Mercado em 5 minutos

Reação positiva da decisão do Fed, reunião do BCE e balanços do 4T22 são temas nesta quinta (2)

Tudo o que você precisa saber sobre o mercado financeiro nesta quinta-feira, 2 de fevereiro

Por Matheus Spiess

02 fev 2023, 08:56 - atualizado em 02 fev 2023, 08:56

Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados de ações asiáticos fecharam em alta nesta quinta-feira, acompanhando as indicações positivas de Wall Street durante a noite, com os investidores reagindo positivamente à decisão do Fed dos EUA de não aumentar sua taxa de juros de referência mais do que o esperado. O banco central elevou suas taxas de juros em mais 25 pontos-base e sinalizou novas altas nas taxas, mas com um discurso mais benigno em relação à inflação, o que animou os investidores. 

Os mercados europeus e os futuros americanos estão em alta nesta manhã, aprofundando o movimento de ontem. A semana ainda não acabou, uma vez que temos resultados corporativos importantes hoje no exterior e no Brasil, bem como mais reuniões de política monetária. O BCE (Zona do Euro) e o BoE (Reino Unido) finalizam a temática monetária da semana, devendo continuar a elevar os juros. No Brasil, devemos digerir os resultados das eleições no Congresso e o comunicado do Copom. 

A ver… 

· 00:48 — As reeleições e o tom duro 

Por aqui, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco garantiram suas reeleições, conforme antecipamos ser o mais provável. Lira levou 464 votos na Câmara, enquanto Pacheco conseguiu 42 votos — as vitórias dos candidatos governistas dão espaço para as pautas do Executivo serem debatidas, mas como Lira teve uma margem muito grande, é bem provável que ele possa se mostrar bastante diligente em controlar ímpetos mais heterodoxos ou pouco mercadológicos, o que seria positivo.  

Além desse evento, contamos também com o fato de o Comitê de Política Monetária (Copom) ter mantido os juros e apresentado em seu comunicado um tom duro sobre os próximos passos na condução da política monetária. Minha leitura é que houve um aprofundamento da dureza nas palavras do Banco Central, configurando um posicionamento hawkish (contracionista). Isso reduz consideravelmente as chances de redução dos juros ainda em 2023, pelo menos enquanto o fiscal estiver incerto e desancorando as expectativas. 

Se a temporada de resultados será um desafio separado, com o Santander divulgando hoje cedo, a interpretação do mercado não deverá ser uníssona sobre a definição do Copom. Claro, é bom ver que, acompanhando as expectativas, não houve recuos no posicionamento já duro divulgado anteriormente. Ainda assim, fica evidente a problemática relacionada com a incerteza fiscal, que prejudica a formação de expectativas de longo prazo. Não creio ser o caso de mais juros, mas, sim, mais tempo. 

· 01:54 — Relaxado 

Há um compasso de espera pelos resultados das grandes empresas de tecnologia, que divulgam seus números logo depois do fechamento do mercado — contamos com Alphabet, Amazon e Apple, depois que as entregas da Meta Platforms (Facebook) surpreenderam positivamente. Ainda assim, o que repercute mesmo no mercado é a decisão de política monetária. 

Conforme o esperado, o Federal Reserve elevou a taxa básica de juros em 25 pontos-base, para uma meta de 4,50% a 4,75%. Foi o menor aumento desde março do ano passado, tendo sido acompanhado com um discurso de percepção mais benigna sobre o comportamento da inflação (o tom foi dovish). De qualquer forma, para as próximas reuniões, as taxas continuariam a subir. 

Sabemos que o processo desinflacionário começou, basta observar a desaceleração no ritmo da inflação (diferente da deflação, que significa queda de preços). Ainda assim, embora os desenvolvimentos recentes sejam encorajadores, o Fed precisa de mais evidências para ter certeza de que a inflação está em uma trajetória descendente sustentada. Isso vale para o mercado de trabalho. 

Não podemos negar que foi um avanço na comunicação. Considerando o aperto cumulativo da política monetária no ano passado e as defasagens com que as medidas do Fed afetam a atividade econômica, desacelerar o ritmo das altas me parece a medida certa hoje. Um Fomc Dovish e o Copom Hawkish fortalecem o real em relação ao dólar, enquanto os investidores internacionais ainda ficam extasiados com as ações.  

· 02:55 — Chegou a vez dos europeus 

Depois dos EUA e do Brasil, teremos hoje mais reuniões de política monetária. No Reino Unido, espera-se que o Banco de Inglaterra suba as taxas em 50 pontos-base. O foco dos mercados, porém, provavelmente estará na natureza do comunicado do banco, assim como foi o caso ontem com o Fed e com o Bacen. O entendimento é que o pico das taxas do Reino Unido esteja próximo — talvez já seja possível ler isso nas informações apresentadas hoje.  

Enquanto isso, o Banco Central Europeu também deverá aumentar as taxas em 0,5 p.p., e aqui o risco é de um período mais longo de aperto (até o segundo trimestre). Ou seja, mais juros devem estar por vir. Outro ponto importante é que o BCE também deve revelar exatamente como planeja reduzir o estoque de títulos de vários trilhões de euros em seu balanço. Assim como o movimento visto no Fed, a questão pode afetar diretamente os mercados, retirando liquidez da mão dos investidores. 

· 03:53 — Os preços do barril 

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (Opep+) manteve a produção de petróleo estável, conforme o esperado. Ainda assim, os preços do petróleo caíram hoje mais de 3% devido a vários fatores, o que prejudica países emergentes muito associados às commodities, como é o caso brasileiro. Tanto é verdade que houve repercussão negativa da questão. 

Começamos com o forte aumento nas importações da União Europeia de produtos petrolíferos russos antes da imposição de sanções ocidentais em 5 de fevereiro levará a um aumento nos estoques de produtos petrolíferos, o que neutralizará o impacto das sanções no curto prazo. Adicionalmente, os EUA relataram um aumento nos estoques de petróleo bruto, gasolina e destilados — o armazenamento subiu para mais de 450 milhões de barris. 

· 04:31 — A reabertura chinesa 

O impacto da reabertura da China está gerando oportunidades. Se trata de um impulso cíclico para o curto prazo, enquanto a demografia é um empecilho de longo prazo, o que pode fazer com que os investidores enxerguem apenas os benefícios, deixando os problemas para um segundo momento. A oportunidade estabelecida para a China é transferida para os beneficiários do afrouxamento das políticas, gerando repercussão positiva em todo o mundo, em especial nos países exportadores de commodities. 

Basicamente, espera-se que a flexibilização das restrições de viagem na China libere uma enorme demanda reprimida. Além disso, é muito provável que as viagens domésticas tenham uma recuperação mais rápida do que as viagens de entrada e saída da China. Neste caso, os principais beneficiários devem ser as indústrias relacionadas ao turismo, como agências de viagens online, hotéis e companhias aéreas, enquanto o consumo também deve receber um impulso (cosméticos e joias). 

Um abraço, 

Matheus Spiess 

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.

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