“A China está indo muito bem, melhor do que muitos analistas do mercado esperavam”. É com esta declaração que Hsia Hua Sheng, vice-presidente do Bank of China no Brasil, começou seu painel no Empiricus Asset Day, um evento promovido pela Empiricus Gestão na última quarta-feira (3) para compartilhar conhecimento sobre o mercado financeiro com algumas das principais mentes do mercado.
Em sua fala, Sheng discorreu sobre o cenário econômico chinês e sua visão sobre as relações comerciais entre Brasil e China que, neste ano de 2024, completa 50 anos. Além de citar algumas diferenças entre o país asiático e ocidente que fazem esta economia ter uma dinâmica própria.
Foco em manufatura é o destaque da ascensão chinesa
O VP aponta o bom momento do país, que apresentou crescimento econômico de 5,3% no primeiro trimestre e pode chegar a 5,2% no segundo trimestre.
Os principais fatores que ajudaram nesse resultado foram a recuperação rápida do mercado interno, muito influenciada pelo Ano Novo Chinês, pelo turismo da própria população chinesa dentro do país e pela exportação, liderada pelos carros elétricos, painéis solares e baterias.
Olhando para frente, Shen destaca três fatores principais que influenciam nos resultados a longo prazo.
Primeiro, o programa do governo para reduzir a desigualdade social e a concentração de renda. Ele comenta que, com mais distribuição de renda, isso “geraria um mercado interno cada vez mais robusto” e que “esse é um dos principais motores de crescimento para a economia chinesa”.
O segundo ponto, é a economia verde que visa investimentos em descarbonização e energias renováveis nos próximos cinco e dez anos. E o terceiro é a manufatura digital e de alta tecnologia.
Sheng enfatiza uma das grandes diferenças da China em relação aos demais países e que “diferente dos outros países que pensam em manufatura em pedaços e fazendo globalização, com terceirização e cadeia produtiva global, […] a China escolheu ter toda a cadeia de produção interna, nacionalizada. Isso não é qualquer país que consegue fazer”.
E comenta a importância da construção de uma cadeia vertical para o país, que tem atingido mais eficiência e menor custo.
Em uma comparação com a Nvidia, que cresceu 100% esse ano, Sheng comenta que a tecnologia na China também tem se mostrado resiliente e cresceu 30 a 40% e ainda comenta:
“Só que aí, a pergunta é: a Nvidia vai crescer mais? Não sei. Mas a China vai”.
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Estratégias do governo chinês para manter o crescimento econômico sustentável
Sheng explica que a economia chinesa está passando por uma transição estrutural e que o governo está implementando várias estratégias de política monetária e fiscal para manter um crescimento sustentável.
Ao falar sobre a crise do setor imobiliário, Sheng afirma que este setor tem sofrido, mas acredita que “as pessoas têm exagerado um pouco”.
Neste ponto, o VP comenta que o governo chinês fez um pacote de política monetária e fiscal com a função de ajustar a economia para um crescimento sustentável ao longo do tempo. Ele cita algumas ações, como a compra de imóveis já construídos, que poderiam servir para moradia popular.
Na questão monetária, a China tem reduzido suas taxas de juros. O país possui duas referências, a de empréstimo, que está 3,45% e a de aplicação está 2,65%.
Sheng comenta que o governo chinês reduziu ainda mais a taxa de empréstimo para compra de imóveis e diz que esta política monetária com propósito direcional para ajudar um setor, específico, é muito importante, e que o setor imobiliário “está em transição, que antigamente chegava a 30%, 35% do PIB, hoje é bem menos, hoje é 20%, 15% do PIB”.
Além disso, a redução da taxa compulsória para os bancos tem injetado mais liquidez na economia, facilitando investimentos em capital de giro e modernização industrial. Segundo Sheng, a última redução de 0,5% na taxa compulsória equivaleria a aproximadamente um trilhão de RMB em liquidez adicional.
Sheng ressaltou a importância desta abordagem direcionada: “a política monetária com propósito direcional para ajudar um setor específico é muito importante”.
Panda Bonds representam a abertura do mercado de capitais
Em uma fase de abertura e crescimento, o mercado de capitais da China está se expandindo e oferecendo novas oportunidades para investidores estrangeiros. Ele destaca a promoção dos Panda Bonds, títulos de dívida emitidos por entidades estrangeiras no mercado chinês.
Além do mercado de Bonds, o mercado financeiro chinês tem se desenvolvido significativamente na área de derivativos, com um foco distinto em comparação a outros mercados globais.
Também destacou que, diferentemente de outros países onde os derivativos de câmbio e taxas de juros são mais comuns, na China, o foco é outro: “o desenvolvimento do derivativo na China é muito mais voltado para preços de commodities. Hoje, por exemplo, a soja, minério de ferro e petróleo, por exemplo, o mercado derivativo da China está cada vez mais relevante no mercado global”.
Sheng falou sobre o mercado acionário chinês, com bolsas como Shanghai, Shenzhen e Hong Kong oferecendo diversas oportunidades de investimento, especialmente no setor de tecnologia que está subvalorizado e apresenta um grande potencial de crescimento e comenta:
“Você consegue montar uma cadeia produtiva inteira com empresa aberta na China. Você não conseguiria fazer isso em nenhum lugar, em nenhum outro país” e “o mercado acionário da China está muito barato”.
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Brasil-China: uma parceria sólida
A parceria entre Brasil e China tem se consolidado ao longo das últimas décadas, evoluindo de uma simples relação comercial para uma colaboração multifacetada em diversos setores, tanto da China no Brasil, quanto do Brasil na China.
Sheng destacou os investimentos das empresas chinesas no Brasil e a importância delas para a geração de emprego e renda para os brasileiros. Ele comentou sobre as quatro grandes ondas, desde a compra e venda de commodities, o investimento no setor elétrico e tecnologia e, agora, na energia verde, carros elétricos e produtos relacionados com inteligência artificial.
O VP também observou que há investimentos significativos de grandes empresas brasileiras como Vale, JBS e Suzano na China e que existe um potencial ainda não totalmente explorado para as empresas brasileiras de médio porte, que poderiam se beneficiar da relação.
Para aproveitar as oportunidades no vasto mercado chinês, Sheng sugere que empresas brasileiras se concentrem em produtos como frutas, manufaturas e artesanatos, explorando formas de industrializar e processar esses produtos em parceria com empresas chinesas.
Para conferir os detalhes dos pontos levantados, assista à transmissão completa do painel no vídeo abaixo: