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Reunião do Copom, catástrofe no RS e decisões internacionais; entenda o impacto econômico

Ocidente e Oriente estão tomando diversas decisões econômicas importantes nesta semana; confira

Por Matheus Spiess

7 de maio de 2024, 09:17

Mapa mundial feito com números

Bom dia, pessoal. Os mercados ocidentais iniciaram o dia em alta, com os principais índices europeus e os futuros dos mercados americanos apresentando valorização, embora os últimos de forma mais moderada. Esse aumento vem após uma sessão positiva na Ásia nesta terça-feira (7), impulsionada pelo otimismo contínuo de que as taxas de juros nos EUA possam ser reduzidas, com destaque para os índices do Japão e da Coreia do Sul, que se sobressaíram em uma fase de recuperação.

Na Austrália, as ações também tiveram ganhos significativos após o Banco Central adotar uma postura menos agressiva do que o esperado, reforçando a expectativa de que não haverá mais aumentos de taxas em 2024.

No Oriente Médio, o dia também foi marcado por desenvolvimentos significativos: o Hamas aceitou uma proposta de cessar-fogo intermediada por Qatar e Egito, mas o governo israelense a rejeitou, o que reintroduziu volatilidade à região, especialmente à medida que se aproxima a possível invasão israelense de Rafah.

Além disso, dados importantes serão acompanhados, incluindo o crédito ao consumo nos EUA referente a março, as vendas no varejo do Reino Unido de abril e as encomendas industriais alemãs de março. Até o momento, os números divulgados foram positivos, sugerindo que há margem para que os mercados internacionais mantenham o otimismo com a perspectiva de cortes nas taxas de juros já a partir de setembro.

A ver…

· 00:41 — O necessário apoio ao estado do Rio Grande do Sul entra no debate

No Brasil, o Ibovespa fechou o dia de ontem praticamente estável, registrando uma leve queda de 0,03%, atingindo 128.466 pontos, contrastando com o desempenho positivo das bolsas em Nova York. No cenário local, o Comitê de Política Monetária (Copom) iniciará hoje sua reunião, cujas deliberações influenciarão a decisão sobre a taxa Selic a ser anunciada amanhã.

O mercado se encontra dividido: alguns ainda apostam num corte de 50 pontos-base, como sinalizado no último comunicado do Copom, enquanto outros consideram mais provável uma redução para 25 pontos, ajustando o ritmo de flexibilização monetária. Os efeitos do recente desastre climático e humanitário no Rio Grande do Sul também serão considerados, tanto sob a perspectiva fiscal quanto pela pressão inflacionária do provável aumento nos preços dos alimentos.

A catástrofe no Rio Grande do Sul será um divisor de águas nas projeções de mercado, afetando desde a safra até o emprego e a atividade econômica em geral, não apenas localmente mas em todo o país. O primeiro impacto é na inflação: espera-se que os preços de soja, milho, leite, frutas e arroz subam. Até este momento, estima-se que cerca de 4% da produção nacional de soja deste ano, que seria de aproximadamente 148 milhões de toneladas, foi perdida, equivalendo a 25% da safra do RS.

Problemas de abastecimento também foram relatados em algumas indústrias de outros estados, como a automobilística, que dependem de componentes fabricados no RS. Tudo isso deve adicionar pelo menos 0,10 ponto percentual ao IPCA.

Além das preocupações com a inflação, há um debate acerca do necessário apoio financeiro ao estado. Na noite passada, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de decreto legislativo (PDL) proposto pelo presidente Lula para acelerar a liberação de recursos destinados à recuperação dos danos causados pelas enchentes.

O PDL permite que esses recursos sejam liberados fora das regras fiscais estabelecidas, uma medida adotada pelo Ministério da Fazenda para evitar alterações na meta. Posteriormente, haverá ainda a conta da reconstrução do estado. A imprevisibilidade dos impactos financeiros nas contas públicas traz preocupações adicionais, especialmente em um contexto fiscal já delicado. Isso reforça a expectativa de uma postura mais conservadora por parte do Banco Central na decisão de amanhã.

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· 01:59 — A saga do acordo entre o Mercosul e a União Europeia

O acordo de comércio entre a União Europeia e o Mercosul continua em progresso, apesar de declarações desfavoráveis de figuras políticas como o presidente da França, Emmanuel Macron. De acordo com Rupert Schlegelmilch, o negociador-chefe da UE, cerca de 95% das negociações já foram concluídas. Schlegelmilch tem se dedicado a encontros nos países do Mercosul — Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai — realizando o que ele descreve como última “lição de casa”. O objetivo é ter todos os aspectos técnicos alinhados para aproveitar qualquer oportunidade política que possa surgir e assim avançar na formalização do acordo.

Apesar das aparentes incertezas, a Comissão Europeia, que é o órgão executivo da UE, mantém-se ativa nas negociações. Este órgão possui um mandato claro de todos os Estados-membros, incluindo a França, para continuar o processo. Uma vez concluídas, as negociações deverão ser reportadas ao Parlamento Europeu e aos Estados-membros, que então emitirão suas opiniões.

Contudo, é a Comissão que conduz as negociações, aguardando-se que os Estados-membros avaliem o acordo proposto ao final do processo. O Brasil desempenha um papel crucial nessas negociações, destacando-se como um importante produtor de commodities agrícolas e minerais, com o intuito de expandir a influência dos países emergentes no comércio mundial por meio deste acordo.

