Investimentos

Juros globais pressionados, alta do dólar e do petróleo, queda nas Bolsas; veja como começou o mês de abril

Observamos uma robustez persistente na economia americana, mesmo diante das elevadas taxas de juros.

Por Matheus Spiess

02 abr 2024, 09:04 - atualizado em 02 abr 2024, 09:07

Imagem representando o Bull Market, uma expressão usada para definir momentos de grande otimismo e tendência de alta no mercado.
Bull Market

Bom dia, pessoal. Na segunda-feira, o índice ISM Manufacturing dos EUA trouxe uma pausa na sequência de contração do índice que perdurava por 16 meses, sinalizando uma persistente robustez na economia americana, mesmo diante das elevadas taxas de juros. Esse desempenho pode ser interpretado como um fator positivo para o mercado acionário, claro, visto que sugere um possível estímulo ao crescimento dos lucros corporativos.

Contudo, há o risco de que essa força econômica continue pressionando a inflação para cima, o que poderia levar a Federal Reserve a adotar uma postura mais cautelosa quanto à redução das taxas de juros, um movimento amplamente antecipado pelo mercado.

Como resultado, a surpresa positiva do indicador contribuiu para um aumento na pressão sobre os juros globais, fortalecendo o dólar e exercendo uma influência negativa nas bolsas ao redor do mundo. Para esta terça-feira, o destaque fica por conta do relatório JOLTS sobre empregos nos EUA.

Enquanto isso, os mercados globais exibem uma tendência mista nesta terça-feira, refletindo o recuo observado em Wall Street na sessão anterior. Os mercados europeus mostram-se indecisos, com um viés majoritariamente positivo, em contraste com a queda dos índices americanos na manhã de hoje.

No cenário das commodities, o petróleo registra nova alta, ultrapassando US$ 89 por barril no contrato do tipo Brent. Esse avanço foi motivado por um ataque aéreo israelense a um complexo da embaixada iraniana na Síria, que resultou na morte de várias pessoas, incluindo um destacado comandante militar.

A escalada das tensões geopolíticas no Oriente Médio realça as preocupações com o suprimento de petróleo, impulsionando os preços para os níveis mais altos dos últimos cinco meses. Além disso, o minério de ferro também apresenta alta, refletindo o aquecimento da atividade econômica global, conforme indicado pelos últimos dados dos EUA e da China.

A ver…

· 00:56 — Imbróglio político

O Ibovespa acompanhou a tendência negativa dos mercados globais ao abrir o mês em queda, reagindo aos indicadores que apontam para uma economia americana ainda em ritmo acelerado. Diante desse cenário, houve alta do dólar e dos juros.

Em meio a esse contexto, o Banco Central do Brasil anunciou uma operação extraordinária de swap cambial, além do leilão regular, visando estabilizar a moeda nacional. Esta intervenção, que não ocorria há mais de um ano, visa a manutenção da estabilidade cambial, mas pode gerar um aumento na volatilidade do mercado no curto prazo por conta da percepção, sobretudo em um ano marcado pela expectativa de mudança na liderança do BC, com Gabriel Galípolo como potencial sucessor de Roberto Campos Neto, além de Marcelo Kayath e Paulo Picchetti como outros possíveis candidatos.

Paralelamente, em Brasília, o foco dos parlamentares na primeira semana de abril está voltado para consolidar filiações partidárias visando as eleições municipais deste ano, com o prazo final para novas filiações se encerrando em 6 de abril. Dado o envolvimento de muitos congressistas nas estratégias partidárias estaduais, optou-se por sessões semipresenciais no Congresso, o que deve limitar o avanço de pautas legislativas nesta semana. Essa pausa nas atividades legislativas ocorre em um momento crítico para o governo, que se depara com a necessidade de encontrar medidas adicionais de arrecadação para cumprir a meta fiscal estipulada para 2025, em um cenário onde as estratégias atuais parecem insuficientes para tal fim, contribuindo para a tensão fiscal no curto prazo. O horizonte permanece nebuloso.

· 01:42 — Economia aquecida

Nos Estados Unidos, o primeiro dia do novo mês e trimestre não foi muito favorável para as ações. Apesar de um início de pregão próximo da estabilidade, os principais índices acabaram fechando em queda. O S&P 500, por exemplo, teve uma leve retração de 0,2%.

Este ajuste, embora modesto, reflete a reação do mercado a um indicador de atividade industrial mais robusto do que o antecipado. O ISM Manufacturing, um dos principais indicadores antecedentes da economia americana, superou as expectativas para março, evidenciando a força da economia.

Como resultado, o mercado ajustou as expectativas, diminuindo a probabilidade de um corte de 25 pontos-base na taxa de juros pelo Federal Reserve em junho.

Para o dia de hoje, os olhos estão voltados para o relatório JOLTS, que deve apontar 8,7 milhões de vagas disponíveis no final de fevereiro, indicando uma leve redução em relação a janeiro. Isso reflete uma proporção de 1,4 vagas por desempregado, uma diminuição desde o ápice registrado em março de 2022.

Outro dado aguardado é o das encomendas às fábricas de fevereiro. Estes indicadores, no entanto, servem como prelúdio para o relatório ADP sobre emprego privado de março, na quarta-feira, e o relatório de empregos não agrícolas (payroll), na sexta-feira. Números superiores aos esperados poderiam levar o mercado a ajustar ainda mais as expectativas quanto à política monetária do Fed, adiando a perspectiva de redução dos juros.

