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Principal evento de quinta (27) foi a alta de 1,36% do Ibovespa e debate presencial nos EUA; veja a agenda econômica de hoje

Discursos de autoridades monetárias e dados de inflação dos EUA estão no radar dos mercados globais nesta sexta (28).

Por Matheus Spiess

28 jun 2024, 09:17 - atualizado em 28 jun 2024, 09:19

Mercado em 5 minutos - temores bancários
Imagem: Freepik

Bom dia, pessoal. Quem acompanhou o debate presidencial americano ontem presenciou um verdadeiro desastre para os democratas e para a campanha de Biden. A probabilidade de uma vitória de Trump em novembro deve gradualmente começar a influenciar os preços do mercado, especialmente considerando que os democratas têm poucas alternativas a não ser substituir o candidato. Me parece clara a derrota, se insistirem em Biden.

Falando dos Estados Unidos, hoje temos o dado mais importante da semana na agenda internacional: o PCE de maio, a medida preferida do Fed para a inflação. Além disso, discursos de autoridades monetárias também estão no radar.

Até o momento, esta sexta-feira (28) parece promissora para os mercados globais. Os mercados europeus iniciam o dia em alta, digerindo os dados preliminares de preços ao consumidor de junho da França e da Espanha, enquanto o Reino Unido revisou ligeiramente seu PIB.

As ações asiáticas subiram durante o pregão e fecharam junho com fortes ganhos, alimentadas pela esperança de que o Federal Reserve reduzirá as taxas de juros este ano devido à desaceleração da economia dos EUA.

No entanto, as ações chinesas ficaram um pouco para trás, pressionadas pelas preocupações com uma potencial nova guerra comercial com o Ocidente, especialmente se Trump retornar ao poder. Já os ativos japoneses tiveram um bom desempenho, apesar da inflação dos preços ao consumidor em Tóquio ter aumentado ligeiramente mais do que o esperado.

A ver…

· 00:56 — Arregou (ainda bem)

No Brasil, começamos a observar uma mudança de tom por parte do presidente, que afirmou em entrevista: “sempre há espaço para cortar gastos”.

Essa mudança animou os mercados, e o Ibovespa fechou em alta de 1,36%, aos 124.308 pontos. Talvez o presidente tenha sentido a pressão de um dólar a R$ 5,50.

Nas condições atuais, a possibilidade de Lula III se tornar Dilma II é real. Lula tem consciência disso, o que o fez moderar o discurso após entrevistas inflamadas e pronunciamentos duros. Ele pode estar em modo de campanha para as eleições municipais, mas ainda precisa governar.

Além disso, voltou a elogiar Galípolo, chamando-o de “menino de ouro”. Pelo menos afastou os nomes problemáticos cogitados anteriormente para suceder Roberto Campos Neto. Pode ser que Galípolo não seja a melhor opção, mas seria pior sem ele.

Também vale destacar os dados de emprego do Caged, que vieram abaixo do consenso, indicando uma desaceleração no mercado de trabalho.

Como o mercado está aquecido, uma desaceleração marginal, sem risco de recessão, é bem recebida porque alivia a pressão inflacionária e, consequentemente, sobre a curva de juros. Houve uma criação líquida de 131,8 mil empregos formais em maio, com todos os setores apresentando números mais fracos do que o esperado.

Hoje, mais dados de emprego estão no radar, com a taxa de desemprego sendo o principal deles (espera-se que fique em 7,3%, após 7,5% em abril).

Além disso, teremos o resultado consolidado do setor público, que deve trazer um déficit de R$ 59 bilhões. Um número pior do que o esperado deverá gerar preocupação.

· 01:41 — O PCE, finalmente

Ontem, a revisão do PIB do primeiro trimestre apresentou uma leve alta, mas foi considerada um dado excessivamente antigo, oferecendo pouca relevância sobre a situação atual. Assim, a atenção se voltou para os pedidos recorrentes de auxílio-desemprego, que atingiram o maior nível desde o final de 2021, indicando que os desempregados estão levando mais tempo para encontrar trabalho.

O mercado de trabalho americano pode ter chegado a um “ponto de inflexão”, onde uma desaceleração na demanda por trabalhadores poderia aumentar o desemprego. Esse cenário reforça a percepção de que a taxa de juros pode realmente ser reduzida em setembro, caso os dados consolidados de julho e agosto sigam a mesma tendência.

Hoje, o foco está no índice de preços de despesas de consumo pessoal de maio, conhecido como PCE, a medida de inflação preferida do Fed. A expectativa é que o índice tenha recuado de 2,7% para 2,6% na comparação anual.

O núcleo do PCE, que exclui os preços voláteis de alimentos e energia, também deve subir 2,6%, abaixo dos 2,8% registrados no mês anterior.

Se esses dados se confirmarem ou vierem abaixo do esperado, a pressão sobre a curva de juros americana será aliviada, criando um cenário favorável para um bom início de segundo semestre.

· 02:35 — Rinha de idosos americanos: se for contra Biden, Trump vai levar…

O debate de ontem teve realmente relevância? Em um país profundamente polarizado, onde a escolha se dá entre dois candidatos radicalmente diferentes, pode-se pensar que a maioria das pessoas já decidiu seu voto.

No entanto, as margens são cruciais. Biden venceu em 2020 ao conquistar alguns estados indecisos por menos de 100 mil votos.