· 02:45 — A reta final da temporada de resultados

À medida que a temporada de lucros nos Estados Unidos se aproxima do fim, observamos que a maioria das empresas (mais de 70%) superou as expectativas de lucro. No entanto, as perspectivas futuras são mistas. De acordo com o JPMorgan, as previsões de crescimento de lucros de dois dígitos para este ano para as empresas do S&P 500 parecem excessivamente otimistas, dado que estas empresas enfrentarão desafios associados às altas taxas de juros.

Atualmente, as projeções dos analistas indicam que os lucros do S&P 500 devem crescer 17% do primeiro ao quarto trimestre, o que exigiria um crescimento de receita significativo ou uma expansão notável. Por outro lado, a BlackRock sustenta que os sólidos resultados financeiros deste trimestre justificam os elevados múltiplos das ações, apesar das pressões das taxas de juros e das altas expectativas.

Essa divergência de opiniões ocorre em um momento em que as bolsas de valores dos EUA registraram sua melhor recuperação em três dias desde novembro, impulsionadas pela especulação de que o Federal Reserve poderá reduzir as taxas de juros ainda este ano. O S&P 500 aumentou 1% para fechar acima de 5.180 pontos, enquanto os rendimentos dos títulos do Tesouro de 10 anos caíram dois pontos base para 4,49%.

Um detalhe técnico notável é que o S&P 500 fechou acima de sua média móvel de 50 dias, um indicativo que pode reforçar a confiança na recuperação recente do mercado e aliviar preocupações sobre futuras quedas. Essa foi a primeira vez que o índice fechou acima dessa marca desde 12 de abril, oferecendo um alívio bem-vindo após a tumultuada decisão do Fed na semana anterior.

· 03:37 — A questão da imigração

As recentes revisões nas estimativas populacionais dos Estados Unidos pelo Congressional Budget Office (CBO), que incluem um aumento previsto na imigração, podem lançar luz sobre a inesperada resiliência econômica observada em 2023. Se essas projeções do CBO se confirmarem, poderemos ver taxas de crescimento do emprego sustentavelmente mais altas do que as habitualmente esperadas.

Este fenômeno ocorre em um contexto onde, apesar das intensas discussões sobre imigração ilegal e os desafios legais recentes do estado do Texas contra as decisões da Suprema Corte dos EUA, o país continua a investir esforços significativos para atrair imigrantes qualificados, como pesquisadores e empreendedores. Historicamente, os EUA reconheceram que uma estratégia eficaz para acelerar o crescimento econômico e a geração de riqueza é atraírem os talentos mais destacados de outras nações.

Um estudo realizado pela National Foundation for American Policy (NFAP), intitulado “Immigrant entrepreneurs and US billion-dollar companies”, revela que mais da metade das startups americanas avaliadas em um bilhão de dólares ou mais foram iniciadas por imigrantes. Além disso, cerca de 64% dessas empresas foram fundadas ou co-fundadas por imigrantes ou seus descendentes.

Avaliar o impacto total da imigração é complexo, dada a diversidade de fatores culturais, políticos e sociais envolvidos. No entanto, parece claro que, mesmo considerando esses elementos não econômicos, os benefícios econômicos trazidos pela admissão de trabalhadores imigrantes resultam em um saldo positivo para os Estados Unidos.

· 04:23 — Sem cessar-fogo

Ontem, o preço do petróleo Brent registrou alta à medida que as tensões no Oriente Médio se intensificaram novamente, com Israel rejeitando uma proposta de cessar-fogo para a Faixa de Gaza. O grupo palestino Hamas havia aceitado uma proposta de trégua, mas o conselho de guerra israelense a recusou unanimemente, alegando que a proposta não atendia às exigências necessárias de Israel.

Em resposta, Israel afirmou que continuará suas operações militares em Rafah para pressionar o Hamas, mas também indicou que enviará representantes para se reunirem com mediadores na tentativa de explorar todas as possibilidades de um acordo. Essa movimentação ocorre em um contexto no qual o Hamas ainda mantém reféns do ataque do ano passado.

Nesse mesmo dia, as Forças de Defesa de Israel anunciaram novos ataques aéreos contra alvos do Hamas na região de Rafah. O presidente dos EUA, Joe Biden, apelou ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, para que evite iniciar uma ofensiva total em Rafah, destacando suas preocupações com a possibilidade de uma invasão nessa área do sul da Faixa de Gaza, onde mais de um milhão de civis se refugiam dos estragos da guerra.

Uma operação militar completa em Rafah certamente intensificaria ainda mais as tensões na região, que já experimentou períodos de estresse no último mês. A única alteração potencial na dinâmica do conflito poderia surgir de um acordo de defesa concreto entre os EUA e a Arábia Saudita.

· 05:14 — Mais um reforço à tese temática de defesa

Durante sua primeira visita à Europa em cinco anos, o presidente chinês Xi Jinping fez um apelo à  França para que contribua em evitar o que ele descreveu como uma “nova Guerra Fria”. Esta solicitação surge no contexto em que a União Europeia se aproxima cada vez mais das posições dos Estados Unidos em relação a preocupações de segurança e questões comerciais.

Xi defendeu que França e China deveriam promover benefícios mútuos e resistir juntas à  dissociação e às perturbações nas cadeias de abastecimento globais. O líder chinês esperava persuadir os europeus de que Pequim representa uma valiosa oportunidade econômica em meio a um clima de relações comerciais tensionadas, especialmente considerando os desacordos pré-existentes entre a…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.