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Em véspera de feriado no Brasil, a agenda internacional segue carregada de eventos significativos; confira

O mercado internacional espera alguns resultados corporativos e a repercussão das deliberações do FOMC nos Estados Unidos.

Por Matheus Spiess

30 de abril de 2024, 09:12

Bandeira dos Estados Unidos com um cifrão em alusão ao S&P 500 treasury treasuries tesouro eua juros
Reprodução: Shutterstock

Bom dia, pessoal. Embora o mercado brasileiro não opere amanhã devido ao feriado do Dia do Trabalho, a agenda internacional seguirá carregada de eventos significativos, incluindo a análise dos resultados corporativos internacionais e a repercussão das deliberações da reunião de política monetária do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) do Fed, nos EUA.

A principal questão não envolverá alterações nas taxas de juros, que devem permanecer estáveis entre 5,25% e 5,50% ao ano, mas o foco estará na nuance do discurso de Jerome Powell durante sua coletiva de imprensa após a decisão. Embora um tom mais cauteloso já seja antecipado, somente uma mudança drástica em sua abordagem poderia trazer surpresas.

No que tange à agenda de hoje, há destaque para o PIB de diversos países europeus como França, Espanha e Itália, além do consolidado da Zona do Euro, que também reportará dados de inflação. Na Europa, ainda teremos divulgação do índice de preços no varejo do Reino Unido referente a abril. No cenário asiático, as bolsas tiveram alta nesta terça-feira, apesar dos resultados abaixo do esperado para as vendas no varejo no Japão, onde não houve redução do desemprego em março.

Notável também é o PMI industrial da China, que alcançou seu nível mais alto desde o início do ano passado. Nos Estados Unidos, o dia reserva indicadores de atividade econômica, confiança do consumidor e os resultados financeiros da Amazon, que serão anunciados após o encerramento do mercado, juntamente com outros importantes balanços trimestrais. Entre as commodities, o petróleo voltou a subir hoje.

A ver…

· 00:47 — Dados de emprego depois da frustração com o resultado do governo

Ontem, no Brasil, o otimismo predominou nos mercados, impulsionando o Ibovespa a fechar acima dos 127 mil pontos. Esse movimento foi fortemente influenciado pelas ações da Vale e da Petrobras, que registraram ganhos significativos, contribuindo de maneira expressiva para a alta do índice. Hoje, a divulgação dos resultados do Santander, que saiu agora antes da abertura do mercado, bem como as reações ao desempenho operacional da Petrobras, que atendeu às expectativas, são destaques.

No entanto, a principal atenção do dia recai sobre os dados de emprego. A jornada começa com a divulgação da Pnad Contínua pelo IBGE, que deve revelar um aumento na taxa de desemprego, um movimento considerado normal para o período. Em seguida, o Caged deve mostrar a criação líquida de 190 mil empregos formais em março. Um resultado substancialmente superior ao esperado poderia desencorajar o BC de prosseguir com mais um corte de 50 pontos-base nos juros na semana que vem.

Ontem também foi noticiado que o governo central apresentou um déficit primário de R$ 1,5 bilhão em março, um resultado pior que o superávit esperado pelo mercado. Embora essa discrepância tenha sido vista como um evento isolado, sem grandes impactos na tendência positiva da arrecadação, ela ainda levanta preocupações. Paralelamente, o governo negocia um acordo sobre desonerações fiscais para municípios e empresas, o que representa um desafio fiscal considerável.

Olhando para o futuro, a principal preocupação é com as despesas obrigatórias em Saúde e Educação, que ameaçam comprometer o arcabouço fiscal no próximo ano. Há discussões sobre a possibilidade de utilizar a flexibilização do arcabouço para ajustar os financiamentos à Educação (mais um ajuste). O panorama fiscal desafiador tende a adicionar um prêmio extra à curva de juros, refletindo as incertezas do mercado.

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· 01:51 — O que esperar do FOMC?

Ontem, nos Estados Unidos, os índices de ações fecharam com ganhos modestos. No entanto, essa leve alta não deve gerar excesso de entusiasmo, visto que os futuros operam com leves correções esta manhã. Esta semana é particularmente agitada para o mercado, com mais de 150 empresas do S&P 500 agendadas para anunciar seus resultados trimestrais, incluindo grandes nomes como Amazon hoje e Apple na quinta-feira. Além disso, os dados de emprego e, mais crucialmente, a reunião de política monetária do Federal Reserve, que se inicia hoje e cujos resultados serão divulgados amanhã, são aguardados com expectativa. As previsões dos mercados futuros indicam unanimemente que não haverá mudanças nas taxas de juros nesta reunião, com expectativas de cortes possíveis apenas a partir de setembro. O foco principal está, portanto, na conferência de imprensa de Jerome Powell.

Recentemente, vários formuladores de políticas expressaram publicamente a necessidade de evidências mais consistentes de que a inflação está caminhando sustentavelmente para a meta de 2% ao ano, após leituras elevadas no início de 2024. Por ora, a postura do Fed é de cautela, mantendo as taxas enquanto observa a robustez do mercado de trabalho e o crescimento econômico, que indicam que não há urgência em reduzir os juros imediatamente. A reunião de amanhã, portanto, focará principalmente em qualquer mudança na linguagem usada pelo Fed para descrever as expectativas inflacionárias. Não se espera que Powell forneça detalhes específicos sobre o timing de futuras alterações nas taxas, enfatizando, em vez disso, a abordagem cautelosa e baseada em dados dos formuladores de políticas.