· 02:38 — O rombo fiscal

Ken Griffin, o fundador da Citadel, compartilhou sua perspectiva de crescimento econômico moderado para os próximos trimestres em uma carta recente aos seus investidores. No entanto, ele destacou uma questão particularmente alarmante: o crescente endividamento dos Estados Unidos. Griffin apontou para projeções do Congressional Budget Office, que indicam que os gastos líquidos com juros nos EUA devem alcançar 3,1% do PIB em 2023. A preocupação com os padrões de gastos do governo americano é válida, já que nos últimos cinco meses os gastos chegaram a US$ 2,7 trilhões, marcando um aumento de 9% em comparação ao ano passado.

Estima-se que os gastos governamentais possam escalar para cerca de US$ 6,7 trilhões no ano fiscal de 2024, culminando em um incremento da dívida nacional americana de US$ 1 trilhão a cada 100 dias. Isso posicionaria a dívida em US$ 35 trilhões em maio de 2024, atingindo US$ 37 trilhões até as eleições nos EUA e possivelmente US$ 40 trilhões na segunda metade de 2025. Paralelamente, uma análise da Bloomberg concluiu que, após um milhão de simulações sobre as perspectivas de dívida dos EUA, em 88% dos cenários a trajetória da dívida é insustentável. É realmente preciso que nos preocupemos com isso, principalmente diante da ausência de propostas concretas dos políticos para enfrentar este desafio.

· 03:25 — A força da imigração

O mercado espera um crescimento de 2,2% para a economia dos EUA este ano, uma cifra significativamente superior à previsão de setembro. Essa revisão para cima também reduziu as expectativas de uma recessão nos próximos 12 meses para menos de 35%, o valor mais baixo desde julho de 2022 e bem abaixo dos 55% vistos em setembro. Um fator notavelmente impactante nesse cenário otimista é o vigor do mercado de trabalho, em parte alimentado por um componente crucial: a imigração.

A discussão em torno da imigração está se tornando cada vez mais central, com muitos observadores do mercado considerando-a uma verdadeira alavanca de mudança, pelo menos no momento presente. O aumento da população imigrante está sendo apontado por uma parcela crescente do mercado como o motor por trás da força do mercado de trabalho, mesmo em meio a um ciclo de política monetária restritiva por parte do Fed.

Essa onda migratória representa uma alteração estrutural profunda não só para os Estados Unidos mas com efeitos potenciais sobre a economia mundial. Para ilustrar a magnitude dessa transformação, o Congressional Budget Office revisou suas projeções econômicas para incluir estimativas atualizadas sobre imigração, prevendo que este fator contribuirá com um acréscimo de US$ 7 trilhões ao PIB americano na próxima década. É uma transformação estrutural duradoura, uma nova fase na economia.

· 04:19 — E o preço do cacau continua subindo

A crise atual no setor de chocolate é uma das mais graves que já enfrentou, com a demanda por chocolate excedendo significativamente a oferta de cacau disponível. Isso provocou um aumento acentuado nos preços do cacau, o que, sem dúvida, resultará em preços mais elevados para os produtos de chocolate em supermercados ao redor do mundo. Recentemente, o preço do cacau no mercado futuro atingiu um pico histórico, ultrapassando US$ 10.175,00 por tonelada métrica, marcando um aumento de 250% em um ano. Esse aumento forçou os principais processadores africanos de cacau, responsáveis por converter o cacau bruto em produtos utilizáveis pelas indústrias de chocolate e outros setores, a cortar a produção devido à incapacidade de adquirir os grãos a preços acessíveis.

A razão para os preços elevados do cacau está na geografia e na ecologia de sua produção. Os cacaueiros só florescem em uma estreita zona ao redor do equador, e é por isso que quatro países da África Ocidental — Costa do Marfim, Gana, Camarões e Nigéria — são responsáveis por quase 75% do cacau fornecido ao mundo, com a Costa do Marfim sozinha produzindo quase metade do cacau global. No entanto, as colheitas recentes foram severamente afetadas por condições climáticas adversas, doenças nas plantações e a falta de investimento em novas árvores por décadas, levando a uma significativa queda na produção. Como resultado, esta temporada de cacau enfrentará uma escassez estimada em 374 mil toneladas, um agravamento significativo em comparação ao déficit de 74 mil toneladas da temporada anterior. O custo do chocolate deverá permanecer elevado por algum tempo.

· 05:04 — O que eu não recomendarei para vocês

O recente lançamento do livro “A Geração Ansiosa: Como a Grande Reconfiguração da Infância Está Causando uma Epidemia de Doenças Mentais”, de Jonathan Haidt, professor da Escola de Negócios da NYU, tem gerado ampla discussão. Haidt sugere que a transição de uma infância centrada nas brincadeiras para uma dominada pelo uso de smartphones é uma das principais causas do aumento de doenças mentais entre adolescentes globalmente. Ele propõe que os smartphones sejam guardados fora do alcance das crianças, apontando para o grave impacto dessa mudança no bem-estar mental juvenil.

A discussão em torno do livro traz à tona o eterno debate sobre correlação versus…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.

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