Para ambos os candidatos, afastar até mesmo uma pequena percentagem de eleitores persuasíveis do outro, atrair eleitores de um terceiro partido ou mobilizar indecisos pode ser decisivo.

Então a resposta é sim, o debate teve relevância. Por isso, o desempenho de Biden no debate preocupa os democratas.

As pesquisas realizadas imediatamente após o debate declararam o ex-presidente Trump como vencedor. Embora eu já soubesse que Biden não é um bom debatedor, especialmente nesta fase de sua vida, nunca imaginei que o resultado seria tão negativo para o atual presidente.

Alguns momentos foram simplesmente constrangedores. Não importa que, muitas vezes, ele tivesse pontos melhores que os de Trump.

Em um debate, a forma como você se apresenta é fundamental, e nesse aspecto, Trump venceu de forma contundente, respeitando todas as regras estabelecidas. O problema não é a idade em si. Os dois são velhos. Mas Trump está muito mais afiado, enquanto Biden mostrou que não aguenta mais quatro anos.

Estima-se que mais da metade da população adulta dos EUA tenha assistido ao debate. Muitos esperavam ver o Biden do State of the Union, mas ele não apareceu. É difícil prever o futuro dos democratas a partir de agora.

Um substituto pode surgir, mas os nomes não são animadores. Kamala Harris, a atual vice-presidente? Muito ruim. Gavin Newsom, o governador da Califórnia? Difícil, já que ele é visto como muito radical em questões sociais. Parece que Trump tem um caminho aberto para retornar à Casa Branca, o que aumenta a atenção dos investidores sobre suas propostas. E Trump ainda não escolheu seu vice… Bom já nos preparamos para a volatilidade.

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· 03:27 — O projeto de Macron

Falando em riscos políticos, na Europa, todas as atenções estarão voltadas para a primeira volta das eleições legislativas francesas no fim de semana. A possibilidade é que estejamos presenciando o fim do projeto político de Emmanuel Macron, que sempre esteve profundamente ligado à União Europeia. Quando reivindicou uma vitória surpreendente nas eleições presidenciais de 2017, celebrou não com o hino nacional da França, mas com o da União Europeia. Esta também foi a trilha sonora de sua vitória em 2022, quando conquistou seu segundo mandato. Desde o início de seu governo, ele deixou claro que, para a França prosperar, a UE precisa ter sucesso.

Cinco anos antes de os tanques de Vladimir Putin começarem a avançar em direção a Kiev, Macron já apelava à UE para aumentar os gastos militares e centralizar suas estruturas de comando para estar melhor equipada para defender seus próprios interesses. O mundo se tornou mais hostil desde então. Economicamente e tecnologicamente, a França está atrás dos EUA e da China e enfrenta relações comerciais complicadas com ambas as superpotências. A Rússia continua avançando lentamente na Ucrânia e a extrema direita ganha força na Europa. A resposta de Macron a esses desafios tem sido fortalecer a Europa. No entanto, parece que o eleitor francês está cansado de seu projeto.

· 04:12 — E a OTAN?

Com a possibilidade de retorno de Trump, a Alemanha apagada e a França enfrentando mudanças políticas, surgem preocupações sobre o futuro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a principal aliança militar do mundo. Já mencionei anteriormente que o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, assumirá o cargo de secretário-geral da OTAN em outubro, sucedendo a Jens Stoltenberg após uma década no cargo. A responsabilidade de liderar a organização nos próximos anos turbulentos recairá sobre Rutte, que é amplamente respeitado entre seus colegas internacionais. Embora seja uma escolha segura, suas habilidades políticas e diplomáticas serão rigorosamente testadas. Estamos possivelmente diante do momento mais desafiador para a OTAN em sua história.

Rutte, em quase 14 anos no cargo em Haia, construiu uma reputação de político hábil, repelindo repetidas ameaças à sua coalizão minoritária pela extrema direita e sobrevivendo a escândalos que derrubaram carreiras de membros de seu gabinete. Mas será que ele conseguirá lidar com Trump? Se o ex-presidente dos EUA reassumir o cargo no próximo ano, muitos temem que ele possa desestabilizar e enfraquecer a aliança, dado seu desprezo pelo multilateralismo. Curiosamente, Rutte pode ser um dos poucos líderes que conseguiu enfrentar Trump sem sofrer danos, como demonstrado ao interromper e contradizer diretamente o então presidente durante uma coletiva de imprensa em 2018. A estabilidade da OTAN estará em suas mãos.

· 05:08 — A história do juro real a 6%

Nas últimas semanas, discutimos intensamente a turbulência significativa que o mercado financeiro brasileiro tem enfrentado. Em 2023, os agentes de mercado aceitaram um novo arcabouço fiscal, que propunha reduzir um déficit de R$ 200 bilhões para alcançar um superávit de R$ 100 bilhões até 2026. Embora sempre tenhamos sido céticos quanto à viabilidade dessas metas ambiciosas, a implementação de um teto para o crescimento das despesas não financeiras parecia uma medida promissora para conter o aumento da dívida. No entanto, a realidade se mostrou muito menos otimista, resultando em juros reais elevados, superando os 6%.

A falta de comprometimento com o controle rigoroso dos gastos públicos tem sido…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.

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