Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados da Ásia e do Pacífico tiveram um desempenho predominantemente negativo, com os investidores se preparando para novos aumentos dos juros nos países desenvolvidos à frente, já que os membros do Federal Reserve reiteraram que mais elevações da taxa são necessárias para domar a inflação — o presidente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari, por exemplo, afirmou ontem que o Fed continuará trabalhando da mesma forma até que a missão seja cumprida.
Nem a perspectiva de um crescimento chinês da ordem de 5,5% neste ano, em comparação com os 3% de 2022, parece animar os mercados globais. Consequentemente, os ativos europeus e os futuros americanos seguem caindo nesta manhã, diante da cautela diante da divulgação de resultados, apresentação dos dados de desemprego e entrega dos números da inflação europeia de fevereiro (como tivemos surpresa na França, Espanha e Alemanha, os investidores estão ansiosos.
A ver…
· 00:44 — Digerindo o resultado da Petrobras
No Brasil, tivemos ontem o já muito antecipado resultado da Petrobras. Ao longo do pregão, as ações da companhia tiveram um desempenho negativo, mas zeraram as perdas na reta final do dia, virando para uma alta marginal. Trata-se de um curioso movimento de reversão. Além de indicar certa força do papel, mostra como o mercado estava dividido sobre o resultado, especulando sobre uma possível mudança na política de dividendos. Então vamos aos números.
A Petrobras reportou lucro líquido de R$ 43,3 bilhões no 4T22 (+37,6% vs 4T21) e R$ 188,3 bilhões em 2022 (+76,6% vs 2021). No trimestre, o Ebitda foi de R$ 73 bilhões, enquanto no ano a proxy de geração de caixa potencial (destaque para proxy e potencial) marcou R$ 340,5 bilhões, crescendo 16% e 45%, respectivamente.
De maneira geral, os números vieram em linha com o esperado. Agora, o que chama a atenção é a política de dividendos. Tivemos R$ 35,7 bilhões em dividendos no trimestre, totalizando R$ 216 bilhões em 2022, mais que o dobro pago em 2021.
Para a última distribuição, que deveria ser de R$ 2,7457 por ação, a companhia propôs a criação de uma reserva estatutária de R$ 6,5 bilhões, que seriam retidos da distribuição — ainda não houve esclarecimento sobre o que será feito com a reserva, pende de aprovação pelo conselho. Sabíamos que haveria revisão na política de dividendos, isso não é surpresa.
Eu só espero que o governo se lembre de que União é dona de quase 30% da companhia, enquanto o BNDES e o BNDESPar são donos de mais 8%, sendo o maior beneficiado pela política de dividendos (o acionista malvado da Gleisi é o próprio Lula). Durante o governo Bolsonaro, para vocês terem uma ideia, a Petrobras colocou nos cofres públicos mais de R$ 500 bilhões. Não é irrelevante.
· 02:11 — Afinal, está ou não desacelerando
Nos EUA, tivemos ontem a divulgação dos dados de fabricação do Institute for Supply Management. O índice dos gerentes de compras de fevereiro ficou em 47,7 pontos, ligeiramente acima dos 47,4 do mês anterior e em linha com as expectativas de mercado. Como a leitura foi abaixo de 50 pontos, temos uma contração na atividade.
Para a manufatura dos EUA, a queda é uma função da mudança pós-pandêmica dos gastos com bens para serviços. Adicionalmente, um dólar americano forte também torna os produtos americanos menos competitivos no exterior. Vemos que os dados econômicos continuam a apresentar um quadro geral confuso.
· 02:41 — A inflação europeia
Tivemos nesta manhã a inflação na Zona do Euro, que avançou 0,8% em fevereiro na comparação mensal, depois de cair 0,2% em janeiro. Na comparação anual, o índice foi de 8,5% versus 8,2% esperado. Ou seja, ainda temos uma inflação consideravelmente forte na Europa, principalmente porque o núcleo do índice, que exclui os itens mais voláteis, avançou 5,6%, de 5,3% em janeiro, acima das expectativas.
Sabemos agora que, conforme os demais índices de preços europeus desta semana nos disseram, a inflação ao consumidor na Europa está com viés altista. Isso pressiona o BCE a manter seu discurso duro contra a inflação, subindo mais os juros — sobre o tema, os investidores vão conferir a ata da última reunião do BCE, a ser divulgada hoje. Fala de autoridades monetárias também são esperadas.
· 03:20 — Um maior crescimento chinês
O entusiasmo dos investidores diminuiu um pouco com a reabertura econômica da China depois que Pequim desmantelou seus rígidos controles Covid-19 em dezembro, enquanto o mercado busca mais evidências para avaliar o ritmo da recuperação econômica. Com isso em mente, a reunião anual do Congresso Nacional do Partido na China pode fornecer mais pistas de estímulos previstos para este ano.
Além disso, teremos a definição de metas econômicas, além da eleição de novos altos funcionários do governo para a área econômica. Espera-se que a China possa almejar meta de crescimento de 6% em 2023 —- a nova meta marcaria uma mudança notável no otimismo dentro do governo em comparação com novembro, quando os formuladores de políticas esperavam um crescimento entre 4,5% e 5,5%.
· 04:01 — Não agradou
De volta aos EUA, as ações da Tesla despencam mais de 5% no pre-market americano, depois que os investidores não ficaram animados com o anúncio pelo próprio Elon Musk, CEO da empresa, do seu “Plano Master 3”. A ideia seria conduzir uma transição total para veículos elétricos. O problema é que isso demandaria US$ 10 trilhões em gastos, visando criar um futuro energético sustentável.
As novas informações deixaram os investidores confusos, uma vez que esperavam o lançamento de um novo modelo com custo mais baixo, uma vez que a companhia tem enfrentado dificuldade para lançar modelos novos. Contudo, veículos da nova geração só devem ser anunciados posteriormente. Sabemos que Musk ama um bom plano ambicioso e muitas vezes maluco. Parece ser o caso aqui.
Um abraço,
Matheus Spiess