· 02:42 — Robustez chinesa

Na terça-feira, os índices chineses Shanghai Shenzhen CSI 300 e Shanghai Composite apresentaram ligeiras altas, refletindo a reação dos investidores a uma série de resultados mistos dos índices de gerentes de compras (PMI) de abril. Os dados oficiais indicaram uma desaceleração menos acentuada do que a esperada na atividade industrial de abril em comparação a março. O PMI/S&P e Caixin avançou de 51,1 em março para 51,4 em abril, enquanto o PMI/NBS diminuiu para 50,4 em abril, vindo de 50,8 em março. Embora os resultados do PMI tenham oferecido uma perspectiva relativamente positiva para o setor industrial, os indicadores gerais apontaram para um certo esfriamento na atividade econômica após um primeiro trimestre robusto. 

Apesar disso, a tendência de recuperação nos mercados de ações chineses se manteve ao longo de abril, com os índices locais superando os desempenhos de seus pares regionais durante o mês. O CSI300 registrou um aumento de 2,5% em abril, e o Shanghai Composite cresceu 2,6%. Já o índice de Hong Kong avançou 0,6% apenas na terça-feira e se destacou como o melhor desempenho asiático de abril, acumulando uma valorização de 7,6%. É relevante destacar que a recuperação econômica chinesa foi acompanhada por uma elevação nos preços do minério de ferro, que superou a marca de 116 dólares por tonelada. Esse aumento beneficiou diretamente empresas brasileiras, incluindo a Vale, dando suporte para o Ibovespa.

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· 03:35 — Os esforços do ChatGPT

O ChatGPT tem se destacado como o assistente mais atuante nas universidades atualmente. No último ano, estudantes de ensino médio e universitários submeteram mais de 22 milhões de trabalhos que utilizaram alguma forma de inteligência artificial generativa, segundo dados da Turnitin, que identifica plágio e o uso de IA em textos acadêmicos. Desde que as ferramentas generativas de IA se popularizaram na internet, há aproximadamente um ano e meio, várias empresas educacionais desenvolveram ferramentas de detecção de IA para auxiliar professores. A Turnitin, por exemplo, analisou mais de 200 milhões de trabalhos em 2023, identificando que 11% desses trabalhos possuem até 20% de conteúdo gerado por IA, enquanto 3% contêm pelo menos 80% de conteúdo gerado por IA.

As ferramentas atuais de detecção de IA ainda enfrentam desafios em termos de confiabilidade, não sendo tão eficazes quanto os sistemas de detecção de plágio, e falsos positivos podem comprometer a trajetória acadêmica dos estudantes. Há evidências de preconceitos nos algoritmos, particularmente em relação a textos de falantes não nativos de inglês, onde estudos indicaram uma taxa de falsos positivos de 61% em exames de admissão universitária, embora a Turnitin afirme que sua taxa de falsos positivos é de apenas 1% (a empresa também reconhece que sua ferramenta de IA não é infalível). Mesmo com uma margem de erro potencialmente alta, as implicações são significativas. Portanto, é crucial que regulamentações específicas para o uso de IA no ambiente educacional sejam estabelecidas rapidamente, para evitar que a situação se torne incontrolável.

· 04:29 — A sucessão em Taiwan

Em maio, William Lai deve assumir a presidência de Taiwan após sua vitória nas eleições no início do ano. Para a China, Lai é visto como um separatista, e ele percebe poucos benefícios em tentar convencer Pequim do contrário. Seu discurso de posse, agendado para 20 de maio, provavelmente estabelecerá as bases para uma deterioração gradual das relações através do Estreito de Taiwan ao longo de seu mandato de quatro anos. A tensão é esperada para aumentar ainda este ano, à medida que a China intensifique suas incursões na zona contígua de Taiwan, desafiando as fronteiras marítimas e aéreas reconhecidas da ilha.

Embora essas ações sejam cuidadosamente acompanhadas em Washington por meio de canais indiretos para minimizar reações adversas, Lai pode intensificar a situação, pressionando o presidente Biden a mostrar um apoio firme a Taipei, o que poderia iniciar um ciclo de escalada perigoso. No entanto, apesar desses pontos de tensão que podem atrapalhar as relações bilaterais, ainda há muitas razões para ambos os líderes desejarem manter uma estabilidade relativa, especialmente durante as eleições nos EUA. Afinal, Biden precisa evitar o início de um novo conflito internacional enquanto já enfrenta envolvimentos em outros, como na Ucrânia e em Israel.

· 05:11 — O questão da defesa

Há algum tempo, destaquei o potencial de incluir estratégias de investimento em defesa em portfólios sofisticados com uma alocação temática internacional. Retomo esse tema hoje com novas informações. Recentemente, o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, ao lado do secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, anunciou a ampliação do orçamento de defesa britânico para 2,5% do PIB até 2030, o que representa um acréscimo de 23 bilhões de libras nos próximos seis anos.
Esse anúncio é significativo, considerando que o…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.