transmitida pelos lucros dos grandes bancos e credores dos EUA foi clara: o setor financeiro americano continua navegando em águas favoráveis. Essa solidez é um indicativo promissor para a temporada de balanços como um todo.

Entretanto, nem todos os destaques do dia seguiram esse tom positivo. A UnitedHealth, por exemplo, teve um desempenho abaixo do esperado, pressionando o mercado e introduzindo uma dose de cautela. Para hoje, o mercado aguarda com expectativa novos resultados corporativos, incluindo os balanços de empresas como Citizens Financial Group, State Street e Truist Financial. Além dos resultados corporativos, os investidores analisaram o relatório de vendas no varejo de dezembro, um indicador que abrange o período crítico das compras de fim de ano. Os gastos ficaram abaixo das projeções de consenso dos economistas, um dado que, embora revele uma economia menos aquecida, também reforça a possibilidade de novos cortes de juros por parte do Federal Reserve, trazendo algum alívio para a curva de juros. 

· 02:31 — Tom duro

Nos Estados Unidos, senadores de ambos os partidos participaram da sabatina de Scott Bessent, indicado pelo presidente eleito Donald Trump para o cargo de Secretário do Tesouro. Em uma interação marcada por um tom equilibrado, mas minucioso, Bessent foi questionado sobre sua visão para a política econômica da nova administração. Durante a audiência, ele reiterou apoio à postura expansiva de Trump no que diz respeito ao poder do presidente em moldar a política econômica, incluindo o uso de tarifas e o relacionamento com o Federal Reserve (pegou mal).

Um dos pontos de maior interesse para os investidores foi a abordagem de Bessent em relação às tarifas comerciais. Embora ele tenha sinalizado anteriormente uma visão potencialmente mais moderada do que a postura agressiva promovida por Trump durante a campanha eleitoral, seu tom na audiência foi mais duro e menos pragmático, causando certa apreensão nos mercados. Essa mudança no discurso foi interpretada como um reflexo do contexto formal e altamente público da sabatina, onde há maior pressão para alinhar-se ao posicionamento oficial da administração.

Além disso, a audiência abordou temas centrais como os planos fiscais do governo Trump e a interação esperada com o Federal Reserve, oferecendo uma prévia do tom que deve marcar os primeiros meses da nova administração. Apesar de algumas preocupações levantadas, a confirmação de Bessent no Senado parece praticamente assegurada. Minha avaliação é que Bessent conduziu sua participação de forma impecável, demonstrando preparo e habilidade em articular respostas robustas em um ambiente de intenso escrutínio. Embora seu tom mais rígido tenha gerado reações mistas, isso é compreensível dado o contexto da audiência. Continuo acreditando que sua nomeação contribuirá para trazer maior previsibilidade e estabilidade ao governo Trump, particularmente em questões econômicas sensíveis.

· 03:27 — Ruídos da guerra

A guerra na Ucrânia drenou quase um quarto dos ativos líquidos da Rússia ao longo do último ano, um reflexo do impacto econômico prolongado do conflito. Dados divulgados pelo Ministério das Finanças russo revelam que o Kremlin recorreu significativamente às reservas do Fundo Nacional para sustentar sua economia enquanto financia a invasão. Embora o fundo tenha permanecido praticamente estável em termos gerais, com cerca de US$ 117 bilhões, os ativos mais líquidos — investimentos facilmente convertíveis — sofreram uma redução expressiva de 24% em um ano.

Essa já preocupante situação financeira da Rússia pode se agravar ainda mais com o próximo movimento geopolítico dos Estados Unidos. O presidente eleito Donald Trump está articulando um amplo pacote de sanções que promete impactar profundamente as receitas de petróleo de três dos maiores produtores globais: Rússia, Irã e Venezuela. Segundo assessores próximos, o plano está sendo formulado para abordar três desafios diplomáticos que têm frustrado sucessivas administrações americanas.

Entre as prioridades de Trump está a busca por encerrar a guerra na Ucrânia, que em breve completará quatro anos. O presidente eleito sinalizou na última semana que está disposto a negociar diretamente com Vladimir Putin em busca de um acordo, uma estratégia que visa combinar pressão econômica com diplomacia direta. Paralelamente, Trump planeja intensificar o cerco ao programa nuclear iraniano e aplicar sanções mais rigorosas à Venezuela, como resposta ao endurecimento antidemocrático do regime ditatorial socialista pós-chavista de Nicolás Maduro.

Contudo, restringir o acesso de três dos maiores exportadores de petróleo do mundo ao mercado global pode provocar uma escalada nos preços do petróleo. O impacto inicial já foi sentido após novas sanções aplicadas por Joe Biden contra o Kremlin no início do mês, resultando em uma alta no preço do barril. Um movimento ainda mais abrangente por parte do governo Trump poderia exacerbar essa tendência, criando pressão adicional nos mercados de energia e possivelmente gerando efeitos em cascata sobre a economia global. Ao mesmo tempo, se bem-sucedida, a estratégia poderá remodelar o tabuleiro geopolítico. Seria uma grande vitória de Trump.

· 04:16 — Atendeu o prometido

A China conseguiu atingir sua meta de crescimento de 5% em 2024, um feito impulsionado por fatores tanto externos quanto internos. No âmbito externo, as empresas chinesas aceleraram suas exportações em antecipação à posse de Donald Trump na Casa Branca, temendo as potenciais tarifas comerciais prometidas durante sua campanha. Internamente, os programas de subsídios do governo desempenharam um papel significativo ao estimular os gastos do consumidor, especialmente no quarto trimestre. As vendas de produtos domésticos cresceram no ritmo mais acelerado desde 2013, surpreendendo positivamente e trazendo algum alívio.

No entanto, as perspectivas para 2025 são consideravelmente mais nebulosas. A iminente imposição de tarifas pelos Estados Unidos representa uma ameaça significativa, ainda que os detalhes exatos dessas medidas comerciais permaneçam incertos. Mas mesmo na ausência dessas tarifas, a China enfrenta desafios estruturais profundos e persistentes.

O setor imobiliário continua em uma desaceleração prolongada, afetando não apenas a construção, mas também uma ampla gama de indústrias relacionadas. Além disso, as pressões deflacionárias, que vinham crescendo ao longo do último ano, parecem estar se consolidando como um obstáculo de longo prazo (a questão da “japonização” da China, já discutida aqui). Os desafios demográficos do país também continuam a se agravar — dados recentes revelam que a população chinesa encolheu pelo terceiro ano consecutivo. Diante desse cenário complexo, a resposta do governo chinês será crucial para determinar o rumo de 2025.

· 05:03 — Um belo resultado

A Taiwan Semiconductor Manufacturing Company, conhecida apenas como TSMC (NYSE: TSM), apresentou resultados impressionantes no quarto trimestre, superando as expectativas de mercado e destacando-se como um dos grandes beneficiários do crescimento da demanda por semicondutores avançados impulsionada pela inteligência artificial.

Recomendadas há um ano neste espaço, as ações da empresa já registraram uma valorização expressiva de mais de 88% em dólar. Diante desse desempenho, surge a inevitável questão: ainda faz sentido manter a posição?

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.